Siga o dinheiro por detrás dos protestos em Hong Kong
Sara Flounders 31.Ago.19 Outros autores
Os
EUA e a antiga potência colonial, a Grã-Bretanha, organizam, financiam e
incentivam os protestos em Hong Kong. Mobilizam sobretudo uma juventude
cujas condições de vida são difíceis. O tratado de devolução de Hong
Kong à República Popular da China consagrou o princípio “Um país, Dois
sistemas”. E o sistema que degrada as condições de vida de Hong Kong é
precisamente o que vigora nos EUA e na Grã-Bretanha.
As
manifestações em Hong Kong, agora um confronto aberto com a República
Popular da China, têm um impacto global. Quais são as forças por detrás
desse movimento? Quem fornece os fundos e quem pode beneficiar?
As manifestações cada vez mais violentas em Hong Kong são completamente adoptadas e entusiasticamente apoiadas nos media corporativos dos EUA e em todos os partidos políticos imperialistas nos EUA e na Grã-Bretanha. Isto deveria constituir um sinal de perigo para todos que lutam pela mudança e pelo progresso social. O imperialismo dos EUA nunca é desinteressado ou neutro.
As acções disruptivas envolvem manifestantes com capacete e máscara, usando bombas de gasolina, tijolos em chamas, fogo posto e barras de aço, ataques aleatórios a autocarros, e bloqueios massivos de aeroportos e transportes. Entre os actos mais provocatórios houve uma invasão organizada do parlamento de Hong Kong, onde “activistas” vandalizaram o edifício e penduraram a “Union Jack”, a bandeira britânica.
As bandeiras coloniais dos EUA, da Grã-Bretanha e de Hong Kong são destaque nesses confrontos, juntamente com bandeiras e outros símbolos da China popular desfigurados.
O New York Times descreveu o bloqueio do aeroporto: “Os protestos no aeroporto foram profundamente tácticos pois o movimento, em grande parte desprovido de líderes, ataca uma artéria econômica vital. O Aeroporto Internacional de Hong Kong, inaugurado em 1998, um ano após a China recuperar o território da Grã-Bretanha, serve como porta de entrada para o resto da Ásia. Elegante e bem administrado, o aeroporto acomoda quase 75 milhões de passageiros por ano e movimenta mais de 5,1 milhões de toneladas de carga. ”(14 de Agosto)
Os media dos EUA rotulam consistentemente essas ações violentas de “pró-democracia”. Mas sê-lo-ão?
Mesmo que os líderes dessas ações reaccionárias decidam recuar e recalibrar as suas tácticas, com base nas fortes advertências do governo chinês, é importante entender um movimento que tem um tão forte apoio dos EUA.
A China tem o direito de intervir
Deve ser fortemente afirmado que a China não está a invadir Hong Kong se agir contra essas violentas perturbações. Hong Kong faz parte da China. Este é um assunto interno, e o apelo à independência para Hong Kong é um ataque aberto à soberania nacional da China.
De acordo com a Lei Básica de Hong Kong, a constituição da cidade, o governo tem permissão legal para solicitar ajuda do Exército de Libertação do Povo Chinês.
O governo chinês anunciou que irá intervir militarmente para defender a soberania da China. Autoridades de topo do governo classificaram os actos mais extremos como “terrorismo” e denunciaram o apoio dos EUA. Várias autoridades apontaram a analogia com as “revoluções coloridas” ocidentais que derrubaram violentamente governos na Sérvia, Ucrânia, Líbia e Haiti e foram tentadas na Venezuela e na Síria.
“Os ideólogos dos governos ocidentais nunca cessam os seus esforços para criar agitação contra governos que não são do seu agrado, embora as suas acções tenham causado miséria e caos em país após país na América Latina, África, Médio Oriente e Ásia. Agora estão a tentar o mesmo truque na China ”, explicou o China Daily em 3 de Julho.
Liu Xiaoming, embaixador da China na Grã-Bretanha, disse a repórteres que o seu país ainda estava a actuar como patrão colonial de Hong Kong. (nbcnews.com, 4 de julho)
“Uma porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China afirmou na terça-feira que comentários recentes dos legisladores americanos [Nancy] Pelosi (D-CA) e [Mitch] McConnell (R-Ky.) demonstram que o objectivo real de Washington é incitar ao caos na cidade” de acordo com a CNBC. “Ao negligenciar e distorcer a verdade, eles branquearam crimes violentos como uma luta pelos direitos humanos e pela liberdade.” (14 de Agosto)
Onde está o apoio dos EUA a outras resistências?
