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sábado, 19 de setembro de 2020

O CANDIDATO

    O discurso de João Ferreira de apresentação da candidatura à eleição de presidente da República (passado dia 17/09/2020, na Voz do Operário, emitido em direto e disponível online) é significativo no atual contexto e conjuntura da situação económico-social-política tanto de Portugal - país periférico da U.E.- como da Europa.

  O discurso não foi "mais um" discurso de palavras-de-ordem consabidas (pelo menos para quem acompanha a comunicação partidária e social). João ferreira não é um "sargento de serviço" (como desejaria apontar a Direita), nem um "funcionário do Partido" a quem cabe a vez de desempenhar uma tarefa.

  João Ferreira possui personalidade autónoma, condução tática, ideias. O discurso não destoa da "linha" que os órgãos diretivos têm imprimido ao PCP. Numa primeira receção ou para ouvidos mais sectários o conteúdo que exprime os objetivos da famosa "Democracia Avançada" parece recuado, senão até revisionista. Não há sinais no seu discurso de uma estratégia de revolucionamento do poder político e económico, características, porém, que se podem encontrar no programa do Partido; no programa a "Democracia Avançada" corresponde a um poder partilhado e a uma economia mista, via considerada adequada nas condições portuguesas para se preparar o rumo do socialismo. 

Para alguns provavelmente João Ferreira deveria enunciar esse programa, essa estratégia. Em suma: o socialismo. Era assim que procederia um candidato do Partido Comunista da Grécia.

Contudo, o candidato do PCP não proferindo o discurso sectário e "esquerdista" tão ao gosto de alguns Partidos comunistas na atual correlação de forças tão desigual, proferiu um discurso constitucionalista. Ou. se preferirmos, tão socialista quanto a Constituição possibilita e legitima. E mesmo assim foi radical. Porquê? Porque toda a sua crítica ao poderes fáticos, toda a  enunciação das injustiças, foram dirigidas ao grande capital e aos seus serventuários; tudo que defendeu ou reivindicou foi para os trabalhadores (incluindo aqueles não assalariados, patrões das suas pequenas propriedades ameaçadas e dominadas pelo grande capital). O Trabalho e os trabalhadores foram as classes e camadas sociais sobre que falou e a quem se dirigiu. E mais: claramente, sonoramente, clamou para que essas classes e camadas sociais se erguessem contra as velhas e novas formas de exploração. Se erguessem...

Nada mais claro. Nada mais adequado ao tempo singular que mal atravessamos. 

Não estamos em tempos de recuo (sequer estratégico). Estamos numa crise tão profunda com soluções tão ameaçadoras que a melhor forma, talvez a única forma, de nos defendermos - nós, todo povo de esquerda- é atacando. Entre as soluções para a crise, nós somos a melhor solução. 

Tanto em Portugal como em todo o mundo.

Vivemos a pior crise desde o pós-guerra. 

O grande capital- oligopólios e transnacionais- imperialista, instilando o medo, restringindo liberdades e direitos, acentuando a exploração, enfraquecendo as classes trabalhadoras pelo desemprego e emprego precário, instrumentalizando causas sociais e promovendo manifestações e distúrbios em países soberanos, prepara a sua ofensiva, a sua solução.

Se conhecermos a História, sabemos qual é. 

Os consensos podem em certos casos serem necessários (como sucedeu para impedir a continuação do governo do PSD:CDS) e os compromissos no parlamento nas propostas e nas votações. A organização política do proletariado e dos empregados - em suma: dos trabalhadores - não desaproveita oportunidades nem a luta nos órgãos do Estado. Contudo, uma tática não tem valor independentemente da estratégia. Para os trabalhadores -no ativo, desempregados e reformados - o que importa é derrotar os grandes capitalistas. Tudo o mais são meios. O fim é o socialismo.


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