H. Bruce Franklin
Ficaram “perplexos”, reportaram, pela falta de qualquer resistência alemã no percurso. Não encontraram fogo das baterias antiaéreas no solo, nem fogo dos aviões de combate nazis no ar, até acabarem de executar o seu bombardeamento e regressaram à base.
Porquê?
Come you masters of war
You that build the big guns
You that build the death planes
You that build all the bombs
You that hide behind walls
You that hide behind desks
I just want you to know
I can see through your masks
[Vinde, senhores da guerra,
Vós que construis as grandes armas,
Vós que construis os planos de morte,
Vós que construis todas as bombas,
Vós que vos escondeis atrás dos muros,
Vós que vos escondeis atrás de secretárias,
Eu só quero que saibam
Que posso ver através das vossas máscaras]
– “Masters of War”, Bob Dylan
Esta é uma história de mistério. Gira em torno de um prédio que – como todos virão a concordar – deveria ter sido bombardeado.
Antes da construção do Pentágono, durante a Segunda Guerra Mundial, os dois maiores e mais famosos edifícios de escritórios do planeta Terra eram o Empire State Building e a sede do gigante industrial alemão IG Farben. Construir esses palácios do capitalismo foi uma corrida frenética, em 1930-1931, no início da Grande Depressão. Ambos os edifícios foram projetados para inspirar admiração, pela altura do “arranha-céus”, em Nova York, e pela grandiosidade avassaladora, em Frankfurt. Ao contrário do World Trade Center original, os dois edifícios ainda continuam de pé. Não há nenhum mistério sobre como a estrutura de aço resistente do Empire State Building sobreviveu ao acidente direto, de 1945, no seu 79.º andar, com um bombardeiro bimotor B-25, perdido na névoa sobre a cidade. Como o IG Farben HQ sobreviveu à Segunda Guerra Mundial, no entanto, é um mistério cujas obscuras profundezas guardam ligações secretas entre o passado e o presente.
O Empire State Building foi uma visão indelével da minha memória, enquanto crescia como uma criança em Brooklyn, durante a Segunda Guerra Mundial. Mas o meu primeiro vislumbre do prédio IG Farben só aconteceu num filme: O Expresso de Berlim, de Jacques Tourneur, um filme de 1948, que vi pela primeira vez enquanto o presidente dos Estados Unidos fazia o seu melhor para seguir o caminho de Hitler ao poder. Como Notorious, de 1946, de Alfred Hitchcock , é um thriller [filme de suspense] que gira em torno de uma conspiração nazi para recuperar o poder. Não consigo pensar em nenhum outro filme do pós-guerra sobre uma tentativa de retorno nazi, o que é bastante surpreendente, já que esses foram os anos da campanha de desnazificação e dos julgamentos por crimes de guerra.
Valia a pena assistir ao Expresso de Berlim como um thriller de mistério, com excelentes valores de produção e excelente atuação em conjunto. É também o único filme do pós-guerra que conheço que alertou contra a nascente Guerra Fria e apelou à restauração da aliança da guerra contra o fascismo. Mas o seu poder de choque vem de impressionantes revelações visuais. Filmado em 1947, o Expresso de Berlim foi o primeiro filme comercial filmado na Alemanha ocupada. Uma abertura em tela inteira proclama:
As cenas reais em Frankfurt e Berlim foram fotografadas com autorização de:
Exército de Ocupação dos Estados Unidos
Exército de Ocupação Britânico
Exército de Ocupação Soviético.
Quando o edifício IG Farben apareceu, no início do filme, fiquei engasgado. Lá estava ele. Cercado por hectares de parques bem cuidados, as suas seis alas monumentais interligadas (comparadas com as cinco do Pentágono) estendiam-se num arco elevado que procurava dominar o espaço. Cada ala era, em si mesma, um prédio maciço de nove andares, revestido com blocos de requintado mármore travertino. A câmara levou-nos, através das pesadas colunas do pórtico, até ao ornamentado vestíbulo, depois, através de um piso de mármore reluzente, até elevadores intermináveis e sem portas transportando pessoas de e para o trabalho. Num andar superior, seguimos por um dos quarenta e cinco corredores curvos que entrelaçavam esta estrutura colossal, que continha dez milhões de pés cúbicos de escritórios e, de 1933 a 1945, foi a conexão da máquina de guerra nazi. A cena seguinte ocorreu dentro de um escritório, através de cujas janelas vislumbramos escombros sem fim, as ruínas da cidade de Frankfurt.
