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terça-feira, 3 de maio de 2011

Verdades e mentiras

Nesta semana, à pala da do inadmissível processo de ingerência da troika do FMI/BCE e União Europeia no nosso País, ganharam nova dimensão alguns dislates que são uma verdadeira provocação face à realidade portuguesa.


E qual é essa realidade?

Desde Agosto de 2007, recorde-se, data do início desta fase da crise do sistema capitalista, até ao fim de 2010, foram destruídos em Portugal 239.400 postos de trabalho. Ou seja, desapareceram, em média por dia, 219 empregos. Trata-se de uma sistemática destruição LÍQUIDA de emprego.

Em Dezembro de 2010 o desemprego efectivo, que inclui também o subempreito visível e os inactivos disponíveis, atingiu 768.800 trabalhadores. O que corresponde a uma taxa efectiva de desemprego de 13,8%.

Sempre de acordo com os números oficiais, no início do ano de 2010 estavam a receber subsídio de desemprego 360,2 mil desempregados. Mas no final de 2010 este número tinha diminuído para 294,6 mil. Uma diferença de menos 65,6 mil. E isto num ano em que o desemprego aumentou significativamente. Como consequência, a taxa de cobertura do subsídio de desemprego diminuiu, em relação ao desemprego oficial, de 63,9% para 47,5%, E, em relação ao desemprego efectivo, de 51,2% para 38,2%.

Como pode alguém, sobretudo economista, vir defender que os desempregados não querem trabalhar e vivem à conta dos subsídios? Onde estão os empregos? E os subsídios? Já agora convém recordar que o subsídio de desemprego não é nenhuma esmola. É um direito adquirido por uma carreira contributiva (descontos) de quem trabalha.

«Falar em idades de reforma de 67 ou 70 anos é incontornável», debitam. Fica por explicar como se vai criar emprego líquido em Portugal para os jovens que chegam todos os anos ao chamado mercado de trabalho. Se quem trabalha prolonga para além do limite do admissível a sua permanência como se resolve esta questão? Ou vamos ter um país em quem tem mais de 55 anos trabalha e quem tem menos de 35 fica no desemprego? Isto é assim toa difícil de perceber?

Em Portugal mais de 65% dos trabalhadores portugueses recebem menos de 900€/mês. No último trimestre de 2010, o salário liquido mensal médio em era apenas de 785,3 €, variando por região entre 950,6€ e 709€. É com estes vencimentos que se vive «acima das nossas possibilidades»?

Actualmente, há 64 empresas a encerrar diariamente em Portugal, com os respectivos despedimentos colectivos e em massa. As insolvências aumentaram para a média de uma dúzia por dia. E de trimestre para trimestre, o Banco de Portugal vai corrigindo para pior as suas previsões. É o descalabro total da economia portuguesa com consequências sociais dramáticas.

Foi neste quadro que o Governo PS de José Sócrates se decidiu auto demitir, quando nada o obrigava a isso. José Sócrates insiste em que tudo fez para evitar a chamada «ajuda externa». Ela tornou-se «inevitável» por causa do chumbo do PEC 4 na Assembleia da República. Por explicar fica qual a ligação entre o PEC 4, que só teria efeitos práticos em 2012, e a, pelos vistos, volumosa e premente necessidades de dinheiro em caixa para Abril e Junho de 2011…

Nada disto vai ser resolvido pelo autêntico saque aos portugueses e aos recursos nacionais que a troika do FMI, BCE e União Europeia, mais a troika dos partidos, PS, PSD e CDS pretendem levar a cabo.

Os mesmos que conduziram o país para a crise económica e social de grandes proporções em que se encontra. Os mesmos que preparam nas costas do povo e contra o povo um programa para garantir os interesses dos mega bancos, do sistema financeiro e dos grandes fundos de investimentos e dos especuladores.

Mas a alternativa existe! Uma alternativa capaz de garantir a política necessária à resolução dos problemas nacionais. E que exige, na sua concretização, a formação dum governo patriótico e de esquerda. Governo com uma política que corresponda ao conteúdo e valor próprio da Constituição da República e dos ideais de Abril.

Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação

In jornal “Público” – Edição de 15 de Abril de 2011

António Vilarigues

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