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sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Por que razão a Coreia Popular
“ameaça” o Japão e o “mundo”?

Giovani Leninster    29.Sep.17    Outros autores
Nem com a eleição de Donald Trump, que deveria levar a um maior cuidado com certo tipo de afirmações e insinuações para evitar o ricochete, os meios de comunicação “ocidentais” deixaram de dar a imagem de Kim Jong Um, como um louco ou um imbecil a brincar com armas atómicas.
No texto que hoje publicamos não se rebate apenas essa postura irresponsável, também se comprova a falsidade da tese de que a Coreia é uma ameaça à paz mundial, nomeadamente aos seus ‘pacifistas’ vizinhos. O Japão e a Coreia do Sul.

A República Popular Democrática da Coreia (RPDC) é também conhecida como Coreia Popular ou segundo a ideologia ocidental pró-imperialista como Coreia do Norte. Neste artigo buscaremos a chave para uma incógnita que tem abalado corações por todo o globo: a “ameaça vermelha” advinda da “Coreia do Norte”. Ontem [18 de setembro], em conferência com o Embaixador Plenipotenciário da Coreia Popular Kim Chol Hak, foi levantado o questionamento: por que a “Coreia do Norte” ameaça o Japão e Coreia do Sul se estes são estados pacíficos, sendo o Japão um Estado sem exércitos desde 1945? Exatamente a este questionamento traremos nossas respostas.
Comecemos por uma breve incursão no histórico da formação social Coreana no século XX. A Coreia, em princípio do século passado, era marcada como um estado com predomínio de relações feudais de produção, tendo essa estrutura societária estamental (hierárquica) sido adequada a um processo de colonização tardio promovido pela Inglaterra e Japão. A Coreia torna-se então um Estado semi-colonial de modo análogo ao acontecido na China, de modo que a maior parte de sua população fora submetida à exploração interna e externa, tendo suas condições de sobrevivência duramente dificultadas.
Os processos revolucionários no século XX que tiveram início no leste europeu dando origem à URSS, incentivam fortemente o avanço dos processos revolucionários na Ásia, tendo a China triunfado em sua revolução após quase trinta anos de luta armada contra as frações do capital interno, e os exércitos e agentes do capital imperialista (em especial Inglês, Japonês e Americano). A Coreia seguiu um rumo parecido e, no ano de 1950, com o avanço do processo revolucionário coreano, foi declarada guerra à Coreia pelos agentes do imperialismo americano.
A Guerra que durou de 1950 a 1953 ficou internacionalmente conhecida como Guerra “das Coreias”, porém, um olhar historiográfico e geopolítico atento nos revelará que o processo de Guerra não se deu entre diferentes Coreias, mas sim entre a revolução Coreana liderada por Kim il Sung contra os exércitos imperialistas do Japão Fascista e posteriormente Estados Unidos (Manoel, 2017). Portanto, a ideia de uma guerra entre “as Coreias” é totalmente forjada pela ideologia pró-imperial. A Coreia revolucionária teve parte de seu território ocupado (especialmente o sul), e a região norte, onde a revolução estava melhor estruturada, foi sistematicamente bombardeada e teve a maior parte de suas cidades e infraestruturas destruídas. O real cenário, portanto, foi o sul sendo ocupado e o norte prosseguindo firme, apesar da agressão imperialista.
A ocupação militar dos EUA na parte sul da península coreana perdura até hoje, as instalações militares da “Coreia do Sul” são operacionalizadas por tropas americanas, todos sistemas de defesa e ataque são meticulosamente desenvolvidos e controlados por tropas americanas (sob a escusa de serem da OTAN). O sistema político “democrático” instaurado no Sul garantiu uma suposta democracia, onde o poder político e econômico é dominado pelos Estados Unidos, tendo formado uma colônia de alto grau tecnológico e colossais índices de exploração da classe trabalhadora. É um dos países com maiores índices de suicídio em decorrência do excesso de trabalho, bem como o país com maiores índices de exploração sexual na terceira idade (Segundo a BBC – insuspeita de simpatia à RPDC, assim como as demais fontes jornalíticas que utilizaremos). Ambas exploração sexual e exploração do trabalho são fruto de uma verdadeira ditadura do capital, que destrói direitos trabalhistas e aposentadoria.
Apesar da invasão do Sul e da sangrenta guerra para garantir a independência da Coreia no Norte, a revolução coreana prossegue firme sob a doutrina Juche e inicia a construção do socialismo na via coreana, com um grande enfoque no poder popular, na independência de suas forças produtivas, independência energética e política, porém, seguindo firme no espírito internacionalista. Segundo informações do embaixador Kim Chol Hak [atual Embaixador da Coreia Popular no Brasil], a independência energética deu início às pesquisas nucleares na Coreia Popular, tendo essas sido duramente criticadas e dificultadas desde seu início por pressão dos EUA via ONU. Na década de 1990, a Coreia buscava iniciar suas primeiras plantas de energia termonuclear, porém, após pressão da ONU, decide aceitar um acordo de uma construção de uma hidrelétrica de grande porte, por parte dos EUA via ONU com capitais internacionais. Essa construção deveria ocorrer em dois anos e nunca tomou corpo, tendo levado a Coreia Popular a retomar suas plantas termonucleares.
A necessidade energética foi somada à pressão política, econômica e militar que cercam a RPDC desde a década de 50, sendo assim iniciado um programa de enriquecimento de urânio com fins armamentistas, e propósitos de defesa da soberania nacional. Assim surgia a doutrina nuclear da RPDC.
A Doutrina Nuclear da RPDC
Nos monopólios de mídia ocidentais não passa um dia sem que sejam propagandeadas notícias histéricas a respeito da ameaça nuclear “norte coreana”. Se nos recordarmos da pergunta inicial que tomamos como linha direcional, perceberemos a falsa noção de que a RPDC é uma clara ameaça à paz mundial, em especial aos seus “pacíficos” vizinhos Coreia do Sul e Japão. Busquemos agora entender como se deu a doutrina nuclear da RPDC e qual o papel do Japão, Coreia do Sul e demais agentes imperiais neste processo.
Como previamente exposto, a Doutrina Nuclear da RPDC tem início nos anos 90 e se inicia com a construção de bombas atômicas convencionais, projeto que caminha de forma concomitante com os projetos de desenvolvimento de tecnologia aeroespacial, visando tanto a construção de satélites quanto foguetes e lançadores. A necessidade de construção da bomba atômica é colocada desde o início como um elemento garantidor da soberania nacional da RPDC, ameaçada a todo instante por forças externas.
A Guerra na Coreia, e não da Coreia termina em 1953, porém, a ameaça imperialista nunca saiu da fronteira da RPDC e nunca cessaram as hostilidades, tentativas de assassinato das lideranças da RPDC, bem como embargos econômicos criminosos e hostilidades de diversas naturezas. O Imperialismo nunca se deu por vencido, tendo impedido até os dias atuais a reunificação da Coreia, além de buscar há décadas sufocar o regime popular da RPDC. Os estados Japonês e Sul-coreano têm papel fundamental na ofensiva imperialista contra a soberania da RPDC. Japão e Coreia do Sul, não apenas funcionam como bases militares dos EUA, mas também como centros de pesquisas militares, além de centros de poder econômico e político e ideológico que atuam a todo momento para desestabilizar a RPDC. Sendo assim, foi construído um cerco militar, econômico e ideológico, aos quais nos deteremos um pouco mais.
A pressão militar à RPDC se dá, portanto, via instalações de bases, sistemas de “defesa” e tecnologias bélicas de diversos tipos estacionados na região especial no Japão e Coreia do Sul, além da ilha de Guam situada ao sul da península Coreana, que foi ocupada pelos EUA e se tornou uma base militar. As ofensivas militares contam com constantes exercícios militares: com rápidas pesquisas é possível encontrar diversas fontes que mostram os diversos exercícios militares entre EUA-Japão-Coreia-do-Sul. Segundo a Daily Mail do Reino Unido, neste ano foram realizados exercícios militares entre Japão e EUA que duraram 18 dias seguidos, além de diversos outros exercícios. Somada a estas pressões militares está a instalação do sistema de “antimísseis” Terminal High Altitude Area Defense (THAAD). Especialistas militares de diversos países apontam esta como uma das principais ameaças à paz no sudeste asiático, ameaçando não apenas a RPDC mas também a Rússia e China. A instalação do THAAD provocou protestos duramente reprimidos na Coreia do Sul (segundo Sputnik), além de duros protestos dos governos chinês e russo (segundo Reuters). A instalação do THAAD, somada aos frequentes exercícios militares e diversos equipamentos militares estacionados nas fronteiras da RPDC, são constantes ameaças à sua soberania, sendo assim a Doutrina militar a resposta encontrada para resistir a qualquer possível agressão.
O desenvolvimento atômico da Coreia Popular atingiu dois pontos de extrema importância neste ano: o desenvolvimento de seu primeiro míssil balístico intercontinental (ICBM) e de sua primeira bomba de hidrogênio (segundo informações do The Guardian). Com estes novos desenvolvimentos, o potencial de defesa da Coreia obteve tanto tecnologia de lançamento para içar misseis até o continente americano (podendo atingir a porção continental dos EUA) bem como um potencial destrutivo de maior magnitude com a bomba de fusão nuclear (H-Bomb). Este rápido desenvolvimento vem em enorme contradição com as frequentes notícias em nossos monopólios de mídias ocidentais, que bradam sobre o atraso tecnológico da Coreia sob a “ditadura socialista dos Kim”. Mais informações sobre os avanços tecnológicos estão dispostas em artigo divulgado pelo PCB, além de portais de mídias coreanas e observadores internacionais.
O desenvolvimento nuclear da RPDC segue, portanto, uma linha de desenvolvimento de seu potencial de ataque para um alcance que inclua todos seus inimigos (não potenciais, mas sim reais, como EUA, Japão e Coreia do Sul). Porém, está mais que claro há décadas, que o princípio que guia a RPDC é o de soberania, autossuficiência e sobrevivência. Qualquer ataque por parte da RPDC, por maior que fosse seu potencial destrutivo, seria retaliado com uma invasão e destruição (“Fogo e Fúria”, como pontuou Donald Trump em discurso recente) que destruiria integralmente a Coreia, sendo óbvio que não há um princípio suicida generalizado na RPDC. O potencial atômico subsiste como “Deterrence”, ou seja, potencial de detenção de ameaças externas, a partir de força militar capaz de infligir danos incomensuráveis nos inimigos imperiais. Vide as teorias do MAD (Mutual Assured Destruction) do período da Guerra Fria entre EUA e URSS. A Coreia pretende, portanto, unicamente garantir seu direito de existência, utilizando seu direito de possuir armamentos para se defender e guardar suas fronteiras.
Sobre as pressões econômicas, estas têm alcançados patamares ainda mais criminosos que os embargos impostos a Cuba: os EUA, Japão e Coreia do Sul, através da ONU, têm passado diversas sanções econômicas à RPDC, que minam sua capacidade de importar ou exportar até mesmo os bens mais fundamentais. É nítido que, devido ao seu diminuto território e população, a RPDC não tem possibilidades materiais de ser autossuficiente em todos os bens necessários para seu desenvolvimento e sobrevivência. Assim, os embargos (sanções) têm sido aumentados de forma criminosa (segundo o Telegraph, apenas neste mês já passam de duas rodadas novas de sanções).
A pressão ideológica contra a Coreia Popular é não menos importante e emblemática. A ofensiva imperialista, além de combater seus inimigos por vias econômicas e militares, cria através de seus monopólios de mídias seus “monstros”, seus inimigos mortais, não à toa a RPDC é conhecida nos EUA e referida por diversos veículos de informação como Rogue State (Estado Vilão). Os monopólios de mídia constroem diuturnamente a imagem de um país governado por um “adolescente louco”, um ditador sanguinário, colocando o líder da Coreia Popular Kim Jong Um no papel de um assassino louco que obriga a todos a se comportar como robôs e seguir seus comandos ensandecidos. O absurdo chega a tal ponto que as notícias (boa parte divulgadas sem fontes pela Coreia do Sul) frequentemente “matam” funcionários do Governo que teriam desobedecido Kim Jong Um e, na semana seguinte, estes aparecem vivos em pronunciamentos, ao vivo na televisão estatal norte-coreana.
Outros mitos são criados para reforçar a imagem de um país governado por uma criança louca: um documentário bem humorado, em que jornalistas americanos apontam, como uma notícia bizarra, que Kim Jong Um obrigaria toda a população da RPDC a ter um corte de cabelo igual ao seu, tem uma credibilidade enorme nos EUA. A pesquisa mostrou que a maior parte dos jovens estadunidenses acreditam nesta noticia, o que os levou a visitarem a Coreia Popular e filmar um documentário que mostra a diversidade cultural existente no país (The Haircut). Portanto, nunca é demais lembrar a premissa marxista de que as ideias dominantes são em todas as épocas as ideias da classe dominante (Marx e Engels, 2007). O que nos explica como a ideologia dominante convence a massa da população de que a RPDC seria sim sua inimiga mortal. A construção do consenso nas sociedades capitalistas avançadas implica na criação de inimigos externos, que devem não apenas ser subjugados economicamente, militarmente quanto ideologicamente, a fim de que sua sociedade mantenha sua coesão “nacional” frente a ameaças externas sempre onipresentes (como apontado por Marx e Engels, 2007 e Lenin, 2012).

