in Público
https://www.publico.pt/2022/09/30/culturaipsilon/cronica/tao-adoradas-sao-familias-2021894
Livro de recitações
“Nunca vi carnificina climática a esta escala”
António Guterres, secretário-geral da Nações Unidas, depois de uma visita ao Paquistão.
A metáfora “carnificina climática” é forte, chocante e faz-nos vacilar. Mas, aproximando-se do campo semântico do crime e da atitude vingativa, será a mais adequada para descrever esta situação? Ela integra-se num eixo paradigmático que projecta nos desastres meteorológicos uma vontade caprichosa de nos aplicar um castigo, de nos sujeitar a severas penas pelos nossos pecados. É uma visão muito católica, que vê por trás do que é ostensivamente visível uma vontade de vingança, de penalização exercida por uma entidade que se parece com um deus absconditus. Ora, a Terra, a nossa mãe Gaia, não tem nenhuma vontade de se vingar. Estas projecções supersticiosas desviam-nos da razão científica, que é aquela que devia ser, mas não é, o primeiro mandamento no confronto com o colapso que avança cada vez menos lentamente e que também não deve ser chamado “apocalipse” nem evocar um “Juízo final”.
Sem comentários:
Enviar um comentário