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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Estudar a história é muito difícil, fazê-la é ainda mais.

Vemos e ouvimos as notícias: a repetida série de imagens - curtos filmes em vídeo, alguns dos quais já estão no youtub- dos jovens amotinados de Inglaterra e, logo de seguida, a reportagem da sopa dos pobres em Setúbal, distrito sempre flagelado. Entre um acontecimento e outro existe alguma relação? Uma gigantesca vaga de destruição, violência e assaltos; uma fila de pobres resignados à sua má sorte não pensam em nada mais senão no que lhes vai calhar de refeição este dia. No primeiro caso o futuro é uma miragem, no segundo é um nada. Nos primeiros é a revolta na sua expressão mais esvaziada de utopia; no segundo, a estricta sobrevivência por um dia, cada um velando por si. A fogueira das revoltas começa sempre por um rastilho, que não é causa, mas efeito de causas mais antigas e mais fundas. Há revoltas assim que desencadearam revoluções que mudaram o mundo, como a Revolução Francesa na noite de 1789. Há revoltas que obrigaram a mudanças no comportamento das polícias, como sucedeu nos EUA, também num verão ardente, há uns anos atrás. Há revoltas que mudaram os costumes, como a dos estudantes da Sorbonne em 1968. E há revoltas que não conduzem a nada, excepto um reforço dos aparelhos da repressão, à ostracização dos jovens "vagabundos", "vândalos" sem causa (um dia mais tarde talvez venham a ser nomeados "Rebeldes sem causa", à maneira de Hollywood). Os amotinados ingleses, ao que diz a polícia e a imprensa faz eco, são de várias categorias sociais -empregados e desempregados, miúdos e pais de família- e o motivo da revolta foi o roubo sem consequências, isto é, consumidores sem consumo que aproveitaram para consumir.
Vândalos, terroristas, enraivecidos, desordeiros, são classificativos que se aplicam desde há séculos sempre que há revoltas. Quem os aplica? E qual a diferença entre os infensivos pedintes da sopa dos pobres e os "enraivecidos" das cidades inglesas?

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