Um Japão e uma Coreia do Sul não tão pacíficos assim, e um EUA não tão distante assim

A pergunta que foi fio condutora neste debate e que motivou este artigo foi proferida por uma professora de Direito Internacional em conferência com o embaixador da RPDC. A pergunta (afirmativa) colocava que era um absurdo a RPDC ameaçar, com o poder das armas, seus vizinhos que há décadas teriam comportamentos pacíficos. Sua principal explanação fora sobre as leis “pacifistas” que impediriam o Japão de ter exércitos desde o final da Segunda Guerra Mundial. Pois bem, vejamos na sequência como se dá o potencial militar japonês.
Segundo um portal bem qualificado que avalia os potenciais bélicos pelo mundo (Global Fire Power), o Japão “pacífico” seria a sétima potência bélica mundial hoje em pleno 2017. Novamente, não falamos de um Japão Fascista de 1935, mas sim do Japão de hoje. Conta com um pessoal militar ativo de 250.000 pessoas. Segundo o mesmo observador, o Brasil ocupa a 17ª posição, com um pessoal ativo de 334.500 pessoas, número superior ao do Japão, porém, observando as diferenças demográficas, vemos que o Japão tem um pessoal militar ativo maior que o Brasil, e um potencial tecnológico incomparável. Ainda segundo este observador, a RPDC ocuparia apenas o 23° lugar. A isso somemos o fato de que o Japão é membro da OTAN e tem sob sua “tutela” porta-aviões norte-americanos da mais avançada tecnologia disponível, além de armamentos atômicos anexados aos mesmos navios. Portanto, o mito de um Japão pacifista é muito frágil.
A legislação japonesa que garantia a presença dos exércitos nacionais apenas no território do Japão foi fortemente modificada em 2015. Houve mudanças anteriores, porém, em 2015 foi liberada à Marinha japonesa atuação para além das fronteiras nacionais (segundo fontes como BBC e Japan Times), o que provocou fortes protestos na China, Rússia e RPDC (como apontado em noticias da Diplomat, Sputnik e diversas outras). Assim aumentaram as tenções no mar do sul da China, sobre ilhas disputadas, colocando tensões entre Japão e China, que fizeram exercícios militares como forma de intimidação mútua (segundo informações do Sputnik).
A definição do Japão como um estado pacifista, assim como a Coreia do Sul, como visto não passa de uma simples retórica imperialista, que pretende com estas afirmações reforçar um papel de ofensiva unilateral da Coreia Popular, colocando-a novamente no papel de vilã e de ameaça à paz mundial. A própria soberania de Japão e da Coreia do Sul, como discutido aqui, é meramente um disfarce, em que, na verdade, existem dois Estados dominados, politica, econômica, militar e ideologicamente pelo centro do Imperialismo mundial: os Estados Unidos da América.
O papel dos EUA é chave em todo este conflito e não é à toa estes assumem uma posição cada vez mais agressiva frente à Coreia Popular, o que exige desta também uma retórica mais ofensiva. Portanto, as “ameaças” da RPDC aos EUA e seus consortes não passam de proclamações de direito de sobrevida e pequena mostra de poder, para dirimir as pretensões imperialistas de invasão e derrubada do governo de Pyongyang.
Rumos da Coreia Popular
Como visto até aqui, arguimos que a Coreia Popular busca apenas garantir o seu direito de sobrevivência, o direito de autodeterminação de sua população e, para tal, necessita de uma forte doutrina militar, frente às agressões que já duram mais de meio século. Segundo informações do Embaixador da Coreia Popular, o objetivo da RPDC hoje é o de atingir um potencial bélico que a coloque em pés de igualdade com EUA e demais potências imperialistas. As próprias relações diplomáticas com a China foram fortemente modificadas após a independência militar alcançada pela RPDC, que possibilitou a esta uma melhor posição para dialogar e negociar com a China, que embora sua aliada, por vezes demonstra interesses conflituantes. Assim, o principio da igualdade está colocado como objetivo para a RPDC.
Por fim é fácil entender que os princípios de Juche, que orientam o socialismo da RPDC, que colocam a classe trabalhadora, a soberania nacional e a autossuficiência como pilares do seu movimento, estão postos a pleno vapor. A democracia socialista da RPDC, orientada pelos princípios de Juche, se mantém viva, a despeito de todas ameaças e interferências externas. A RPDC segue firmemente na perspectiva socialista e internacionalista. Ademais, é notório que um dos pilares ideológicos de Juche é a educação das massas para uma consciência revolucionária. Como em Cuba, o que mantém a perspectiva revolucionária viva é o povo, seu exército civil militar, que tem sim sua liderança, mas sendo esta de fato uma representação dos interesses da população, que a qualquer sinal de hesitação não pensaria duas vezes antes de derrubar qualquer perspectiva contrarrevolucionária.
Fechamos este artigo com uma última reflexão: segundo informações trazidas pelo Embaixador Kim Chol Hak, na guerra na Coreia, em 1950, a população de Pyongyang era de 400.000 habitantes e, neste mesmo conflito, foram lançadas aproximadamente 400.000 bombas norte-americanas em Pyongyang (uma bomba per capita) fato que provavelmente não tem nenhum paralelo histórico. Este por si só nos indica o seguinte: a população da RPDC se lembra de seu passado e por se lembrar ela segue firme na construção de sua identidade nacional, sua luta pela soberania, pelo socialismo e contra as agressões imperialistas.

