Redes sociais e centralismo democrático: oportunidades e desafios
Por Ben Becker, via Liberation School, traduzido por Gabriel Landi Fazzio
Este artigo é a versão editada de um
documento interno do PSL (EUA – Partido pelo Socialismo e pela
Libertação), inicialmente escrito no final de 2015. O documento embasou
amplas discussões sobre a questão em todo o partido no início de 2016,
examinando as novas possibilidades e dificuldades colocadas pela
proliferação das mídias sociais a partir da perspectiva de um partido
leninista.
Ben Becker, dirigente do partido,
avalia as mudanças qualitativas resultantes destas mudanças para a
comunicação de massas; os obstáculos à organização vertical; as
tendências individualizantes das mídias sociais e outras tensões entre
as mídias sociais e as organizações centralistas-democráticas. Analisa
esta última questão comparando as mídias sociais com o “organizador
coletivo” original dos leninistas: o jornal do partido. A seção final do
artigo articula as novas questões de segurança levantadas pelas mídias
sociais.
Como há poucos trabalhos que abordam
essa questão de uma maneira sistemática e orientada para a ação, o PSL
publicou o presente artigo a fim de que este seja um recurso para
auxiliar os novos camaradas partidários e demais lutadores sociais
diante da tarefa (muitas vezes frustrantes) de organização no meio
virtual. Consideramos, neste sentido, que além da riqueza de seu
conteúdo, o artigo parte de um ponto de vista particularmente relevante
para a abordagem do problema das redes sociais e da organização da
militância revolucionária.
As mídias sociais nos permitem alcançar
um número enorme de pessoas de uma maneira que antes seria muito difícil
ou, ao menos, exigiria recursos consideráveis (para divulgação,
panfletos, contatos telefônicos, etc, em grande escala). Esse é o
aspecto empolgante e amplamente comentado acerca do trabalho nas mídias
sociais, um trabalho que precisamos fortalecer e utilizar do modo mais
completo possível.
No entanto, como revolucionários que
estudam a história, sabemos que a visibilidade em massa não leva, por si
só, à revolução. As revoluções são eventos muito complicados em que
movimentos e partidos têm que ser capazes de giros abruptos, operando em
condições de passagem da legalidade à ilegalidade; eles têm que ser
capazes de sobreviver à sabotagem, repressão, infiltração e
desinformação do Estado.
A forma do partido leninista foi
construída especificamente para resistir à repressão do Estado. Para ter
uma organização grande e nacional que possa se reorientar rapidamente,
mover-se com unidade política e organizacional e mantendo o mesmo nível
de disciplina que o Estado (ou até mais), as comunicações e publicações
nos partidos leninistas foram organizadas verticalmente – de baixo para
cima e de cima para baixo. A manutenção dessas normas internas do
partido é de máxima importância para defender a organização e preservar
sua unidade em ação.
As mídias sociais representam desafios
consideráveis para a forma do partido leninista e para o movimento
socialista em geral. Elas criam um potencial ilimitado para comunicações
horizontais entre membros, para fofocas e insinuações no interior do
movimento e para a vigilância da vida dos membros (orientação política,
estado de ânimo, finanças, atividades românticas, etc).
Também difunde o espontaneísmo na
comunicação do Partido (em comparação com publicações impressas, que são
criadas, produzidas e distribuídas centralmente por uma liderança
destacadas). Ao contrário de um jornal, as redes sociais permitem que os
membros escolham quais artigos querem distribuir, escrevam suas
próprias manchetes acima das manchetes do Partido e distribuam seus
próprios artigos, escritos por eles mesmos ou por outros, sem qualquer
discussão e avaliação coletiva do Partido.
Esses desafios não têm soluções fáceis,
mas podem ser enfrentados, em primeiro lugar, elevando a consciência
entre camaradas sobre esses desafios, para que trabalhemos juntos
conscientemente; para que conscientemente construamos nossa unidade
política e conscientemente pratiquemos o centralismo democrático.
