Friedmanitas à portuguesa
por Guilherme Coelho
Explicações para a situação tem havido muitas, umas mais convincentes que outras. Já quanto a soluções têm sido menos, excepto as do lado dos governantes que pecam por dois defeitos: são sempre demais e têm o condão de falhar rotundamente, ano após ano. E é assim desde há trinta e seis anos. Uns a afirmar que nos tínhamos endividado demais e agora estávamos a pagar a factura; outros refutando que quem tinha provocado a crise eram os gananciosos especuladores e prestamistas; outros ainda acusando a Alemanha e a Sra. Merkel de quererem fazer de mansinho aquilo que o Hitler não conseguiu à bruta; finalmente outros, a assegurar que tudo isto não passava de um ataque cerrado dos EUA ao Euro porque começava a ameaçar o dólar como moeda de comércio internacional. Estava quase em crer que seriam todas elas juntas e mais algumas, ainda invisíveis para mim, tal a situação caótica que se vive. No entanto, muito ficava por explicar nomeadamente algo que sempre me intrigou: a postura bonzática dos governantes, impávidos e serenos, quer caíssem picaretas ou chovessem manifestações. Algo por detrás devia justificar esta atitude. Eis se não quando a leitura de um importantíssimo trabalho da jornalista norte-americana Naomi Klein veio lançar uma nova luz sobre a matéria. Nomeadamente a da relação entre o avanço do capitalismo e as catástrofes e outras situações difíceis para os países. Trata-se do livro " A Doutrina Do Choque – Capitalismo De Desastre" e data de 2009. Nele se expende a ideia de que a catástrofe natural, tal como a crise económica, a guerra, provocando a destruição e o caos geram novos mercados. Em resumo, poderiam ser uma prática intencional destinada a criar condições para o avanço do capitalismo, sem obstáculos por parte dos atingidos. Pior do que isso, segundo as palavras do mentor da teoria Milton Friedman, "Tornar o impossível, inevitável", querendo ele dizer com isso que, com este método, a situação social se deverá tornar tão insuportável para as pessoas que irão ser elas a implorar junto dos seus carrascos uma qualquer solução que as alivie. Só que o carrasco sabendo isso ainda carrega mais e acaba aplicando medidas que de outro modo seriam impossíveis de implementar. Cita ela como paradigmáticas as afirmações de um dos seguidores do modelo:
Mais adiante explica qual a principal característica ideológica
deste novo modelo:
Quem estaria na origem desta politica económica, a que muitos
chamaram neoliberalismo e se expandiu por todo o mundo capitalista a partir dos
anos 70 com Reagan e Thatcher, seria o seu autor, Milton Friedman, criador de
uma escola económica, designada por Escola de Chicago e cujos estudiosos e
divulgadores ficaram conhecidos pelos "boys da Escola de Chicago" e se
infiltraram em praticamente todos os governos do mundo como se fosse a única
forma de governar.
Segundo a autora, estes boys, a pretexto da liberalização do mercado, apenas pretendem três objectivos com a sua politica: privatizar os bens dos Estados, retirar direitos adquiridos aos trabalhadores, especular financeiramente através de empréstimos com chorudos lucros. Estes sempre foram objectivos da classe capitalista dominante mas não podiam ser implementados. A grande novidade surge quando os estudiosos de Chicago descobrem que em situações de desespero as pessoas aceitam tudo o que lhes impõem. A esta doutrina chamou ela Doutrina de Choque.
É esta doutrina que tem servido de suporte a toda uma série de
intervenções do imperialismo e que constitui o elo comum entre o ataque militar
à Síria e o ataque financeiro a Portugal. Em ambos os casos, e de formas
completamente diferentes, tenta-se criar o caos enquanto pilham o mais possível,
para, em consequência, obterem a posse dos recursos e o sobre-lucro da
reconstrução, para além da submissão de governantes fantoches. Reconstrução essa
que vai novamente criar uma espiral de endividamento ficando na prática os
Estados nas mãos das multinacionais.
Se esta é a lógica aqui aplicada a Portugal parece que tudo ficou mais claro, e que através das explicações tradicionais apenas esclarecia de aspectos parciais. Uma lógica que permite compreender a cegueira e a certeza com que é praticada pelos governantes, antes totalmente incompreensível e desacertada para quem está de fora. Assim já me é mais fácil entender a postura robótica de um Gaspar, o...que...fala...assim. Ou de um Borges, o agente para o rapinanço. Ou de um Relvas, ou de um Passos Coelho, ou de um Portas... Como qualquer fundamentalista religioso basta-lhes a convicção do dogma e não a dissecação do mesmo. Se os gurus dizem que sim, eles dizem que sim. São aquilo que alguns chamam a seita dos friedmanitas, uma espécie de Robin dos Bosques ao contrário cuja consigna é roubar aos pobres para dar aos ricos. Identificado agora o principal inimigo do povo (sem esquecer todos os adventícios atrás mencionados, claro) e os seus métodos, parece ser mais fácil combatê-lo. É natural que se comece a olhar em volta procurando soluções. Todas elas passando pelo seu afastamento do poder
17/Setembro/2012
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . |
Translate
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Viagem à Polónia
Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.
Viagem à Polónia
Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.
Sem comentários:
Enviar um comentário