A extrema-direita triunfou de modo arrasador em Portugal. Destruiu num só golpe de poucas semanas o bipartidarismo, destruindo um dos partidos "centristas". Quase expulsou toda a Esquerda (excluindo o PS) do Parlamento. Em nenhum país da UE se verificou recentemente (ou talvez nunca) tamanha derrota de uns e triunfo de outros. Estes outros significam o grande capital na sua face extrema, violenta, predadora. O grande Capital financeiro nacional ( que já é extra nacional) e internacional decidiu jogar todas as forças e todos meios, que há muito preparava, para se apoderar do Estado na totalidade deste (os seus deveres e serviços públicos, o seu sector económico público, os meios financeiros de que este dispõe através dos impostos). O Grande Capital, apoiando-se nos capitalistas em geral, triunfou com o 25 de Novembro e os governos da social-democracia de Mário Soares, quando derrotou e Revolução popular ; triunfou definitivamente quando Cavaco Silva tomou o poder e o capital financeiro se reorganizou ; triunfou atualmente com o triunfo (relativo) eleitoral da Direita democrática e, particularmente, com a vitória arrasadora da sua extrema-direita. De onde vem o vento que a empurrou? Da crise conjuntural certamente, mas que manifesta a crise sistémica do capitalismo. Quando as crises do capitalismo são manifestamente sistémicas (do próprio sistema capitalista na sua totalidade) o grande capital na sua fase imperialista recorre ao "método fascista". Nessas alturas o grande capital dispensa o regime democrático, eliminando-o, ou controlando-o até ao limite, em seu próprio proveito.
É a crise do capitalismo imperialista europeu e norte-americano que se manifesta atualmente que explica os seus métodos.
O capitalismo imperialista utiliza a social-democracia (como sucedeu na República de Weimar ou na Primeira República portuguesa) enquanto lhe é conveniente para o seu processo imanente de acumulação, concentração e centralização (ou reforço, constituição e reconstituição dos monopólios), iludindo as massas populares ; arreda-a do caminho quando a crise é demasiado aguda. Esta crise não se resume à estagnação, inflação ou recessão, inclui atualmente a derrota militar infligida pela Rússia e a emergência de um bloco económico que retirará hegemonia ao imperialismo norte-americano e europeu, com todas as consequências que já estão à vista no comércio mundial e na formação de Acordos no continente asiático. Falta uma organização de segurança coletiva (militar por outras palavras) destes acordos multilaterais e, um dia destes, do bloco emergente. O que está já à vista no plano militar ( continuação da economia por outros meios) é um poderoso meio de autodefesa e represália exercido pela aliança tripartida entre a Rússia/China/Irão. Nestes acordos e alianças no continente asiático e não só nesse continente, assiste-se à fundação dos pilares de uma nova ordem internacional. É verdade que não elimina o sistema capitalista, poderá até dizer-se que o salva por outras formas e modelos. contudo é inegável que a super potência económica líder deste processo contraditório tem a conduzi-la o maior partido comunista do planeta. Segundo muitos analistas a China é já um país de economia socialista e politicamente anti imperialista, coadjuvado pela RDP da Coreia, pelo Vietname, Laos, Camboja.
A cabeça da hidra- os EUA- estremece e reage com sanções, chantagens e ameaças. Assim se revela a sua fraqueza crescente, imparável. O Império dos USA nunca mais será o mesmo. Verificamos visivelmente um novo equilíbrio de forças e de blocos económico-militares neste século. O processo histórico de revoluções ainda está por se manifestar ; porém, as mudanças progressistas chegaram finalmente depois de décadas de dominação absoluta do imperialismo. Como víamos o novo século em 2001/2? O desenvolvimento rápido do Plano Estratégico do império estadounidense, acolitado pela arrogância de uma Europa aglutinada tranquilamente numa União. Todas as Administrações norte-americanas (Bush, Obama, os Clinton) mostravam-se triunfantes. Inclusivamente a China desses inícios atraía o grande capital e recebia-o de braços abertos, forjando no seu "socialismo" um brutal exploração do proletariado ; a Rússia de Putin e Medvedev ansiava então ser acolhida pela UE, senão mesmo pela OTAN. Todo este cenário mudou numa escassa década. Acontecimentos geram outros acontecimentos e a necessidade se acasala com a contingência, do arco de possibilidades sai uma que se torna real ou predominante, a espiral das contradições que compõe o Processo Histórico (ou é ele próprio) na Idade Moderna (na ascensão do modo de produção capitalista no Ocidente, em suma) cria o Novo. Mas pode provocar também o desastre final da Humanidade. A oposição entre duas fortes posições contraditórias pode resultar na vitória e submissão de uma delas, ou na destruição mútua.
