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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Escassez de recursos e crise imperialista- Rui Namorado Rosa

Imperialismo e Crise

A crise do capitalismo é também a subordinação à dinâmica do capital financeiro e a incapacidade de entender a natureza e as limitações impostas pelos factores naturais na produção económica. O choque do preço do petróleo, demais combustíveis fósseis e matérias-primas e alimentos com forte incorporação de energia, em 2008, e a subsequente quebra de produção e queda de preços, conduziu o sistema capitalista a adiar investimentos em novos projectos em vista de serem progressivamente mais dispendiosos, demorados e com período de retorno mais longo (Michel Mallet, 2009; Ed Crooks, 2009). Esta opção em subordinar a racionalidade económica ao paradigma financeiro, terá como consequência o agravamento das actuais circunstâncias económico-sociais e a indução de renovados estrangulamentos e choques, quando forem tentadas retomas futuras.

O lado geoestratégico do aprovisionamento de energia está enfatizado pela concentração (presentemente cerca de 2/3), que se vais acentuando, das reservas remanescentes quer de petróleo quer de gás numa “vasta” mas “estreita” faixa entre o Médio Oriente e a Sibéria Ocidental. Bem como pela concentração do controlo da produção e exportação num pequeno número de grandes monopólios estatais (NOC), sem prejuízo de parcerias com grandes companhias internacionais (IOC), o que confere ao “negócio dos hidrocarbonetos” uma importância e uma aproximação à dimensão de “negócios estrangeiros” dos respectivos países. A Agência Internacional de Energia admite que uma grande reestruturação prossegue na indústria de prospecção, extracção e comercialização internacional de hidrocarbonetos (“upstream”), com as NOC a desempenharem um papel de ainda maior destaque no futuro, em particular assegurando 80% da produção adicional futura (essencialmente a substituição da produção em declínio).

A produção de matérias-primas – minerais e orgânicas – por força do crescimento do seu volume e da degradação da qualidade da base de recursos tradicional e dispersa em que tem sido produzida, deslocaliza-se e concentra-se agora em algumas poucas áreas produtoras e dá suporte a “economias emergentes”.

Os solos e a água doce necessários às actividades agrícolas degradam-se e escasseiam, e aquisições ou investimentos em África e na América Latina procuram assegurar a expansão ou a mera renovação de recursos insuficientes, degradados ou exauridos.

A grande indústria mineira disputa recursos além fronteiras enquanto alguns países impõem medidas proteccionistas, à medida que reservas e teores declinam, minas encerram e stocks se esgotam. Uma dúzia de países detém o grosso da produção de dezenas de metais e outras substâncias escassas não substituíveis.

Pelo contrário, as economias industrializadas tradicionais vêem-se constrangidas pela relativa indisponibilidade de energia e de variadas matérias-primas essenciais às designadas “altas tecnologias” ou de importância “estratégica” através das quais afirmam a sua força política e militar e competem no comércio no plano internacional.

A grande crise financeira que se desenvolveu e eclodiu em 2008 enquadra-se ou converge com manifestações de crise de aprovisionamento de bens que estão nos alicerces da actividade económica e que como tal são essenciais à estabilidade e opulência das sociedades “desenvolvidas”, como são à sobrevivência de sociedades “sub-desenvolvidas”: energia (combustíveis líquidos em particular), água para irrigação e abastecimento, solos férteis e produtivos, fertilizantes, bens alimentares bastantes, e bens de consumo massivo (desde os supérfluos aos indispensáveis).

Esta crise, recessão económica prolongada com profundo impacto social potencialmente conducente a uma depressão global, é coincidente com una vaga de concentração de capital e acentuada sobreprodução. Porém, pela primeira vez, a sobreprodução coincide com a escassez não superável de um largo leque de produtos minerais insubstituíveis. Esta circunstância nova sugere que a saída desta crise capitalista não passará por soluções já experimentadas no passado ou antecipáveis, nem conduzirá a um período de expansão e ao retorno a um mundo já conhecido, como aconteceu em fenómenos anteriores.

Isto também significa que a “superação” da crise financeira não resolve os constrangimentos materiais em que o sistema económico se encontra, e que uma nova ordem de organização da produção e da sua repartição deverá ser instituída.

A evolução para um mundo policêntrico, dos pontos de vista económico e político, abre caminho à ascensão da competição inter-capitalista, e pode suscitar reacções de conflito e até agressão, se não directa entre os principais protagonistas, então interpostas, ou ainda pela cativação de áreas de influencia ou mesmo dominação militar. Os sinais de “guerra cambial” e de “guerra comercial” que se vêm registando ao longo de 2010 são sintomas preocupantes.

Em contraponto à difusão do progresso técnico, à ascensão económica e a ganhos sociais em várias partes do mundo, o imperialismo procura manter a velha ordem. Para o que carece de criar inimigos e de suscitar divisões para justificar a imposição forçada ou até a subjugação militar. Neste sentido, alianças político militares, designadamente a NATO, são uma ameaça à segurança dos povos e à paz no mundo. E tal como destroem, também distraem da atenção e esforço urgentemente necessários para a resolução dos problemas que afligem a humanidade.

in ODiario.info

terça-feira, 28 de junho de 2011

Ah, a Família!

A Família é a grande preocupação deste Governo de Direita. A retórica de Direita sempre fez da Família uma trave-mestra. E sempre as oposições, ou a Esquerda, a classificou de pura hipocrisia. Vem a propósito do Programa de Governo, hoje conhecido, no qual ele -o Governo- se exige a si próprio monitorizar ou avaliar os "impactos sobre as famílias" de todas as medidas de austeridade (ou as "reformas" como eles gostam de apelidar). Iremos assistir diariamente a entrevistas, sondagens, referendos, filmes, documentários, sobre o impacto da semi-privatização do Serviço Nacional de Saúde, por exemplo, da reducção do subsídio de desemprego, de natalidade, por exemplo, e outros exemplos. Vamos?
As famílias irão ficar mais pobres, mas, pelo menos, ficarão a saber que estão mais pobres.

Memórias

Sempre achei que a memória era a minha ferramenta principal. Lamentavelmente nunca possui uma excelente memória para nomes (alguns é para datas, eu para nomes), nomes de pessoas, nomes de lugares: vejo as caras, não descortino os nomes. É claro que agora, com a idade, o caso vai piorando.
Contudo, lembro-me ainda bem que o Dr. Mário Soares, que agora defende a Grécia dos ataques especulativos, o Estado Social e outras "socializações", foi o mesmo que pediu auxílio à CIA para conspirar contra a Revolução de Abril, iniciou a seguir o ataque a todas as transformações revolucionárias (afinal, já inscritas na Constituição que ele aprovara) e chamou o FMI. Recordo bem igualmente que o Dr. Barreto, que preside a umas comemorações patrióticas e trata Portugal por "tu", foi o mesmo que exterminou a Reforma Agrária, da qual retenho a mais viva e saudosa memória.
É assim a memória: selectiva. Espero estar vivo daqui a uns anitos para quando ler ou ouvir o engenheiro Sócrates, que um panegírico apelidava de "menino de oiro", declarar o seu amor pelo "Estado Social", recordar que em seis anos se dedicou a destrui-lo.
Enquanto tiver memória, conheço.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Aterremos pois!

O novo ministro da Economia, que afeiçoa um rito histriónico que pretende exprimir alegria permanente, o que é assaz difícil numa situação em que reina a insanidade, declarou numa entrevista que o seu desejo (supõe-se que o seu maior desejo) é ver Porrtugal convertido numa Florida. Entro na sua mente e vejo as praias enxameadas de windsurf e outros surfs, jaguares nos passeios (refiro-me aos automóveis dessa e outras marcas similares, baratíssimos de resto), campos de golf a perder de vista nos vales, teleféricos nas serranias, resorts, habitações rurais de luxo, condomínios absolutamente privados e discretos com seguranças nos portões, e velhos, muitos velhos, todos estrangeiros, todos ricos ou semi-ricos, de calções e havaianas, fumando charutos nas esplanadas e petiscando umas petingas por curiosidade. E nós, o povo, el pueblo, desunido e vencido, abanando leques (ou abanicos) sobre suas reais cabeças.
Andou por aqui um economista e sua empresa especializada em profecias a aconselhar algo parecido para o Oeste. O ministro aconselha para o país todo.
O nosso futuro é servir às mesas, ó marinheiros audazes que Camões cantou!

domingo, 26 de junho de 2011

Memória

Há uma coisa que faz falta ao comum dos indivíduos: a memória histórica. A ausência de conhecimentos da história e a avalanche ruidosa de informações espartilhadas, descentextualizadas, somadas à desarumação da mente, impossibilita a análise racional dos factos (sejam eles construídos, sejam eles objectivos). Os factos são "coisas", ensinava Durkheim, externos, coercivos, relativos. Olhados, podem nem sequer verem-se. Necessitam de articulações, análises e sínteses como ensinava o racionalismo pioneiro de Descartes. As informações e notícias são produtos simplificados, os factos são complexos (relações de causa-efeito, relações dialécticas, associações e continuidades). A História ensinada é fragmentária, partes a que falta o todo. Ora, a totalidade é uma categoria fundamental do pensamento.
Nestas ausências desvelamos as debilidades do pensar comum e contemporâneo que, assim, aceita o que lhe dão sem pestanejar.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Donde vimos, onde estamos?