Referências:
BBC: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/06/140610_vovo_sexo_coreia_mv
http://www.bbc.com/news/world-asia-34101222
Daily Mail:
http://www.dailymail.co.uk/news/article-4788642/US-Japanese-troops-conduct-live-fire-military-drills.html
Diplomat:
http://thediplomat.com/tag/south-china-sea-disputes/
Global Fire Power: https://www.globalfirepower.com/country-military-strength-detail.asp?country_id=brazil
https://www.globalfirepower.com/country-military-strength-detail.asp?country_id=north-kore a
https://www.globalfirepower.com/country-military-strength-detail.asp?country_id=japan
Japan Times:
https://www.japantimes.co.jp/opinion/2016/03/29/editorials/security-legislation-takes-effect/
Este texto que reproduzimos da página do Partido Comunista Brasileiro (PCB) foi inicialmente publicado em:
http://leninster.blogspot.com.br/2017/09/por-que-coreia-popular-ameaca-o-japao-e.html

O último homem vivo que julgou genocidas nazis faz alerta preocupante

Último procurador vivo de Nuremberga faz alerta preocupante sobre a guerra: "Acha que o homem que largou a bomba nuclear em Hiroshima era cruel?"

O último homem vivo que julgou genocidas nazis faz alerta preocupante
  Benjamin Ferencz 

Benjamin Ferencz, agora com 97 anos, é o último procurador vivo dos processos de Nuremberga, que levaram a julgamento altos dignitários do regime nazi. Ferencz foi o procurador-chefe dos Estados Unidos nestes processos, que ocorreram entre novembro de 1945 e outubro de 1946. Tinha apenas 27 anos no seu primeiro julgamento em tribunal.
Nos julgamentos de Nuremberga, a função de Ferencz era encontrar e levar a tribunal os membros dos chamados ‘Einsatzgruppen’ ou ‘grupos de intervenção’, unidades militarizadas da polícia do Terceiro Reich encarregadas de exterminar os indesejáveis do regime (fossem judeus, ciganos ou comunistas), que estivessem fora dos campos de concentração. Foram responsáveis pela morte de mais de um milhão de pessoas.
Este ano marca o 70.º aniversário do caso e, numa entrevista à CBS, refletindo sobre situações de tensão política atuais, Ferencz recordou a sua experiência com autores de genocídio para fazer um alerta sobre a guerra.
De acordo com o advogado americano de origem húngara, os soldados nazis que cometeram atrocidades não eram “cruéis” mas sim “seres humanos inteligentes e patriotas” e que a guerra pode transformar qualquer pessoa.
“Acha que o homem que largou a bomba nuclear em Hiroshima era cruel?”, questionou. “Eu vou dizer-lhe algo muito profundo, que eu aprendi após muitos anos. A guerra torna pessoas decentes em assassinos. Todas as guerras e todas as pessoas decentes”, terminou.
in Notícias ao Minuto

Epitáfio para Hugh Hefner _ o pai da “Playboy”

Epitáfio para Hugh Hefner _ o pai da “Playboy”
Hugh Hefner, com a sua revista “Playboy”, teve uma importância fundamental na mudança das mentalidades e dos costumes, principalmente nos países anglo-saxónicos, onde um serôdio e castrador puritanismo religioso – o do protestantismo e também o do catolocismo – ,sufocava todas as manifestações da sexualidade, que ultrapassassem a barreira da sua função reprodutora, principalmente ao nível da mulher, a quem não era permitido exibir publicamente o seu corpo, se transportasse um qualquer sinal de erotismo.
Neste sentido, Hefner foi um revolucionário dos costumes e um digno continuador, talvez sem ter a consciência disso, do hedonismo de Aristipo de Cirene e do epicurismo de Epicuro, da antiga Grécia, e, mais recentemente, dos filósofos ingleses utilitaristas, do sec. XVIII, Jeremy Bentham e Stuart Mill.
Hugh Hefner encarou o lançamento da “Playboy”, apenas numa perspectiva de negócio, explorando a janela de oportunidade do erotismo e da sexualidade, e não por ter a ambição e a pretensão de vir a ser considerado um “reformador”. Mas o resultado prático foi, sem dúvida, este: o desencadeamento de uma profunda revolução social, ao nível das mentalidades, dos comportamentos e dos costumes, em relação à sexualidade e ao erotismo, a que se juntaram, posteriormente e multilateralmente, outras manifestações de modernidade da sociedade.
Por outro lado, soube resistir ao deslizamento para o apelativo e imediatamente lucrativo mundo da pornografia, que, se tivesse ocorrido, teria sido fatal, a longo prazo, para o sucesso e longevidade da revista, que foi um dos maiores êxitos editoriais das publicações periódicas.
Assim, julgo que Hugh Hefner não poderá ser ignorado pela História nem pelos historiadores, pese embora a ausência de uma qualquer contextualização erudita da “Playboy”. Mas a História não é feita pelos historiadores, mas pelos homens e pelas mulheres, que, individualmente ou colectivamente, dão substância à realidade, colocando-a em perpétuo movimento.

Alexandre de Castro
2017 09 28
Este artigo encontra-se em: Alpendre da Lua http://bit.ly/2xNCDSK

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Ética profissional e honestidade intelectual


«40 anos depois, este filme quis repor a verdade histórica sobre a vida de Vasco Gonçalves, longe das vozes inflamadas de quem se lhe opunha ou de quem estava com ele.»

O General No Seu Labirinto
 
Um filme probo, reconfortante para quem viveu e lutou por um ideal que incorporou um homem que a história não vai esquecer.
«De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.»
Eugénio de Andrade
Este artigo encontra-se em: as palavras são armas http://bit.ly/2xwkQ2f

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

antreus: Os rohingya, Mianmar, a China e o Sudeste Asiático...

antreus: Os rohingya, Mianmar, a China e o Sudeste Asiático...: As motivações de uma campanha a propósito do “genocídio” dos rohingya No passado dia25 de Agosto, cerca de 71 pessoas morreram na ...

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Sem os artigos de JAMES PETRAS dificilmente entenderíamos o que se passa nos EUA a cada momento

Quem domina a América?

– A elite do poder na era Trump


por James Petras
Nos últimos meses, vários sectores políticos, económicos e militares competidores – ligados a diferentes grupos ideológicos e étnicos – emergiram claramente como os centros de poder.

Podemos identificar alguns dos competidores chave e centros entrelaçados da elite do poder:
1. Propagandistas do mercado livre, com a presença generalizada do grupo "Israel First".
2. Capitalistas nacionais, ligados a ideólogos de direita.
3. Generais, ligados à segurança nacional e ao aparelho do Pentágono, bem como à indústria da defesa.
4. Elites dos negócios, ligadas ao capital global.

Este ensaio tenta definir os detentores do poder e avaliar a amplitude e impacto do seu poder.

A elite do poder económico: Israel-Firsters e presidentes da Wall Street

Os Israel Firsters dominam as posições económicas e políticas de topo dentro do regime Trump e, de modo interessante, estão entre os opositores mais vociferantes da administração. Estes incluem: a presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, bem como seu vice-presidente, Stanley Fischer, um cidadão israelense e antigo (sic) governador do Banco de Israel.

