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sábado, 5 de fevereiro de 2022

ÉTICA- Prolegómenos

 1. Podemos identificar ética com moral. É o que fazemos quando falamos de "éticas profissionais" ou "deontologias". É útil para fins práticos e institucionais (e até processuais e criminais).

2. Contudo, é preferível distinguir, por esta razão principal: existem diversas morais no planeta e existiram algumas que já se extinguiram com as civilizações que justificavam. 

3. Por uma segunda razão: a filosofia não se confunde, não se reduz, à prática quotidiana onde atua uma moral determinada. É outro discurso, outro âmbito, outras finalidades e outros instrumentos.

4. Isto me parece assim, quer se encare a Filosofia como um discurso ontológico, quer se reduza à análise linguística. cognoscitiva. etc.

5. Por conseguinte, prefiro a classificação usual e clássica: a Ética reflete (com instrumentos próprios, sobre um vasto legado, etc.) sobre a forma e o conteúdo das normas de uso quotidiano numa determinada sociedade (num tempo e num lugar determinados).

6. Tal não significa que a Ética (com maiúscula) lide com puras abstrações e a(s) moral com o concreto das normas, pois o raciocinar vai do da coisa apreendida perceptivamente que é abstrata porque se abstrai das suas determinações; movimenta-se em seguida para as ideias em que essa coisa cabe (classes, classificações, seriações, etc.) que é um plano maximamente abstrato (o particular entra no universal) para por fim com-preender o concreto das determinações da coisa, tantas quantas fomos capazes. Portanto, quanto mais ampla e profundamente conhecermos as caraterísticas de um objeto (ou coisa, movimento, sentimento, comportamento, fenómeno natural) mais estamos a inseri-lo numa essência, num contexto, numa regularidade, num género ou universalidade concreta. 

7. Então, uma Ética de orientação marxista é pura filosofia : requer uma ontologia e esta uma gnosiologia; uma contextualização histórica; um conhecimento materialista antropológico, o concurso de todas as ciências particulares até à data desenvolvidas, metodologias diversas -desde a experimental, à lógica dialética -. Munidos dos critérios filosófico-científicos do materialismo histórico e dialético (ou seja: um materialismo não biologista, naturalista ou não confinado ao neo-darwinismo), investigaremos uma determinada moral que escolhemos por nos aparecer como dominante no presente local ou universalmente. Sem apriorismos é expectável (pelo menos como hipótese a confirmar) que essa moral (ou moralidade composta de censuras e consensos, direitos e deveres, bom versus mau) se descubra completamente comprometida com a satisfação (ou o agrado) de interesses concretos (a decifrar) de determinados grupos sociais, em detrimento de outros. A suceder, tal levar.nos-á a concluir muito justamente que há uma moral de classe e que esta classe domina por esse e outros meios materiais. Colocando-nos num patamar histórico, é muito provável que descubramos que regularmente na História universal existiram moralidades de classe. De uma dada classe dominante. É ilustrativo o exemplo das antigas civilizações escravocratas.

8. Sendo o ser humano gregário havemos de ter em conta essa origem e inclinação natural. Sendo um animal como qualquer outro, na sua natureza vital, temos de ter em conta essa qualidade biológica quando refletimos eticamente. Sendo um ser social que produziu ele mesmo meios de subsistência usando o maio ambiente como matéria-prima, variados e reprodutivos, é de ter em conta quando falamos de Ética : é útil e verdadeiro falarmos de uma ontologia do ser social? Podemos compreender o ser humano genérico (na sua singularidade) sem ter em conta o cruzamento dialético destes fatores? 

9. Deixemos agora aqui uma primeira interrogação (prosseguiremos com outras nos próximos textos): É correto ou não que podemos corresponder determinados parâmetros (normas, regras, leis) atuais, de grande força e generalidade, a interesses económico-sociais (económicos, políticos) da classe que composta por aqueles indivíduos que detêm os poderes económico-financeiros-políticos? A classe a que chamamos capitalista? Teremos de fazer corresponder. A seguir, tentar demonstrar que algumas normas novas não eram até há pouco tempo do interesse da(s) classe(s) dominantes e que foram, portanto, conquistadas com muito esforço (veremos que foram, são, necessárias guerras civis e mundiais, para essas conquistas. 

10. Tentaremos descobrir se existem elementos constitutivos de uma moral diferente, somente diferente ou mesmo antagonista.

11. É o que propunha Karl Marx e F. Engels na sua oposição à moral burguesa exposta em O Manifesto do Partido Comunista, entre outras obras. Concepção geral do mundo e da vida, isto é, uma construção filosófica de raiz ontológica, que se opunha ao liberalismo e às suas versões utilitarista, pragmatista, etc.



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