Introdução: o porquê deste documento
A quantidade de tempo que a classe
trabalhadora e todas as camadas da sociedade gastam nas redes sociais é
motivo suficiente para que o Partido desenvolva melhor as práticas e
diretrizes para seus membros neste âmbito. No período de alguns anos,
esta tornou-se a forma dominante de mídia, atraindo literalmente bilhões
de pessoas em todo o mundo e a grande maioria da população de nosso
país [EUA]. Nós já reconhecemos essa ferramente como essencial para todo
o nosso trabalho de organização, agitação e comunicação de massas, mas
ainda não falamos sobre suas implicações mais profundas, ou traçamos um
plano organizacional e diretrizes operacionais correspondentes.
A classe dominante é bastante eficiente
em práticas de mídia social, no que diz respeito às suas operações de
negócios e no campo da organização política. A classe dominante tem
rígidas diretrizes de mídia social para seus líderes e agentes. Conta
também com milhares de pessoas pagas que trabalham dia e noite para
promover sua visão de mundo e defender seus interesses online; usam as
mídias sociais como uma ferramenta poderosa para seus fins. Seus agentes
são mantidos em padrões profissionais de conduta e adaptam suas
mensagens com a intenção de persuadir milhões de pessoas a segui-los,
fazer doações, comprar, votar neles, etc.
Revolucionários profissionais – em
contraste com os revolucionários amadores – devem se esforçar para
corresponder a esse profissionalismo e, na verdade, ir além dele. Nosso
projeto de revolução social é mil vezes mais difícil e significativo do
que sua missão (autopromoção e engrandecimento pessoal) e, portanto, a
conduta dos membros do Partido nas redes sociais deve apresentar níveis
mais elevados de disciplina, humildade e coordenação.
Por último, mas não menos importante, as
preocupações de segurança nos obrigam a levar muito a sério nossa
conduta nas mídias sociais, que são, por natureza, públicas e dispersas.
Mídias sociais: uma mudança qualitativa nas comunicações de massas
A mídia social não é apenas um avanço
tecnológico. É uma mudança tecnológica que alterou fundamental e
permanentemente as relações sociais em quase todos os aspectos da vida,
bem como na cultura de massas e, é claro, nos meios de comunicação. Não é
menos significativa do que as invenções da prensa, do rádio ou da
televisão, que vieram antes, e este advento por si só mudou muito no
mundo.
As mídias sociais, na verdade,
representam um salto qualitativo a partir dessas formas, devido à sua
natureza horizontal. A revolução do computador colocou ferramentas de
publicação ao alcance de todos. As mídias sociais, de todo modo,
ampliaram a possibilidade de distribuição em massa, ultrapassando
fronteiras geográficas, tornando o indivíduo um meio de comunicação de
fato. Isto tudo apresenta um vasto potencial para que levemos a cabo a
estratégia do Partido para popularizar o socialismo, mas apresenta
desafios igualmente grandes à forma do partido leninista.
É essencial que todos os revolucionários
adaptem seus modos de organização à época em que vivem. O Partido pode
se fortalecer criando processos e métodos para aproveitar ao máximo o
potencial da mídia social e, ao mesmo tempo, lidar diretamente com suas
debilidades.
Isso significa usar o potencial das
mídias sociais para comunicação em massa e, ao mesmo tempo, preservar (e
de fato aperfeiçoar e atualizar) o centralismo e as formas “verticais”
que provaram ser vitais para a sobrevivência e o sucesso das
organizações revolucionárias. Nenhum movimento revolucionário pode
efetivamente resistir, responder e superar o Estado centralizado sem o
seu próprio modelo “vertical” – baseado na responsabilização de corpos
inferiores perante os superiores e uma cadeia de comando bem definida
que permite, como um todo, rapidamente responder a eventos, tomar
iniciativas e fazer reorientações sempre que necessário.
Esse é o desafio fundamental que os
revolucionários enfrentam com as mídias sociais. Elas facilitam a
expressão espontânea dos ânimos, ideias e até ações; mas um movimento
baseado na espontaneidade e na desorganização nunca derrotará o aparato
do estado centralizado (e a mídia empresarial).