Jared Kushner, genro de Trump e judeu ortodoxo, actua como seu conselheiro principal em Assuntos do Médio Oriente. Kushner, um magnata imobiliário de Nova Jersey, posicionou-se como o arqui-inimigo dos nacionalistas económicos do círculo próximo de Trump. Ele defende todo o poder israelense e a captura de terra no Médio Oriente e trabalha estreitamente com David Friedman, embaixador dos EUA em Israel (e apoiante fanático dos colonatos ilegais judeus) e Jason Greenblatt, representante especial para negociações internacionais. Com três Israel-Firsters a determinar a política do Médio Oriente, não há sequer uma folha de figueira para equilibrar.

O secretário do Tesouro é Steven Mnuchin, antigo executivo da Goldman Sachs, que lidera a ala neoliberal de livre mercado do sector da Wall Street dentro do regime Trump. Gary Cohn, durante muito tempo influente na Wall Street, encabeça o National Economic Council. Eles constituem o núcleo dos conselheiros de negócios e lideram a coligação neoliberal anti-nacionalista de Trump comprometida a minar políticas económicas nacionalistas.

Uma voz influente no gabinete da Procuradoria-Geral é Rod Rosenstein, o qual nomeou Robert Mueller como investigador chefe, o que conduz à remoção de nacionalistas da administração Trump.

O padrinho visionário da equipe anti-nacionalista de Mnuchin-Cohn é Lloyd Blankfein, presidente da Goldman Sachs. Os "Três banksters Israel First" estão a encabeçar o combate para desregulamentar o sector bancário, o qual tem devastado a economia, levou ao colapso de 2008 e ao arresto de milhões de lares e negócios americanos.

A elite "Israel First" do livre mercado estende-se por todo o espectro político dominante, incluindo democratas no Congresso, liderados pelo líder da minoria no Senado, Charles Schumer e o responsável democrata do Comité de Inteligência da Câmara, Adam Schiff. Os Israel Firsters do Partido Democrata aliaram-se aos seus irmãos do livre mercado para pressionar por investigações e campanhas de mass media contra apoiantes do nacionalismo económico de Trump e o seu expurgo final da administração.

A elite do poder militar: Os generais

A elite do poder militar tomou do presidente eleito o poder de tomar as grandes decisões. Outrora os poderes de guerra permaneciam com o presidente e o Congresso, hoje uma colecção de militaristas fanáticos faz e executa a política militar, decide zonas de guerra e pressiona por maior militarização do policiamento interno. Trump entregou decisões cruciais àqueles que afectuosamente chama os "meus generais" enquanto continua a esquivar-se a acusações de corrupção e racismo.

Trump nomeou o general de quatro estrelas James "Mad Dog" Mattis (reformado do US Marine Corps) – um general que conduziu a guerra no Afeganistão e no Iraque – como secretário da Defesa. Mattis (cujas "glorias" militares incluíram bombardear uma grande festa de casamento no Iraque) está a conduzir a campanha para escalar a intervenção militar dos EUA no Afeganistão – uma guerra e uma ocupação que Trump condenou abertamente durante a sua campanha. Como secretário da Defesa, o general "Mad Dog" ("Cão Louco") pressionou o não entusiástico Trump a anunciar um aumento das tropas estado-unidenses no terreno e ataques aéreos por todo o Afeganistão. Confirmando seu muito publicitado nome de guerra, o general é um raivoso advogado de um ataque nuclear contra a Coreia do Norte.

O tenente-general H. R. McMaster (um general de três estrelas na activa e por longo tempo proponente da expansão de guerras no Médio Oriente e Afeganistão) tornou-se Conselheiro de Segurança Nacional após o expurgo do aliado de Trump, ten.-general Michael Flynn, o qual opôs-se à campanha de confrontação e sanções contra a Rússia e a China. McMaster tem sido instrumental na remoção de "nacionalistas" da administração Trump e junta-se ao general "Mad Dog" Mattis na pressão por uma maior acumulação de tropas dos EUA no Afeganistão.

O ten.-general John Kelly (reformado do USMC), outro veterano de guerra no Iraque e entusiastas das mudanças de regime no Médio Oriente, foi nomeado Chefe de Equipe da Casa Branca após o despejo de Reince Priebus.

A Troika de três generais da administração partilha com os conselheiros Israel First neoliberais de Trump, Stephen Miller e Jared Kushner, uma profunda hostilidade em relação ao Irão e endossa plenamente a exigência do primeiro-ministro israelense Netanyahu de que o Acordo Nuclear de 2015 com Teerão seja sucateado.

O directorado militar de Trump garante que os gastos para guerras além-mar não serão afectados por cortes orçamentais, recessões ou mesmo desastres nacionais. Os "generais", os adeptos do livre mercado Israel First e a elite do Partido Democrata conduzem o combate contra os nacionalistas económicos e têm tido êxito em assegurar que a construção do império militar e económico da Era Obama permaneçam em vigor e mesmo que se expandam.

A elite económica nacionalista

O principal estratega e ideólogo nacionalistas económicos aliados de Trump na Casa Branca foi Steve Bannon. Ele foi o arquitecto político chefe e o conselheiro de Trump durante a campanha eleitoral. Bannon concebeu uma campanha eleitoral em favor da indústria manufactureira interna e dos trabalhadores americanos contra os adeptos do livre mercado na Wall Street e nas corporações multinacionais. Ele desenvolveu o ataque de Trump aos acordos de comércio global, os quais levaram à exportação de capital e à devastação do trabalho manufactureiro nos EUA.

De modo igualmente significativo, Bannon carpinteirou a oposição pública inicial aos 15 anos de intervenção dos generais no Afeganistão, com um custo de milhões de milhões (trillion) de dólares e as séries de guerras ainda mais custosas no Médio Oriente favorecidas pelos Israel-Firsters, incluindo a guerra em curso de mercenários proxy para derrubar o governo nacionalista leigo da Síria.

Em oito meses de administração Trump, as forças combinadas da elite económica do livre mercado e militar, os líderes do Partido Democrata, militaristas abertos no Partido Republicano e seus aliados nos mass medida conseguiram expurgar Bannon – e marginalizar a base de apoio de massa da sua agenda económica nacionalista "America First" e da agenda anti-"mudança de regime".

A "aliança" anti-Trump irá agora alvejar os poucos nacionalistas económicos que restam na administração. Estes incluem: o director da CIA Mike Pompeo, que favorece o proteccionismo através do enfraquecimento dos acordos de comércio asiático e do NAFTA e Peter Navarro, presidente do Conselho de Comércio da Casa Branca. Pompeo e Navarro enfrentam forte oposição da troika sionista-neoliberal em ascensão que agora domina o regime Trump.

Além disso, há o secretário do Comércio, Wilbur Ross, um bilionário e antigo director da Rothschild Inc., o qual aliou-se a Bannon ao ameaçar quotas de importação para tratar do maciço défice comercial dos EUA com a China e a União Europeia.

Outro aliado de Bannon é o representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, antigo analista militar e de inteligência com laços à newsletter Breitbart. Ele é um forte oponente aos neoliberais e globalizadores, dentro e fora do regime Trump.

O "Conselheiro Sénior" de Trump e redactor dos seus discursos, Stephen Miller, promove activamente a proibição de viagem a muçulmanos e restrições mais estritas à imigração. Miller representa a ala Bannon do entusiástico grupo pró-Israel de Trump.

Sebastian Gorka, vice-assistente de Trump em assuntos militares e de inteligência, era mais um ideólogo do que um analista, o qual escrevia para Breitbart e passou ao gabinete nas pegadas de Bannon. Logo depois de remover Bannon, os "generais" expurgaram Gorka, nos princípios de Agosto, com acusações de "anti-semitismo".

Seja quem for que permaneça entre os nacionalistas económicos de Trump, estarão significativamente diminuídos com a perda de Steve Bannon, o qual dava liderança e direcção. Contudo, a maior parte tem antecedentes sociais e económicos, o que também os liga à elite do poder militar sobre algumas questões e com os adeptos do mercado livre pró Israel sobre outras. Contudo, suas crenças nucleares foram moldadas e definidas por Bannon.

A elite do poder nos negócios

O presidente da Exxon Mobile, Rex Tillerson, o secretário de Estado de Trump, e o ex-governador do Texas Rick Perry, secretário da Energia, lideram a elite dos negócios. Enquanto isso, a elite dos negócios associada à manufactura e indústria dos EUA tem pouca influência directa em política interna ou externa. Se bem que em política interna sigam os adeptos do livre mercado da Wall Street, eles estão subordinados à elite militar em política externa e não são aliados ao núcleo ideológico de Steve Bannon.

A elite dos negócios de Trump, a qual não tem ligação aos nacionalistas económicos no regime Trump, proporciona uma faces amistosa a aliados e adversários económicos além-mar.

Análise e conclusão

O poder da elite atravessa filiações partidárias, ramos de governo e estratégias económicas. Ele não é restringindo por qualquer partido político, republicano ou democrata. Isto inclui adeptos do livre mercado, alguns nacionalistas económicos, correctores da Wall Street e militaristas. Todos competem e combatem por poder, riqueza e dominância dentro desta administração. A correlação de forças é volátil, mudando rapidamente em curtos períodos de tempo – o que reflecte a falta de coesão e coerência no regime Trump.

