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domingo, 4 de outubro de 2009

Pablo NERUDA

Não Me Sinto Mudar


Não me sinto mudar. Ontem eu era o mesmo.


O tempo passa lento sobre os meus entusiasmos


cada dia mais raros são os meus cepticismos,


nunca fui vítima sequer de um pequeno orgasmo


mental que derrubasse a canção dos meus dias


que rompesse as minhas dúvidas que apagasse o meu nome.


Não mudei. É um pouco mais de melancolia,


um pouco de tédio que me deram os homens.


Não mudei. Não mudo. O meu pai está muito velho.


As roseiras florescem, as mulheres partem


cada dia há mais meninas para cada conselho


para cada cansaço para cada bondade.


Por isso continuo o mesmo. Nas sepulturas antigas


os vermes raivosos desfazem a dor,


todos os homens pedem de mais para amanhã


eu não peço nada nem um pouco de mundo.


Mas num dia amargo, num dia distante


sentirei a raiva de não estender as mãos


de não erguer as asas da renovação.


Será talvez um pouco mais de melancolia


mas na certeza da crise tardia


farei uma primavera para o meu coração.

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