Espontaneidade e horizontalismo
Assim como a mídia social pode, quase
instantaneamente, facilitar ações radicais e modificações positivas do
estado de ânimo das massas; ela pode, em igual medida, facilitar
espontaneamente o pessimismo e o cinismo. Uma ideia, evento ou imagem
revolucionária pode “se tornar viral” e ser absorvida momentaneamente
por grandes setores da população. Uma boa análise política pode decolar
online e ser compartilhada, lida e assimilada no período de 24 horas
entre os combatentes de vanguarda do país. Este é claramente um novo
aspecto importante da organização nos tempos atuais.
Mas, com a mesma facilidade, essas
contribuições progressistas e revolucionárias podem ser (e são)
sucedidas por novos conteúdos virais que são imprecisos, enganosos ou
francamente reacionários. Partindo dessa cultura de vale-tudo das mídias
sociais, a classe trabalhadora e seus combatentes mais abnegados não
chegarão espontaneamente às lições generalizadas da luta de classes, em
toda a sua complexidade, nem desenvolverão um olhar perspicaz, voltado a
identificar e combater os diferentes matizes da ideologia burguesa e
pequeno-burguesa, mascarada de “radical”, de uma hora para a outra.
Esse tipo de desafio – fornecer clareza e
coerência a partir de uma confusa dispersão de diversas correntes
ideológicas entrecruzadas – não é novo. Na verdade, a tarefa primordial
dos comunistas em todas as épocas é fundir às lutas da classe
trabalhadora uma filosofia e um ponto de vista revolucionários, baseados
no estudo científico da sociedade e da história. Isso nunca foi simples
e fácil, porque a ideologia burguesa é sempre dominante na sociedade
capitalista, exceto nas circunstâncias mais excepcionais: isto é, nos
raros momentos em que a classe trabalhadora em massa chega à conclusão
revolucionária de que seu futuro é melhor assegurado pela destruição do
estado de coisas existente.
Nesse sentido, as mídias sociais
aceleram, com uma enxurrada ininterrupta de opiniões e informações
políticas, o problema geral que os comunistas sempre enfrentaram. Os
comunistas de todas as épocas têm que lidar com a questão de quais
formas de organização e comunicação melhor servem a essa tarefa em seu
contexto. É aqui que entra a ideia de um “organizador coletivo”.
O desenvolvimento histórico do “organizador coletivo”
Na época da fundação do marxismo, em que o
proletariado ainda estava em processo de formação como classe, as
ideias revolucionárias foram inicialmente difundidas por tratados e
polêmicas teóricas de alto nível entre a intelligentsia radical
e um substrato relativamente pequeno de trabalhadores alfabetizados e
avançados. O meio editorial avançara consideravelmente em relação aos
séculos anteriores, mas permanecia dispendioso e altamente trabalhoso, o
que limitava as capacidades das novas organizações socialistas. O
principal método para manter a unidade organizacional entre diversos
coletivos radicais em um determinado país foi a turnê de palestras. As
ideias do centro organizacional literalmente viajaram e chegavam a cada
localidade através do palestrante.
A Segunda Internacional testemunhou a
popularização (mas também a diluição) de conceitos-chave marxistas,
graças ao rápido crescimento e difusão de instituições como os
sindicatos e os partidos operários, auxiliados pelos índices crescentes
de alfabetização e busca por leitura da classe trabalhadora urbana.
Essas instituições produziram uma montanha de publicações: panfletos,
livros, jornais, etc, para variados públicos. A essa altura, a evolução
da tecnologia de impressão tornou o processo de publicação muito mais
fácil e acessível para a classe trabalhadora e suas organizações em todo
o mundo.
As publicações do período da Segunda
Internacional refletiam a difusão de suas organizações, que tinham
tendências múltiplas e não uma única linha política. As publicações
continham opiniões amplamente divergentes, constituindo um ecossistema
maior de pensamento e debate socialista, em vez da voz unificada do
Partido ou de sua liderança.
Os marxistas russos, na virada do século
XX, mostraram grande parte dessa dispersão em suas publicações e na
organização do Partido, ao mesmo tempo em que navegavam pelas condições
peculiares de uma constante repressão e censura estatal.
