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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Pelo Socialismo
Questões político-ideológicas com atualidade
http://www.pelosocialismo.net
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Publicado no sítio da Rede Voltaire, em 2014/02/03: http://www.voltairenet.org/article182008.html#nb1
Colocado em linha em: 2014/02/14
Estados Unidos, principal
financiador mundial do terrorismo
Thierry Meyssan1
Numerosos autores puseram em evidência o papel dos Estados Unidos no
financiamento do terrorismo internacional desde a guerra do Afeganistão
contra os Soviéticos. No entanto, até à actualidade, tratava-se sempre de
acções secretas, nunca assumidas na altura por Washington. Um passo
decisivo foi franqueado com a Síria: O Congresso votou o financiamento e
armamento de duas organizações representando a Al-Qaida. Aquilo que
era até aqui um segredo de polichinelo tornou-se agora a política oficial
do «país da liberdade»: o terrorismo.
REDE VOLTAIRE | DAMASCO | 3 DE FEVEREIRO DE 2014
Em violação das resoluções 1267 e 1373 do Conselho de Segurança, o
Congresso dos Estados Unidos votou o financiamento e o armamento da
Frente al-Nosra e do Emirado islâmico do Iraque e do Levante, duas
organizações relevantes da Al-Qaida e classificadas como «terroristas»
pelas Nações Unidas. Esta decisão é válida até 30 de setembro de 2014.
A primeira semana da Conferência de paz de Genebra 2 terá sido plena de factos com
saliência. Infelizmente, o público ocidental não recebeu nenhuma informação a
respeito, vítima da censura que o oprime.
É com efeito o principal paradoxo desta guerra: as imagens são o inverso da realidade.
Segundo os média internacionais, o conflito opõe, de um lado, os Estados reunidos
em torno de Washington e de Riade, que pretendem aplicar a democracia e conduzir
a luta mundial contra o terrorismo, do outro a Síria e os seus aliados russos, inibidos
pela pressão de serem difamados como ditaduras manipulando o terrorismo.
1 Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas
análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra
em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertand,
2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y
desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).
2
Se toda a gente sabe que a Arábia Saudita não é uma democracia, mas sim uma
monarquia absoluta, a tirania de uma família e de uma seita sobre todo um povo, os
Estados Unidos gozam da imagem de uma democracia e mais ainda de serem o «país
da liberdade».
Ora, a principal informação da semana foi censurada no conjunto dos Estados
membros da OTAN: o Congresso norte-americano reuniu-se secretamente para votar
o financiamento e o armamento dos «rebeldes na Síria», até 30 de setembro de 2014.
Sim, leram bem. O Congresso tem sessões secretas que a imprensa não está
autorizada a noticiar. É por tal que a informação originalmente publicada pela
agência britânica Reuters
2
foi escrupulosamente ignorada por toda a imprensa
impressa e audio-visual dos Estados Unidos, e da maior parte dos média na Europa
ocidental e no Golfo. Apenas os habitantes do «resto do mundo» tiveram a
possibilidade de conhecer a verdade.
Ora a liberdade de expressão e o direito dos cidadãos à informação são, no entanto,
pré-requisitos da democracia. Eles são mais respeitados na Síria e na Rússia do que
no Ocidente.
Como ninguém pôde ler a lei adoptada pelo Congresso, ignora-se o que ela estipula
exactamente. No entanto, é claro que os «rebeldes» em questão não buscam derrubar
o Estado sírio — eles renunciaram a tal —, mas sim «sangrá-lo». É por isso que eles
não se comportam como soldados (de um exército regular), mas mais como
terroristas. Leram bem mais uma vez: os Estados Unidos, aparentemente vítimas da
Al-Qaida no 11 de Setembro de 2001 e, após isso, líderes da «guerra global contra o
terrorismo», financiam o principal foco de terrorismo internacional onde agem duas
organizações oficialmente subordinadas à Al-Qaida (a Frente al-Nosra e o Emirado
islâmico do Iraque e do Levante). Não se trata mais, aqui, de uma manobra obscura
dos serviços secretos, mas de uma lei plenamente assumida, mesmo se foi adoptada à
porta fechada de modo a não contradizer a propaganda oficial.
