O que é o PAN? A oportuna neutralidade da direita
quarta-feira, 9 de dezembro de 2015
Publicado por António Santos
Se, em política, a neutralidade é sempre suspeita, deve ser constituída arguida e devidamente investigada quando acontece alguma injustiça. E no PAN, à semelhança dos Fuzis da Senhora Carrar, de Brecht, a alegada imparcialidade dos neutrais pende sempre para um dos lados.
Atingida a proeza de entrar no parlamento, a renúncia budista do PAN deu os primeiros trambolhões públicos. Primeiro, votou (disfarçadamente) no candidato do PSD/CDS-PP, Fernando Negrão, para o cargo de Presidente da Assembleia da República. Já na semana passada, o PAN absteve-se na moção de rejeição apresentada pela mesma coligação de direita, argumentando, todavia, que essa abstenção representava «um voto de confiança dado a este Governo legítimo» (?!).
Se lhe parecer estranho que o PAN não tenha a certeza sobre a moção de rejeição do PSD/CDS-PP, uma amálgama de elogios à austeridade com argumentos golpistas de extrema-direita, deve ficar a conhecer o percurso percorrido por esta força partidária.
O PAN, inicialmente denominado Partido pelos Animais, nasce em 2009 pela mão de Paulo Borges, antigo líder de vários grupos fascistas, de que a AXO é apenas exemplo. Reconvertido ao budismo e à filosofia New Age, o percurso de Paulo Borges espelha as contradições latentes do PAN, partido que só recentemente abandonou, imprimindo-lhe definitivamente o cunho actual.

Ao contrário do que é costume espargir em alguns círculos de pseudo-intelectuais burgueses com aspirações cosmopolitas, a transição de Paulo Borges do racismo para o budismo não é surpreendente. O fascínio da extrema-direita pelos ideias de «purificação» do budismo radical remontam ao III Reich de Hitler. Com efeito, o Dalai Lama, cuja fotografia continua a ser amiúde publicada no site do PAN, é o ex-chefe de Estado de um reino religioso, uma monarquia absoluta onde o clero era o proprietário de toda a terra, onde a escravatura, a tortura, a miséria e a exploração sexual das mulheres eram dogmas sancionados pelo budismo oficial.
Descontrai baby, come on descontrai, afinfa-lhe o Bruce Lee, afinfa-lhe a macrobiótica, o biorritmo, o hoscópio, dois ou três ovniologistas, um gigante da ilha de Páscoa e uma Grace do Mónaco de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas!
José Mário Branco in FMI
Claro que o PAN actual não subscreverá os ideais mais reaccionários desta tradição mas, órfão destes pais anónimos, cultiva uma linguagem e uma imagética que misturam a estética New Age com cultura pop anglo-saxónica e frases da Chiado Editora (ver imagens que ilustram este artigo) num bolo onde cabem citações de líderes religiosos hindus, fotografias do universo e apelos à (justa) defesa dos povos Maasai. Inversamente, no PAN nunca houve interesse, preocupação ou espaço para os trabalhadores despedidos na Triumph, na Somague ou na Cimpor.

«O Partido pelos Animais e pela Natureza (PAN) considera que o acordo de apoio financeiro recém-aprovado pela tróica constituída pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional se tornou essencial para garantir a estabilidade financeira do país, após anos de desgoverno e aproveitamento pessoal e partidário, pelos quais são sobretudo responsáveis o Partido Socialista e o Partido Social-Democrata. A aprovação desse acordo foi condicionada pela aceitação por parte do governo de um conjunto de reformas, algumas das quais fundamentais, tendo como objectivo geral modernizar e agilizar o funcionamento do aparelho de Estado visando o relançamento da economia a médio e longo prazos. De facto, o PAN argumentava já, nas suas bases programáticas, com a urgência de algumas dessas reformas, como forma de termos melhor Estado e de evitarmos o desperdício dos dinheiros públicos: a reestruturação do mapa administrativo do país, a reavaliação das parcerias público-privadas, a reforma da justiça, a redução de organismos e institutos públicos supérfluos, a privatização de empresas públicas não-estratégicas para o interesse geral do país, o reforço do controlo de gestão e o combate ao despesismo nos serviços públicos da educação e da saúde, entre outras.»
Coerentemente, perante a luta dos trabalhadores, o PAN explica melhor como é que não é de esquerda nem de direita: «o PAN está solidário com todas as recentes manifestações de indignação e protesto, incluindo a greve geral marcada para o próximo dia 24, mas também se solidariza com todos aqueles que, embora indignados e descontentes com esta situação, preferem outras formas de luta a uma greve geral, pelo impacto que esta tem sobre uma economia já debilitada».

