Tenho uma crença firme, uma crença robusta,
Num Deus que há-de guardar por sua própria mão
Numa jaula de ferro a alma de Locusta,
Num relicário d'ouro a alma de Platão.
Mas também acredito, embora isso vos pese,
E me julgueis talvez o maior dos ateus,
Que no Universo inteiro ha uma só diocese
E uma só catedral com um só bispo - Deus.
E muito embora a vossa igreja se contriste
E a excomunhão papal nos abrase e destrua,
A análise é feroz como uma lança em riste
E a verdade cruel como uma espada nua,
Cultos, religiões, bíblias, dogmas, assombros,
São como a cinza vã que sepultou Pompeia.
Exumemos a fé desse montão de escombros,
Desentulhemos Deus dessa aluvião de areia.
E um dia a humanidade inteira, oceano em calma,
Há-de fazer, na mesma aspiração reunida,
Da razão e da fé os dois olhos da alma,
Da verdade e da crença os dois pólos da vida.
A crença é como o luar que nas trevas flutua;
A razão é do Céu o esplêndido farol:
Para a noite da morte é que Deus nos deu Lua
Para o dia da vida é que Deus fez o Sol.
2 comentários:
Cultos, religiões, bíblias, dogmas, assombros,
São como a cinza vã que sepultou Pompeia...
Guerra Junqueiro pleno de actualidade.
Um abraço
Pertinentíssimo!
Junqueiro actual!
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