Opinião de Manuel Carvalho da Silva (Coordenador da CGTP) in Jornal de Notícias


Donde vimos, onde estamos?


2011-06-11


Bento de Jesus Caraça, nos nebulosos anos 30 do século passado, dizia que a resolução dos problemas que se colocavam à sua geração exigiam "um prévio esforço de pensamento" para "saber, por uma análise fria e raciocinada, quais são esses problemas, quais as soluções que importa dar-lhes - saber donde vimos, onde estamos, para onde vamos".

Como trabalhar as respostas às três dimensões da interrogação?

José Saramago disse um dia que "somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos, sem responsabilidade talvez não mereçamos existir". Ora, o neoliberalismo abjura o exercício de memória e não quer cidadãos livremente responsabilizados.

Só é possível vender velharias dos séculos XVIII e XIX como modernidades escondendo de que forma se construiu o progresso das sociedades. Por exemplo, o que significou passar a retribuição do trabalho da dimensão de subsídio de subsistência para a de partilha (mesmo que injusta) da riqueza produzida pelo trabalhador(a); o que significou atribuir direitos e factores de estabilidade e segurança ao trabalho e afirmar o direito do trabalho; o que significou universalizar direitos sociais e garanti-los através de valores solidários colectivamente assumidos; o que significou o controlo do tempo de trabalho, fazendo emergir dimensões do não trabalho que tornam o ser humano mais pleno e feliz; o que significou a conquista e a consagração da contratação colectiva, o mais eficaz instrumento de políticas de distribuição da riqueza na 2.ª metade do século XX; o que significou o investimento público em infra-estruturas e serviços básicos.

Vimos somando anos de fraco crescimento económico, de agravamento de desigualdades e do desemprego, mas sabemos com que interesses particulares se destruiu grande parte do sector produtivo, o que se passou com a apropriação indevida de fundos comunitários ou quem lucra escandalosamente com a especulação financeira, conhecemos a doença dos desvios dos orçamentos das obras públicas ou os privilégios dos atingidos pelos vírus do compadrio, da troca de favores e da corrupção, das promiscuidades entre interesses públicos e interesses privados.

Agora onde estamos?

Estamos atolados nos resultados daquelas políticas e práticas, nos impactos dos desastrosos caminhos que a União Europeia (UE) está prosseguindo e prisioneiros do processo de agiotagem que se vem impondo.

Estamos numa situação política delicada em que a Direita atingiu, pela 1.ª vez, o objectivo com que sonhou desde o rescaldo da contra-revolução de ter, simultaneamente, uma maioria, um governo e um presidente. Agora dispõe ainda do acrescento de sermos membros de uma UE sob o comando da Direita (e extrema-Direita), tendo como eurocrata-chefe um português da Direita portuguesa. É urgente que se tome consciência colectiva deste facto político!

Grandes desafios se colocam à Esquerda, ou às esquerdas portuguesas. É tempo de neste(s) campo(s) se encetar, também, uma "análise fria e raciocinada" que propicie aos portugueses identificarem sinais políticos que ajudem à construção da esperança e da confiança no futuro que hão-de sustentar necessárias alternativas. Alguns importantes confrontos a travar estão aí no imediato e é preciso pensar e agir para além do "contexto da crise".

No espaço deste artigo não cabem as necessárias reflexões e propostas responsabilizadoras para caminharmos em bom sentido. Hoje deixo apenas três considerações de partida: (i) a execução das políticas receitadas pela troika, que o futuro Governo se propõe executar com zelo, conduz-nos ao retrocesso, nomeadamente, económico, social e civilizacional; (ii) em democracia as maiorias políticas têm de se sustentar na identidade com os direitos e os anseios dos cidadãos, e as maiorias sociais são indispensáveis para que os projectos políticos tenham êxito; (iii) a insistência nas teses de que não há alternativas, para além de ajudarem ao prosseguimento do roubo, negam a própria democracia.

Em democracia, nunca existe a inevitabilidade de uma escolha única.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Crises

O Bloco de Esquerda (BE) sofreu um fortíssimo golpe nas últimas eleições. É mau para ele, é mau para a Esquerda. O eleitorado flutuante que dirigiu as suas expectativas para o BE em eleições passadas, deslocou-se ou para o voto útil no PS (eventualmente com receiio da Direita), absteve-se ou votou em branco (as redes sociais difundiram uma campanha a favor do voto em branco). O BE encontra-se numa encruzilhada: ou mantem-se coerente com as posições corajosamente assumidas contra a tróika e o memorando, ou inflecte para posições mais recuadas. Estas diferentes estratégias (ambas não excluem tácticas coerentes ou oportunistas) são de ora em diante inseparáveis da crise paralela que atravessa o PS. Pode-se dizer-se que ambos se olham para ver o que faz o outro. O PS necessita de uma base social de apoio (sindical em primeiro lugar) seja para controlar a reacção às medidas do memorando e aquelas que vão para além dele (aquela margem de "interpretação" que a tróika permite e deseja, "lavando as mãos"), seja para controlar o descontentamento orientando-o tacticamente contra o governo mas não contra o memorando (desgaste do governo de modo a capitalizar o descontentamento a favor de um governo alternativo com mais vocação "social"). O BE tem que escolher: ou aproximar-se de um PS combativo (embora nos limites estreitos da mera alternância), conservando o programa de combate às políticas impostas pela tróika (aproximação táctica e não estratégia para participar num futuro governo?), ou aproxima as suas posições com um PS demagógico, populista, inserido no "consenso" dos três partidos (consenso tão desejado e promovido pelas directórios do grande capital da UE), recua até se ver o fundilho das calças. Em qualquer dos casos o risco da estagnação é grande. Na certa o descontentamento social e popular vai emergir (veremos se vai explodir) e na massa dos descontentes estão, estarão, os eleitores do PCP e do BE. Porém os eleitores putativos do BE são também do PS...

Dividocracia (5 partes)

http://www.youtube.com/watch?v=DXuBYn9Vccw&feature=player_embedded (1)


http://www.youtube.com/watch?v=PEMXQUO3ioM&NR=1 (2)

http://www.youtube.com/watch?v=24apzLUED8c&NR=1 (3)

http://www.youtube.com/watch?v=Q5qiPU18Wx0&NR=1 (4)

http://www.youtube.com/watch?v=ZH_Dy8nFpyw&NR=1 (5)

A Doutrina do Choque (clicar)

http://vimeo.com/21049802

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A crise está no DNA do sistema capitalista

por George Mavrikos [*]

Queridos amigos e companheiros,

Saudamos a todos os presentes em nossa reunião de hoje e agradeço-lhes pela sua participação neste evento que tem como objetivo informar sobre as iniciativas e atividades da FSM já aprovadas pelo Secretariado, para ouvir suas sugestões.

Dois ou três anos atrás, quando surgiu a nova crise do sistema, ouvimos muitos analistas tentando convencer-nos de que a culpa pela crise era dos Golden Boys, o capitalismo de casino e outros comentários bonitos e agradáveis …

Agora, esses mesmos analistas tentaram e ainda tentam nos convencer de que devemos culpar os maus trabalhadores gregos, aos maus trabalhadores portugueses, que a culpa é do povo espanhol, dos italianos, irlandeses, belgas, etc, dos grandes salários dos trabalhadores, etc.

Todas estas análises têm um único objetivo: esconder a verdade aos trabalhadores. Esconder que a crise é uma crise profunda do sistema capitalista, que multiplica as rivalidades inter-imperialistas e inter-capitalistas pelo controle de novos mercados, a redistribuição das fronteiras para controlar os países e as fontes de produção de riqueza.