Durante quinze anos, esta foi a sede do gigante conglomerado alemão IG Farben. O principal campo de trabalho escravo de Auschwitz foi projetado, administrado e financiado dentro desses muros e os lucros do campo foram enviados a esses escritórios. Joseph Mengele remeteu relatórios detalhados sobre as suas hediondas experiências em Auschwitz diretamente para este edifício, onde, diligentemente, os seus diretores autorizaram os respetivos pagamentos e requisitaram todos os equipamentos e suprimentos que ele solicitou. Aqui foi inventado o gás Zyklon-B, usado para assassinar milhões de judeus, comunistas, ciganos e homossexuais. Ainda mais importante, neste edifício trabalhavam os cérebros e outros órgãos vitais da empresa que inventou e produziu a borracha sintética, o óleo sintético e novas ligas leves que permitiram aos aviões e tanques de guerra da Wehrmacht conquistar a Europa, desde o Canal da Mancha até aos arredores de Moscovo, Stalingrado e Leningrado. No julgamento dos responsáveis por crimes de guerra, o promotor-geral Telford Taylor disse que aqueles foram os homens que transformaram as fantasias de Hitler em realidade. (Para a história definitiva da IG Farben veja o excelente livro de Diarmuid Jeffrey Hell’s Cartel: IG Farben and the Making of Hitler’s War Machine [Cartel do Inferno: a IG Farben e a criação da máquina de guerra de Hitler]).
Antes que aquela vasta máquina de guerra industrial nazi pudesse ser administrada dentro deste grandioso palácio da morte, ela teve de ser financiada e criada. A primeira contribuição de IG Farben a Hitler e ao seu partido nazi veio num momento crucial da história. Os nazis, que haviam conquistado 37,5% dos votos nas eleições de julho de 1932, caíram para 33,1% nas eleições de novembro, custando-lhes 34 assentos no parlamento. Ultrapassados em número pelos deputados social-democratas e comunistas somados, os nazis não conseguiam formar uma coligação maioritária, mas Hitler, apoiado por muitos industriais alemães e algumas corporações americanas, persuadiu o presidente Hindenburg a nomeá-lo chanceler, com o controle sobre a polícia. Novas eleições parlamentares foram marcadas para março de 1933. No final de fevereiro, Hitler teve uma reunião secreta com “quem é quem” dos industriais da Alemanha. Liderados pela IG Farben, que deu a maior contribuição, as gigantescas corporações financiaram um tsunami de propaganda nazi, enormes comícios nazis e o aparecimento das tropas de choque de Hitler (Sturmabteilung ou SA, conhecidos como camisas-castanhas). Naquela eleição de março, a última livre, os nazis alcançaram o seu pico de votos (43,9%), o suficiente para consolidar a ditadura de Hitler.
Como poderia esse prédio não ter sido – apenas por motivos militares, para não mencionar motivos morais – o principal alvo dos bombardeamentos americanos e britânicos? Mas, por outras razões, nenhuma das forças aliadas teve permissão para atacar a cidadela do poder nazi e centro de comando dos maiores crimes de guerra da Alemanha. Isso não aconteceu porque a antiga cidade de Frankfurt, onde reis e imperadores alemães foram coroados, desde 855, foi poupada. A ação de capa e espada do Expresso de Berlim leva-nos num panorâmico passeio de pesadelo pelos destroços da bombardeada Frankfurt. A excelente fotografia a preto e branco de Lucien Ballard captura quilómetros intermináveis de edifícios esqueléticos, enormes pilhas de entulho, mendigos mutilados e sem abrigo. Parte da ação principal ocorre dentro das ruínas, incluindo cenas-chave num clube noturno clandestino pró-nazi, escavado por trás dos escombros. O edifício IG Farben permaneceu incólume, no meio de uma cidade bombardeada numa moderna forma da idade da pedra.
“Os senhores da guerra”, como cantava Bob Dylan para nós, “escondem-se atrás dos muros”. Quais muros? Na América, a imagem mais próxima dos muros atrás dos quais se escondem é a do Pentágono. Mas o Pentágono é apenas o local de trabalho dos seus lacaios, capangas e mercenários, sentados em secretárias com uniformes de alta patente, ou movimentando-se apressadamente pelos corredores após a sua reforma militar, agora com fatos caros, como representantes das nossas corporações de “defesa”. Mas na Alemanha nazi, qualquer um podia ver as ostentosas paredes atrás das quais se emboscavam os beneficiários senhores da guerra. Eles glorificavam-se nas suas paredes e queriam ser conhecidos pelo mundo. Assim, a sede da IG Farben combinou os principais alvos dos bombardeamentos de 11 de setembro: o World Trade Center e o Pentágono, os dois mais famosos edifícios de escritórios do mundo do século XXI.
