É útil o conselho que te dão os antigos para que chegada a velhice, ou, pelo menos, a quase-velhice da aposentação, te dediques à agricultura. É uma forma de cultura, afinal. Os antigos, os clássicos, só gostavam mesmo da poesia dos campos, das vacas a pastar, dos rebanhos de ovelhas tontas, do zumbido das abelhas a encharcarem-se de pólen. Foi Epicuro e mais tarde o Virgílio. Como eram divinos, Dante Alighieri não os mandou para o Inferno, pelo contrário, amava-os apesar de ser católico até à pena de pato com que escreveu o sublime, ou descreveu, não sei como dizer. Cuida do teu jardim, quintal o que quer que tenhas, e se não tens arranja algo assim depressa porque a velhice é mais rápida que os dias e as noites que se sucedem sem novidade nenhuma para ti exceto a morte do pai e da mãe, primeiro foram os avós há uma data de tempo e isso não conta, depois irás tu, e é essa a tua sabedoria, que não vale nada, porém permite que cuides dos animais, das flores, das árvores de fruto.enfim. À falta de um jardim, cultivemos as ideias. Ou ambas as atividades. Há ideias com muitas pétalas, a fingir que são cravos ou rosas ou dálias ou açucenas, ou ameixas sumarentas ou figos de mel ou cachos de uvas tenras como as frutas que vemos nas naturezas-mortas dos pintores que amamos, de Cézanne, o da cesta de maçãs não o Cézanne da natureza.morta com caveira, é claro. De repente, num dia de sol ou chuva, ficas-te. Sem novidade. Já o devias saber. A novidade está lá fora de ti, nas convulsões dos países invadidos ou invasores, nos massacres e genocídios de etnias, nas lutas violentas de classes sem dó nem piedade porque tem sido desta forma, nas insurreições que ninguém previa e repõem as coisas no seu devido lugar para que tudo não se repita, pelo menos que o era já não seja, que o velho morra, pró raio que o parta.
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