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domingo, 17 de setembro de 2017

esafios globais

Investir nas pessoas não é só um ‘nice to have’

É a primeira edição do Índice de Capital Humano, publicado pelo Fórum Económico Mundial, e que avalia o potencial económico de longo prazo de 122 países. O relatório pretende fornecer uma visão holística de quão bem ou mal os países estão a alavancar o seu capital humano e a desenvolver forças de trabalho que têm de estar preparadas para as exigências de economias cada vez mais competitivas. A Suíça lidera e o Iémen está na cauda da lista. Portugal ocupa a 30ª posição
POR HELENA OLIVEIRA
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“A chave para o futuro de qualquer nação ou instituição reside nas competências e talentos das suas pessoas”, afirma Klaus Schwab, fundador e presidente do Fórum Económico Mundial (FEM), a propósito do primeiro Índice de Capital Humano. “No futuro, o capital humano será o mais importante de todos os capitais. Investir nas pessoas não é apenas um ‘nice to have’. É, sim, um imperativo para o crescimento, para a prosperidade e para o progresso”, acrescenta.
A primeira edição do Índice de Capital Humano, da responsabilidade do Fórum Económico Mundial e em parceria com a Mercer, lançada a 1 de Outubro, identificou os mais bem-sucedidos países no mundo no que diz respeito a maximizar o potencial económico de longo prazo das suas respectivas forças de trabalho. Em 122 países analisados, Portugal surge em 30º lugar, logo a seguir à Espanha, e no meio de uma Europa cortada ao meio, geograficamente falando e não só, na qual os países do sul se encontram a milhas dos do norte, no que a esta temática diz respeito.
Através desta análise, o Fórum Económico Mundial pretende fornecer uma panorâmica holística e de longo prazo de quão bem os países estão a alavancar o seu capital humano e a formar forças laborais devidamente preparadas para os desafios impostos por economias cada vez mais competitivas. O Índice de Capital Humano identifica, assim, os países que servem de exemplo no que respeita aos investimentos na saúde, educação e talento das suas pessoas e que oferecem o ambiente certo para que estes investimentos se traduzam em produtividade para as suas economias.
Mas como se mede o capital humano e qual a sua relação directa com a economia de um país? De acordo com o relatório, e apesar das elevadas taxas de desemprego que assolam vários países, a economia global está a entrar numa era de escassez de talento, a qual, senão for abordada eficazmente contribuirá para prejudicar, ainda mais, o crescimento económico mundial.
O índice de Capital Humano explora os pontos que contribuem (para) ou inibem o desenvolvimento e a implantação de uma força laboral que se deseja saudável, educada e produtiva, sendo que a metodologia e a análise quantitativa que dele fazem parte têm como objectivo servir de base para a concepção de medidas efectivas de planeamento das políticas laborais.
Enquanto nova medida de avaliação do desenvolvimento do capital humano a nível global, possui três características fundamentais.
Em primeiro lugar, avalia um conjunto largado de indicadores que vão bem mais além das definições tradicionais de capital humano. Não sendo um conceito unidimensional, tem significados diferentes para stakeholders distintos. No mundo empresarial, capital humano consiste no capital económico do conjunto de competências de um determinado trabalhador. Para o decisor político, o capital humano é definido pela capacidade da população em gerar crescimento económico. Adicionalmente, o valor do capital humano é fortemente determinado pelo contexto físico, social e económico de uma sociedade, porque esse contexto determina de que forma os atributos particulares de uma pessoa podem ser recompensados. Este Índice assenta, desta forma, em quatro pilares: os três principais determinantes do capital humano (educação, saúde e emprego) somados aos factores que permitem que os mesmos sejam traduzidos em retornos maiores.
Em segundo lugar, o Índice opta por uma abordagem de longo prazo do capital humano. Complementar à imagem do estado do capital humano de cada país no presente através de avaliações que reflectem os resultados das suas práticas passadas, inclui indicadores resultantes de práticas e decisões políticas que têm impacto nas crianças de hoje e que irão moldar a força de trabalho futura. Ou seja, o Índice pretende também desenvolver uma maior consciência sobre a necessidade de se planear para o futuro.
Em terceiro lugar, o Índice pretende igualmente tomar em consideração o ciclo de vida do individuo. Por exemplo, a Organização Mundial da Saúde declara que “a primeira infância é a mais importante fase do desenvolvimento geral do indivíduo”, acrescentando que “muitos dos desafios enfrentados pelos adultos, como doenças mentais, obesidade, doenças cardíacas, criminalidade, em conjunto com uma pobre performance em literacia e numeracia, podem ser rastreados desde a primeira infância”. Assim, o Índice inclui também este tipo de avaliações, apresentando igualmente uma análise da influência que os investimentos efectuados nos primeiros anos em termos de saúde e educação têm presentemente na população activa, através da aprendizagem ao longo da vida e da formação. E, finalmente, o Índice leva também em linha de conta a saúde e a produtividade da população mais velha.