A polícia de Hong Kong é acusada de violência nos media dos EUA, mas na verdade tem mostrado grande contenção. Apesar de meses de confrontos violentos, com garrafas em chamas constantemente lançadas, ninguém foi morto.
Não existe uma cobertura favorável dos media ou apoio semelhante por parte dos políticos dos EUA para manifestações de trabalhadores e camponeses desesperados em Honduras, Haiti ou Filipinas, ou para o movimento Colete Amarelo em França. Nunca há uma condenação oficial quando manifestantes são mortos no Iémen ou Caxemira ou nas manifestações semanais em Gaza contra a ocupação israelita.
Essas lutas recebem quando muito menção, embora em todos os casos dezenas de pessoas tenham sido mortas pela polícia, alvo de assassínio ou tenham desaparecido.
Embora os protestos de Hong Kong recebam atenção generalizada, não existe cobertura ou apoio político semelhante para manifestações do Black Lives Matter nos EUA ou para as massas que protestam contra os ataques racistas do departamento de Controlo da Imigração e Fiscalização Aduaneira e as prisões de migrantes.
A pressão dos EUA prossegue
Apesar dos avisos da China sobre possível lei marcial, toque de recolher estrito e intervenção militar para restaurar a ordem, os manifestantes não manifestaram quaisquer sinais de recuo. Os EUA e a Grã-Bretanha estão determinados a impulsionar as forças políticas hostis que cultivaram no decurso das últimas duas décadas.
A escalada de manifestações está ligada à guerra comercial dos EUA, tarifas e cerco militar da China. Quatrocentos – metade - das 800 bases militares dos EUA no estrangeiro cercam a China. Porta-aviões, cruzadores, submarinos nucleares, aviões a jacto, baterias de mísseis de Terminal High Altitude Area Defense e infraestruturas de vigilância por satélite estão posicionadas no Mar da China Meridional, perto de Hong Kong. A demonização mediática é necessária para justificar e intensificar essa presença militar.
Incentivar as manifestações acompanha os esforços internacionais para bloquear a tecnologia Huawei 5G, o cancelamento de um estudo conjunto sobre o cancro e a prisão de executivos chineses. Todos esses actos de beligerância são projectados para exercer pressão máxima sobre a China, dividir a liderança, desestabilizar o desenvolvimento económico e enfraquecer a determinação da China em manter qualquer planeamento socialista.
A lei marcial em Hong Kong, um centro financeiro de grande dimensão, especialmente para fundos de investimento internacionais dirigindo-se à China, afectaria o desenvolvimento da China.
“Liberdade” económica capitalista
O imperialismo britânico, nos 155 anos que governou Hong Kong, negou direitos a milhões de trabalhadores. Não havia governo eleito, direito a salário mínimo, sindicatos, habitação decente ou assistência médica, e certamente nenhuma liberdade de imprensa ou liberdade de expressão. Esses direitos democráticos básicos não estavam nem nos livros da Hong Kong colonial.
Nos últimos 25 anos, incluindo este ano, Hong Kong foi classificada como a número 1 na lista da direitista Heritage Foundation de países com “maior liberdade econômica” - significando o mínimo de restrições à obtenção capitalista de lucros. O ranking de Hong Kong baseia-se em impostos baixos e regulamentações ligeiras, os mais fortes direitos de propriedade e liberdade de negócio, e “abertura ao comércio global e clima empresarial vibrante … sem restrições aos bancos estrangeiros”. Por isso, Hong Kong é a “sociedade mais livre do mundo”.
Essa “liberdade” significa as rendas de casa mais altas do mundo e o maior fosso entre os super-ricos e os desesperadamente pobres e sem-tecto. É isto que os jovens de Hong Kong hoje enfrentam. Mas os jovens estão a ser conscientemente mal direcionados para culpar a administração da cidade pelas condições em que Hong Kong está fixada nos termos do “acordo Um país, Dois sistemas”.
Um tratado colonial desigual
Hong Kong é terra roubada. Este espectacular porto de águas profundas no Mar da China Meridional, na foz do Rio das Pérolas, uma importante via navegável no sul da China, foi capturado pela Grã-Bretanha nas Guerras do Ópio de 1842. Depois de as negociações com a Grã-Bretanha se terem arrastado pela década de 1980, os britânicos impuseram outro tratado desigual à República Popular da China.
Segundo o acordo de 1997, “Um país, Dois sistemas”, que devolveu oficialmente Hong Kong, Kowloon e os Novos Territórios à República Popular da China, a Grã-Bretanha e a China acordaram deixar o “sistema capitalista anterior” em vigor por 50 anos.
