O Romantismo tomado no seu espírito e na sua letra foi uma reação das camadas sociais conservadoras. Nas suas origens e considerados os seus mais importantes intérpretes a partir da segunda metade do século dezoito, foi uma interpretação, em alguns casos, reacionária da vida social e dos acontecimentos históricos. O protoromantismo de Rousseau manifesta-se nas suas contradições e dilemas entre o desprezo pela modernidade e pela Cultura e o seu desejo sincero de transformações revolucionárias. No abade Dom Deschamps é o mesmo dilema : profunda e sincera compaixão pelos pobres e pelas raparigas obrigadas pela fome à prostituição e o receio de uma revolução que se traduziria em violência e na eliminação dos "bons" aristocratas, na sua substituição pelos agiotas e mercadores . Em suma, no seu caso em particular, pelas primitivas formas do capitalismo. Rousseau, pré romântico no seu "Emílio" não foi advogado do capitalismo nas formas bárbaras que com que este se desenvolvia em França e na restante Europa. Contudo, foi o seu romantismo que prevaleceu em determinados países mais atrasados ou em determinados elementos das camadas dominantes.
O romantismo foi, desde as suas origens no século dezoito, uma reação contra a Ilustração, confundida melhor ou pior com o progresso material capitalista. Era o que exprimiam com o seu apelo ao regresso à natureza, ao sentimento, ao sonho, à mística, à religião em alguns casos sobretudo na Alemanha retalhada e atrasada. A polémica de Kant com Herder representou a primeira, porventura, polémica do racionalismo contra o irracionalismo. Histórica ou socialmente representou a guerra de duas ideologias que exprimiam interesses de sectores de classe ou mesmo classes distintos. O romantismo foi, assim, e, Herder, Schelling e várias figuras notáveis de filósofos e poetas, o advento do irracionalismo moderno, o qual, nas suas devidas curvas e contracurvas, descampou nos movimentos políticos mais reacionários do século vinte, em particular no nazismo e no fascismo, respetivamente na Alemanha e na Itália.
Ao contrário do que alguns marxistas sinceros defendem, com bons argumentos e documentos, o pensamento de Marx não teve nada a ver com primeiras ou segundas simpatias pelos irracionalismos do romantismo. Marx rapidamente inclinou-se para o materialismo, aquele materialismo, note-se, que esteve sempre contra religiões e místicas, aquele materialismo que esteve sempre inclinado para o pensamento científico, a análise lógico-empírica dos factos brutos, fossem eles económicos, políticos, ou outros. Marx não foi um romântico e o materialismo não é romantismo, no sentido em que aqui o tomámos. Por isso, o marxismo legítimo e genuíno de Marx, Engels e seus continuadores, como V. I. Lenine, deseja ou promove o desenvolvimento material, i. é, tecnológico, um desenvolvimento propiciado pelas ciências e pela Razão, posto ao serviço daqueles que o produzem.
O marxismo não recusa a estética, nem a ética. Não rejeita o papel revolucionário, ideológico, da poesia e da arte em geral. Grandes artistas foram revolucionários na sua vida cívica, ou estimularam a militância revolucionária. Contudo, não reserva à poesia o papel de substituta da ciência ou da filosofia materialista. Cada atividade é útil e legítima, porém distinta umas das outras. Não se analisa o imperialismo do século vinte e um principalmente com a poesia ou a música e muito menos com o irracionalismo de Nietzsche ou de Heidegger.
O elogio do "bom selvagem" rousseauniano ou deschampsiano é apenas uma fábula, um modo apelativo para salvarmos a nossa natureza e a natureza em geral. Salvarmos a Vida. Mas somente a salvaremos combatendo a ganância do capital, dos donos do dinheiro e da força de trabalho. Não os venceremos nunca os vencemos, com o romantismo reacionário na sua forma extrema de irracionalismo.
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