Para se ter uma melhor ideia de como o Índice foi construído, o relatório explica, no seu capítulo introdutório, os quatro pilares que lhe estão subjacentes:
Saúde e Bem-estar: contém indicadores relacionados com o bem-estar físico e emocional da população, desde a infância até à idade adulta.
Educação: inclui indicadores relacionados com aspectos quantitativos e qualitativos da educação ao longo do ensino primário, secundário e superior, para além de informações complementares sobre a força laboral do presente e  do futuro.
Força Laboral e Emprego: foi concebido para quantificar a experiência, o talento, o conhecimento e a formação da população em idade activa de cada país.
Ambiente Capacitador: toma em consideração a estrutura legal, as infra-estruturas e outros factores que permitem os retornos do capital humano.
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TOP 10 é dominado por países europeus e Suíça lidera
Oito dos 10 países que melhor se posicionam, globalmente, no índice de Capital Humano, pertencem à Europa. A Suíça reina no primeiro lugar, demonstrando uma significativa consistência nos quatro pilares avaliados, com pontuações máximas no que respeita à Saúde e Bem-estar e à Força Laboral e Emprego, uma segunda posição no que respeita ao Ambiente Capacitador e um quarto lugar mais modesto no pilar da Educação.
Como já é habitual, os países do norte da Europa estão igualmente bem representados no ranking, com a Finlândia na 2ª posição, a Suécia na 5ª, a Noruega na 7ª e a Dinamarca a ocupar o número 9 do ranking. A força “global” dos países nórdicos é representada pelo pilar do Emprego e da Educação, com a Finlândia a obter nota “exemplar” para esta última. Sem surpresa, nos 10 melhores lugares de capital humano encontram-se igualmente a Holanda, em 4º lugar, e a Alemanha, a ocupar a 6ª posição, com um posicionamento relativamente baixo no que respeita à Educação (19º), o que contribuiu para uma posição global menos elevada no ranking em causa.
O último país europeu a constar do top 10 é o Reino Unido (8º), com uma boa performance no pilar do Ambiente Capacitador, mas com resultados modestos na Saúde e Bem-estar, onde não vai mais longe do que o 17º lugar.
O único país asiático que entra no top 10 é, como habitualmente também, Singapura, com um honroso 3º lugar, alcançado em particular devido às suas elevadas pontuações na Educação, na Força Laboral e Emprego, sendo que o seu pior resultado é no pilar respeitante ao Ambiente Capacitador, no qual e mesmo assim, ocupa o 5º lugar entre todos os países analisados.
A fechar este top, e na 10ª posição, encontra-se o Canadá, com uma excelente posição no pilar da Educação (2º), sendo que nos três remanescentes a sua posição varia entre o 15º e o 20º lugar.
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A Europa dos pobres e a China a liderar os BRICS
Existe uma clara divisão geográfica emergente no que respeita à capacidade dos países para explorar a dotação do seu capital humano, com os países do sul e leste da Europa a “comportarem-se pobremente” comparativamente aos seus vizinhos do norte e da Europa ocidental. Uma excepção para a Irlanda que consegue posicionar-se na 20ª posição, à frente da França (21), da Espanha (29), da Itália (37), da Grécia (55) e da Sérvia (85).
E Portugal? Ocupando o 30º lugar no ranking global, na melhor posição encontra-se o pilar da Saúde e Bem-estar (23), seguido pelo Ambiente Capacitador (29). No que respeita aos piores resultados, e sem surpresa, a Força Laboral e Emprego não vão além da 34ª posição, sendo na Educação que o país pior se encontra representado, em 37º lugar, muitíssimo atrás da Irlanda (9º) neste pilar em particular, e com piores classificações comparativamente a países como Malta (24), Estónia (20), Chipre (16), Eslovénia (21) ou a Lituânia (23).
No relatório em causa, e devido não só à sua proximidade geográfica como também “posicional” no ranking – Espanha em 29º e Portugal em 30º – os dois países são comentados no mesmo “bloco”. Sublinha-se a sua similaridade no geral, mas também as suas diferenças no particular. A título de exemplo, a boa posição de Espanha no que respeita à Saúde e Bem-Estar (12) fica longe do lugar ocupado por Portugal (23) nesta área, mesmo que esta seja onde consegue pontuar melhor (no total das quatro em causa). Todavia, a gravíssima situação laboral em que Espanha se encontra, com níveis de desemprego bem mais elevados comparativamente aos já incomportáveis de Portugal, colocam-na, no que à Força Laboral e Emprego diz respeito, numa péssima posição entre os 122 países, não ultrapassando o 70º lugar.
