(cont. do post anterior: elementos para uma Psicologia materialista)
III - A atividade como base da personalidade
O principal problema consiste em desvendar quais são os verdadeiros "formadores" da personalidade, esta unidade superior do homem, mutável como sua própria vida, porém que preserva em si uma estabilidade, sua auto-identidade. Ao final das contas, independentemente da experiência, o ser humano acumula os acontecimentos que modificam sua situação de vida, e, finalmente, independentemente das modificações físicas pela qual passa enquanto personalidade, ele permanece o mesmo aos olhos de outras pessoas, assim como aos seus próprios olhos. Ele é identificado, não somente por seu nome; até a lei o identifica, ao menos dentro dos limites da responsabilidade por seus atos.
Assim, existe uma óbvia contradição entre a mutabilidade aparente, física, psicofisiológica do ser humano e sua estabilidade enquanto personalidade. Este fato trouxe à tona o problema do "eu" como um problema especial da psicologia da personalidade. Isto surge porque os traços que são incluídos na caracterização psicológica da personalidade expressaram claramente o mutável e "intermitente" no ser humano, isto é, aquilo que se contrasta exatamente com a estabilidade e a continuidade de seu "eu". O que forma esta estabilidade e continuidade? O personalismo, em todas as suas variantes, responde esta questão, ao postular a existência de algum tipo de princípio especial, que formaria o núcleo da personalidade. Este, então, é encoberto pelas inúmeras aquisições no decorrer da vida, que são capazes de mudar, porém não de afetar essencialmente este núcleo.
Em outra abordagem da personalidade, a base é a categoria da atividade humana objetiva, a análise de sua estrutura integral, sua mediação e as formas de reflexo psíquico que gera.
Esse tipo de abordagem permite, desde o início, uma resolução preliminar da questão a respeito do que forma uma base estável para a personalidade; exatamente o que entra e o que não entra na caracterização do ser humano, especialmente enquanto personalidade, também depende disso. Essa decisão é feita com base na suposição de que a base real para a personalidade humana é o agregado de suas relações com o mundo, que são sociais por natureza, porém relações que são realizadas, e são realizadas através de sua atividade, ou, mais precisamente, pelo agregado de suas atividades multifacetadas.
Actividade Consciência e Personalidade
Alexei N. Leontiev
1978
Fonte da Presente Tradução: "Activity, Consciousness, and Personality", versão on-line do Leont'ev Internet Archive (marxists.org) 2000.
Tradução para o português: Maria Silvia Cintra Martins, Grupo de Estudos Marxistas em Educação.
HTML por José Braz para o Marxists Internet Archive
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