Nunca a elite do poder nos EUA foi sujeita a tais mudanças monumentais na sua composição e direcção durante o primeiro ano de um novo regime.

Durante a presidência Obama, a Wall Street e o Pentágono partilhavam o poder confortavelmente com bilionários de Silicon Valley e a elite dos mass media. Eles estavam unidos na busca de uma estratégia imperial "globalista", enfatizando múltiplos teatros de guerra e tratados multilaterais de livre comércio, os quais estavam em processo de reduzir milhões de trabalhadores americanos à servidão (helotry) permanente.

Com a posse do presidente Trump, esta elite do poder enfrentou desafios e a emergência de uma nova configuração estratégica, a qual pretendia mudanças drásticas na política económica e política militar dos EUA.

O arquitecto da campanha e estratégia de Trump, Steve Bannon, procurou deslocar a elite económica e militar global com a sua aliança de nacionalistas económicos, trabalhadores manufactureiros e elites de negócios proteccionistas. Bannon pressionou por uma grande ruptura com a política de Obama de guerras múltiplas e permanentes para expandir o mercado interno. Ele propôs retiradas de tropas e o fim das operações militares dos EUA no Afeganistão, Síria e Iraque, enquanto aumentava uma combinação de pressão económica, política e militar sobre a China. Ele tentou acabar as sanções e confrontação contra Moscovo e moldar laços económicos entre os produtores gigantes de energia nos EUA e a Rússia.

Se bem que Bannon fosse inicialmente o estratega chefe na Casa Branca, ele rapidamente viu-se confrontado com rivais poderosos dentro do regime, além de oponentes ardentes entre globalistas democratas e republicanos e especialmente entre os sionistas – neoliberais que sistematicamente manobraram para ganhar posições de estratégia económica e política dentro do regime. Ao invés de ser uma plataforma coerente a partir da qual seria formulada uma nova estratégia económica radical, a administração Trump tornou-se um "terreno de luta" caótico e vicioso. A estratégia económica de Bannon mal saiu do terreno.

Os mass media e os operacionais dentro do aparelho de estado, ligados à estratégia de guerra permanente de Obama, primeiro atacaram a proposta de Trump de reconciliação económica com a Rússia. Para minar qualquer "desescalada", eles fabricaram a conspiração dos espiões russos e manipulação das eleições. Seus primeiros tiros com êxito foram disparados contra o ten.-general Michael Flynn, aliado de Bannon e proponente chave da reversão da política de confrontação militar de Obama/Clinton com a Rússia. Flynn foi rapidamente destruído e ameaçado abertamente com processo quando um "agente russo" estimulou uma histeria que recordava o apogeu do senador Joseph McCarthy.

Os postos económicos chave no regime Trump foram divididos entre os neoliberais adeptos do Israel-First e os nacionalistas económicos. O "negociante" Trump tentou atrelar sionistas neoliberais filiados à Wall Street aos nacionalistas económicos, ligados à base eleitoral de Trump na classe trabalhadora, formulando novas relações comerciais com a UE e a China, as quais favoreceriam a indústria manufactureira dos EUA. Dadas as diferenças irreconciliáveis entre estas forças, o ingénuo "acordo" de Trump enfraqueceu Bannon, minou sua liderança e arruinou sua estratégia económica nacionalista.

Apesar de Bannon ter assegurado vários importantes nomeados económicos, os neoliberais sionistas enfraqueceram sua autoridade. O grupo Fischer-Mnuchin-Cohon estabeleceu com êxito uma agenda competitiva.

Toda a elite do Congresso de ambos os partidos uniu-se para paralisar a agenda Trump-Bannon. Os mass media corporativos gigantes serviram como um megafone histérico e carregado de rumores para excitados investigadores do Congresso e do FBI que ampliavam cada nuance das relações de Trump entre os EUA e a Rússia em busca de conspirações. O aparelho combinado do Congresso e dos media esmagou a desorganizada e despreparada base de massa da coligação eleitoral de Bannon que elegera Trump.

Totalmente derrotado, Trump, o presidente sem dentes, recuou numa busca desesperada por uma nova configuração de poder, transferindo suas operações do dia-a-dia para os "seus generais". O presidente civil eleito dos Estados Unidos adoptou a busca dos "seus generais" de uma nova aliança militar globalista e de escalada de ameaças militares acima de tudo contra a Coreia do Norte, mas incluindo a Rússia e a China. O Afeganistão foi imediatamente designado para uma intervenção expandida.

Trump efectivamente substituiu a estratégia económica nacionalista de Bannon por um ressuscitar da abordagem militar multi-guerra de Obama.

O regime Trump relançou os ataques ao Afeganistão e à Séria – ultrapassando o uso de ataques com drones de Obama a militantes muçulmanos suspeitos. Ele intensificou sanções contra a Rússia e o Irão, abraçou a guerra da Arábia Saudita contra o povo do Iémen e entregou toda a política do Médio Oriente ao seu conselheiro político ultra-sionista (magnata imobiliário e genro) Jared Kushner e ao embaixador dos EUA em Israel, David Friedman.

A retirada de Trump transformou-se numa derrota grotesca. Os generais abraçaram os sionistas neoliberais no Tesouro e os militaristas globais no Congresso. O director de comunicações Anthony Scaramucci foi despedido. O chefe de Estado-Maior de Trump, general Joe Kelly, expurgou Steve Bannon. Sebastian Gorka foi chutado para fora.

Os oito meses de luta interna entre os nacionalistas económicos e os neoliberais acabaram. A aliança sionista-globalista com os generais de Trump agora domina a Elite do Poder.

Trump está desesperado para adaptar à nova configuração, aliada aos seus próprios adversários do Congresso e aos mass media raivosamente anti-Trump.

Tendo quase dizimado os nacionalistas económicos de Trump e o seu programa, a Elite do Poder montou então uma série de eventos mediáticos exagerados centrados em torno de um espancamento em Charlottesville, Virgínia, entre partidários da "supremacia branca" e "anti-fascistas". Depois de a confrontação ter levado a mortos e feridos, os media utilizaram a inepta tentativa de Trump de culpar ambos os lados que empunhavam "tacos de beisebol" como prova de ligações do presidente a neo-nazis e à KKK. Neoliberais e sionistas, dentro da administração Trump e nos seus conselhos de negócios, juntaram-se todos no ataque ao presidente, denunciando sua falha ao imediatamente e unilateralmente culpar extremistas de direita pela desordem.

Trump está a voltar-se para sectores dos negócios e para a elite do Congresso numa tentativa desesperada de reter seu apoio em declínio através de promessas de por em prática cortes fiscais maciços e desregulamentar todo o sector privado.

A questão decisiva não é mais sobre esta ou aquela política ou mesmo estratégia. Trump já perdeu em todos os tabuleiros. A "solução final" para o problema da eleição de Donald Trump está a andar passo-a-passo – o seu impeachment e possível prisão por todos os meios possíveis.

O que nos diz a ascensão e destruição do nacionalismo económico na "pessoa" de Donald Trump é que o sistema político americano não pode tolerar quaisquer reformas capitalistas que possam ameaçar a elite do poder imperial globalista.

Escritores e activistas costumavam pensar que só regimes socialistas eleitos democraticamente seriam alvo de golpe de estado sistemático. Hoje as fronteiras políticas são muito mais restritivas. Apelar ao "nacionalismo económico", completamente dentro do sistema capitalista, e procurar acordos comerciais recíprocos é convidar ataques políticos selvagens, conspirações inventadas e capturas militares internas que acabam em "mudança de regime".

O expurgo dos nacionalistas económicos e dos anti-militaristas efectuado pela elite global-militarista foi apoiado por toda a esquerda dos EUA, apenas com algumas poucas excepções. Pela primeira vez na história a esquerda tornou-se uma arma organizacional daqueles pró guerra, pró Wall Street, pró direita sionista na campanha de expulsão do presidente Trump. Movimentos e líderes locais, no entanto, funcionários sindicais, políticos dos direitos civis e da imigração, liberais e sociais democratas juntaram-se no combate para a restauração do pior de todos os mundos: a política Clinton-Bush-Obama/Clinton de guerras múltiplas permanentes, escalada de confrontos com a Rússia, China, Irão e Venezuela e a desregulamentação de Trump da economia estado-unidense e cortes maciços de impostos para o big business.

Andámos um longo caminho para trás: de eleições para expurgos e de acordos de paz para investigações de estado policial. Os nacionalistas económicos de hoje são etiquetados como "fascistas" e trabalhadores deslocados são "os deploráveis"!

