Imperialismo e Crise
A crise do capitalismo é também a subordinação à dinâmica do capital financeiro e a incapacidade de entender a natureza e as limitações impostas pelos factores naturais na produção económica. O choque do preço do petróleo, demais combustíveis fósseis e matérias-primas e alimentos com forte incorporação de energia, em 2008, e a subsequente quebra de produção e queda de preços, conduziu o sistema capitalista a adiar investimentos em novos projectos em vista de serem progressivamente mais dispendiosos, demorados e com período de retorno mais longo (Michel Mallet, 2009; Ed Crooks, 2009). Esta opção em subordinar a racionalidade económica ao paradigma financeiro, terá como consequência o agravamento das actuais circunstâncias económico-sociais e a indução de renovados estrangulamentos e choques, quando forem tentadas retomas futuras.
O lado geoestratégico do aprovisionamento de energia está enfatizado pela concentração (presentemente cerca de 2/3), que se vais acentuando, das reservas remanescentes quer de petróleo quer de gás numa “vasta” mas “estreita” faixa entre o Médio Oriente e a Sibéria Ocidental. Bem como pela concentração do controlo da produção e exportação num pequeno número de grandes monopólios estatais (NOC), sem prejuízo de parcerias com grandes companhias internacionais (IOC), o que confere ao “negócio dos hidrocarbonetos” uma importância e uma aproximação à dimensão de “negócios estrangeiros” dos respectivos países. A Agência Internacional de Energia admite que uma grande reestruturação prossegue na indústria de prospecção, extracção e comercialização internacional de hidrocarbonetos (“upstream”), com as NOC a desempenharem um papel de ainda maior destaque no futuro, em particular assegurando 80% da produção adicional futura (essencialmente a substituição da produção em declínio).
A produção de matérias-primas – minerais e orgânicas – por força do crescimento do seu volume e da degradação da qualidade da base de recursos tradicional e dispersa em que tem sido produzida, deslocaliza-se e concentra-se agora em algumas poucas áreas produtoras e dá suporte a “economias emergentes”.
Os solos e a água doce necessários às actividades agrícolas degradam-se e escasseiam, e aquisições ou investimentos em África e na América Latina procuram assegurar a expansão ou a mera renovação de recursos insuficientes, degradados ou exauridos.
A grande indústria mineira disputa recursos além fronteiras enquanto alguns países impõem medidas proteccionistas, à medida que reservas e teores declinam, minas encerram e stocks se esgotam. Uma dúzia de países detém o grosso da produção de dezenas de metais e outras substâncias escassas não substituíveis.
Pelo contrário, as economias industrializadas tradicionais vêem-se constrangidas pela relativa indisponibilidade de energia e de variadas matérias-primas essenciais às designadas “altas tecnologias” ou de importância “estratégica” através das quais afirmam a sua força política e militar e competem no comércio no plano internacional.
A grande crise financeira que se desenvolveu e eclodiu em 2008 enquadra-se ou converge com manifestações de crise de aprovisionamento de bens que estão nos alicerces da actividade económica e que como tal são essenciais à estabilidade e opulência das sociedades “desenvolvidas”, como são à sobrevivência de sociedades “sub-desenvolvidas”: energia (combustíveis líquidos em particular), água para irrigação e abastecimento, solos férteis e produtivos, fertilizantes, bens alimentares bastantes, e bens de consumo massivo (desde os supérfluos aos indispensáveis).
Esta crise, recessão económica prolongada com profundo impacto social potencialmente conducente a uma depressão global, é coincidente com una vaga de concentração de capital e acentuada sobreprodução. Porém, pela primeira vez, a sobreprodução coincide com a escassez não superável de um largo leque de produtos minerais insubstituíveis. Esta circunstância nova sugere que a saída desta crise capitalista não passará por soluções já experimentadas no passado ou antecipáveis, nem conduzirá a um período de expansão e ao retorno a um mundo já conhecido, como aconteceu em fenómenos anteriores.
Isto também significa que a “superação” da crise financeira não resolve os constrangimentos materiais em que o sistema económico se encontra, e que uma nova ordem de organização da produção e da sua repartição deverá ser instituída.
A evolução para um mundo policêntrico, dos pontos de vista económico e político, abre caminho à ascensão da competição inter-capitalista, e pode suscitar reacções de conflito e até agressão, se não directa entre os principais protagonistas, então interpostas, ou ainda pela cativação de áreas de influencia ou mesmo dominação militar. Os sinais de “guerra cambial” e de “guerra comercial” que se vêm registando ao longo de 2010 são sintomas preocupantes.
Em contraponto à difusão do progresso técnico, à ascensão económica e a ganhos sociais em várias partes do mundo, o imperialismo procura manter a velha ordem. Para o que carece de criar inimigos e de suscitar divisões para justificar a imposição forçada ou até a subjugação militar. Neste sentido, alianças político militares, designadamente a NATO, são uma ameaça à segurança dos povos e à paz no mundo. E tal como destroem, também distraem da atenção e esforço urgentemente necessários para a resolução dos problemas que afligem a humanidade.
in ODiario.info
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