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domingo, 24 de março de 2024

 Uma questão de ADN

Uma questão de ADN

O crescimento de um partido com a matriz, as pessoas e as crenças do ADN assusta-me infinitamente mais do que o Chega.


Tinha decidido não escrever sobre resultados eleitorais ou mesmo política em geral, porque, por norma, são temas que trazem demasiado ódio na “volta do correio”. E ultimamente, confesso, não me tem apetecido lidar com comentários e mensagens carregadas de azedume. Ainda assim, não resisto a olhar para o fenómeno Alternativa Democrática Nacional (ADN) que cresceu 900% nestas legislativas e que, por isso mesmo, vai receber um financiamento público superior a 200 mil euros. E, sim, tudo indica que este crescimento se deve muito à confusão com a sigla da AD, mas, e há sempre um mas, acredito piamente que não podemos ignorar o fenómeno evangélico.


É certo que a Aliança Evangélica Portuguesa já veio dizer que o voto da comunidade se dispersa por todos os quadrantes e que os 180 mil evangélicos em Portugal não chegam para explicar a subida do ADN, mas há demasiado tempo que acompanho a vida de figuras como Edir Macedo para saber que onde há fumo, tende a existir fogo. E o vídeo do pastor Marco Feliciano, aquele que começa por “atenção, portugueses, na paz do Senhor”, a apelar ao voto no ADN, deixa-me não com um, mas com os dois pés atrás.

O Chega elegeu, nestas legislativas, os primeiros dois deputados evangélicos da Assembleia da República, mas acredito que Marco Feliciano e outros pastores e crentes, aproveitando também a imigração brasileira, tenham o objectivo de criar aqui, à semelhança do Brasil, uma espécie de bancada evangélica. E escolheram o ADN para liderar esse projecto.

Antes de falar do partido em si mesmo, deixem-me dizer-vos que já há muitos anos que desenvolvi uma espécie de “fascínio” pela figura de Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, que construiu um império gigantesco e uma fortuna avaliada pela revista Forbes em 1,1 mil milhões de dólares, e que é actualmente dono de um dos maiores grupos de media brasileiros e um dos autores mais vendidos do país.


A vida de Edir Macedo fascina-me, porque, qual barata, o pastor é uma espécie de sobrevivente que nem a prisão, as acusações de charlatanismo, de lavagem de dinheiro e de tráfico de crianças conseguiram destruir. Aliás, Edir Macedo conseguiu transformar estas acusações em “provações de Deus” aos olhos dos crentes e pareceu sair de todos os escândalos em que esteve envolvido ainda mais forte do que antes.

E tudo isto para vos dizer que, depois de Edir Macedo, fui seguindo a vida de outros pastores e nunca deixei de me surpreender com a forma como se tornaram ricos e poderosos montados na fé dos outros. Marco Feliciano, este que apelou ao voto no ADN, foi um deles. E quem é Marco Feliciano? O fundador e líder da Catedral do Avivamento, uma Igreja neopentecostal brasileira, que saltou da pobreza para a política e que é conhecido pelos seus racismo e homofobia.

Reparem, até há pouco tempo estava perfeitamente convencida de que o ADN era apenas o partido onde se reuniam os dissidentes do Chega. Fiquei ligeiramente mais preocupada quando soube que Lucinda Ribeiro, fundadora do partido de Ventura, tinha passado para a Aliança Democrática Nacional. É que o papel de Lucinda Ribeiro nas redes sociais e a sua relação directa com a comunidade evangélica não pode nunca ser desvalorizado ou desprezado. Mas, ainda assim, encolhi os ombros. Era mais ou menos certo que o Chega iria eleger deputados evangélicos e eu acreditava que seria suficiente para satisfazer os pastores mais proeminentes.
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