Ascensão e Queda do Socialismo e Ascensão, Queda e Futuro do Socialismo – Mário Nuti
« Algumas conclusões
A ascensão do socialismo estava enraizada nas
desvantagens do capitalismo, que mobilizaram o trabalho
humano e a imaginação trazendo prosperidade sem
precedentes, mas também gerando desemprego do trabalho
e da capacidade produtiva assim como flutuações e crises
intermitentemente mas com frequência crescente e em
escala cada vez maior, criando assim ao longo do tempo
uma desigualdade cada vez maior, especialmente no último
período do pós-guerra.
Ascensão e queda do Socialismo
A construção do socialismo num país atrasado,
com trabalho abundante, vasto e despótico, afectou o
desenvolvimento do planeamento centralizado na URSS,
com os seus próprios conflitos e contradições agravados
pela falta de democracia política e pela convicção de que
as leis económicas não funcionariam de modo algum
na economia socialista ( Rosa Luxemburgo, Bukarine,
Hilferding e outros pensadores bolchevistas). O sistema
de tipo soviético foi impressionantemente bem-sucedido
na realização da industrialização, urbanização, crescimento
acelerado, rearmamento e na vitória numa guerra mundial;
na conquista do espaço e no aumento dos níveis de educação,
saúde e de maior igualdade do que a alcançada nas economias
capitalistas. Entretanto sofreu do autoritarismo, da repressão
de liberdades básicas e da falta da democracia política. O
sistema de tipo soviético também não conseguiu adaptar-
se aos desafios levantados pelas suas próprias realizações,
e, eventualmente, foi derrubado pela sua ineficiência,
instabilidade, desequilíbrios internos e externos que
conduzem a uma dívida esmagadora e à perda de apoio
popular.
A transição para as economias de mercado abertas com a
propriedade privada e empresas, por sua vez, foi muito cara -
com algumas exceções - por causa da abordagem da terapia
de choque adotada, da interrupção inevitável dos fluxos
comerciais devida à desintegração económica e monetária e
das instituições hiperliberais e das políticas que prevaleceram
na transição.
No último período pós-guerra, um modelo social-
democrata, que prosseguia os valores socialistas numa
economia de mercado sem a propriedade e empresa pública
dominante, foi desenvolvido na Escandinávia e noutros países
capitalistas, exemplificado pelo Modelo Social Europeu
na UE, e serviu bem os países que o adotaram. No final da
década de 1990, o modelo social-democrata foi pervertido
pelos seus líderes políticos que passaram a adotar um
capitalismo hiperliberal, austero e globalista, levando à crise,
ao desemprego e à desigualdade crescente. Nos últimos
anos esta deformação da social-democracia chocou com
derrotas eleitorais estrondosas e repetidas, a favor de partidos
rapidamente acusados de populismo quando estes são a
expressão do descontentamento popular.
Uma sequela deste longo ensaio, em preparação, ocupar-
se-á do futuro do socialismo. O modelo chinês de uma
economia de mercado sob o capitalismo de estado é
considerado e rejeitado devido à sua natureza autoritária.
O modelo jugoslavo do socialismo do mercado associativo
é também considerado e rejeitado como inigualitário e
tendencialmente ineficiente. Outras formas de enxertar
instituições socialistas num modelo capitalista também são
consideradas e consideradas de ajuda positiva, mas limitada na
concepção de uma alternativa social-democrata.
Popov (2017) encara a possibilidade da criação bem-
sucedida de um “novo socialismo”, com a realização de
políticas mais igualitárias por parte de algumas economias
de mercado, adotando a redistribuição de rendimento, maior
regulamentação e um fardo orçamental mais pesado, e com
maior ênfase na propriedade pública numa economia mista.
A redução da desigualdade e o seu impacto adverso nas
tensões sociais tornarão estas economias mais igualitárias e
mais competitivas ao nível internacional relativamente aos
seus concorrentes menos esclarecidos. Sigo a abordagem
de Popov, mas ao mesmo tempo rejeito a conveniência de
uma maior igualdade de rendimento alcançada através de
migrações incondicionais e sem limites num mundo sem
fronteiras.
O novo socialismo, para além de controlar e gerir as
migrações, precisa de enfrentar os desafios da gestão da
globalização, reduzindo os seus impactos distributivos
adversos, lidando com o desemprego e com as implicações
distributivas da robotização e da inteligência artificial,
lidando com as alterações climáticas e com a conservação de
recursos. A diferença em relação ao capitalismo existente será
primeiramente uma diferença de políticas, mas essas políticas
exigem diferenças fundamentais nos instrumentos de
políticas económicas disponíveis, para se construir um sistema
muito diferente do capitalismo que realmente existe hoje.
Disse e assim salvei a minha alma
Dixi et salvavi animam meam (Marx 1875).
Florença, 16 Abril de 2016.
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Ascensão e queda do Socialismo
Fonte
Domenico Mario Nuti, The rise and fall of socialism. Texto
publicado originalmente por DOC Research Institute, cujo
endereço eletrónico é : https://doc-research.org/2018/05/rise_
and_fall_of_socialism/ e no seu blog cujo endereço é: https://
dmarionuti.blogspot.com/´
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