Esta é a verdade. Esta é a realidade.
Basta olhar para os conflitos entre o euro e o dólar.
Basta olhar para o antagonismo por parte dos dirigentes do Fundo Monetário Internacional.
Basta olhar para o antagonismo do conflito no norte da África.
Basta olhar para a barbárie imperialista contra o povo da Líbia.
Basta olhar para a estratégia dos EUA e da OTAN para o chamado novo Oriente Médio.
Basta olhar para o enorme aumento dos preços dos alimentos como milho, trigo e açúcar.

São os Golden boys (meninos de ouro) que criaram esta situação?

Nós, membros e amigos da Federação Mundial Sindical, organizamos há dois meses em Atenas o 16º Congresso Sindical Mundial, conversamos sobre todos estes temas atuais e críticos. 828 delegados de 101 países analisaram de uma forma aberta, democrática e militante as contradições do mundo, tirando nossas conclusões e adotando nossas novas tarefas.

Com base neste debate rico sublinhamos que a crise do sistema capitalista está sendo paga pelos trabalhadores, a crise exacerbou as contradições entre os trustes, cartéis e grupos de Estados, criando guerras e estados-fantoches dos EUA e seus aliados. Também aumenta a desigualdade e a competitividade.

A crise está sendo explorada por todos os governos capitalistas para derrubar os salários, reduzir as aposentadorias e pensões, privatizar os bens públicos, generalizando o emprego de tempo parcial, para abolir a negociação coletiva e os acordos coletivos.

A propaganda do capital de que, por meio de políticas anti-populares gerará crescimento e evolução da recuperação é um mito.

• Tome-se como exemplo a Grécia, onde esta política tem aumentado a taxa oficial de desemprego de 7% para 18%.

• Tome-se o caso da Irlanda, onde o desemprego, segundo dados oficiais registrados é de 14,6% em abril de 2011.

• Considere-se o caso de Portugal, onde no primeiro trimestre de 2011 o desemprego foi de 12,4%.

Mas, em geral, nos países da zona do euro, se confirma que o chamado desenvolvimento é fraco, muito frágil e temporário. A média da UE é de cerca de 0,6%, sem qualquer dinâmica. O Japão é de cerca de 2%.

Nos EUA, apesar das grandes promessas, a OCDE espera um crescimento fraco em torno de 2,6%, enquanto a dívida dos EUA aumentará para 107% do PIB, e o desemprego, 8,8%.

O que significam estes dados? Significa que o capital e os seus líderes políticos não são capazes de oferecer uma solução viável para os trabalhadores. A crise está no DNA do sistema capitalista.

Perante esta situação, os sindicatos e os trabalhadores do mundo têm o dever de resistir, de lutar, de unir todos os trabalhadores, independentemente das diferenças políticas, religiosas e de outro tipo. Todos os trabalhadores pertencem à mesma classe e podem lutar juntos.

• Lutar para defender as conquistas dos nossos povos.

• Lutar para atender às necessidades atuais dos trabalhadores, imigrantes, sem-teto, desempregados, etc.

• Lutar para que cada família tenha alimentos e água potável.

• Lutar pela segurança social, educação, saúde pública, liberdades democrática e sindicais.

• Promover todas as demandas atuais, enquanto fazemos um apelo aos trabalhadores para encontrar uma saída real num mundo sem exploração do homem pelo homem, onde os próprios trabalhadores, os camponeses pobres, os trabalhadores por conta própria estarão no poder.

Todos os membros e amigos da FSM com os quadros eleitos no 16 º congresso, nos deparamos com novas responsabilidades, para implementar as decisões do Congresso, coordenar os trabalhadores em todos os setores, na luta contínua contra os monopólios e multinacionais.

NOSSAS INICIATIVAS

O próximo grande passo será o Dia Internacional de Ação da FSM, em 3 de Outubro, que, de acordo com a decisão do Secretariado, será um dia de duplo significado, pois coincide com o dia de fundação da Federação Sindical Mundial, em 03 de Outubro de 1945. Os principais objetivos são:

35 horas de trabalho semanais – sete horas por dia, cinco dias por semana, melhores salários

Serviços de segurança social para todos

Negociação coletiva – acordos coletivos

Liberdades democráticas e sindicais

Solidariedade com o povo palestino

O Dia Internacional de Ação marcará o início de novos protestos contra as privatizações e demissões. Deverá envolver a participação de todos os estratos sociais contra as políticas dos monopólios e das multinacionais.

Consideramos positivo que em muitos países de todo o mundo, os jovens e cidadãos indignados saiam e se manifestem nas ruas e praças. Acreditamos que devemos ajudar aqueles que participam "voluntariamente" a tomar consciência e olhar desde uma perspectiva classista as causas que criam os problemas, para ajudar as novas gerações a participarem dos sindicatos de uma maneira organizada. A luta organizada, com objetivos e conteúdos específicos, pode trazer resultados para o presente e o futuro.

18/Junho/2011

[*] Secretário-geral da Federação Sindical Mundial. Discurso pronunciado na reunião do Conselho Presidencial da FSM, realizada em Genebra.

Este discurso encontra-se em http://resistir.info/ .

sexta-feira, 17 de junho de 2011

MANUEL DA FONSECA

Antes Que Seja Tarde



Amigo,


tu que choras uma angústia qualquer


e falas de coisas mansas como o luar


e paradas


como as águas de um lago adormecido,


acorda!


Deixa de vez


as margens do regato solitário


onde te miras


como se fosses a tua namorada.


Abandona o jardim sem flores


desse país inventado


onde tu és o único habitante.


Deixa os desejos sem rumo


de barco ao deus-dará


e esse ar de renúncia


às coisas do mundo.


Acorda, amigo,


liberta-te dessa paz podre de milagre


que existe


apenas na tua imaginação.


Abre os olhos e olha


abre os braços e luta!


Amigo,


antes da morte vir


nasce de vez para a vida.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Entrevista

Entrevista com István Mészáros




Europa tornou-se sistema de partido único

Cláudia Antunes*

15.Jun.11 :: Outros autoresA actual crise do capitalismo enterrou os resquícios de diferença entre social-democratas e conservadores na Europa. Vale para o continente a frase que o escritor Gore Vidal cunhou para caracterizar os EUA: é um sistema de um só partido com duas alas direitistas.

 
FOLHA - A resposta dos social-democratas à crise foi voltar às ideias de John Maynard Keynes sobre intervenção estatal, enquanto governos de esquerda na América Latina reforçaram o papel do Estado no desenvolvimento. Eles estão certos?

ISTVÁN MÉSZÁROS - Governos social-democratas sempre tentam voltar a Keynes para solucionar o que acreditam ser crises financeiras. Isso pode trazer alívio temporário, mas não uma solução real. Isso porque as chamadas crises financeiras são também sociais, com extensas ramificações, especialmente sob as actuais condições de desenvolvimento socioeconómico global.

Nas últimas décadas nós assistimos a uma significativa –e também perigosa– virada em favor do domínio económico-financeiro, como uma alternativa em última instância inalcançável ao desenvolvimento produtivo, muitas vezes com consequências incontroláveis ou até mesmo fraudulentas, mesmo quando sancionadas pelo Estado. Em muitos países o resultado foi e continua sendo a falência maciça, seguida de resgates feitos pelo Estado, que mergulha mais e mais no chamado “endividamento soberano”.

Na Europa três países estão obviamente falidos –Grécia, Irlanda e Portugal–, enquanto vários outros, incluindo economias maiores como a Itália e o Reino Unido, não estão muito longe disso. É verdade que “Estados soberanos” podem intervir para se proteger, por meio do agravamento de seu próprio endividamento. Mas também há um limite para isso, e ir além pode gerar problemas ainda piores. A dura verdade é que agora nós ultrapassamos as mais optimistas recomendações keynesianas: em vários países o volume de dívida insustentável chegou aos trilhões de dólares.

FOLHA - Como o sr. interpreta o predomínio de governos de direita hoje na Europa, incluindo uma forma bem extremada na Hungria?

MÉSZÁROS - Esses problemas são em grande medida cíclicos, e no próximo ciclo os governos podem ir para a outra direcção. Mas o aspecto mais importante dessa questão é o tipo de desenvolvimento político-institucional a que estamos assistindo nas últimas duas décadas ou mais. O escritor americano Gore Vidal o caracterizou bem quando disse que nos Estados Unidos temos “um sistema de partido único com duas alas direitistas”. O mesmo é verdade na maioria dos países europeus. É suficiente lembrar que tanto na França quanto na Itália os antigos partidos comunistas se transformaram em forças políticas muito difíceis de distinguir de seus oponentes neoliberais.