A Rússia assistiu nas décadas precedentes
a um grande surto de greves, conforme a classe trabalhadora industrial
nascia. Apesar de lutarem por demandas econômicas imediatas, os
trabalhadores mostraram seu poder a todos os setores da sociedade e
provaram, na prática, a uma geração de radicais que essa atividade em
massa, mais do que terrorismo direcionado ou retorno ao meio rural,
seria a chave para a revolução vindoura.
O “Que fazer?” de Lenin (1901)
lançou uma polêmica contra aqueles que acreditavam que o Partido poderia
dirigir tais explosões espontâneas a um avanço revolucionário e
derrotar o Estado. Seus adversários defendiam um modelo organizacional
em que os círculos e coletivos locais mantinham seus jornais autônomos e
se concentravam em estimular o proletariado à ação através de uma
agitação em torno de suas demandas econômicas imediatas.
Lenin visava outro modelo, baseado em uma
compreensão diferente da relação entre a atividade espontânea e a
organizada. Na opinião de Lenin, os marxistas revolucionários só
poderiam celebrar a atividade espontânea como uma expressão, em forma
embrionária, do potencial para uma luta de classes consciente e
dirigida. De fato, o objetivo do marxismo era travar uma luta feroz contra a espontaneidade,
porque sem a orientação socialista da ideologia e da liderança, o
movimento da classe trabalhadora inevitavelmente seria cativo da
ideologia burguesa e fixaria suas vistas apenas em suas demandas
imediatas. A concepção de Lenin da necessidade de uma organização
distinta, que introduziria ideias socialistas revolucionárias no
movimento espontâneo dos trabalhadores, não era um tipo de elitismo,
como os anticomunistas há muito afirmam. Ao contrário: foi um chamado
para que os marxistas passem de buscar agradar aos trabalhadores [por
meio de concessões ideológicas] e, em vez disso, atraíssem as lideranças
da classe operária para uma organização de revolucionários altamente
dedicados, cujo trabalho consistia em processar, sintetizar e responder
constantemente às diversas lutas políticas e de classes que se
desenrolavam ao redor do país.
Para Lenin, isso aconteceria através de
um jornal nacional, o novo “organizador coletivo”. Embora os jornais
administrados localmente pudessem certamente ter um lugar na agitação
socialista, a principal deficiência do movimento da Rússia era a
ausência de uma publicação nacional para pôr em destaque a linha
política geral, demandas e visões do movimento. O localismo, de fato,
desarmou os ativistas e trabalhadores, estreitou sua visão política e
deixou-os despreparados para lidar com as complexidades da luta contra o
Estado.
Envolvendo revolucionários e
trabalhadores dispersos sob um mesmo material, envolvendo-os no processo
de avaliação e fornecendo-lhes de forma escrita as experiências
sintetizadas de seus camaradas em outras cidades, uma organização
nacional verdadeiramente unida de revolucionários poderia ser
organizada.
O jornal e o centralismo democrático
Com todos os membros ligados a um jornal
comum e central expressando a linha política da organização, todos
sabiam que, independentemente da localidade, um camarada em outra cidade
ou vila compartilhava verdadeiramente de sua visão e modelo
organizacional. Enquanto o Partido sempre praticou a democracia em suas
reuniões, congressos, discussões editoriais e na eleição de líderes
(incluindo editores), esse novo tipo de formato de jornal é o que
introduziu o centralismo em um sentido prático.
Como todos os círculos locais
responderiam às instruções do jornal nacional e o promoveriam, o jornal
forneceria um meio de erradicar várias formas de amadorismo e
arbitrariedade, exigindo a disciplina dos corpos inferiores aos corpos
superiores – uma necessidade absoluta para construir um aparato que
pudessem competir com o Estado hierárquico e seus agentes.
A pedra angular da nova forma organizacional de Lenin eram os quadros,
revolucionários profissionais que se tornaram especialistas na luta de
classes e se uniram através de anos de atividades comuns e sacrifícios
compartilhados. A criação de uma rede de distribuição subterrânea para o
jornal em si foi uma dessas experiências compartilhadas que ajudaram a
construir o profissionalismo e as capacidades da organização.