O verdadeiro inimigo da natureza e dos animais tem um nome: capitalismo. Capitalismo é o modo de produção que destrói as florestas do planeta, que polui a água de todos e leva espécies inteiras à extinção. E sobre o capitalismo o PAN não tem posições que, no entanto, importava conhecer, nomeadamente: o PAN defende a nacionalização da banca e dos sectores-chave da economia? O PAN admite mais privatizações? Como é que o PAN responde às exigências da CGTP a este governo?
Insistindo que não é de esquerda nem direita, o PAN lá vai repetindo que é só um «partido de causas». Mas os partidos de esquerda não são «de causas»? A diferença entre, por exemplo, o PEV e o PAN é que o PEV compreende que não é possível defender a natureza sem um programa de justiça social que rompa com a política de direita e assuma frontalmente os valores progressistas, revolucionários e democráticos de Abril.

Desta forma, vai-se tornando claro que a pretensa neutralidade ideológica do PAN não é mais que um oportuno instrumento eleitoral, dificilmente concretizável num terreno em que diariamente é preciso optar por um dos lados: ou o dos banqueiros e do grande capital ou o dos trabalhadores.
A ecologia proposta pelo PAN, baseada no primado do acessório em detrimento do fundamental, é o equivalente a resolver o problema da dívida pública a recolher tampinhas. Ser ecologista sem ser de esquerda é só ser conservador. Lutar pelo fim da exploração do animal pelo homem sem querer pôr um ponto final na exploração do homem pelo homem é ser hipócrita. Querer mudar o mundo votando no PAN é o mesmo que querer pôr fim à pobreza fazendo as compras no Comércio Justo.
*Imagens retiradas do sítio na Internet do PAN e da página da candidata presidencial que esta força apoia
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#LUTA

«empresas que descarregam diariamente resíduos tóxicos nos nossos rios;(...)transportes públicos que correm o risco de deixar de o ser...»
Normalmente, quem não se afirma nem de direita ou de esquerda, é de direita. A esquerda declara sempre os seus valores e princípios.
Tenho pena que os gatos e os cães sejam defendidos por uma partido de direita, como o PAN.
Meninos ex-fascistas e «betos» que até conseguiram influenciar malta descontente com o BE e outros partidos, apenas com essa dose estúpida de Dalai Lama irritante e outros pequenos símbolos que apenas servem para enfeitar o vidro do quarto lá de casa.
Já agora gostava de ouvir e ler mais artigos do PCP sobre esse atentado contra a humanidade e a natureza que é o TTIP!
https://www.nao-ao-ttip.pt/festa-do-avante-debate-sobre-o-ttip/
http://avante.ebserver.org/martigo.php?edicao=2174&artigo=39
http://www.omilitante.pcp.pt/pt/334/Economia/936/Algumas-notas-sobre-o-TTIP-(Acordo-de-Parceria-Transatl%C3%A2ntica-de-Com%C3%A9rcio-e-Investimento-UE-EUA).htm
http://www.pcp.pt/ttip-uma-ameaca-contra-trabalhadores-povos
https://www.nao-ao-ttip.pt/tag/pcp/
http://www.avante.pt/pt/2147/pcp/133934/
http://www.publico.pt/politica/noticia/pcp-acusa-governo-de-omitir-carta-sobre-ttip-ao-parlamento-1675159