Claro que na Hungria a mudança no Parlamento assumiu uma forma chocante [dois terços das cadeiras estão na mão do ultraconservador Fidesz]. No entanto, é necessário lembrar que o partido que o antecedeu por oito longos anos no governo [nominalmente social-democrata] esteve muito longe de ser um partido de esquerda, com sua devoção a impor aos trabalhadores as políticas neoliberais mais dolorosas, disseminando o ressentimento e a alienação.

Se quisermos superar a paralisia do “sistema de partido único com duas alas direitistas”, é preciso mudar o processo de tomada de decisões políticas. Na Grécia e na Espanha, por exemplo, temos supostamente governos “socialistas”, mas nada que devamos comemorar. E na Inglaterra, na próxima eleição, devemos ver o retorno de outro governo “socialista”. À luz da experiência passada, quem seria corajoso o suficiente para sustentar que um governo do “Novo Trabalhismo” representaria mais do que uma mudança cosmética?

FOLHA - O sr. está optimista com as últimas manifestações populares na Espanha e na Grécia?

MÉSZÁROS - A palavra optimista não cabe muito bem. Não penso nesses termos porque sei que muita coisa pode dar errado e, como resultado, muitas vezes os mais vulneráveis e fracos têm que arcar com o maior peso. No entanto, estou certamente esperançoso, e reconheço que é preciso encontrar esperança, do contrário seria apenas um “pensamento positivo” que se extinguiria numa ilusão derrotista.

De fato, há uma boa base para estar convencido de que nem a Grécia nem a Espanha podem se conformar com os requerimentos prescritos a elas pelo sistema bancário internacional. Também nesse aspecto há um limite. É de fato muito irónico que nesses dois países a tarefa de impor um arrocho cada vez maior aos trabalhadores tenha sido passada a um governo “socialista” e assumida por ele.

Inevitavelmente, essa circunstância carrega com ela um processo de aprendizado penoso e o necessário reexame das respostas institucionais tradicionais dadas à pergunta “o que fazer?”. Seria ingénuo pensar que esse aprendizado pudesse trazer resultados rápidos. No entanto, a dimensão positiva de tudo isso é que grupos cada vez maiores de trabalhadores se vêem diante do desafio inevitável de reavaliar tantos as formas de tomada de decisão com que se acostumaram no passado quanto as respostas a ela. Seria arrogante presumir que nada de significativo possa emergir desse processo.



FOLHA - Qual será sua principal mensagem aos universitários que o ouvirão no Brasil?

MÉSZÁROS - Em certo sentido é muito simples. Quero chamar sua atenção para a natureza da crise de nosso tempo e a necessidade de lidar com ela o mais rápido possível. Porque o que devemos encarar não é a crise cíclica tradicional do capitalismo, que vai e vem em intervalos regulares, mas algo radicalmente diferente. É a crise estrutural global do sistema do capital em sua integralidade, que não pode ser conceituada nos termos habituais da “longa onda descendente” (downturn) seguida da confortadora “longa onda ascendente” (upturn), dentro de um período de mais ou menos cinco décadas. Há muito tempo essa caracterização perdeu credibilidade e não há nenhum sinal da fictícia “longa onda ascendente”.

A razão pela qual é importante reposicionar nossa atenção nessa direcção é porque uma crise estrutural requer remédios estruturais radicais para sua solução. O que está em jogo é muito grande porque nossa crise estrutural está se tornando mais profunda, em vez de diminuir. A crise financeira global a que fomos submetidos nos últimos anos é um aspecto importante disso, mas só um aspecto. Não há lugar para a auto complacência quando trilhões de dólares jogados fora mal puderam arranhar a superfície do problema real.



FOLHA - O sr. previu uma confrontação entre os EUA e a China. Também sugeriu que a China não pode ser classificada como um país capitalista. Ainda pensa assim?

MÉSZÁROS - Sim, nos dois casos, mesmo se desde que eu escrevi isso, há 12 anos, muitas coisas mudaram e devem continuar mudando. O principal ponto é a diferença dramática no nível de desenvolvimento económico dos dois países, com sinais de conflitos de interesse significativos decorrentes desse fato surgindo em partes diferentes do planeta, incluindo a África e a América Latina.

Considerar a China simplesmente como um país capitalista é simplista demais. O facto é que alguns sectores vitais da economia, especialmente na produção de energia e na extracção de material estratégico, estão em grande medida sob o controle do sector estatal. Além disso, e isso é um fato de importância seminal, o sector bancário e o câmbio - questão muito debatida e ressentida pelos EUA - estão sob controlo estatal completo. Tente convencer as empresas capitalistas e o sistema bancário nos EUA a imitar isso.

Conflitos de interesse nessas linhas podem não apenas se intensificar como se tornar não administráveis, ao ponto da explosão. Mas claro que seria loucura pensar nisso em termos de fatalidade. No entanto, muitos problemas herdados do passado terão que ser confrontados no tempo certo para resolver as contradições subjacentes.

FOLHA - O sr. disse uma vez que “revoluções reverberam por séculos, até que suas causas profundas sejam resolvidas”. O sr. vê alguma reverberação de revoluções passadas nas revoltas que ocorrem nos países árabes?

MÉSZÁROS - Sem dúvida podemos ouvir potentes reverberações, ao lado dos temas prementes às populações dos países em questão. É quase impensável que o chamado “Estado pós-colonial” de dominação e dependência da segunda metade do século 20 pudesse ser mantido permanentemente nesses países. E claro que estamos muito longe do fim desse processo doloroso.

Também não podemos nos esquecer que a grande maioria das pessoas nos países afitados tem o problema básico de se alimentar, problema que está se agravando com o aumento do preço dos alimentos em todo o mundo.

Além disso, quando o presidente Obama (ou os redactores de seus discursos) fala das virtudes da “democracia”, eles falham em reconhecer que o governo criminalmente repressivo do presidente egípcio Hosni Mubarak, que deve ser julgado em Agosto, esteve em total subserviência em relação aos EUA por três décadas. Isso sem mencionar a ausência total de qualquer referência crítica à Arábia Saudita, que é feudal, mas lucrativa militarmente.

As reverberações que ouvimos devem continuar e se tornar mais altas, porque têm uma base causal e uma realidade irreprimível.

*entrevista em http://www.folha.uol.com.br/

in ODiário.info

terça-feira, 14 de junho de 2011

Mark Blyth: A austeridade é uma ideia perigosa

Os sacrificados

Alguns dos que vão rotineiramente à televisão explicar aos portugueses a necessidade de sacrifícios e da implementação das reformas estruturais de que Portugal precisa para responder aos desafios de uma economia cada vez mais globalizada:




Diário de Notícias - 16.04.2010

Por cada reunião do conselho de administração das cotadas do PSI-20, os administradores não executivos - ou seja, sem funções de gestão - receberam 7427 euros. Segundo contas feitas pelo DN, tendo em conta os responsáveis que ocupam mais cargos deste tipo, esta foi a média de salário obtido em 2009. Daniel Proença de Carvalho, António Nogueira Leite, José Pedro Aguiar-Branco, António Lobo Xavier e João Vieira Castro são os "campeões" deste tipo de funções nas cotadas, sendo que o salário varia conforme as empresas em que trabalham.



Daniel Proença de Carvalho

Proença de Carvalho é o responsável com mais cargos entre os administradores não executivos das companhias do PSI-20, e também o mais bem pago. O advogado é presidente do conselho de administração da Zon, é membro da comissão de remunerações do BES, vice-presidente da mesa da assembleia geral da CGD e presidente da mesa na Galp Energia. E estes são apenas os cargos em empresas cotadas, já que Proença de Carvalho desempenha funções semelhantes em mais de 30 empresas. Considerando apenas estas quatro empresas (já que só é possível saber a remuneração em empresas cotadas em bolsa), o advogado recebeu 252 mil euros. Tendo em conta que esteve presente em 16 reuniões, Proença de Carvalho recebeu, em média e em 2009, 15,8 mil euros por reunião.



