elucubrações políticas
Exigir que a Constituição da República Portuguesa seja cumprida,
mantém-se um ato político relevante para educar as massas populares,
unir democratas, combater os preconceitos que tendem a assustar
eleitores. Para se obter algum sucesso com este ato é necessário, porém,
que se cumpra tão bem quanto possível esse objetivo, essa
palavra-de-ordem, esse programa que enuncia, afinal de contas, uma
Democracia Avançada, vestibular de outras fases do Socialismo. Se os
direitos económico-sociais e culturais fossem realizados e respeitados;
se os grandes grupos económicos tendencialmente monopolistas no
agro-negócio, nas pescas, na produção de energia, na Banca, na Saúde,
nas redes de distribuição e de comércio, fossem no seu poder absoluto
combatidos em favor de uma economia obedecendo a um Plano de
industrialização conforme as necessidades prioritárias e os recursos; se
o nível dos salários e rendimentos das massas trabalhadoras
correspondessem evolutivamente às necessidades de uma vida familiar
confortável e os direitos do Trabalho (da força-de-de-trabalho) fossem
aplicados; se as escolas públicas ensinassem mais e melhor do que fazem,
sem reproduzirem as desigualdades de classes e a desinformação
inoculada pela Comunicação Social sobre os cérebros infantis e juvenis;
se com esta CS competissem meios capazes de transmitirem com eficácia
uma instrução democrática, uma informação alternativa e verdadeira ; se
os trabalhadores da cultura (atualmente mais e mais proletarizados como
aqueles que labutam nos latifúndios ou nas empresas capitalistas) fossem
estimados, favorecendo o seu trabalho e, portanto, a educação cultural
das massas sociais iletradas; se determinadas áreas da vida fossem
subtraídas à mercantilização e ao lucro privado...então, alcançaríamos
um país desenvolvido, democrático, pacífico. Com um capitalismo
controlado pelos órgãos políticos e pelo povo soberano. Os passos
necessários para o socialismo num só país, simultaneamente nacional e
internacionalista, estariam dados.
Bastaria esta mesma Constituição para já.
No futuro próximo oferecem-se duas possibilidades, dois caminhos : uma crise catastrófica europeia com repercussões mundiais fatalmente, que, aproveitadas nas suas brechas e efeitos, detonassem uma situação revolucionária , democrática e socialista, numa Europa desagregada, com "os de baixo" erguidos contra "os de cima" , ou a mesma crise a produzir um Império nazi-fascista, com a neutralidade, senão mesmo com o apoio, dos EUA. Portanto, o futuro próximo está tão carregado de perigos como de bombas atómicas. Dir-se-á que há sempre uma terceira possibilidade, conforme leem alguns nas páginas da história do capitalismo : líderes inteligentes capazes de mostrar aos seus patrões as vantagens de diálogos bi e multilaterais com os adversários (os inimigos dos seus negócios hegemónicos), das negociações para tréguas, as vantagens do comércio e da pacificação domesticada das massas. O grande, vasto e poderoso Capital também é capaz de se superar, pois a sua "lei tendencial" fundamental, a sua essência, é salvar a acumulação de capital, os negócios e a taxa média de lucro tão elevada quanto possível (se não a conseguirem tão alta como gostariam, devido às suas crises, destroem capital para criarem capital).
Por conseguinte, não é indispensável ser-se revolucionário
socialista-comunista para se apoiar um Plano de desenvolvimento
democrático sobre uma economia de organização mista, para este país, ou
para qualquer qualquer outro : Basta ser democrata apoiar um Poder de
Esquerda, no voto e nas ruas.
Sem comentários:
Enviar um comentário