Qual é a situação na Coreia ?
05.02.18
A Coreia do Norte é o objeto de todos os fantasmas. Qualquer pessoa que tenha um outro olhar sobre a Coreia do Norte, diferente do olhar dos média dominantes, será facilmente qualificado de “marioneta do regime”.
O povo coreano na vanguarda da resistência ao imperialismo e ao capitalismo?
A Coreia do Sul é abalada por
grandiosas manifestações a exigirem a demissão da presidente – o
silêncio dos média, em França, é impressionante. Silêncio e censura
sobre as graves violações dos direitos humanos levadas a cabo pelo
regime. Um regime que reprime os sindicatos e proíbe os partidos da
oposição, como o partido progressista unificado. Um regime atualmente
liderado pela filha do antigo ditador pró-EUA, Park. Em simultâneo, as
informações – num contexto de guerra – que passam a respeito da Coreia
do Norte fazem desta parte da península um país desconhecido em França.
O que se passa então na Coreia?
Com o apoio do PRCF 38 e do CISC, a
associação de amizade franco-coreana organizou uma conferência em
Grenoble, em 30 de janeiro, para explicar a situação na península
coreana. Tendo como convidado Jin Yongha, responsável internacional do PDP e sindicalista da poderosa Confederação Geral dos Trabalhadores Coreanos (KCTU) e Benoit Quennedey
da AAFC, que é, designadamente, o autor de A Economia da Coreia do
Norte em 2012, publicado por Les Indes Savantes, 2013, série “Ásia”.
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Apresentação de Kim Yong Ha, responsável do Comité de Trabalhadores do Partido Democrático e Popular (Coreia do Sul)
Contexto histórico
A situação na Coreia é muito mal
conhecida em França. Para conhecer a situação na Coreia é necessário
conhecer a sua história. A Coreia é um pequeno país rodeado de grandes
potências, que teve de lutar sem cessar para manter a sua independência.
A política isolacionista prosseguida até 1910 impediu a
industrialização do país e tornou-o vulnerável à invasão japonesa.
Seguiu-se a ocupação japonesa, de 1910 a
1945, com o objetivo de aniquilar a cultura coreana e a sua língua.
Logo que, de seguida, os americanos ocuparam o sul da península, deram à
Coreia do Sul uma aparência de independência, enquanto colocavam à
cabeça do Estado sul-coreano os ex-dirigentes que colaboraram com os
japoneses.
Isso levou a uma revolta muito forte dos
sul-coreanos e à formação do Comité Nacional dos Trabalhadores da
Coreia. Este sindicato apelou à greve geral e foi depois dissolvido pelo
Estado sul-coreano, para ser substituído por sindicatos amarelos.
Uma ditadura militar perdurou dos anos 60 até o final dos anos 80 do século passado.
Um acontecimento importante foi a
imolação pelo fogo do jovem trabalhador Jon-Tae-Il, em 1970, que marcou o
movimento de resistência à ditadura.
Entre julho-setembro de 1987, uma série
de greves sucessivas teve como reivindicação a criação de um sindicato
democrático, o que se efetivou com a criação da Confederação Geral de
Sindicatos (KCTU), em 1995.
Deste sindicato nasceu o Partido Popular
Unificado, em 2000. Na Coreia é menor a distância entre o partido e o
sindicato democrático do que, atualmente, acontece em França ...
Atualidade
O mandato do presidente sul-coreano é de
5 anos. A atual presidência de Park Geun-hye é o prolongamento da
presidência reacionária anterior de Li-Myung-Bak.
A presidência de Li-Myung-Bak foi
manchada, entre outras coisas, pela construção de um canal inútil e
perigoso para o meio ambiente. 2009 foi um ano de grandes repressões
contra os trabalhadores, com a proibição do sindicato dos funcionários
públicos, enquanto o direito de organização é reconhecido pela
presidência sul-coreana.
A presidência do Park Geun-hye começou
em dezembro de 2012, após uma enorme fraude eleitoral. Em dezembro de
2014, o Partido Popular Unificado foi proibido, após a falsa afirmação
de que teria preparado um golpe de Estado com a Coreia do Norte. Isso
mostra o caráter fascizante da presidência de Park Geun-hye. Havia
também o escândalo do naufrágio do Sewol, em abril de 2014, com 300
crianças mortas, um escândalo que nunca foi esclarecido.
Foram tomadas medidas repressivas contra
os parentes das vítimas e os ativistas da verdade sobre o naufrágio,
com prisões e detenções arbitrárias de vários dias.
Em 2013, a sede do KCTU foi invadida e o
seu líder preso e condenado a 7 anos de prisão. A Organização
Internacional do Trabalho condenou esta ação num protesto oficial.
As exigências de criação de sindicatos de funcionários públicos foram rejeitadas e o sindicato dos professores proibido.
É necessário saber que a Coreia do Sul
tem 10 milhões de trabalhadores precários e três milhões de
desempregados, em 40 milhões de habitantes, e não tem sistema de
segurança social. A luta social e pelas liberdades democráticas na
Coreia do Sul combinam-se com a luta contra as agressões imperialistas à
Coreia do Norte. Participar em lutas sociais e sindicais na Coreia do
Sul leva muitas vezes à prisão.