António Nogueira Leite

O segundo mais bem pago por reunião é João Vieira Castro (na infografia, a ordem é pelo total de salário). O advogado recebeu, em 2009, 45 mil euros por apenas quatro reuniões, já que é presidente da mesa da assembleia geral do BPI, da Jerónimo Martins, da Sonaecom e da Sonae Indústria. Segue-se António Nogueira Leite, que é administrador não executivo na Brisa, EDP Renováveis e Reditus, entre outros cargos. O economista recebeu 193 mil euros, estando presente em 36 encontros destas companhias. O que corresponde a mais de 5300 euros por reunião.



José Pedro Aguiar-Branco

O ex-vice presidente do PSD José Pedro Aguiar-Branco é outro dos "campeões" dos cargos nas cotadas nacionais. O advogado é presidente da mesa da Semapa (que não divulga o salário do advogado), da Portucel e da Impresa, entre vários outros cargos. Por duas AG em 2009, Aguiar-Branco recebeu 8080 euros, ou seja, 4040 por reunião.



António Lobo Xavier

Administrador não executivo da Sonaecom, da Mota-Engil e do BPI, António Lobo Xavier auferiu 83 mil euros no ano passado (não está contemplado o salário na operadora de telecomunicações, já que não consta do relatório da empresa). Tendo estado presente em 22 encontros dos conselhos de administração destas empresas, o advogado ganhou, por reunião, mais de 3700 euros.



Vítor Gonçalves

Apesar de desempenhar apenas dois cargos como administrador não executivo, o vice-reitor da Universidade Técnica de Lisboa, Vítor Gonçalves, recebeu mais de 200 mil euros no ano passado. Membro do conselho geral de supervisão da EDP e presidente da comissão para as matérias financeiras da mesma empresa, o responsável é ainda administrador não executivo da Zon, tendo um rácio de quase 5700 euros por reunião.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Introdução às Ciências Sociais

Obra recomendada:

 Introdução às Ciências Sociais, 2 vol.
Óscar Soares Barata
Bertrand Editora

PSICOLOGIA

Obra recomendada:

Terapias cognitivas: Teorias e Práticas

de Óscar Gonçalves

Edições Afrontamento, col. Biblioteca das Ciências do Homem

Psicologia

Bibliografia aconselhada:

--diagnósticos e testes psicológicos
--a entrevista clínica
--o stress, emoções e estratégias de adaptação
--observação clínica

Títulos da mesma colecção e e editora: climepsi, col. psicológica de bolso.

domingo, 12 de junho de 2011

Os três poderes

Existem três poderes: o económico, o político e os media. O 1º é o poder do dinheiro; o 2º é o poder dos que o detêm enquanto e somente enquanto representam os interesses dos que possuem o dinheiro; o 3º é o poder dos que dominam os dois poderes anteriores.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

MANIFESTO DOS ECONOMISTAS ESTARRECIDOS

"...ganha fôlego uma importante articulação protagonizada por economistas, professores e pesquisadores de vários países da Europa, por meio de um documento que ficou conhecido como “Manifesto dos Economistas Estarrecidos” (1). Iniciado na França, a adesão já ultrapassou os limites da própria Europa. E espalhou-se para o conjunto da sociedade, conseguindo apoio inclusive no movimento sindical. Trata-se de mais uma iniciativa de elevada significação política e mobilizatória. Ou seja, os próprios economistas se posicionando e criticando de forma explícita as opções baseadas na ortodoxia liberal.

Assim, o documento afirma com todas as letras que existem, sim! alternativas às proposições originárias dos escritórios da tecnocracia de Bruxelas.

A estrutura do documento dos “economistas estarrecidos” são 10 itens, chamados pelos autores de “falsas evidências”, a partir dos quais eles pretendem demonstrar a ineficiência e a injustiça das propostas ortodoxas. E propõem medidas distintas para buscar solucionar a grave crise por que passam aqueles países. São elas:

Falsa evidência n° 1 – “Os mercados financeiros são eficientes”. Não, a crise demonstrou que os mercados não são eficientes, no sentido de apontar os equívocos de determinadas opções e quadros de irracionalidade. Podem ser eficientes na lógica do capital, mas não na lógica do social.

Falsa evidência n° 2 – “Os mercados financeiros são favoráveis ao crescimento económico”. Não, os mercados financeiros têm uma lógica de atender aos seus próprios interesses, mesmo que isso ocorra às custas dos interesses da maioria da população.

Falsa evidência n° 3 – “Os mercados são bons avaliadores da solvência dos Estados”. Não, os mercados operam com espírito de especulação e buscam ofuscar realidades quando de seu interesse ou provocar crises quando for necessário.

Falsa evidência n° 4 – “A elevação da dívida pública é consequência de um aumento nas despesas”. Não, a maior responsável pelo aumento da dívida pública é a política de concessão de isenções fiscais e benefícios tributários para as grandes empresas. Até pouco antes da eclosão da crise, as contas públicas dos Estados membros da UE mostravam um certo controlo da questão fiscal.

Falsa evidência n° 5 – “É necessário reduzir as despesas para reduzir a dívida pública”. Não, a solução é justamente manter as políticas de despesas públicas em áreas como saúde, educação, previdência, auxílio desemprego e moradia, entre outras, para garantir que a saída da crise a médio prazo não afecte a capacidade dos países nesse tipo de quesito básico.

Falsa evidência n° 6 – “A dívida pública transfere o custo dos excessos actuais para as gerações futuras”. Não, o documento reforça o argumento de que a economia de um país não pode ser tratada como a economia de uma família. O que se faz necessário é alterar a transferência dos beneficiários da crise. Não mais favorecer os especuladores e as grandes empresas, e sim oferecer apoio aos trabalhadores e à maioria da população.

Falsa evidência n° 7 – “É necessário tranquilizar os mercados financeiros para conseguir financiar a dívida pública”. Não, a crise actual não é apenas resultado da intranquilidade do mercado financeiro. Pelo contrário, os Bancos Centrais dos países da EU são proibidos de financiarem seus próprios governos. Estes são obrigados a recorrer a bancos privados e pagar taxas de juros exorbitantes por tais operações.

Falsa evidência n° 8 – “A direcção actual da União Europeia defende o modelo social europeu”. Não, o Manifesto reconhece que existem vários modelos de construção europeia. Mas afirma que a hegemonia actual da direcção em Bruxelas está ancorada em uma visão excessivamente liberal da dinâmica económica. Dessa forma, faz-se necessária a reafirmação de outra estratégia de construção europeia, com maior foco no social e com medidas que evitem que a liberdade absoluta de fluxo de capitais para os espaços exteriores à EU continue a provocar as actuais consequências negativas da crise.

Falsa evidência n° 9 – “O euro é um escudo protector contra crise”. Não, infelizmente aquilo que deveria actuar como instrumento de protecção não se comportou de tal maneira. Apesar da união monetária, o comportamento dos países europeus é muito díspar, de forma que cada um deles acaba adoptando uma estratégia para o enfrentamento da crise. Apenas a existência da moeda unitária não é suficiente. O caminho passa por uma maior centralização na adopção de medidas comuns e no estabelecimento de um sistema de compensações das trocas comerciais entre os países.

Falsa evidência n° 10 – “A crise grega possibilitou finalmente avançar rumo a um governo económico e a uma verdadeira solidariedade europeia”. Não, a crise grega apenas serviu como alerta para a necessidade de medidas contra a ampliação da crise. No entanto, as acções propostas pela Comissão Europeia não reforçaram as medidas de solidariedade na direcção daquele País. Pelo contrário, as exigências impostas ao governo grego foram sempre no sentido de redução dos gastos públicos de carácter social e sem perspectivas de recuperação no médio e longo prazo.

Em resumo, o que se observa é uma saudável iniciativa de crítica aos modelos actualmente vigentes nas decisões tomadas pela Comissão Europeia, mas combinado com um movimento de tornar mais acessível à maioria da população o debate de importantes temas económicos. Decifrar o economês e aproximar os não-economistas desses assuntos é uma tarefa urgente, pois nada é mais carregado de conteúdo político do que as decisões assim chamadas de “técnicas” pelos responsáveis pelas políticas económicas da maioria dos países do mundo. Sim, pois quanto mais a maioria da população se mantiver alheia a esse tipo de discussão, tanto mais fácil será perpetuar a política económica dirigida a beneficiar a minoria."