A organização que tomou forma em torno
das propostas de Lenine – os bolcheviques – de fato desenvolveu um
caráter único em comparação com a forma organizacional dos partidos da
Segunda Internacional. Nas crises revolucionárias desencadeadas pela
destruição massiva da Primeira Guerra Mundial, somente os bolcheviques
foram capazes de tomar e manter o poder. Quando a Terceira Internacional
foi formada, inspirada pela Revolução Russa, seus partidos-membros
replicaram esse aspecto da forma organizacional bolchevique. O jornal
nacional centralizado, funcionando como a voz, ou órgão, da liderança do
Partido, foi reproduzido em partidos comunistas em todo o mundo.
O jornal, enquanto tecnologia, é
bem adequada para as relações verticais que caracterizam as
organizações centralistas-democráticas. Pelo menos até a era do
computador, a impressão de um jornal exigia recursos econômicos
consideráveis, força humana, um centro físico e redes de distribuição
bem definidas. Em suma, a impressão e a distribuição eram um
empreendimento importante que exigia uma organização que centralizasse
seus recursos financeiros e humanos coletivos.
A produção de jornais, pelo menos quando
funcionando de forma saudável, também incluía um período de democracia –
quando os artigos eram discutidos, revisados e editados pelos camaradas
envolvidos no trabalho e eleitos para liderá-lo – seguido por um
período de centralismo, quando a publicação era impressa e todos os
membros eram obrigados a defendê-la, mesmo que não estivessem de acordo
com todos os artigos.
As dificuldades objetivas na impressão de
jornais também continha uma atração embutida para que ativistas
individuais e revolucionários se juntassem às organizações. Dado que
indivíduos e pequenos grupos não poderiam facilmente criar seus próprios
jornais, (ou pelo menos não com distribuição significativa) fazer parte
de um projeto político com qualquer tipo de visibilidade nacional
requeria que se estabelecesse relações com outras pessoas.
De certa forma, a imprensa radical era
praticamente sinônimo da própria organização radical. É por isso que a
repressão estatal foi tão frequentemente dirigida a fechar e confiscar
as imprensas independentes. Desde os ataques às imprensas abolicionistas
de meados do século XIX até os ataques aos sindicalistas após o Caso
Haymarket, as organizações podiam ser essencialmente silenciadas sem as
suas prensas.
Na Rússia czarista, tais ataques às
editoras independentes foram um grande impedimento para a publicação
consistente, forçando os militantes radicais a passar por processos
gerenciados pelos censores do estado. O jornal nacional de Lenin, o
Iskra, ajudou a aliviar o problema imprimindo no exterior.
Qual é o nosso organizador coletivo?
Hoje, os sites e as páginas do Partido
nas redes sociais desempenham funções que se assemelham mais ao
“organizador coletivo” do que o jornal do Partido. Quando os membros, ou
outras pessoas, querem saber qual é a perspectiva do Partido sobre um
determinado assunto, eles vão a esses sites em vez de esperar pelo
jornal. Esses sites publicam conteúdo com muito mais frequência e
centralizam as experiências díspares da luta de classes (em nossas
seções e em todo o mundo).
sso não quer dizer que as publicações
impressas não desempenhem papéis semelhantes. O jornal não é a voz
principal e central do Partido, mas é uma ferramenta centralizada de
divulgação e agitação, planejada e direcionada para a intervenção direta
do Partido nos movimentos em desenvolvimento. Ele fornece uma
identidade comum e uma linha para nossas intervenções, independentemente
da cidade em que estamos. Os livros também podem desempenhar o papel de
um organizador coletivo na medida em que podem atrair grandes seções
dos membros em grupos de estudo comuns e discussões ideológicas,
refinando e aprofundando a linha política distinta de nossa organização.
A mídia social não é naturalmente um “organizador coletivo”
O site e as páginas nas mídias sociais
exigem atualizações constantes para permanecerem atraentes e não têm
limites para a quantidade de conteúdo que podem conter. Isso sem dúvida
introduz algumas fraquezas em comparação com o clássico “organizador
coletivo” do jornal. A forma de jornal partidário tradicional comunicava
prioridades organizacionais claras aos membros e outros leitores. Isso
ficava claro a partir do que era colocado na primeira página, qual era o
assunto do editorial, quais artigos obtêm cobertura proeminente e quais
não. Alguns desses benefícios do jornal podem ser mantidos na forma do website com um layout apropriado e a publicação consistente de declarações e editoriais do PSL. O lançamento da Liberation School ajuda o Partido a promover aquelas análises mais aprofundadas que desejamos difundir.