Chamamos “terroristas” aos bombardeamentos de 11 de setembro, um termo que obscurece a sua motivação e o espantoso e medonho sucesso da sua missão geopolítica: mergulhar os Estados Unidos numa interminável e invencível guerra no coração do mundo muçulmano. O terror não era o seu objetivo; o seu objetivo era atrair os EUA para o Afeganistão, onde os jihadistas – com grande ajuda de Washington – tinham recentemente derrotado a URSS. Ao contrário, os bombardeamentos britânicos e norte-americanos na Segunda Guerra Mundial, em Frankfurt,– e noutras cidades da Alemanha e do Japão – foram a implementação de uma estratégia de terrorismo. Essa foi uma estratégia explicitamente fascista, exposta pelo teórico fascista italiano, Guilio Douhet, e desenvolvida na Grã-Bretanha pelo Marechal da força aérea Hugh “Boom” Trenchard e pelo General Arthur “Bomber” Harris e, na América, pelo General Billy Mitchell (conforme explicado e documentado detalhadamente no secção “Victory through Air Power” [Vitória através do Poder Aéreo] do meu livro War Stars: The Superweapon and the American Imagination [Guerra das Estrelas: a Superarma e a imaginação americana]). A estratégia foi desenvolvida com o bombardeamento terrorista italiano na Líbia, em 1911, e com o bombardeamento terrorista britânico no Iraque, em 1922.
Douhet explicou a sua teoria numa série de tratados compilados em The Command of the Air [O Comando do Ar], o esquema do que é conhecido como “bombardeamento estratégico”, a principal estratégia aérea dos EUA na Segunda Guerra Mundial e, mais tarde, a missão do Comando Aéreo Estratégico dos EUA, onde eu servi como navegador e oficial da inteligência. Visto que, nas palavras de Douhet, o objetivo é “espalhar o terror e o pânico”; por isso, “é muito mais importante” destruir “uma padaria” do que “metralhar ou bombardear uma trincheira”. Os principais alvos são “armazéns, fábricas, lojas, reservas de alimentos e centros populacionais”. Douhet entusiasmava-se tanto com bombas incendiárias como com bombas explosivas (e gás venenoso). Ele imaginou “pessoas atacadas em pânico” fugindo de cidades em chamas “para escapar deste terror que vem do ar”.
Talvez a primeira vítima mais conhecida desta teoria fascista da guerra seja Guernica, uma cidade espanhola sem significado militar, submetida à saturação de bombardeamentos aéreos da Luftwaffe, em 1937. A magnífica pintura de Pablo Picasso sobre a matança é justamente conhecida como uma das maiores obras de arte visuais antiguerra. Eu acho mais angustiantes os horrores de Black Rain [Chuva Negra], a reconstituição japonesa do bombardeamento de Hiroshima, de 1989, e suas consequências. Mas quando penso profundamente sobre o que vemos no Expresso de Berlim e o relaciono com as nossas notícias diárias, este antigo filme de Hollywood golpeia com implicações mais aterrorizantes.
Por que nunca foi bombardeada a sede da IG Farben? Como se tornou esse prédio o mais seguro de qualquer cidade alemã? Nunca foi dada nenhuma explicação oficial. O Expresso de Berlim repete uma explicação baseada em rumores: o General Eisenhower decidiu, em 1944, que queria o edifício para sua sede (que é o que vemos nas cenas então filmadas dentro desta estrutura, em 1947). O problema com a explicação está na história do bombardeamento de Frankfurt.
Frankfurt foi bombardeada cinquenta e quatro vezes pelos britânicos, antes de 25 de julho de 1942. Durante o resto de 1942 e 1943, ataques massivos de bombardeiros da RAF saturaram Frankfurt, de forma intermitente, com explosivos e bombas incendiárias. Só o ataque de 4 de outubro de 1943 lançou 300.000 toneladas de bombas incendiárias, líquidas e sólidas, sobre a cidade. O primeiro ataque aéreo americano em Frankfurt só ocorreu em 29 de janeiro de 1944, quando uma vasta frota de 800 fortalezas voadoras B-17 destruíram toda a cidade – exceto o edifício e a área da IG Farben.
A maioria da tripulação dos B-17 era veterana em ataques a outras cidades alemãs. Neste ataque, encontraram algo que nunca haviam experimentado. Ficaram “perplexos”, reportaram, pela falta de qualquer resistência alemã no percurso. Não encontraram fogo das baterias antiaéreas no solo, nem fogo dos aviões de combate nazis no ar, até acabarem de executar o seu bombardeamento e regressaram à base.
