PRÓLOGO
Eu, Caravaggio, fiz isto.
Jazendo nesta cama encharcada, consigo ver alguns dos meus objectos mais pequenos empilhados ao canto, mas pouco mais, pois não consigo mover-me com facilidade. O que fizeram ao resto das minhas coisas, assim como às três ou quatro telas enroladas que trazia comigo, não faço ideia. Havia entre elas um S. João que valia alguma coisa.(...) Consigo ver o meu rosto no fragmento de vidro fumado, ao canto, e está amarelo e desfigurado. Os meus membros não têm vigor e transpiro constantemente. A ferida no rosto é horrível. Viajei durante quatro anos, fugido das cortes papais em Roma, por Malta e Sicília, e depois, finalmente, dei comigo em Nápoles, local que odeio e quase acabou comigo.
Há momentos, porém, em que estou lúcido, e este é um deles.(...)»
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