Ode e Germinações
O sabor da tua boca e a cor da tua pele,
Pele, boca, fruta minha destes dias velozes,
Diz-mo, estiveram sem cessar a teu lado
Por anos e viagens, por luas e por sóis,
E terra e pranto e chuva e alegria?
Ou só agora, só agora
Saem de tuas raízes
Como a água traz à terra seca
Germinações que não conhecia
Ou aos lábios do cântaro esquecido
Sobe na água todo o sabor da terra?
Não sei, não mo digas, não o sabes.
Ninguém sabe estas coisas.
Mas aproximando os meus sentidos
Da luz da tua pele, desapareces,
Fundes-te como o ácido
Aroma de um fruto
E o calor de um caminho,
O olor do milho a debulhar-se,
A madressilva do entardecer puríssimo,
Os nomes da terra poeirenta,
O perfume infinito da pátria:
Magnólia e matagal, sangue e farinha,
Galope de cavalos,
O luar poeirento sobre a aldeia,
O pão recém-nascido:
Tudo da tua pele me volta à boca,
Volta ao meu coração, volta ao meu corpo,
E volto a ser contigo
A terra que tu és:
És em mim profunda Primavera :
Em ti volto a saber como germino.
3 comentários:
Zé,
Este é mais um dos mais belos momentos de...
«arrebatamentos de amor e fúria»
de Pablo Neruda, no livro "Os Versos do Capitão" que se manteve tanto tempo no anonimato...
Adorei.
Um abraço
Aprecio muito Pablo Neruda.
Quanto a poesia - ainda mais do que a prosa - prefiro ler na língua original, pois me parece que se perde sempre um pouco...e não por responsabilidade, muitas vezes, de quem traduz.
Um domingo agradável para ti e para os teus.
Para ti também um domingo bom,São.
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