IN O DIÁRIO ONLINE

Economia- J. A. Schumpeter

O Profeta da Inovação



JOSEPH ALOIS SCHUMPETER (austro-húngaro, em termos actuais checo, radicado nos Estados Unidos, 1883-1950) uma vez disse, com o seu estilo chocante, de grand seigneur educado em Viena, que os académicos e seus alunos conservadores detestavam: “as depressões são um bom duche frio para o capitalismo”. Ele até concordaria que, em tempos de depressão, os problemas sociais devem ser tratados com alguma medicina keynesiana (do nome do seu eterno rival do outro lado do Atlântico), mas retorquia que o capitalismo é intrinsecamente dinâmico e orientado ao crescimento de longo prazo através da inovação e de um protagonista-herói, o empreendedor.

O agente da retoma, depois das crises, não é a despesa governamental, mas a acção dos empreendedores, diria ele hoje em dia, se voltasse a vestir a pele de ministro das Finanças como o foi episodicamente em 1919/1920 em Viena de Áustria. A ideia do empreendedor era antiga em Schumpeter e, segundo muitos, a sua principal contribuição para o entendimento do capitalismo. Escreveu-a pela primeira vez em 1911 na ‘Teoria do Desenvolvimento Económico’ (que só foi traduzido para inglês em 1934) e andou a remoer no assunto até 1942 quando publicou a sua obra mais conhecida ‘Capitalismo, Socialismo e Democracia’. Esse personagem revolucionário não vem de nenhuma classe social específica, mas tem uma pulsão (aliás, em alemão, Schumpeter usava a expressão espírito empreendedor) para inovar em todos os aspectos, da tecnologia à organização, provocando um “enxame de imitadores” que colectivamente desencadeiam um “temporal” de “mutação” das estruturas económicas, destruindo “criativamente” as velhas e fazendo emergir as novas. Estas imagens schumpeterianas são as que mais ficaram marcadas na memória, havendo mesmo quem ache que isso é mais sociologia histórica do que economia, pois é difícil de formalizar no ‘economês’ matemático, apesar de até a ‘destruição criativa’ ter sido atacada pelas equações de Philippe Aghion e Peter Howitt. Os críticos, no entanto, recordam que, no final, o profeta da inovação começou a descrer do seu personagem de eleição e, que, por isso, admitia, a contra gosto, que o capitalismo provavelmente não sobreviveria.

Desde 1939, sete anos depois de ter chegado a Harvard, na região de Boston, Schumpeter tentou recuperar, também, a teoria dos ciclos económicos, falando de que a convergência de vários tipos de ciclos provocaria a severidade das depressões, agravada por factores externos como a geopolítica e as políticas públicas. Mas o livro ‘Ciclos de Negócio’ não convenceu boa parte da academia, o que permitiu aos conservadores divulgarem a ideia de que a periodicidade, a regularidade e o carácter repetitivo dos ciclos era coisa de “antigamente”, ainda por cima de uma altura em que as estatísticas eram medíocres.

in janelanaweb.com, Editado por Jorge Nascimento Rodrigues
nota: Lembrar aqui Schumpeter é oportuno pois que muitos são os conselheiros ecómicos que utilizam e são utilizados pelos media para hoje difundirem remédios para a crise que constituem meras receitas de um breviário em que desfiguraram o "pai" da economia burguesa, já que sileciam o outro "pai fundador" (e adversário de Schumpeter) que foi Keynes.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

É NECESSÁRIA UMA PLANIFICADA LUTA POPULAR

Por KKE1

«A grande maioria dos trabalhadores, do povo, tem de declarar ao poder do

capital: Não acreditamos em nada do que nos dizeis. Estamos a organizar-nos para

ganhar pequenas e grandes batalhas e, por fim, a guerra.» Aleka Papariga

realçou isto, entre outras coisas, quando falou à massiva e dinâmica concentração do

KKE, na tarde de 25/5, na cidade de Larissa.

A SG do CC do partido sublinhou que, hoje, são necessárias lutas operárias e

populares mais dinâmicas e mais bem planificadas, assim como pequenas e

grandes vitórias. Mas é preciso deixar claro que temos de travar uma luta que

conduza ao derrubamento do poder dos monopólios.

Anteriormente, numa entrevista à emissora de rádio «Real Fm», Aleka Papariga,

respondendo a uma pergunta relativa às tentativas de, em 25/5, em diversas cidades

gregas, serem organizadas mobilizações como as que estão a ocorrer em

Espanha, assinalou entre outras coisas que:

«Nós, pela natureza do nosso partido, vemos sempre com simpatia – e digo-lhe isto

com toda a sinceridade – as tentativas de as pessoas encontrarem formas de se

expressarem. O espontâneo existe sempre e desenvolve-se sobretudo quando, ao

mesmo tempo, existe actividade política consciente – o espontâneo nunca opera no

vazio.

Por outro lado, temos de ter cuidado quanto a dizer que é a única maneira de

responder. Estas são algumas explosões sem organização, que não têm as suas

raízes nos locais de trabalho, nas indústrias, seja no sector privado ou público, que

não têm na base uma direcção política. Receamos que estas coisas sejam um

arrebatamento, uma tendência que depois passe. Não é negativo que os jovens, que

procuram uma maneira de se expressar, adquiram experiência. Esta é sem dúvida

uma experiência. Não estamos a ter uma posição que lhes seja hostil. Mas, tenho a

impressão de que certos inimigos jurados do movimento estão a promover isso

como qualquer coisa importante e ideal, em oposição à greve. Isto é negativo. Uma

das formas de luta, não a única, através da qual o trabalhador pode demonstrar a

sua força, é a greve, porque impõe a superação do medo ao patrão. É muito mais

fácil reunir-se nas praças».

Além disso, num comentário ao jornal do KKE, Rizospastis, referiu: «Quem tem um

interesse pessoal num movimento com uma orientação “não partidária”, quando,

contra ele, o adversário utiliza com eficácia partidos com uma específica linha

2

política e estratégica, com os quais os diferentes setores do capital identificam os

seus interesses particulares?

Sem querer subestimar as intenções de muitas pessoas ao protestar contra a

degradação contínua do seu nível de vida, é mais do que certo que as mobilizações

que pretendem lançar uma sensação de frustração são mais fáceis de manipular e

ainda mais fáceis de “desanimar”. A publicidade que a iniciativa de ontem teve

constitui uma exploração de um estado de ânimo para a resistência, que o sistema

político burguês, numa demonstração de força, coloca contra a luta de classes.

Dessa maneira, pode intervir para se preservar, num momento em que a cólera do

povo está a aumentar perigosamente e estão a ser criadas as condições para a

radicalização. O movimento tem experiência com tal tipo de iniciativas, assim como

os diversos “fóruns”, Génova, etc. Também tem experiência de mobilizações através

da Internet, como as organizadas depois dos incêndios florestais, em 2007 – e

quatro anos no governo2, continuando o trabalho da ND3, está a vender o que resta

na terra, no mar e no ar. Devemos abordar estas pessoas, que se mobilizaram

espontaneamente, para que se unam conscientemente à luta de classes. A PAME4 já

o fez, com uma resposta positiva. O inimigo tem uma estratégia, uma organização e

um nome. O movimento popular tem de fazer o mesmo para ganhar a guerra que

foi declarada contra ele.»

É preciso dizer que a PAME anunciou que vai realizar manifestações no sábado, 28/5,

em muitas cidades gregas. A declaração conjunta da PAME, PASEVE5, PASY6, MAS7 e

OGE8 afirma que: «No quadro do desenvolvimento capitalista não pode haver

futuro nem perspectivas a favor do povo. Os sacrifícios que vos pedem para fazer

não terão fim. Não tendes nenhuma responsabilidade pela crise capitalista. A

dívida e o défice pertencem à plutocracia. Não os reconheças. Não te sacrifiques,

não o consintas, a plutocracia deve pagar pela crise».

