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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

ÉTICA- Prolegómenos

 Talvez devêssemos nestes instantes que passam e deixam feridas abertas, interrogarmo-nos:

 1. O "instante proletário" - a tomada do Palácio de Inverno - já passou na Europa. Esse proletariado de Petrogrado já se foi. O vasto, poderoso, messiânico, proletariado de gigantescas fábricas em regime "fordista" já desapareceu. Deslocou-se para outros lugares e, mesmo aí, não é mera cópia, simpls replicação. O instante passou. Foi uma bela festa que inspirou talentosos artistas e geniais políticos na tática e na estratégia. Foi-se. Evitemos a nostalgia mortal. Torna os velhos insuportavelmente rabugentos e enxota os novo.

2. Já não se desenha o capitão-da-indústria com charuto na boca e barrigudo. Temos agora duas sub-classes: uma é composta de "empreendedores" que se fazem multimilionários aos trinta anos de idade e, outras, composta de acionistas que se sentam todos juntos em grandes mesas redondas a escutar relatórios e a ver gráficos. É a "economia real" e a "economia fictícia". Produzem "bolhas", vivem em "bolhas", e estão borrifando privada e discretamente com a fome e o desemprego, a precariedade e o abandono escolar, o aquecimento do planeta e a desflorestação da Amazónia.

3. Os novos ricos não querem saber de "pacto social entre patrões e operários" ; querem que eles consintam, se contentem e se calem. Mas fazem mais: já não são inimigos de classe", são os fazedores das riquezas (sem empresas não há empregos, ensinam), querem que lhes agradeçamos e os bispos os abençoem porque sem eles não há crescimento, e sem crescimento não há consumo.

4. Eles sabem que há uma crise estrutural, não são burros. Sabem que essa crise não tem solução, porém não é  a solução que nós queremos, a solução deles está sempre aí, ao pé. É transitória? Sim, é; porém, eles vivem do transitório. Pagam bem aos "pensadores que explicam que se viva cada dia como se fosse o último. É verdade, e nós é que somos burros. Pois realmente pode ser o último. Cada crise de conjuntura é sempre para eles uma oportunidade de reordenarem as coisas. Quantas vezes foram a Direita, e quantas vezes foram a Social-democracia? A Direita já não se compromete com a extrema-direita? Dentro do seu país europeu não abraçam na rua arruaceiros neo-nazis que perturbam a estabilidade burguesa, mas tudo depende. Ça dépend. Almoçam com os empregados colaboradores nas suas empresas ecológicas, todavia conservam o mesmo motivo pelo qual existem desde o século dezanove: o lucro. Contudo, são filantrópicos. Sem eles não existiriam as ONGs, nem Universidades e intelectuais a soldo.

5. Andaria a Esquerda muito enganada se os imaginasse adversários resolutos, de moral empedernida, do aborto voluntário e do direito da mulher dispor do seu corpo, do direito ao prazer sexual e a outros, do direito dos homossexuais casarem uns com os outros. Esta Direita civilizada dos "Direitos humanos" não proíbe a mulher de conduzir o seu Mercedes e até acha estúpida essa cultura estupidamente religiosa. Esta Direita Pós-moderna é a favor dos relativismos, das tolerâncias. Esta Direita é quase esquerda.

6. Quem é representado pelo "socialismo" do Partido Socialista Português? Que "classes sociais" ele representa? Qual é , como se dizia antigamente, a sua "base social de apoio"? Os velhos antigos marxistas dirão: é a pequena- burguesia!" . Claro que não. Ou melhor. claro que não e claro que também. E será que essa dita pequena-burguesia é a mesma de há cinquenta , cem anos? Quem votou "útil" no PS apenas para fugir da Direita e quem votou porque avaliou positivamente a sua gestão? ´São a social-democracia? Mas qual: a de há cinquenta, cem anos? Ou nem sequer já são social-democracia alguma, exceto serem democratas? Esquerda da Direita, assim como há uma Direita da Esquerda?

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