Os americanos têm um bocado a aprender e a desaprender. Nossa vantagem estratégica pode estar no facto de que a vida política nos Estados Unidos não pode ficar pior – realmente chegámos ao fundo e (a menos que haja uma guerra nuclear) só podemos melhorar.

Ver também:


  • Chaos of the Trump era is never-ending , M.K. Bhadrakumar

    O original encontra-se em petras.lahaine.org/?p=2153


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
  • O vídeo-filme que aqui publico é uma dos mais poderosos objectos fílmicos contra o fascismo de ontem e de sempre. Imperdível.

    Obyknovennyy fashizm - El Fascismo cotidiano (subtitulado)

    domingo, 17 de setembro de 2017

    Ecossocialismo por Michael Löwy

    Crítico ao capitalismo verde, que anseia tornar o capital menos agressivo ao meio ambiente, o cientista social brasileiro radicado na França, Michael Löwy, enfatiza em entrevista concedida ao Instituto Humanitas Unisinos On-Line que é preciso reorganizar o modo de produção e consumo, atendendo às necessidades reais da população e à defesa do equilíbrio ecológico.
    Löwy propõe romper com o capitalismo e transformar as estruturas das forças produtivas e do aparelho produtivo. “Trata-se de destruir esse aparelho de Estado e criar um outro tipo de poder. Essa lógica tem que ser aplicada também ao aparelho produtivo: ele tem que ser, senão destruído, ao menos radicalmente transformado. Ele não pode ser simplesmente apropriado pelos trabalhadores, pelo proletariado e posto a trabalhar a seu serviço, mas precisa ser estruturalmente transformado”, esclarece.
    Michael Löwy é cientista social e leciona na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, da Universidade de Paris. Entre sua vasta obra, estão Revoluções (Boitempo, 2009), Walter Benjamin: aviso de incêndio (Boitempo, 2005) e Lucien Goldmann (Boitempo, 2005).
    Confira a entrevista na íntegra:
    O que o senhor entende por ecossocialismo? Quais as ideias principais dessa corrente?
    Michael Löwy– O ecossocialismo é uma proposta estratégica que resulta da convergência entre a reflexão ecológica e a reflexão socialista, a reflexão marxista. Existe hoje em escala mundial uma corrente ecossocialista: há um movimento ecossocialista internacional, que recentemente, por ocasião do Fórum Social Mundial de Belém (janeiro de 2009), publicou uma declaração sobre a mudança climática; e existe no Brasil uma rede ecossocialista que publicou também um manifesto, há alguns anos. Ao mesmo tempo, o ecossocialismo é uma reflexão crítica.
    Em primeiro lugar, crítica à ecologia não socialista, à ecologia capitalista ou reformista, que considera possível reformar o capitalismo, desenvolver um capitalismo mais verde, mais respeitoso ao meio ambiente. Trata-se da crítica e da busca de superação dessa ecologia reformista, limitada, que não aceita a perspectiva socialista, que não se relaciona com o processo da luta de classes, que não coloca a questão da propriedade dos meios de produção. Mas o ecossocialismo é também uma crítica ao socialismo não ecológico, por exemplo, da União Soviética, onde a perspectiva socialista se perdeu rapidamente com o processo de burocratização e o resultado foi um processo de industrialização tremendamente destruidor do meio ambiente. Há outras experiências socialistas, porém, mais interessantes do ponto de vista ecológico – por exemplo, a experiência cubana (com todos seus limites).
    O projeto ecossocialista implica uma reorganização do conjunto do modo de produção e de consumo, baseada em critérios exteriores ao mercado capitalista: as necessidades reais da população e a defesa do equilíbrio ecológico. Isto significa uma economia de transição ao socialismo, na qual a própria população – e não as leis do mercado ou um “burô político” autoritário – decide, num processo de planificação democrática, as prioridades e os investimentos. Esta transição conduziria não só a um novo modo de produção e a uma sociedade mais igualitária, mais solidária e mais democrática, mas também a um modo de vida alternativo, uma nova civilização, ecossocialista, mais além do reino do dinheiro, dos hábitos de consumo artificialmente induzidos pela publicidade, e da produção ao infinito de mercadorias inúteis.
    Em que consiste o Manifesto Ecossocialista Internacional?
    Michael Löwy – O Manifesto Ecossocialista Internacional, redigido em 2001 porJoel Kovel e por mim, foi uma primeira tentativa de resumir, em algumas páginas, as ideias principais do ecossocialismo, como projeto radicalmente anticapitalista e antiprodutivista, e como crítica às experiências socialistas não ecológicas do século XX.
    A tentativa de aplicar o socialismo no mundo fracassou. Será possível vingar o ecossocialismo? Por quê?
    Michael Löwy – As experiências de corte social-democrata fracassaram porque não sairam dos limites de uma gestão mais social do capitalismo e, nos últimos anos do neoliberalismo, as experiências de tipo soviético ou stalinista fracassaram por ausência de democracia, liberdade e auto-organização das classes oprimidas. As duas tinham em comum uma visão produtivista de exploração da natureza, com dramáticas consequências ecológicas.
    O ecossocialismo parte de uma visão crítica destes fracassos e propõe um projeto democrático, libertário e ecológico. Nada garante que possa vingar. Depende das lutas ecossociais do futuro.
    Sob quais aspectos a crise ecológica é mais grave do que a econômica?
    Michael Löwy – A crise econômica tem consequências sociais dramáticas – desemprego, crise alimentar etc. –, mas a crise ecológica coloca em perigo a sobrevivência da vida humana neste planeta. O processo de mudança climática e aquecimento global, provocado pela lógica expansiva e destruidora do capitalismo, pode resultar, nas próximas décadas, numa catástrofe sem precedente na história da humanidade: desertificação das terras, desaparecimento da água potável, inundação das cidades marítimas pela subida do nível dos oceanos etc.
    Como pensar em ecossocialismo se a Modernidade é capitalista? Seria o ecossocialismo uma proposta para romper com o capital?
    Michael Löwy – Absolutamente! Uma das ideias fundamentais do ecossocialismo é a necessidade de uma ruptura com o capitalismo. Uma ruptura que vai mais além de uma mudança das relações de produção, das relações de propriedade. Trata-se de transformar a própria estrutura das forças produtivas, a estrutura do aparelho produtivo. Há que aplicar ao aparelho produtivo a mesma lógica que Marx aplicava ao aparelho de Estado a partir da experiência da Comuna de Paris, quando ele diz o seguinte: os trabalhadores não podem apropriar-se do aparelho de Estado burguês e usá-lo a serviço do proletariado; não é possível, porque o aparelho do Estado burguês nunca vai estar a serviço dos trabalhadores.
    Então, trata-se de destruir esse aparelho de Estado e de criar um outro tipo de poder. Essa lógica tem que ser aplicada também ao aparelho produtivo: ele tem que ser, senão destruído, ao menos radicalmente transformado. Ele não pode ser simplesmente apropriado pelos trabalhadores, pelo proletariado e posto a trabalhar a seu serviço, mas precisa ser estruturalmente transformado. É impossível separar a ideia de socialismo, de uma nova sociedade, da ideia de novas fontes de energia, em particular do Sol – alguns ecossocialistas falam do comunismo solar, pois entre o calor, a energia do Sol e o socialismo e o comunismo haveria uma espécie de afinidade eletiva.
    Como o ecossosialismo pode se sustentar em economias emergentes, que ainda não conquistaram um status de bem-estar social das economias desenvolvidas?
    Michael Löwy – As economias dos países do Sul, da Ásia, África e América Latina devem se desenvolver, mas isto não significa copiar o modelo de desenvolvimento capitalista do Ocidente e seu padrão de consumo insustentável. Trata-se de buscar um outro modelo, um desenvolvimento ecossocialista, baseado na agricultura orgânica dos camponeses e nas cooperativas agrárias, nos transportes coletivos, nas energias alternativas e na satisfação igualitária e democrática das necessidades sociais da grande maioria. O modelo ocidental não so é absurdo e irracional, mas não é generalizável: se os chineses quisessem imitar o American way of life, cinco planetas seriam necessários.
    A humanidade deve preocupar-se com o ecossocialismo ou com o capitalismo verde?
    Michael Löwy – O capitalismo verde é uma contradição nos têrmos. A lógica intrinsecamente perversa do sistema capitalista, baseada na concorrência impiedosa, nas exigências de rentabilidade, na corrida pelo lucro rápido, é necessariamente destruidora do meio ambiente e responsável pela catastrófica mudança do clima. As pretensas soluções capitalistas como o etanol, o carro elétrico, a energia atômica, as bolsas de direitos de emissão são totalmente ilusórias.
    Os acordos de Kyoto, a fórmula mais avançada até agora de capitalismo verde, demonstrou-se incapaz de conter o processo de mudança climática. As soluções que aceitam as regras do jogo capitalista, que se adaptam às regras do mercado, que aceitam a lógica de expansão infinita do capital, não são soluções, são incapazes de enfrentar a crise ambiental – uma crise que se transforma, devido à mudança climática, numa crise de sobrevivência da espécie humana. Como disse recentemente o secretário das Nações Unidas, Ban Ki Moon: “Estamos correndo para o abismo com os pés colados no acelerador”.
    Em que sentido a crise ecológica atual pode ser entendida como um problema de luta de classes?
    Michael Löwy – Por um lado, a crise ecológica é um problema de toda a humanidade, pessoas de várias classes sociais podem se mobilizar por esta causa. Por outro lado, as classes dominantes são cegadas por seus interesses imediatos, pensam exclusivamente em seus lucros, sua competitividade, suas partes de mercado e defendem, com unhas e dentes, o sistema capitalista responsavel pela crise. As classes subalternas, os trabalhadores da cidade e do campo, os desempregados, o pobretariado têm interesses conflitivos com o capitalismo e podem ser ganhos para o combate ecossocialista. Não se trata de um processo inevitável, mas de uma possibilidade histórica.
    Nas últimas conferências do clima, em Copenhague e Cancun, os movimentos sociais e ambientalistas fracassaram? Por que não se vê perspectiva de avançar nas lutas ambientais?
    Michael Löwy – O que fracassou em Copenhague e Cancun foram as políticas dos governos comprometidos com o sistema, que demonstraram sua total incapacidade de tomar qualquer decisão, mesmo a mais ínfima, no sentido de buscar reduzir significativamente as emissões de CO2, responsáveis pelo aquecimento global.
    A manifestação de cem mil pessoas nas ruas de Copenhague nem 2009, protestando contra o fracasso da conferência oficial, com a palavra de ordem “Mudemos o sistema, não o clima”, é um primeiro passo, alentandor, no sentido de uma mobilização ecológica radical. Ainda estamos longe de ter uma luta ecológica planetária capaz de mudar a relação de forças e impor as drásticas mudanças necessárias. Mas esta é a única esperança de evitar a catástrofe anunciada.
    Considerando o contexto de capitalismo exacerbado, acredita que as pessoas estão preparadas para o ecossocialismo?
    Michael Löwy – Existe um sentimento anticapitalista difuso na América Latina, naEuropa e em outras partes do mundo. O movimento altermundialista é uma das expressões disto. Por outro lado, cresce a consciência ecológica, a preocupação com as ameaças profundamente inquietantes que representa a mudança climática. Mas é no curso das lutas ecossociais contra as multinacionais destruidoras do meio ambiente e contra as políticas neoliberais que poderá surgir uma perspective ecossocialista. Não há nenhuma garantia; é apenas uma possibilidade, mas dela depende o futuro da vida neste planeta.
    Qual é o papel das populações originárias como os indígenas e quilombolas na consolidação do ecossocialismo?
    Michael Löwy– Em toda a América Latina – mas também na América do Norte e em outras regiões do mundo – as populações indígenas estão na primeira linha do combate à destruição capitalista do meio ambiente, em defesa da terra, dos rios, das florestas, contra as empresas mineiras, o agronegócio e outras manifestações da guerra do capital contra a natureza. Não por acaso os indígenas tiveram um papel determinante na organização da Conferência de Cochabamba em Defese da Mãe Terra e contra a Mudança Climática, em 2010, que contou com a participação de dezenas de milhares de delegados de comunidades indígenas e movimentos sociais. Temos muito aaprender com as comunidades indígenas, que representam outra visão da relação dos seres humanos com a natureza, totalmente oposta ao ethos explorador e destruidor do mercantilismo capitalista. Como diz nosso companheiro, o histórico lider indígena peruano Hugo Blanco: “Os indígenas já praticam o ecossocialismo há séculos!”