A China, determinada a reafirmar sua soberania sobre as terras roubadas pela invasão imperialista, precisava também de fundos para o desenvolvimento. Muito do dinheiro na Ásia passava pelo sistema bancário de Hong Kong. Assim em 1997 a China estava ansiosa por alcançar uma transição tranquila que não desestabilizasse a transferência de fundos de investimento para os 99,5% da China aos quais tinham sido anteriormente negados. Desde a vitoriosa Revolução Chinesa em 1949, a China havia sido sancionada e impedida de aceder ao investimento e tecnologia ocidentais.
O imperialismo norte-americano e britânico aproveitou ao máximo a concessão de 1997 que mantinha o seu controlo económico sobre a antiga colónia. Esperavam que Hong Kong pudesse servir, como servira no passado, como um ariete económico contra a China.
As suas esperanças não se realizaram. Em 1997, o produto interno bruto de Hong Kong representava 27% do produto interno bruto da China. Agora é apenas 3% e está em queda. Para grande frustração dos EUA e da Grã-Bretanha, os maiores bancos do mundo estão agora na China e são bancos estatais.
O que confunde a classe capitalista, muito mais do que o incrível crescimento da China, é que as 12 principais empresas chinesas na lista da Fortune 500 dos EUA são todas de propriedade estatal e subsidiadas pelo Estado. Incluem grandes empresas de petróleo, energia solar, telecomunicações, engenharia e construção, bancos e indústria automobilística. (Fortune.com, 22 de Julho de 2015)
O poder corporativo dos EUA está profundamente ameaçado pelo nível de desenvolvimento da China por meio da Iniciativa do Cinturão e Rota e sua crescente posição no comércio e investimento internacionais.
EUA e Grã-Bretanha construíram uma rede de colaboradores
Quando a Grã-Bretanha e a China assinaram o acordo “Um país, Dois sistemas” supunha-se que todas as intervenções estrangeiras e reivindicações coloniais sobre Hong Kong deveriam terminar. A soberania total era devolvida à China.
No entanto, os esforços dos EUA e da Grã-Bretanha para minar o retorno de Hong Kong começaram antes da assinatura. Pouco antes da transferência da soberania, a Grã-Bretanha estabeleceu à pressa, após 150 anos de funcionários nomeados, um governo parcialmente eleito, embora ainda principalmente nomeado. Rapidamente estabeleceram e financiaram partidos políticos, compostos por leais colaboradores seus.
Milhões de dólares foram canalizados aberta e secretamente para toda uma rede de organizações protegidas de serviço social, partidos políticos, média e redes sociais, organizações estudantis e juvenis e sindicatos estabelecidos para minar o apoio à China e ao Partido Comunista da China.
A Confederação dos Sindicatos de Hong Kong recebe financiamento do National Endowment for Democracy (NED) dos EUA, juntamente com apoio britânico. Promove ” sindicatos independentes, pró-democracia” em toda a China. O HKCTU foi criado em 1990 para combater e minar a Federação dos Sindicatos de Hong Kong fundada em 1948, que é ainda a maior organização sindical com 410.000 membros.
O HKFTU sofreu anos de repressão brutal sob o domínio colonial britânico, uma vez que lutava pela protecção básica dos direitos dos trabalhadores. Uma greve organizada pelo HKFTU abalou o domínio colonial britânico em 1967. A greve tornou-se uma rebelião em toda a cidade provocada por despedimentos em massa de trabalhadores da fábrica de flores de plástico. As autoridades coloniais britânicas reprimiram duramente a revolta, resultando em 51 mortes e centenas de feridos e desaparecidos. O HKFTU apoia a China e opõe-se às manifestações reaccionárias.
Financiamento NED = apoio da CIA
Allen Weinstein, fundador do NED, disse ao Washington Post em 1991: “Muito do que fazemos hoje era feito secretamente há 25 anos pela CIA.” (21 de Setembro de 1991) O NED financia, coordena e arma organizações não-governamentais e organizações e organizações sociais com capacidade de colocar nas ruas dezenas de milhares de jovens desorientados, idealistas e alienados.
Os fundos do NED, da Ford, Rockefeller, Soros e inúmeras outras fundações corporativas, igrejas cristãs de todas as denominações, e generoso financiamento britânico, estão por detrás dessa rede subversiva e hostil que orquestra os protestos de Hong Kong.
O NED financia o Movimento dos Direitos Humanos de Hong Kong, a Associação de Jornalistas de Hong Kong, o Partido Cívico, o Partido Trabalhista e o Partido Democrata. São membros da Frente Civil de Direitos Humanos que coordena as manifestações.