O relatório sublinha ainda a boa participação e as positivas medidas de acesso à educação espanholas, mas chama a atenção para as suas baixas avaliações qualitativas, o que pode explicar o facto de, mesmo no pilar da Educação, não ultrapassar o 31º lugar. No que respeita a Portugal, o índice realça o peso do pilar da Saúde e Bem-estar (23) para a classificação final nacional, ao mesmo tempo que, em termos negativos, o puxão de orelhas vai para o pilar da Educação, definido pelo Fórum Económico Mundial como a sua principal fraqueza. Em particular, o relatório chama a atenção para os níveis baixos de habilitações académicas na força laboral actual.
No que respeita às economias emergentes, a China detém a melhor posição (43), seguida pela Rússia (51), pelo Brasil (57), pela Índia (78) e com a África do Sul a fechar os BRICS, numa posição muita baixa (86).
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A América na 16ª posição e o Iémen regista a pior classificação
Na América do norte, o destaque vai para o Canadá, o qual, como já foi anteriormente mencionado, fecha o top 10, sendo de salientar o seu exemplar 2º lugar no que respeita à Educação. A posição dos Estados Unidos (16) deve-se à sua dinâmica força de trabalho e capacidade de atrair talento, bem como o seu potencial na inovação e níveis elevados de educação universitária. Contudo, o facto de não passar do 16ª lugar deve-se a fracos resultados no que respeita às doenças não transmissíveis na faixa etária mais activa (por exemplo, o número de AVCs nos Estados Unidos está a preocupar sobremaneira as autoridades de saúde) e a níveis igualmente baixos no que respeita ao bem-estar mental da sua população em idade activa.
Na Ásia, é o Japão que ocupa a melhor posição no ranking global (15º), com uma performance particularmente forte na Saúde e Bem-estar, mas com a qualidade da sua Educação (28) a persistir como preocupação principal, nomeadamente no que diz respeito às suas escolas de negócios. Os níveis baixos de integração da “força de trabalho prateada” – os trabalhadores na faixa etária dos 50 e 60 anos – continua a ser uma barreira que o Japão não consegue ultrapassar. Depois de Singapura e do Japão, os países mais bem colocados no índice de Capital Humano são a Malásia (22) e a Coreia (23).
A 43ª posição ocupada pela China deve-se, por um lado, aos benefícios de uma taxa de desemprego baixa em conjunto com uma elevada percepção, por parte das empresas, de bons níveis de competências da sua força laboral, sendo a área da saúde, a qualidade da sua estrutura legal e os níveis reduzidos de educação ao nível superior na força de trabalho actual que a faz ter uma pior performance global. A Índia (78), por seu turno, está satisfatoriamente posicionada no que respeita à Força laboral e Emprego, mas com uma performance péssima em termos de Saúde e Bem-estar (112).
No Médio Oriente e no Norte de África, o Qatar é o país mais bem posicionado no geral (18º lugar), ocupando a 26ª posição na Educação e a 7ª em Força Laboral e Emprego. Os seus principais pontos fracos encontram-se na área da Saúde e Bem-Estar (44), explicados por níveis elevados de doenças não transmissíveis, com particular preocupação para os níveis de obesidade e de muitos anos passados sem políticas de saúde adequadas. Da região em causa, seguem-se os Emirados Árabes Unidos (24), Israel (25), a Arábia Saudita (39) e o Barhein (40). A Tunísia (67),o Líbano (74), Marrocos (82) e o Egipto (111) ocupam algumas das posições mais baixas do ranking global, com o Iémen a ocupar o último lugar do mesmo.
Na África Subsaariana, as Maurícias ocupam a melhor posição (47), seguidas pelo Botswana (79) e o Quénia (81). A Nigéria, o país mais populoso do continente africano ocupa a posição 114, seguido por Moçambique (117), o Mali (118), o Burkina Faso (119) e a Guiné (120), representando o conjunto de países pior classificados no ranking. O Índice em causa não incluiu Angola, nem apresenta qualquer explicação para o facto de uma das economias mais pujantes de África não ser avaliada neste ranking.
Por último, os países que lideram na América Latina são a Costa Rica e o Chile, na 35ª e 36ª posições respectivamente. O Brasil não vai além da 57ª posição, devido, em particular, à sua má performance em Educação (88).

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