    in Boitempo blogspot.com
    esafios globais

    Investir nas pessoas não é só um ‘nice to have’

    É a primeira edição do Índice de Capital Humano, publicado pelo Fórum Económico Mundial, e que avalia o potencial económico de longo prazo de 122 países. O relatório pretende fornecer uma visão holística de quão bem ou mal os países estão a alavancar o seu capital humano e a desenvolver forças de trabalho que têm de estar preparadas para as exigências de economias cada vez mais competitivas. A Suíça lidera e o Iémen está na cauda da lista. Portugal ocupa a 30ª posição
    POR HELENA OLIVEIRA
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    “A chave para o futuro de qualquer nação ou instituição reside nas competências e talentos das suas pessoas”, afirma Klaus Schwab, fundador e presidente do Fórum Económico Mundial (FEM), a propósito do primeiro Índice de Capital Humano. “No futuro, o capital humano será o mais importante de todos os capitais. Investir nas pessoas não é apenas um ‘nice to have’. É, sim, um imperativo para o crescimento, para a prosperidade e para o progresso”, acrescenta.
    A primeira edição do Índice de Capital Humano, da responsabilidade do Fórum Económico Mundial e em parceria com a Mercer, lançada a 1 de Outubro, identificou os mais bem-sucedidos países no mundo no que diz respeito a maximizar o potencial económico de longo prazo das suas respectivas forças de trabalho. Em 122 países analisados, Portugal surge em 30º lugar, logo a seguir à Espanha, e no meio de uma Europa cortada ao meio, geograficamente falando e não só, na qual os países do sul se encontram a milhas dos do norte, no que a esta temática diz respeito.
    Através desta análise, o Fórum Económico Mundial pretende fornecer uma panorâmica holística e de longo prazo de quão bem os países estão a alavancar o seu capital humano e a formar forças laborais devidamente preparadas para os desafios impostos por economias cada vez mais competitivas. O Índice de Capital Humano identifica, assim, os países que servem de exemplo no que respeita aos investimentos na saúde, educação e talento das suas pessoas e que oferecem o ambiente certo para que estes investimentos se traduzam em produtividade para as suas economias.
    Mas como se mede o capital humano e qual a sua relação directa com a economia de um país? De acordo com o relatório, e apesar das elevadas taxas de desemprego que assolam vários países, a economia global está a entrar numa era de escassez de talento, a qual, senão for abordada eficazmente contribuirá para prejudicar, ainda mais, o crescimento económico mundial.
    O índice de Capital Humano explora os pontos que contribuem (para) ou inibem o desenvolvimento e a implantação de uma força laboral que se deseja saudável, educada e produtiva, sendo que a metodologia e a análise quantitativa que dele fazem parte têm como objectivo servir de base para a concepção de medidas efectivas de planeamento das políticas laborais.
    Enquanto nova medida de avaliação do desenvolvimento do capital humano a nível global, possui três características fundamentais.
    Em primeiro lugar, avalia um conjunto largado de indicadores que vão bem mais além das definições tradicionais de capital humano. Não sendo um conceito unidimensional, tem significados diferentes para stakeholders distintos. No mundo empresarial, capital humano consiste no capital económico do conjunto de competências de um determinado trabalhador. Para o decisor político, o capital humano é definido pela capacidade da população em gerar crescimento económico. Adicionalmente, o valor do capital humano é fortemente determinado pelo contexto físico, social e económico de uma sociedade, porque esse contexto determina de que forma os atributos particulares de uma pessoa podem ser recompensados. Este Índice assenta, desta forma, em quatro pilares: os três principais determinantes do capital humano (educação, saúde e emprego) somados aos factores que permitem que os mesmos sejam traduzidos em retornos maiores.
    Em segundo lugar, o Índice opta por uma abordagem de longo prazo do capital humano. Complementar à imagem do estado do capital humano de cada país no presente através de avaliações que reflectem os resultados das suas práticas passadas, inclui indicadores resultantes de práticas e decisões políticas que têm impacto nas crianças de hoje e que irão moldar a força de trabalho futura. Ou seja, o Índice pretende também desenvolver uma maior consciência sobre a necessidade de se planear para o futuro.
    Em terceiro lugar, o Índice pretende igualmente tomar em consideração o ciclo de vida do individuo. Por exemplo, a Organização Mundial da Saúde declara que “a primeira infância é a mais importante fase do desenvolvimento geral do indivíduo”, acrescentando que “muitos dos desafios enfrentados pelos adultos, como doenças mentais, obesidade, doenças cardíacas, criminalidade, em conjunto com uma pobre performance em literacia e numeracia, podem ser rastreados desde a primeira infância”. Assim, o Índice inclui também este tipo de avaliações, apresentando igualmente uma análise da influência que os investimentos efectuados nos primeiros anos em termos de saúde e educação têm presentemente na população activa, através da aprendizagem ao longo da vida e da formação. E, finalmente, o Índice leva também em linha de conta a saúde e a produtividade da população mais velha.
    Para se ter uma melhor ideia de como o Índice foi construído, o relatório explica, no seu capítulo introdutório, os quatro pilares que lhe estão subjacentes:
    Saúde e Bem-estar: contém indicadores relacionados com o bem-estar físico e emocional da população, desde a infância até à idade adulta.
    Educação: inclui indicadores relacionados com aspectos quantitativos e qualitativos da educação ao longo do ensino primário, secundário e superior, para além de informações complementares sobre a força laboral do presente e  do futuro.
    Força Laboral e Emprego: foi concebido para quantificar a experiência, o talento, o conhecimento e a formação da população em idade activa de cada país.
    Ambiente Capacitador: toma em consideração a estrutura legal, as infra-estruturas e outros factores que permitem os retornos do capital humano.
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    TOP 10 é dominado por países europeus e Suíça lidera
    Oito dos 10 países que melhor se posicionam, globalmente, no índice de Capital Humano, pertencem à Europa. A Suíça reina no primeiro lugar, demonstrando uma significativa consistência nos quatro pilares avaliados, com pontuações máximas no que respeita à Saúde e Bem-estar e à Força Laboral e Emprego, uma segunda posição no que respeita ao Ambiente Capacitador e um quarto lugar mais modesto no pilar da Educação.
    Como já é habitual, os países do norte da Europa estão igualmente bem representados no ranking, com a Finlândia na 2ª posição, a Suécia na 5ª, a Noruega na 7ª e a Dinamarca a ocupar o número 9 do ranking. A força “global” dos países nórdicos é representada pelo pilar do Emprego e da Educação, com a Finlândia a obter nota “exemplar” para esta última. Sem surpresa, nos 10 melhores lugares de capital humano encontram-se igualmente a Holanda, em 4º lugar, e a Alemanha, a ocupar a 6ª posição, com um posicionamento relativamente baixo no que respeita à Educação (19º), o que contribuiu para uma posição global menos elevada no ranking em causa.