1 Partido Comunista da Grécia [NT]

2 Governo do PASOK, partido grego que se apelida de socialista [NT]

3 Nova Democracia – partido grego, assumidamente de direita [NT]

4 Frente Militante de Todos os Trabalhadores – central sindical de classe da Grécia [NT]

5 Movimento Antimonopolista de Trabalhadores Autónomos e Pequenos Comerciantes [NT]

6 Movimento Militante de Todos os Camponeses [NT]

7 Frente Militante de Todos os Estudantes [NT]

8 Federação das Mulheres Gregas [NT]
 
in http://www.pelosocialismo.net/

terça-feira, 7 de junho de 2011

O conselheiro Acácio

No programa "Prós e Contras"de hoje na RTP ouvi um senhorito, de nome Nogueira Leite (ou Pinto?), que deve ser uma individualidade mui importante pelas vezes com que é convidado pelas televisões e pela reverência da senhora jornalista que até lhe perguntou se ia ser ministro do novo governo, enfim, ouvi desfilar da sua excelentíssima boca um rosário de mandamentos da mais pura e dura doutrina neoliberal, ou, se preferirmos, de Direita, ou, ainda, altíssimamente burguesa, que faria irritar ou encher de fastio o mais insigne dos seus economistas (digo: da Burguesia), o extinto Keynes. O senhorito, que deve ser uma laureado economista suponho (ou não suponho), deve ter lido o livro clássico do Keynes tanto como eu li as receitas da Maria de Lurdes Modesto, ou seja, não leu, contudo deve saber de cor a doutrina da Escola de Chicago, ou, pelo menos, a sua vulgata. Com ar seráfico, aquele semblante que celebrizou os jesuítas, aquela "postura", como ora se diz, que evoca na perfeição o Conselheiro Acácio, do nosso Eça, disse pérolas como esta: que aquele que possuir mérito comprovado (o tal empreendorismo) é um vencedor, quem não o tem é perdedor. Eis, no seu resumo, a ideologia capitalista no seu estado puro, ou seja, selvático, brutal. A desigualdade justificada. O excluído não foi excluído: excluiu-se a si próprio. É a lei do pote de ferro e do pote de barro. Entretanto, o senhorito defende todos os sacrifícios que a tróika impôs, sabendo de antemão que ele não está de modo nenhum entre os sacrificados. O senhorito não quer ser ministro (ainda pode mudar de ideias, a ver vamos), mas é conselheiro do indigitado 1º ministro. Com um governo com conselheiros deste calibre ainda vamos ouvir o bom povo rugir. Rima mas é verdade. E para acrescentar outra rima: é verdade, mas pode ser tarde.

domingo, 5 de junho de 2011

Ernest Mandel

A Natureza do Reformismo Social-Democrata


(A Social-Democracia Sem Amparo)

Ernest Mandel

21 de Setembro de 1993



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Título original: Nature du réformisme social-démocrate. La social-démocratie désemparée.



Fonte: Ernest Mandel Archives Internet (Avec le soutien de la Formation Leon Lesoil, 20, rue Plantin, B-1070 Bruxelles, Belgique.)

Tradução para o português da Galiza: José André Lôpez Gonçâlez. Novembro, 2009.

HTML: Fernando A. S. Araújo

Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License



A social-democracia gera a longa depressão num clima de dinheiro fácil


A social-democracia foi, de alguma maneira, a herdeira da vaga de contestação revolucionária de 1968-1975. Como esta não tendeu para a vitória, uma parte substancial das massas reocuparam as suas esperanças de mudança radical por esperanças nas reformas. A social-democracia ofereceu-se para as prometer. Em Espanha, pôde oferecer a perspectiva duma liquidação pacífica da ditadura. A maioria dos antigos «esquerdistas» aprovaram e interiorizaram esta escolha. Juntaram-se à movimentação social-democrata.

Os partidos socialistas puderam, desde logo, ostentar toda a sua ambição de parecer os melhores gestores da economia (entendamos: capitalista) e do Estado (entendamos: burguês), na medida em que eles ficaram no governo durante períodos prolongados.

Mas para a sua infelicidade, o período depois de 1975 foi o duma «onda longa depressiva» da economia capitalista internacional(12). Fechados na sua vontade de gerir a economia de maneira puramente «técnica», os líderes socialistas abordaram a depressão sem qualquer projecto económico de conjunto, fundamentalmente diferente do que tinha o Grande Capital. Durante tempo bastante, obstinaram-se por outro lado a negar a depressão ou a minimizar a sua amplidão. Tudo isto empurrou-os a endossar a política de austeridade proposta pola burguesia. Nos países onde estavam no poder, começaram às vezes eles mesmos a tomar a iniciativa para a pôr em marcha. As consequências foram graves para as massas laboriosas. Em Espanha foram desastrosas. Sob o governo de Felipe Gonzalez, este país conheceu a taxa de desemprego mais elevada de toda a Europa.

A participação governamental de duração prolongada depois de 1975, foi efectuada polos partidos socialistas num clima económico marcado, pola longa depressão, por uma persistência do hiperliquidado. A economia capitalista continuou a ser caracterizada por uma taxa de endividamento crescente. A massa total dos capitais flutuantes atingiu uma amplitude colossal. Tornou-se largamente incontrolada e incontrolável.(13)

As mudanças sócio-económicas consideráveis derivam disto. Uma mentalidade de enriquecer rapidamente se espalhou em importantes sectores da grande e média burguesia. O aparecimento da camada dos «yuppies» exprime-o em parte. Créditos à vontade, projectos assombrosos financiados com o dinheiro dos outros, tráficos de influência e agiotismos generalizados escorrem deste clima. Nos partidos socialistas, a ideia prevaleceu: Já que toda a gente o faz, porque é que não o poderemos fazer nós também?

Uma segunda muda de composição social favoreceu esta degradação dos costumes no seio da social-democracia. Atraídos pola longa participação governamental dos partidos socialistas, uma série de capitalistas, sobretudo os médios, começaram a penetrar nos PS. A sua maneira de agir foi substancialmente diferente dos tecnocratas. Lançaram-se, por vezes, nas operações de especulação de grande envergadura, esperando ser apoiados polo poder. Théret, na França, amigo de Mitterrand, Maxwell, na Grã-Bretanha, amigo de Harold Wilson, são típicos casos disso.

No princípio, a corrupção individual dos dirigentes socialistas não resulta dessas práticas. Agiam essencialmente tendo em vista financiar as campanhas eleitorais e o aparelho do partido. A redução dramática dos efectivos acrescentou a pressão nesse sentido. Mas numa sociedade onde, mais do que nunca, o dinheiro é rei, a tentação de se adoçar a si mesmo é muito grande. Alguns dirigentes escaparam-se bem e sucumbiram. O caso mais típico é o do chefe do PS italiano, antigo primeiro-ministro, Bettino Craxi.(14)

Os novos quadros sociais-democratas do tipo funcionários têm dado origem a líderes tecnocratas frios e autoritários, onde Jacques Delors e Craxi são os representantes típicos. Os novos quadros de origem «yuppie» caracterizam-se por costumes patuscos e de esbanjamento dos dinheiros públicos. Jacques Attali e a sua gestão da Banca encarregada dos créditos polos países do Leste é aqui o símbolo perfeito.

Uns e outros são indiferentes quanto aos efeitos do seu comportamento sobre as massas e o eleitorado. A experiência tem demonstrado que pesadamente enganaram-se a este propósito. É um desprezo pola inteligência das massas, não totalmente diferente do que caracterizou a burocracia estaliniana(15). As massas sentem o instinto, como ressentem profundamente a escalada de corrupção que se tem instalado no seio dos partidos socialistas.

O resultado é dramático: um desprezo crescente polos lideres destes partidos em numerosos países; um desprezo crescente polos «homens políticos» em geral. Estes fenómenos agravam no imediato as tendências para a despolitização. Arriscam criar um boião de cultura para extrema-direita. As reacções das massas diante da corrupção que se tem instalado em numerosos partidos socialistas são plenamente justificadas. Embora é preciso lembrar sem cessar que os partidos pequeno-burgueses, sem falar das ditaduras fascistas e militares, são ainda mais corrompidos. É preciso sobretudo relembrar que o Grande Capital é corruptor e que os corruptores são mais culpados que os corrompidos.

Mas as reacções das massas são, antes de tudo, determinadas polos efeitos da política social-democrata sobre as suas condições de existência. A sua preocupação principal é a do desemprego, tal como o medo do desemprego. A prioridade principal nestas condições é a duma luita eficaz por uma redução da duração da jornada de trabalho sem redução do salário semanal: semana de 35 horas mesmo de 32 horas. A recusa dos sociais-democratas de se engajarem nesta via é sem dúvida a causa fundamental da sua falência política, a causa fundamental do seu declínio na Europa(16).

A debilidade da contra-cultura operária

Os efeitos da despolitização promovida pola social-democracia têm sido poderosamente reforçados pola debilidade da contra-cultura obreira no decorrer das últimas décadas. O brusco desaparecimento do jornal do PS austríaco Arbeiterzeitung, durante muito tempo um dos melhores jornais socialistas na Europa, quase dia por dia um século depois da sua fundação, é uma expressão simbólica.

