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quinta-feira, 11 de maio de 2017

O milagre de Fátima



A verdade sobre o milagre de Fátima

Transcrevo este texto com a primeira intenção de o registar no ciberespaço como documento histórico, na certeza de que não será fácil aos investigadores ter outros acessos ao mesmo.
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Trata-se dum testemunho de Artur de Oliveira Santos, Administrador do Concelho de Ourém à época das aparições e, nessa condição, protagonista da história de Fátima. Nele o autor manifesta sentir-se injustiçado e ferido na sua honra pela personagem que a partir do seu nome foi criada para fantasiar a história de Fátima.
Depois do Relatório que dirigiu ao Governo Civil de Santarém em 1924, Artur de Oliveira Santos teve um percurso que passou pela prisão, pelo exílio em Espanha, durante a Guerra Civil, e só depois, quando regressado a Portugal, terá sentido mais intensamente a história que se estava a construir e que o apontava como o ator que tinha o papel de “mau da fita”.
Terá sido esse facto que o levou a redigir este texto que veio parar à minhas mãos pela mão de pessoa amiga, amiga de Artur de Oliveira Santos, que com ele privou e com a família. Porventura, como forma de reconhecimento à abordagem que aqui tem sido feita a propósito da questão de Fátima, entregou-me fotocópia dum texto dactilografado pelo autor que, segundo pensa, terá sido publicado no jornal “A República” de 20/07/1951, na forma que aqui se deixa ou eventualmente noutra, fruto de correções posteriores que o ofendido tenha entendido, por bem, fazer.
A VERDADE SOBRE O MILAGRE DE FÁTIMA
Há um facto, que tanto e tão injustamente tem sido tratado, para pretenderem ferir a honra de um homem cujo defeito, para determinadas pessoas, é o de não servir nem prestar-se a ser instrumento das mais asquerosas mentiras, e que vem agora à superfície. A Deus o que é de Deus, a César o que é de César.
Em 13 de Agosto de 1917 fui a Aljustrel, um lugar a poucos quilómetros da freguesia de Fátima, com o objectivo de acabar com uma especulação que em volta do chamado milagre de Fátima se estava realizando. Ao tempo a Igreja não tinha intervenção no assunto. Acompanhado do Oficial da Administração do Concelho, Cândido Jorge Alho e de João Lopes, condutor de uma charrete puxada por um cavalo, seguimos para a referida povoação, onde habitavam o Francisco e a Jacinta, além de Lúcia dos Santos. Ali se encontravam seminaristas e padres, e um destes, que disse chamar-se João, do Concelho de Porto de Mós, interrogou a meu pedido as criancinhas.
A Lúcia dizia ter-lhe aparecido a Santa na Cova de Iria, o Francisco e a Jacinta limitaram-se a dizer que a Lúcia é que sabia, eles não tinham visto nada, O pai de Lúcia, o Abóbora por alcunha, dizia que a filha era uma intrujona. Os pais do Francisco e da Jacinta conservavam-se em dúvida. Consegui que os pais das crianças e o padre João, sem ameaças de nenhuma espécie, antes tratados com toda a benovolência, me acompanhassem a Fátima, a casa do Prior da Freguesia, para ali serem interrogados pelo mesmo, Padre Manuel Marques Ferreira.
Nada tinha combinado com o prior antecipadamente, nem tão pouco ele combinou nada comigo, durante a minha permanência e a das crianças, na residência paroquial.
O pároco, que não acreditava no que Lúcia dizia, interrogou as três crianças a meu pedido e nada adiantaram do que já tinham dito ao padre que dizia chamar-se João.
A minha intenção era trazer as crianças por meios suasórios para minha casa, como na madrugada de 13 (treze) de Outubro eu tinha dito ao Tenente, comandante da força da G.N.R., e nunca por meios violentos. E assim sucedeu, como é do conhecimento imparcial e honrada da população.
Vieram as crianças para minha casa, onde foram recebidas e tratadas como se fossem da minha família, durante dois dias que lá estiveram. Assistiram a uma procissão, que se realizou no dia 13, a qual foi por mim autorizada, à sombra do Artigo 57º., da Lei da Separação, como foram autorizadas todas as outras em todo o concelho, durante o tempo em que exerci o cargo do administrador do concelho, sem que houvesse a mais pequena nota discordante.