    O último país europeu a constar do top 10 é o Reino Unido (8º), com uma boa performance no pilar do Ambiente Capacitador, mas com resultados modestos na Saúde e Bem-estar, onde não vai mais longe do que o 17º lugar.
    O único país asiático que entra no top 10 é, como habitualmente também, Singapura, com um honroso 3º lugar, alcançado em particular devido às suas elevadas pontuações na Educação, na Força Laboral e Emprego, sendo que o seu pior resultado é no pilar respeitante ao Ambiente Capacitador, no qual e mesmo assim, ocupa o 5º lugar entre todos os países analisados.
    A fechar este top, e na 10ª posição, encontra-se o Canadá, com uma excelente posição no pilar da Educação (2º), sendo que nos três remanescentes a sua posição varia entre o 15º e o 20º lugar.
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    A Europa dos pobres e a China a liderar os BRICS
    Existe uma clara divisão geográfica emergente no que respeita à capacidade dos países para explorar a dotação do seu capital humano, com os países do sul e leste da Europa a “comportarem-se pobremente” comparativamente aos seus vizinhos do norte e da Europa ocidental. Uma excepção para a Irlanda que consegue posicionar-se na 20ª posição, à frente da França (21), da Espanha (29), da Itália (37), da Grécia (55) e da Sérvia (85).
    E Portugal? Ocupando o 30º lugar no ranking global, na melhor posição encontra-se o pilar da Saúde e Bem-estar (23), seguido pelo Ambiente Capacitador (29). No que respeita aos piores resultados, e sem surpresa, a Força Laboral e Emprego não vão além da 34ª posição, sendo na Educação que o país pior se encontra representado, em 37º lugar, muitíssimo atrás da Irlanda (9º) neste pilar em particular, e com piores classificações comparativamente a países como Malta (24), Estónia (20), Chipre (16), Eslovénia (21) ou a Lituânia (23).
    No relatório em causa, e devido não só à sua proximidade geográfica como também “posicional” no ranking – Espanha em 29º e Portugal em 30º – os dois países são comentados no mesmo “bloco”. Sublinha-se a sua similaridade no geral, mas também as suas diferenças no particular. A título de exemplo, a boa posição de Espanha no que respeita à Saúde e Bem-Estar (12) fica longe do lugar ocupado por Portugal (23) nesta área, mesmo que esta seja onde consegue pontuar melhor (no total das quatro em causa). Todavia, a gravíssima situação laboral em que Espanha se encontra, com níveis de desemprego bem mais elevados comparativamente aos já incomportáveis de Portugal, colocam-na, no que à Força Laboral e Emprego diz respeito, numa péssima posição entre os 122 países, não ultrapassando o 70º lugar.
    O relatório sublinha ainda a boa participação e as positivas medidas de acesso à educação espanholas, mas chama a atenção para as suas baixas avaliações qualitativas, o que pode explicar o facto de, mesmo no pilar da Educação, não ultrapassar o 31º lugar. No que respeita a Portugal, o índice realça o peso do pilar da Saúde e Bem-estar (23) para a classificação final nacional, ao mesmo tempo que, em termos negativos, o puxão de orelhas vai para o pilar da Educação, definido pelo Fórum Económico Mundial como a sua principal fraqueza. Em particular, o relatório chama a atenção para os níveis baixos de habilitações académicas na força laboral actual.
    No que respeita às economias emergentes, a China detém a melhor posição (43), seguida pela Rússia (51), pelo Brasil (57), pela Índia (78) e com a África do Sul a fechar os BRICS, numa posição muita baixa (86).
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    A América na 16ª posição e o Iémen regista a pior classificação
    Na América do norte, o destaque vai para o Canadá, o qual, como já foi anteriormente mencionado, fecha o top 10, sendo de salientar o seu exemplar 2º lugar no que respeita à Educação. A posição dos Estados Unidos (16) deve-se à sua dinâmica força de trabalho e capacidade de atrair talento, bem como o seu potencial na inovação e níveis elevados de educação universitária. Contudo, o facto de não passar do 16ª lugar deve-se a fracos resultados no que respeita às doenças não transmissíveis na faixa etária mais activa (por exemplo, o número de AVCs nos Estados Unidos está a preocupar sobremaneira as autoridades de saúde) e a níveis igualmente baixos no que respeita ao bem-estar mental da sua população em idade activa.
    Na Ásia, é o Japão que ocupa a melhor posição no ranking global (15º), com uma performance particularmente forte na Saúde e Bem-estar, mas com a qualidade da sua Educação (28) a persistir como preocupação principal, nomeadamente no que diz respeito às suas escolas de negócios. Os níveis baixos de integração da “força de trabalho prateada” – os trabalhadores na faixa etária dos 50 e 60 anos – continua a ser uma barreira que o Japão não consegue ultrapassar. Depois de Singapura e do Japão, os países mais bem colocados no índice de Capital Humano são a Malásia (22) e a Coreia (23).
    A 43ª posição ocupada pela China deve-se, por um lado, aos benefícios de uma taxa de desemprego baixa em conjunto com uma elevada percepção, por parte das empresas, de bons níveis de competências da sua força laboral, sendo a área da saúde, a qualidade da sua estrutura legal e os níveis reduzidos de educação ao nível superior na força de trabalho actual que a faz ter uma pior performance global. A Índia (78), por seu turno, está satisfatoriamente posicionada no que respeita à Força laboral e Emprego, mas com uma performance péssima em termos de Saúde e Bem-estar (112).
    No Médio Oriente e no Norte de África, o Qatar é o país mais bem posicionado no geral (18º lugar), ocupando a 26ª posição na Educação e a 7ª em Força Laboral e Emprego. Os seus principais pontos fracos encontram-se na área da Saúde e Bem-Estar (44), explicados por níveis elevados de doenças não transmissíveis, com particular preocupação para os níveis de obesidade e de muitos anos passados sem políticas de saúde adequadas. Da região em causa, seguem-se os Emirados Árabes Unidos (24), Israel (25), a Arábia Saudita (39) e o Barhein (40). A Tunísia (67),o Líbano (74), Marrocos (82) e o Egipto (111) ocupam algumas das posições mais baixas do ranking global, com o Iémen a ocupar o último lugar do mesmo.
    Na África Subsaariana, as Maurícias ocupam a melhor posição (47), seguidas pelo Botswana (79) e o Quénia (81). A Nigéria, o país mais populoso do continente africano ocupa a posição 114, seguido por Moçambique (117), o Mali (118), o Burkina Faso (119) e a Guiné (120), representando o conjunto de países pior classificados no ranking. O Índice em causa não incluiu Angola, nem apresenta qualquer explicação para o facto de uma das economias mais pujantes de África não ser avaliada neste ranking.
    Por último, os países que lideram na América Latina são a Costa Rica e o Chile, na 35ª e 36ª posições respectivamente. O Brasil não vai além da 57ª posição, devido, em particular, à sua má performance em Educação (88).

    Viagem à Polónia

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    Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

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    Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.