Por outro lado vê-se mal como a imprensa ocidental, que afirma desde há 13 anos que
a Al-Qaida é a autora dos atentados do 11-Setembro e ignora a destituição do
presidente George W. Bush nesse dia pelos militares, poderia explicar esta decisão ao
seu público. Efectivamente, o procedimento norte-americano de «Continuidade do
governo» (CoG) é ele, também, protegido pela censura. De tal modo, que os
Ocidentais nunca tiveram conhecimento que, nesse 11 de Setembro, o poder foi
transferido dos civis para os militares, das 10h da manhã até à noite, que durante esse
dia os Estados Unidos foram dirigidos por uma autoridade secreta, em violação das
suas leis e da sua Constituição.
Durante a Guerra-fria, a CIA financiou o escritor George Orwell, enquanto ele
imaginava a ditadura do futuro. Washington cria, assim, acordar as consciências para
o perigo soviético. Mas, na realidade, nunca a URSS se pareceu com o pesadelo de
«1984», enquanto os Estados Unidos se tornaram a incarnação disso.
2 “Congress secretly approves U.S. weapons flow to ’moderate’ Syrian rebels” (em ingleɵs) – «Congresso
aprova secretamente fornecimento de armas dos E.U. para os rebeldes Sírios ‘moderados’» [ndT] –,
por Mark Hosenball, Reuters, 27 de janeiro de 2014.
3
O discurso anual de Barack Obama sobre o estado da União transformou-se, assim,
num excepcional exercício de mentira. Diante dos 538 membros do Congresso,
aplaudindo-o de pé, o presidente declarou: «Uma coisa não mudará: a nossa
determinação para que os terroristas não lancem outros ataques contra o nosso país».
E ainda: «Na Síria apoiaremos a oposição que rejeita o programa das redes
terroristas».
Ora, quando a delegação síria em Genebra 2 submeteu àquela que é suposto
representar a sua «oposição», uma moção exclusivamente baseada nas resoluções
1267 e 1373 do Conselho de Segurança, condenando o terrorismo, aquela rejeitou-a
sem provocar a menor observação de Washington. E não é para menos : o terrorismo
significa os Estados Unidos, e a delegação da «oposição» recebe as suas ordens
directamente do embaixador Robert S. Ford, presente no local.
Robert S. Ford, antigo assistente de John Negroponte no Iraque. No início dos anos
80, Negroponte atacou a revolução nicaraguense alistando milhares de mercenários
que, misturados com alguns colaboradores locais, formaram os «Contras». O
Tribunal internacional de Justiça, quer dizer, o tribunal interno das Nações Unidas,
condenou Washington por esta ingerência não declarada. Depois, nos anos 2000,
Negroponte e Ford recriaram o mesmo cenário no Iraque. Desta vez, tratava-se de
aniquilar a resistência nacionalista usando o ataque pela Al-Qaida.
Enquanto em Genebra os Sírios e a delegação da «oposição» discutiam, em
Washington o presidente prosseguia o seu exercício de hipocrisia, e lançava ao
Congresso que o aplaudia mecanicamente: «Nós lutamos contra o terrorismo não
somente com a ajuda das inteligência e das operações militares, mas também ao
permanecer fiéis aos ideais da nossa Constituição e dando nisso o exemplo ao mundo
(...) E nós continuaremos a trabalhar com a comunidade internacional, para fazer
surgir o futuro que o povo sírio merece – um futuro sem ditadura, sem terror e sem
medo».
A guerra fabricada pela OTAN e pelo CCG na Síria fez jaɴ mais de 130.000 mortos —
segundo as estatísticas do MI6, difundidas pelo Observatório sírio dos Direitos do
homem —, da qual os carrascos atribuem a responsabilidade ao povo que lhes ousa
resistir e ao seu presidente, Bachar el-Assad.
Thierry Meyssan
Tradução
Alva
Fonte
Al-Watan (Síria)

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