Translate

sábado, 30 de agosto de 2014

FÁBULAS

FAMÍLIAS

Família 1.

Gaza? Que terra é essa? questiona o miúdo. A televisão difunde notícias. O miúdo joga no telemóvel. O almoço está ao lume. O pai responde, escarafunchando o nariz, É lá para longe, no Oriente. Ah, disse o miúdo, Gaza, gás, existe gás aí, é por isso? insistiu o miúdo. É isso é, responde a mãe, Ninguém me ajuda a pôr a mesa? Um, mais ocupado a escarafunchar o nariz do que a ouvir, tu, a jogares em vez de aprenderes…Eu explico: os fortes mandam bombas para cima dos fracos por causa do petróleo ou gás que descobriram no mar, ao pé deles, quem me disse foi uma colega do escritório, diz que leu num jornal. Ah, disse o marido. Ah, disse o miúdo. Já podemos comer? Perguntou o homem. Já, respondeu a mulher.
Enquanto comem:
Esta história do banqueiro faz-me pensar…Diz o homem.
Ups, também pensas? Diz a mulher.
Não te oiço, diz o homem, Penso assim: num Banco deposita-se o nosso dinheiro. Em princípio, devíamos receber juros, visto que eles utilizam o dinheiro do nosso salário para fins próprios, ou seja, outros fins. Vale como princípio, não como fim. O Banco protege o nosso dinheiro? Portanto, em princípio, é para a nossa segurança. Em princípio, porque, no fim, os banqueiros multiplicam dividendos e o nosso dinheiro gasta-se todo ainda o mês não findou.
É mais ou menos o que diz a minha colega, diz a mulher.
A tua colega é do sindicato ou quê? pergunta o homem.
Não, mas gosta de ler, responde a mulher.

Família II.

Era uma vez uma família muito rica de um país muito pobre. Quando toda a gente ou ia fazer a guerra ou emigrava, essa distinta família sobre a guerra achava que era muito boa e da emigração só conhecia o turismo de luxo. Até que um dia deu-se uma reviravolta muito grande e a família decidiu dar à sola, como sói dizer-se. Emigrou para onde guardava o dinheiro. Aí fez mais dinheiro e, quando pôde regressar, recebeu ainda mais dinheiro. Como era mui rica e mui distinta, fez muitos amigos. Dos amigos, fez muitos governantes. Os governantes fizeram mutos negócios com a família distinta. Cada vez ficaram mais amigos uns dos outros. Casavam uns com os outros, caçavam javalis nas coutadas de extintas cooperativas de camponeses, jogavam golfe no Algarve. Faziam inimigos, conspiravam e liquidavam-nos. Ou seja, mudavam os governos, trocando de amigos. Na próxima rodada voltavam a fazer as pazes com os inimigos de ontem. No fundo, eram boa gente. Distinta sobretudo. Gostavam todos da mesma música e dançavam a mesma valsa.
Moral da história: Para que alguns dancem o tempo todo, é preciso que outros trabalhem e votem neles.

Nozes Pires

1 comentário:

José Patrício disse...

Fazes bem em pôr aqui textos da tua lavra, digo retomar um hábito que abandonaste nos últimos tempos. Estas fábulas, li-as no BADALADAS. A conclusão, na primeira, é implícita, derramada no texto. Na segunda, a moral da história vem no fim, à maneira grega. Não precisa de ser assim, mas habituei-me tanto a este ritmo, que sinto conforto nele.

Viagem à Polónia

Viagem à Polónia
Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

Viagem à Polónia

Viagem à Polónia
Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.