Porquê? Os B-17 eram mais vulneráveis enquanto carregados de bombas e em formações fechadas de bombardeamento. Os defensores dificilmente deixariam de atacar 800 Fortalezas Voadoras e, comparando com outras missões, dezenas de bombardeiros teriam sido abatidos. Só consigo pensar numa explicação para este comportamento das forças nazis, cuja missão era defender a cidade. Se atacassem os bombardeiros antes de soltarem as suas bombas, essas bombas poderiam ir para qualquer lugar – incluindo o sacrossanto quartel-general da IG Farben. E isso não faz sentido, a menos que os defensores soubessem com antecedência, sem dúvida pelas dezenas de ataques anteriores, que os atacantes não alvejariam a IG Farben.
Quem eram os anjos da guarda da IG Farben? A resposta a essa questão ajuda a explicar como a aparente vitória na nossa chamada Guerra Boa, de alguma forma se transformou na nossa Guerra Para Sempre, hoje liderada por um presidente que segue meticulosamente o caminho de Hitler ao poder. Encontram-se na labiríntica confusão das interconexões da IG Farben com gigantescas corporações britânicas e norte-americanas.
Uma maneira de navegar no labirinto internacional da IG Farben é seguir os passos de John Foster Dulles e Allen Dulles. Até os EUA entrarem na guerra, o representante da IG Farben nos EUA era a Sullivan & Cromwell, um escritório de advocacia chefiado por Foster, apoiado pelo seu sócio Allen. Logo que Hitler ganhou a eleição de 1933, Sullivan & Cromwell iniciou todos os seus telegramas alemães por “Heil Hitler”. Enquanto negociava cruciais acordos internacionais para a IG Farben, incluindo formas de ocultar o controle da empresa sobre corporações estratégicas dos EUA, Foster foi também um apologista do regime nazi e um fundador do movimento de apaziguamento América Primeiro. (A história dos irmãos Dulles anterior à guerra é contada de forma profunda por Nancy Lisagor e Frank Lipsius em A Law Unto Itself: The Untold Story of the Law Firm Sullivan & Cromwell [Uma lei para si própria: a história não contada do escritório de advocacia Sullivan & Cromwell]). Durante a guerra, Allen liderou o escritório do OSS na Suíça, onde conheceu vários espiões e agentes alemães, suprimiu relatos do Holocausto e organizou uma estratégia antissoviética para o pós-guerra. (Para uma leitura essencial sobre Allen, ver The Devil's Chessboard: Allen Dulles, the CIA, and the Rise of America's Secret Government [O tabuleiro de xadrez do Diabo: Allen Dulles, a CIA e a ascensão do governo secreto da América], de David Talbot). Os irmãos Dulles assumiram o comando da Guerra Fria da América, quando Foster se tornou Secretário de Estado e Allen chefe da CIA, sob o presidente Eisenhower.
Quando os Estados Unidos entravam na Segunda Guerra Mundial, em 1941, o Departamento de Justiça denunciou o cartel bizantino, criado pela IG Farben e a Standard Oil, incluindo uma empresa americana de propriedade conjunta. Os executivos de topo da Standard Oil foram condenados por conspiração criminosa com a IG Farben. (Cada uma destas criminosas corporações foi punida com uma multa de cinco mil dólares). Usando uma miríade de holdings e corporações fictícias, a IG Farben também conseguiu participações noutros grandes concorrentes dos EUA, incluindo a Dow Chemical e a Alcoa. O seu objetivo? Impedir os EUA de produzir a sua própria borracha sintética e óleo, bem como metais estratégicos leves, especialmente as novas formas de magnésio, tão importantes para os aviões de combate. A sua tática? Atrair as empresas americanas com ofertas de patentes da IG Farben e, a seguir, assinar acordos que limitavam severamente qualquer produção utilizando essas patentes. Graças às cordiais e íntimas relações entre os executivos alemães e americanos, isto funcionou bem para os planos de guerra nazis.
Descobri os complexos laços entre IG Farben e Dow Chemical em 1966, enquanto trabalhava para ajudar a criar o movimento contra o uso de napalm no Vietname. A Dow, claro, era a principal produtora de napalm. Como escrevi então: “Na década de 1930, a Dow Chemical e a IG Farben formaram um cartel internacional. Parte desse acordo era restringir a produção de magnésio dos Estados Unidos e permitir que a Alemanha assumisse a liderança mundial nesse elemento vital. Como resultado, no início da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha produzia cinco vezes mais magnésio do que os Estados Unidos”.