Uma das conquistas principais do movimento operário de massa, em primeiro lugar da social-democracia tradicional e, depois, dos partidos comunistas de massa, fora a organização duma rede de instituições que imunizaram uma fracção importante da classe do(a)s assalariado(a)s contra a influência predominante da ideologia burguesa, ideologia inevitavelmente dominante no seio da sociedade burguesa.

A imprensa, os folhetos e os livros socialistas (mais tarde socialistas e comunistas) jogaram o papel principal a este respeito. Mas ao papel da imprensa, é preciso juntar o das instituições culturais como os grupos teatrais, os corais, as fanfarras adultas e jovens, os grupos desportivos, etc. Elas desenvolveram no seio das massas laboriosas as necessidades que a sociedade burguesa sufocara. No seu livro Introdução à Economia Política (Einführung in die Nationalökonomie), Rosa Luxemburgo justamente tinha insistido sobre este verdadeiro papel civilizador do movimento operário organizado [Introduction à l'economie politique, com introdução de Ernest Mandel, Anthropos, Paris 1970, ndr].

Os diques assim construídos contra o oceano da ideologia burguesa eram sem dúvida frágeis. As ideias difundidas pola imprensa e as publicações socialistas eram as mais das vezes duma vulgarização elementar. O conhecimento do marxismo era limitado. A ideologia social-democrata acarretava a influência e preconceitos pequeno-burgueses (pense-se nos preconceitos acerca das mulheres e das concepções sexuais). Mais tarde, a imprensa, publicações e instituições estalinianas e post-estalinianas fizeram o mesmo. Ainda assim, o efeito do conjunto limitou consideravelmente a influência ideológica directa da burguesia no seio do proletariado. O desenvolvimento da consciência de classe, da independência política da classe, da solidariedade obreira, foi poderosamente estimulada.

A desintegração progressiva destas redes de contra-cultura operária poderosamente contribuiu, do mesmo modo, para enfraquecer a politização da classe obreira e para restringir as formas das reacções colectivas de classe. A sua interacção com as novas consequências da prática social-democrata é evidente. Esta regressão tem uma base objectiva: a reprivatização dos lazeres das massas tem jogado um papel preponderante. As redes da vida colectiva, de igual maneira, distenderam-se. Menos vida colectiva conduziu a menos consciência colectiva. Menos consciência colectiva desemboca em menos resistência contra a ideologia burguesa.

Não é necessário generalizar de maneira abusiva esta regressão. Importantes centros de vida colectiva subsistem, antes de tudo, no seio das empresas e dos sindicatos. A pressão dos interesses imediatos é em definitivo maior que a das mistificações ideológicas. A amplitude das reacções de massa testemunham-no.

Por outra via, é possível reconstituir as redes de contra-cultura. Os grupos cristãos de base apareceram consideravelmente numa série de países: na Europa sobretudo ancorados na solidariedade com o «Terceiro-Mundo», nestes mesmos países do «Terceiro-Mundo», sobretudo em torno das necessidades imediatas dos pobres. A problemática ecológica, feminista, anti-racista, anti-fascista, a luta contra a marginalização, presta-se hoje numa série de países da Europa.

Mas o que continua verdade, é que os partidos sociais-democratas não são mais os centros organizadores deste renascimento possível e necessário da contra-cultura obreira e popular. Ela efectuar-se-á essencialmente fora deles.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

A Implosão da Mentira

A Implosão da Mentira



ou


o Episódio do Riocentro



Fragmento 1

Mentiram-me. Mentiram-me ontem

e hoje mentem novamente. Mentem

de corpo e alma, completamente.

E mentem de maneira tão pungente

que acho que mentem sinceramente.



Mentem, sobretudo, impune/mente.

Não mentem tristes. Alegremente

mentem. Mentem tão nacional/mente

que acham que mentindo história afora

vão enganar a morte eterna/mente.



Mentem. Mentem e calam. Mas suas frases

falam. E desfilam de tal modo nuas

que mesmo um cego pode ver

a verdade em trapos pelas ruas.



Sei que a verdade é difícil

e para alguns é cara e escura.

Mas não se chega à verdade

pela mentira, nem à democracia

pela ditadura.


Fragmento 2


Evidente/mente a crer

nos que me mentem

uma flor nasceu em Hiroshima

e em Auschwitz havia um circo

permanente.



Mentem. Mentem caricatural-

mente.

Mentem como a careca

mente ao pente,

mentem como a dentadura

mente ao dente,

mentem como a carroça

à besta em frente,

mentem como a doença

ao doente,

mentem clara/mente

como o espelho transparente.

Mentem deslavadamente,

como nenhuma lavadeira mente

ao ver a nódoa sobre o linho. Mentem

com a cara limpa e nas mãos

o sangue quente. Mentem

ardente/mente como um doente

em seus instantes de febre. Mentem

fabulosa/mente como o caçador que quer passar

gato por lebre. E nessa trilha de mentiras

a caça é que caça o caçador

com a armadilha.



E assim cada qual

mente industrial? mente,

mente partidária? mente,

mente incivil? mente,

mente tropical? mente,

mente incontinente? mente,

mente hereditária? mente,

mente, mente, mente.

E de tanto mentir tão brava/mente

constroem um país

de mentira

-diária/mente.

Affonso Romano Sant’Anna

Publicado no livro Política e paixão (1984)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

O sono dos justos

«Portugal tem um "relacionamento de mão estendida" com a União Europeia (UE), quando o que precisa é de "investimentos reprodutivos", critica o economista Jorge Landeiro de Vaz.

Este professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) afirma, em declarações à Agência Lusa, que "o relacionamento de Portugal com a UE é de mão estendida", quando eram necessários "investimentos reprodutivos".

Como exemplifica: "Nós importamos centeio da Alemanha. Inacreditável! Fechamos as fábricas de açúcar de beterraba de sacarina e somos subsidiados pela UE para fechar essas fábricas".

Landeiro de Vaz acentua que, apesar de este ser "um modelo sem futuro", não há "ninguém a falar sequer das alterações do modelo ou do relacionamento de Portugal com a UE".
Referindo-se ao resgate da ‘troica' (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia), alerta ainda que "é obvio que - num programa de médio prazo como este que apenas prevê baixar rendimentos e preços - daqui a muitos poucos anos" Portugal vai estar "novamente a bater à porta [da Europa]".
Landeiro de Vaz acredita mesmo que, "daqui a um ano", Portugal vai "estar na situação da Grécia e isto conduz a uma reestruturação da dívida, a um rescalonamento e a uma situação de eventual saída do próprio euro". Para o economista, "não há nenhuma inevitabilidade no caminho das coisas". Mas mostra-se "pessimista" por não detectar mudanças neste sentido no discurso político.
O economista lança hoje, no ISEG, o livro ‘A Insustentável Leveza do Euro', uma compilação de artigos de opinião que escreveu entre 30 de Outubro de 1998 e 7 de Abril de 2011, dia em que Portugal formalizou o pedido de resgate da dívida à Europa.»
in Jornal Económico online

Comentário: Assim vão acordando alguns mais "realistas"...Há quantos anos não diz o PCP a mesma coisa ou melhor?
«O conselheiro económico de Passos Coelho dá como inevitável que Portugal tenha de renegociar a dívida.

António Nogueira Leite disse à TSF que, tendo em conta os dados actualmente disponíveis, Portugal será obrigado a renegociar a sua dívida.
"Vamos ter de discutir isto mais à frente, mas a aritmética não oferece discussão. É assim mesmo. As contas são estas", acrescentou o dirigente social-democrata.
O economista entende que, também por isso, é absolutamente necessário cumprir o que foi acordado com a troika, muito embora admita que não há grande margem para discussões, pois a "alternativa que tínhamos era pura e simplesmente não ter fundos para pagar salários"». In jornal Económico online.

Comentário: O primeiro a colocar a inevitabilidade da renegociação da dívida foi o PCP, ao qual se lhe seguiu o BE. Recentemente vários insuspeitos economistas de renome mundial, já com a bancarrota da Grécia à vista, falam dessa necessidade. Por cá diziam uns senhoritos que o PCP era, ou é, irrealista. Agora até este senhor importante diz o mesmo. Já há muito tempo que se sabia do déficite das contas públicas e da necessidade de contrair um empréstimo. Houve tempo para negociá-lo nas condições mais vantajosas e "realistas" para Portugal. O Governo foi adiando e ocultando os números. Ele sabia porquê ou para quê.

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