Brincaram as crianças de Fátima com os meus filhos e outros rapazes durante os dois dias, tendo sido visitadas por bastantes pessoas, algumas delas de categoria social, como o comandante da força, Dr. António Rodrigues de Oliveira. No largo da Louça haviam aparecido dezenas de pessoas que lhe queriam falar, o que recusei por serem muitas, com excepção de uma mulher que encontrei no Largo e que me pediu por todos os santos e santas, para só as deixar ver. Tive de transigir. Na noite do dia 13, estiveram às janelas da moradia do falecido Augusto Monteiro Batalha e da sua esposa, Srª.D. Virginia Nicolau, felizmente ainda hoje viva.
O que é falso, falsíssimo, é eu ter ameaçado ou intimidado as crianças ou terem estado presas, incomunicáveis ou sofrerem a mais pequena pressão ou violência, como pode ser testemunhado pela própria família e por toda a população séria e honrada, de todos os credos políticos e religiosos da minha terra.
O pai de Jacinta e Francisco, esteve na Administração do Concelho, ali chamado para levar os filhos, o que não fez, limitando-se a dar-lhes uma reprimenda. Compareceu também o pai de Lúcia, António dos Santos, por alcunha o Abóbora, com a filha Lúcia dos Santos.
Interroguei-a sobre a Santa e continuou a afirmar tê-la visto numa azinheira. Caía porém em contradições e, tendo ouvido a opinião de dois médicos sobre a estranha afirmação, que se pronunciaram ser ela uma doente, perguntei ao Abóbora o que dizia ele a respeito da filha. Resposta teatral: – O Senhor Administrador, não acredite nela porque é uma grande intrujona!
Retiraram no mesmo dia à tarde para suas casas e só no dia 13, se passou o que atraz me refiro, indo eu na mesma charrette com o João Lopes e o Oficial da Administração, Cândido Jorge Alho.
Deixei as crianças em casa do Prior da Freguesia, Rev. Manuel Marques Ferreira, no dia 14 de Agosto à saída da missa. No largo da Igreja foram as crianças abordadas por inúmeras pessoas, que lhes perguntavam o que lhes tinha acontecido. Havia uma certa hostilidade contra a Autoridade Administrativa e também contra o Pároco da freguesia a quem o povo acusava de ser conivente na ida das crianças para Ourém, mas tudo se desanuviou, afirmando eu na varanda da casa de residência do Prior, ao povo, que o Prior de nada sabia, ao mesmo tempo que as crianças abordadas por inúmeras pessoas, diziam que tinham sido bem tratadas. Mandei seguir o cocheiro com a charrette e o Oficial da Administração para Ourém e fiquei em Fátima, donde à tarde regressei num carro dum amigo particular.
O resto são calúnias, infâmias, ditas por aqueles que, propositadamente para encobrirem as suas mazelas, se lembram das espalhar, para fins de predomínio e de exploração, que brandam aos Céus!
Respeitei sempre e respeito as ideias dos meus adversários, para que respeitem também os meus ideais.
Tenho a subida honra de contar amigos em todos os campos, como também tenho inimigos implacáveis, uns que conheço bem, outros que se acobertam no anonimato indigno. O que é extraordinário é que – apesar de tantas acusações que me são feitas, até agora o meu certificado de registo criminal apareça limpo – e isso não acontece a certas pessoas que pretendem atacar-me.
Em Espanha, durante o tempo do meu exílio voluntário, defendi sempre, como soube, o nome de Portugal, e mesmo honrá-lo, nunca tomando parte em manifestações contrárias ao nosso brio nacional. Tenho as mãos limpas de sangue ou de roubos, como eu disse ao cônsul de Portugal, Sr. Xara Brazil, que teve a confirmação da minhas afirmações, e também o prazer de avaliar que nenhuma acusação da polícia me era desfavorável.
Por isso pude vir livremente para Portugal. Senão, não tinham agora os meus acusadores o trabalho e a desfaçatez de me atacarem com tal fúria e de maneira tão caluniosa.
Estive a trabalhar nos hospitais, no período da guerra, como vigilante e encarregado de dispensas e armazém. No hospital de S.João de Deus, em Madrid, consegui guardar quadros de valor artístico, histórico e religioso, de uma turbamulta que tudo destruía. Isto pode ser confirmado pelos médicos, enfermeiras, e até pelas próprias freiras.
Quanto ao procedimento e à maneira como cumpri os meus deveres, indico as seguintes testemunhas: Padre Rafael Fernandes, cura de Chamartin; tenente coronel D. Luis Muñoz Balcasar; D. Alejandro Canis, ilustre professor; Srª D. Luisa Maria Lopes Ochôa, chefe de pessoal do hospital, filha do general Lopes Ovhôa; dr Carvajal, chefe da Direcção Geral de Seguridad, e mais de trinta ou quarenta falangistas, cujos nomes posso indicar.
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