Mas transmitir prioridades
organizacionais é um pouco mais difícil de fazer naturalmente através
das mídias sociais, onde as postagens são simplesmente listadas
cronologicamente ou difundidas com base em algoritmos que não podemos
controlar ou mesmo determinar completamente (e são de fato manipulados
seletivamente pelas grandes corporações). Um artigo ou declaração de
suma importância para a liderança do Partido e para os editores pode
receber significativamente menos atenção do que uma de menor
importância. Pode receber menos atenção porque sua manchete não é tão
atraente ou seu assunto não está diretamente relacionado ao atual ciclo
de notícias, a mais recente peculiaridade no algoritmo, ou porque nossos
membros e leitores têm menos familiaridade com ele.
No jornal leninista tradicional, como
organizador coletivo do partido, a matéria da primeira página seria
cuidadosamente selecionada. Todos os membros saberiam ler o artigo que
foi colocado na primeira página e, quando saíssem para distribuí-lo,
seriam obrigados a explicar sua importância para os outros. Além disso,
ao distribuir o jornal, distribuiriam todos os seus artigos, não apenas
alguns que mais lhes agradassem pessoalmente.
Em comparação, quando os membros de hoje
acessam nosso site ou página nas redes sociais, podem ignorar esse
artigo, especialmente se ele não apelar imediatamente para sua curiosidade pessoal ou seus interesses pessoais. Eles podem não distribuí-lo/compartilhá-lo simplesmente porque supõem que seus
amigos não se relacionarão com seu tema. Isto é um problema. Se não
estabelecermos métodos conscientes e deliberados para neutralizar essas
tendências, as mídias sociais podem, na verdade, impedir a capacidade da
liderança do Partido e da equipe de publicações de organizar
centralmente os membros por meio de suas publicações. Pode levar à
compartimentalização – com certos camaradas apenas promovendo artigos
sobre certas questões – em vez de encorajar a unidade e uma atitude
comunista para apoiar todas as lutas dos oprimidos.
Vamos considerar outro cenário, que na
verdade é bastante comum e tem implicações políticas que são facilmente
ignoradas. Digamos que o Partido tenha postado um artigo sobre um caso
de brutalidade policial em que o policial foi efetivamente indiciado
depois de um grande protesto. O artigo intitula-se “Luta popular força o indiciamento de um policial assassino em Nova York”,
e essa é sua ênfase, mostrando às pessoas que protestar pode, de fato,
fazer uma grande diferença. Em um lugar no artigo, também diz: “É claro
que não devemos esperar justiça dos tribunais capitalistas – a luta deve
continuar”. Considere que um membro do Partido compartilha o artigo com
a legenda “Não espere justiça dos tribunais capitalistas!”.
Com efeito, esse camarada modificou a manchete e a ênfase do artigo,
contradizendo os camaradas que o desenvolveram e decidiram nos estágios
de escrita e editorial. O processo organizado e coletivo do Partido
(neste caso, o estágio de publicação) foi substituído no último estágio
da distribuição.
Ou considere que o camarada escreve como uma legenda ou tweet: “Estou tão cansado de protestar contra algo que deveria ser tão óbvio!“.
Este é um sentimento compreensível, mas na verdade inverteu o espírito
do artigo original. Em vez de um incentivo para continuar a luta,
reflete exaustão e desânimo. Provavelmente, nove décimos dos seguidores e
amigos não clicam no artigo em si (mesmo aqueles que “curtem” ou
“favoritam”). O camarada promoveu a linha do Partido ou a enfraqueceu?
Não existe uma solução fácil e
roteirizada para este desafio, mas ele exige que os camaradas sejam
leitores mais vigilantes e conscientes – para realmente pensar na
orientação e ênfase do Partido nos artigos que compartilham.