A classe operária não existe. Uma classe só o é se alcançar a sua autoconsciência na unidades dos seus propósitos e origens). Existe o proletariado , porém sem consciência de classe, com exceção de uma escassa minoria dispersa pelo planeta. Estamos a utilizar a definição de proletariado na sua acepção clássica : massas de operários industriais ou assalariados do sector capitalista produtivo. O modelo do emprego precário e do contrato individual fragmentou os assalariados, colocou-os uns contra os outros, converteu-os em meros produtores em sobrevivência. Os poderosos e quase únicos (sem rivais) meios de propaganda (noticiários, desinformação) que o grande capital foi criando ou deles se foi apoderando. permitiu-lhe formatar uma consciência "de classe" que é a dele, do Grande capital, a ideologia dominante (ou, no sentido que Marx deu de Ideologia, na única ideologia) . Ou seja : o proletariado "julga" ou percepciona num quadro mental do gosto da classe capitalista, crendo que pensa por sua própria cabeça, que vota por livre escolha. O proletariado pensa o que o capital quer que ele pense. Pensa que a culpadas suas desgraças são os imigrantes, pois é isso que o grande capital quer, para baixar o preço da força de trabalho. Pensa que os imigrantes trazem o crime e a insegurança, porque é isso mesmo que o Capital quer que ele tema. O proletariado (no ativo ou aposentado) despreza a cultura (que ignora em absoluto) e os costumes (como a indumentária e a religião) e teme que estes costumes e religiões seja impostos aos "nativos" e lhes substituam as suas tradições (que, na realidade são mutáveis e históricas), pois é isso mesmo que a extrema-direita ao serviço desses sectores do grande capital querem que ele tema. Querem que ele odeie, e ele odeia. Querem que ele tenha medo do futuro, para ser ele, o grande capital a construir (ou a destruir ?) o futuro.
Em que me baseio? É pura "ideologia"?
A crise da economia industrial capitalista é manifesta na Europa e particularmente nos EUA. As crises provocadas pela dominação do capital financeiro, nomeadamente especulativo ou não produtivo, provaram-se em 2008/9. As saídas que os testas-de-ferro do capital europeu estão a procurar desesperadamente apontam notoriamente para nova brutal austeridade. Esta irá provocar, seja qual for a sua forma, o protesto social. Até pode vir a ser sob a forma neo fascista. As debilidades da social-democracia, a sua promiscuidade com o neo-liberalismo e o militarismo, não se apresentam de modo nenhum com travão a regimes autoritários e austeritários. a Esquerda clássica vê-se , assim, amputada das forças que já foram poderosas ditas do "socialismo democrático". Nem sequer o termo "socialismo" se escuta. Das esquerdas comunistas devemos afirmar que algumas não são revolucionárias, muito embora as contamos como forças democráticas opostas à dominação do grande capital. Partidos que até poderão "desviar-se" para a esquerda revolucionária. O certo, porém, é que toda ela, a Esquerda mais, pouco ou nada revolucionária e anti imperialista e socialista, está dividida, sem voz nos media, sem recursos humanos e materiais necessários a grandes ofensivas, apoiam-se em sindicatos e federações nacionais e internacionais confinadas a objetivos exclusivamente económicos - sindicatos dos quais se encontram alheados milhões de proletários europeus e norte-americanos -.
J. A. Nozes Pires, Maio 2025
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