A repressão é particularmente forte nas grandes empresas, como a Samsung e a Hyundai,
cujo peso económico é esmagador. Na Hyundai há duas vezes mais trabalhadores precários do que trabalhadores permanentes.
cujo peso económico é esmagador. Na Hyundai há duas vezes mais trabalhadores precários do que trabalhadores permanentes.
Na Samsung, os sindicatos são proibidos.
Houve recentemente um passeio europeu de sindicalistas (ilegais) da
Samsung. Um grave problema é, especialmente, a exposição dos
trabalhadores a substâncias tóxicas, que causaram, pelo menos, 80
leucemias.
A tudo isto, juntam-se outros problemas,
como os da dívida estudantil. Em conclusão, a resistência é forte no
seio do povo da Coreia do Sul e portadora de esperança para o futuro.
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Apresentação sobre a Coreia do
Norte e a Associação de Amizade França-Coreia por Benoit Quennedey,
secretário nacional da Associação de Amizade França-Coreia
A Coreia do Norte é o objeto de todos os
fantasmas. Qualquer pessoa que tenha um outro olhar sobre a Coreia do
Norte, diferente do olhar dos média dominantes, será facilmente
qualificado de “marioneta do regime”.
Toda a imagem da Coreia do Norte no
Ocidente é fabricada pela Coreia do Sul e os EUA, que aí estacionam 300
mil soldados. Isto explica-se especialmente pelo sistema económico
capitalista, a sua posição geoestratégica, rodeada por grandes
potências, e as suas capacidades tecnológicas, dado que a Coreia do
Norte é um dos 10 países do mundo capazes de lançar um satélite no
espaço.
Os norte-coreanos não pretendem ser um
modelo. A cultura política local é muito influenciada pelo
confucionismo. Trata-se de uma adaptação local das democracias
populares.
A Associação de Amizade França-Coreia
considera necessário o diálogo com a Coreia do Norte, porque é um modelo
de sociedade diferente. Desde a sua fundação, em 1969, a AAFC não tem
apenas comunistas, mas também gaulistas de esquerda e cristãos
progressistas.
O destino das duas Coreias está ligado, apesar da divisão.
Como o demonstrou uma fase de
democratização da Coreia do Sul, em 1998-2008, e de diálogo com o Norte,
seguido de uma fase de fascização e de agressividade contra a Coreia do
Norte, a luta social na Coreia do Sul e a luta pela paz e a
reunificação entre as duas Coreias estão ligadas.
O objetivo da AAFC não é o da defesa de
tudo, em bloco, de um governo que não pretende exportar o seu modelo,
mas o de dar a chave para compreender melhor a situação na Coreia.
A situação francesa é especial, porque é
o único país europeu, com a Estónia, que não reconhece a República
Popular Democrática da Coreia.
A AAFC não está apenas interessada no
Norte, mas também no Sul; daí, o seu contributo na fundação do Comité
Internacional para as Liberdades Democráticas na Coreia do Sul.
É muitas vezes posta a questão de saber
se a Coreia do Norte é um país socialista. O socialismo é um conceito
que assume, na realidade, formas diversas. Há na Coreia do Norte
características essenciais do socialismo, designadamente, com a
propriedade coletiva dos meios de produção, o sistema de saúde e de
educação gratuitos e habitações a preços módicos.
No entanto, a Coreia do Norte não se
reconhece no marxismo-leninismo, mas numa ideologia própria, a ideologia
Juche, fortemente marcada pelo confucionismo.
A Coreia do Norte foi fundada por
resistentes à ocupação japonesa e a ameaça imperialista permanente
levou-a a manter, deste período, uma certa opacidade dos mecanismos de
decisão no topo do executivo, como é costume em todas as redes de
resistência.
Note-se, contudo, que um certo número de
direitos sociais é garantido na Coreia do Norte e que o poder na base é
exercido pelas células do Partido do Trabalho da Coreia, que assume as
suas decisões, informações e opiniões no topo da hierarquia.
Durante a década de 1990, a Coreia do
Norte perdeu, subitamente, quase todos os seus parceiros comerciais.
Além disso, a perda de acesso ao petróleo soviético e graves inundações
prejudicaram seriamente a agricultura norte-coreana, até então altamente
mecanizada, nesses anos 90. Isso levou a uma série de reformas, como a
legalização dos mercados agrícolas de excedentes, a monetarização da
economia e uma autonomização das empresas, sempre de posse coletiva.
O programa nuclear norte-coreano tem a
sua origem na falta de confiança nos seus aliados, o que se revelaria
justificado na década de 1990. Os dirigentes norte-coreanos consideraram
que só a dissuasão nuclear podia protegê-los de uma invasão dos EUA,
opinião confirmada posteriormente, entre outras intervenções, pelas
invasões perpetradas pelos EUA no Iraque, Afeganistão, Líbia, etc ...
etc ...
Assim, a Coreia do Norte vê-se como um Estado-guerrilha permanentemente ameaçado, e com razão.
* Iniciative Communiste
é o jornal mensal do Polo do Renascimento Comunista em França (PRCF) –
não se publica os videos e as referências a eles feitas no texto. – NT
Fonte: publicado em https://www.initiative-communiste.fr/articles/international/video-quelle-est-la-situation-en-coree/
Tradução do francês de PAT
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