As mídias sociais, em suma, oferecem
muitas oportunidades para a espontaneidade se infiltrar no processo de
publicação e distribuição e, portanto, na nossa luta para elevar a
consciência revolucionária. Como cada membro pode criar e distribuir
instantaneamente conteúdo para o movimento, o Partido e o público, cada
um se transforma, em essência, em uma mídia por si mesmos. Para superar a
espontaneidade e o individualismo, certificar-se de que as publicações e
a linha política da organização se destaquem, requer-se uma atividade
consciente, deliberada e organizada.
A melhor salvaguarda é, obviamente,
usar as mídias sociais em coordenação com outros camaradas, de modo que
os pontos de discussão e as legendas sejam completamente consistentes e
unificadas, mesmo quando sejam personalizadas em algum grau.
Sistemas fáceis de censurar
Uma realidade adicional é que os meios de
produção nas redes sociais são controlados de forma privada. Eles estão
fundamentalmente nas mãos de nossos inimigos de classe, que podem e vão
usar essas poderosas ferramentas contra os movimentos do povo e para
desorientar a população – ou até mesmo desconectar os serviços de mídias
sociais se estes ficarem fora de controle.
Tais medidas drásticas podem ter
consequências desastrosas para a classe dominante. Quando Hosni Mubarak
desconectou o Twitter, enfureceu seções ainda maiores da sociedade
egípcia e compeliu as pessoas a comparecerem aos protestos para ver o
que estava acontecendo por si mesmas. Mas as grandes empresas de
tecnologia já desenvolveram, a pedido de governos, técnicas sofisticadas
para censurar certos conteúdos e demonstraram disposição de fechar
perfis e páginas que são consideradas “ameaças à segurança nacional”.
Isso sugere que, embora o Partido
aproveite ao máximo a “liberdade” política atual para se envolver em
comunicações de massa convencionais por meio de mídias sociais e e-mail,
também deve estudar os métodos e experiências de radicais
contemporâneos que operam em condições políticas mais adversas.
Problemas de segurança e vulnerabilidades
As dimensões de segurança das mídias
sociais são de importância primordial. O FBI, o DHS, a NSA, as agências
policiais locais e os prestadores de serviços de segurança privada têm
divisões e departamentos inteiros concentrados na coleta de informações
das redes sociais como seus empregos em tempo integral. Praticamente
todas as operações de coleta de informações e uma quantidade enorme de
processos judiciais se baseiam nas mídias sociais.
Como a mídia social é “pública”, as
salvaguardas constitucionais uniformes que existem em outras formas de
comunicação são de pouca utilidade nas mídias sociais. Esses agentes
podem facilmente criar perfis falsos, adicionar como “amigos” pessoas do
Partido ou do movimento e depois acumular grandes quantidades de
inteligência. Esses agentes têm uma motivação pessoal e carreirista para
inventar e exagerar ameaças, para “encontrar algo” que possa ser punido
ou colocado em um produto de inteligência para impressionar seus
superiores.
Cada membro do Partido e do movimento
deve se conduzir nas redes sociais com a expectativa de que sua
atividade não seja privada. Isto é assim mesmo para a população em
geral, mas ainda mais para os membros do nosso Partido, uma organização
que se orienta para os pontos mais agudos da luta política em uma grande
variedade de movimentos sociais. Há provas documentais claras, bem como
muita experiência pessoal, que falam sobre a quantidade de tempo e
energia que a polícia e os agentes do “contra-terrorismo” usaram para
rastrear, infiltrar e sabotar os movimentos em que o PSL esteve
envolvido centralmente: o movimento anti-guerra, o movimento Occupy, o
movimento Black Lives Matter, etc. O fato de esses movimentos não
estarem envolvidos em atividades criminosas e serem quase inteiramente
não-violentos é de pouca importância para eles.
Quando o estado investiga ou sabota uma
organização ou movimento, em que tipo de informação seus agentes estão
interessados? Tudo. Acima de tudo, eles procuram vulnerabilidades
pessoais, fraquezas internas e contradições nascentes entre os membros,
ou com outros movimentos, que possam ser explorados. Além disso, eles
estão procurando por falas sensacionalistas e imagens que possam ser
distorcidas e manipuladas em um possível processo criminal, usado para
justificar investigações maiores, ou simplesmente salvos para demonizar
os membros das organizações em um momento posterior.