Seriam os anjos da guarda da sede da IG Farben os mesmos que salvaram os principais executivos da IG Farben da execução, ou de sentenças vitalícias? Enquanto o Expresso de Berlim filmava em Frankfurt, a 140 milhas [225 Km] de Nuremberga, vinte e três executivos de topo da IG Farben estavam a ser julgados como criminosos de guerra. No filme, os nazis ainda são o inimigo. Mas àquela altura, os Estados Unidos já estavam a reconstruir a indústria alemã contra uma percebida ameaça do comunismo soviético.
A liderar a acusação contra os promotores que acusavam os chefões da IG Farben estava o congressista George Dondero, do Michigan, que afirmou no plenário do Congresso que Josiah DuBois, o promotor principal, bem como cinco outros membros da equipe, eram todos “simpatizantes comunistas” “que estão a tentar denegrir o nome de IG Farben”. Acontece que o distrito congressional de Dondero incluía o Midland, Michigan, a sede internacional da Dow Chemical, cujas ligações com a IG Farben já estavam a ser expostas em jornais americanos. No mesmo andar da Câmara, o congressista John Rankin, do Mississippi, estigmatizou o julgamento como uma “desgraça”, onde membros de uma “minoria racial” estão “a julgar empresários alemães em nome dos Estados Unidos”.
Dez réus foram absolvidos de todas as acusações. Treze foram condenados por vários crimes de guerra. Nenhum cumpriu mais de três anos das suas sentenças de prisão e muitos cumpriram muito menos. Quanto à IG Farben, foi dividida, principalmente, entre as três empresas que anteriormente se haviam fundido para formar a besta de muitas cabeças: BASF, Hoechst e Bayer. Assim que foram libertados da prisão, muitos dos presos tornaram-se líderes daquelas três empresas. Karl Wurster, que obteve a absolvição total, apesar de ter trabalhado como diretor da empresa que fornecia o gás Zyklon B para os fornos da morte, tornou-se o chefe da BASF.
A BASF, abreviação de Badische Anilin und Soda Fabrik, foi a principal empresa que, originalmente, criou e se fundiu na IG Farben. Quando pesquisava a Dow Chemical e o napalm, em 1966, soube que a Badische Anilin und Soda Fabrick havia renovado as suas relações com a Dow e as duas empresas eram agora sócias na empresa Dow-Badische, com uma fábrica química gigante em Freeport, Texas.
Como membro da pequena delegação que se reuniu, em 1966, com os executivos da UTC, uma subcontratada da Dow com um enorme contrato de napalm na área na área da baía de São Francisco, apresentei, ingenuamente, minha pesquisa. Barnet Adelman, o presidente da UTC e colega judeu, respondeu nestes exatos termos –, a defesa central dos criminosos de guerra da IG Farben, em Nuremberga –: “Tudo o que nosso governo nos pede para fazer está certo”.
Quando os líderes da IG Farben escaparam de qualquer significativa punição pelos seus monstruosos crimes de guerra (com a sua fortuna intacta), os promotores dos EUA retiraram o seu processo pendente contra o Deutcshe Bank. Como o maior banco da Alemanha, o Deutsche Bank financiou a ascensão dos nazis e acumulou uma colossal riqueza com o genocídio dos judeus e a tomada de bancos estrangeiros, quando as nações caíram nas mãos da Wehrmacht.
O Deutcshe Bank financiou os campos de extermínio e a fábrica de trabalho escravo da IG Farben em Auschwitz. Enquanto os judeus e outras vítimas eram gaseados pelo Zyklon-B da IG Farben, as suas alianças de casamento e obturações dentárias de ouro foram coletadas e derretidas. O Deutsche Bank, então, vendeu o ouro, convertendo-o assim no dinheiro vivo de que a máquina de guerra nazi precisava desesperadamente. Dark Towers: Deutcshe Bank, Donald Trump and An Epic Trail Destruction [Torres Negras: Banco da Alemanha, Donald Trump e um épico cainho de destruição], de David Enrich revela a sequência. Depois de os bancos dos EUA terem colocado Donald Trump na lista negra, porque não pagou muitos empréstimos, o Deutcshe Bank concedeu a Trump empréstimo após empréstimo, depois de falência após falência, incumprimento após incumprimento, financiando efetivamente o seu império imobiliário.
Nascido em 1934, muitas vezes me perguntei, ao longo das décadas, como o fascismo triunfou na Alemanha, na altura, provavelmente, a nação mais avançada do mundo. Suponho que estamos a começar a entender. Espero que não seja tarde demais.
Fonte: https://www.counterpunch.org/2020/08/06/how-the-fascists-won-world-war-ii/, publicado e acedido em 2020/08/06
Tradução do inglês de PAT
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