Veja um cenário: se um agente da
inteligência for a um evento de uma organização e depois adicionar uma
boa parte de seus membros no Facebook, o que eles poderiam obter? Uma
vez que eles tenham adicionado dois ou três membros, eles logo poderão
se tornar amigos do resto (baseando-se em seus “amigos em comum”).
Simplesmente monitorando suas páginas por pouco tempo, rastreando
“curtidas”, comentários, imagens e outras atividades, uma pessoas seria
suficiente para identificar:
1. Quem se encontra com quem, efetivamente mapeando a organização.
2. A rotina pessoal, incluindo paradeiro regular.
3. Quem é o mais ativo, quem é inativo, quem é popular e influente.
4. Que problemas e lutas são mais importantes para quais membros.
5. Quem está lidando com problemas financeiros e familiares.
6. Quem parece pessoalmente frustrado ou deprimido.
7. Quem está politicamente desmotivado (isso pode ser inferido simplesmente pela ausência de postagens que coincidam com as iniciativas da organização, ou conteúdo passivo agressivo indireto).
8. Quem parece ter “lealdade dividida”, agindo de maneira amigável com indivíduos que são hostis ao Partido (por exemplo, um ex-membro que foi expulso).
2. A rotina pessoal, incluindo paradeiro regular.
3. Quem é o mais ativo, quem é inativo, quem é popular e influente.
4. Que problemas e lutas são mais importantes para quais membros.
5. Quem está lidando com problemas financeiros e familiares.
6. Quem parece pessoalmente frustrado ou deprimido.
7. Quem está politicamente desmotivado (isso pode ser inferido simplesmente pela ausência de postagens que coincidam com as iniciativas da organização, ou conteúdo passivo agressivo indireto).
8. Quem parece ter “lealdade dividida”, agindo de maneira amigável com indivíduos que são hostis ao Partido (por exemplo, um ex-membro que foi expulso).
Assim como um membro pode facilmente
detectar todas as informações acima sobre os membros de nossos próprios
organismos, podemos detectá-lo sobre outros organismos e outros no
movimento. Do mesmo jeito poderão os agentes do Estado. A realidade é
que os indivíduos agora naturalmente distribuem essa informação sobre si
mesmos livremente.
Não existe uma solução simples para esse problema, uma vez que os militantes utilizem as redes sociais. O
importante é que utilize a própria página para projetar a unidade, a
solidariedade e o otimismo revolucionário; postar consistentemente
artigos e eventos envolvendo a organização; e evitar no geral
sinalizações de contradições internas e fraquezas pessoais.
Enquanto muitas pessoas na sociedade utilizam as mídias sociais como um
diário online, como é sua prerrogativa, todos os camaradas devem se
perguntar: como um revolucionário, eu quero que o Estado tenha meu
diário?
Uma vez identificado como um organizador e
revolucionário, tudo o que você diz e faz – online ou pessoalmente –
será visto como uma representação de seus valores, sua identidade
política e da(s) organização(ões) que você representa. Embora as redes
sociais tenham retirado a mídia e as publicações das mãos exclusivas da
burguesia – gerando muito mais oportunidades para as pessoas pobres e da
classe trabalhadora promoverem e divulgarem seus pontos de vista – ela
ainda promove noções pequeno-burguesas e individualistas sobre a
“propriedade privada” do conteúdo que criamos. Devemos fazer pleno uso
das possibilidades das mídias sociais enquanto nos resguardamos contra
tais sentimentos.
Como todas as tecnologias, as plataformas
de mídias sociais não são em si inerentemente boas ou ruins,
progressivas ou regressivas. Em vez disso, são os contextos políticos e
ideológicos em que estão situadas que, em grande medida, condicionam os
limites de seu uso. Ao identificar os desafios e oportunidades que elas
apresentam, podemos exercer seu poder de maneira mais eficaz, sem
sucumbir à espontaneidade, perdendo de vista nossas normas
organizacionais ou nos tornando excessivamente confiantes nelas em nosso
trabalho de organização.
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