Esse papel do NED na China é cada vez mais difícil de ocultar. Alexander Rubinstein relatou em “American Gov’t, NGOs Fuel and Fund Hong Kong Anti-Extradition Protests” (mintpressnews.com, 13 de Junho): “É inconcebível que os organizadores dos protestos desconheçam os laços do NED com alguns de seus membros. ”(tinyurl.com/y6nhmapz)
O objectivo é promover uma atitude hostil e de suspeita em relação à China e ao comunismo e fomentar o falso conceito de uma Hong Kong democrática do passado com uma identidade distinta. O China Daily adverte: “Nos últimos anos, houve avisos de que as revoluções coloridas estão a surgir como uma nova forma de guerra empregada pelo Ocidente para desestabilizar certos países.” (12 de Agosto)
Qual o sistema que funciona melhor?
O New York Times de 13 de Agosto refere-se a Hong Kong como um “bastião das liberdades civis” para contrariar a “cunho de autoritarismo de Pequim”.
O passado colonial britânico é profundamente mitificado. Vinte e dois anos de nostalgia constante por este passado, tempo supostamente glorioso, influenciaram uma juventude cada vez mais empobrecidos.
Apesar de décadas de financiamento ocidental multimilionário, Hong Kong tem uma taxa de pobreza de 20% (23,1% nas crianças) em comparação com menos de 1% na China continental. Nos últimos 20 anos, a China continental retirou da pobreza incontáveis milhões de pessoas.
Do outro lado do rio de Hong Kong fica a cidade de Shenzhen. É uma das Zonas Económicas Especiais estabelecidas para atrair a tecnologia ocidental. Essas zonas, originalmente com milhares de fábricas de mão-de-obra intensiva e milhões de trabalhadores com baixos salários, eram centros de exploração capitalista e enormes lucros para os EUA e outros capitalistas globais.
Shenzhen cresceu de uma cidade de 30.000 em 1979 para uma megacidade de 20 milhões, com a maior população migrante da China. Shenzhen tinha uma população três vezes maior que Hong Kong. Com investimentos via Hong Kong, esta nova cidade tornou-se uma imensa cidade fabril poluída, com fábricas espalhando nuvens de escuro fumo tóxico.
Através do planeamento da cidade e nacional nos últimos cinco anos, Shenzhen tornou-se hoje uma das cidades mais habitáveis da China, com extensos parques, ruas arborizadas e a maior frota de autocarros eléctricos do mundo (16.000), juntamente com táxis totalmente eléctricos. Shenzhen pretende ter 80% dos seus novos edifícios com certificação verde até 2020. Está cheio de blocos de apartamentos, torres de escritórios e fábricas modernas com equipamento avançado de fabrico, robótica, automação e startups gigantes de tecnologia.
Nos últimos 10 anos, os salários estagnaram em Hong Kong, enquanto os arrendamentos aumentaram 300%; é a cidade mais cara do mundo. Em Shenzhen, os salários aumentam 8% em cada ano, e mais de 1 milhão de novas habitações públicas, verdes e com baixos encargos estão quase concluídas.
Os EUA estão a exigir que a China abandone o apoio estatal às suas indústrias, a propriedade de seus bancos e o planeamento nacional. Mas, contrastando a decadência, a crescente pobreza e intensa alienação em Hong Kong com a cidade verde e vibrante de Shenzhen do outro lado do rio mostra que hoje existem duas opções para a China, incluindo as coléricas forças mobilizadas em Hong Kong: planeamento socialista moderno ou regresso à superexploração e dominação imperialista do passado colonial.
Durante décadas, a Grã-Bretanha e os EUA usaram o povo de Hong Kong como mão-de-obra barata. Agora estão a usar a mesma população para propaganda política barata. Essa manobra cínica é apenas mais uma arma num esforço desesperado para dificultar o desenvolvimento da China.
O poder corporativo dos EUA é incapaz de atender a qualquer das desesperadas necessidades de habitação, assistência médica, educação e um ambiente saudável das pessoas de cá. Em vez disso, numa busca incansável pelo lucro, enormes recursos são desbaratados no militarismo para ameaçar países em todo o mundo.
Fonte: https://www.workers.org/2019/08/16/whats-behind-hong-kong-protests/
As manifestações cada vez mais violentas em Hong Kong são completamente adoptadas e entusiasticamente apoiadas nos media corporativos dos EUA e em todos os partidos políticos imperialistas nos EUA e na Grã-Bretanha. Isto deveria constituir um sinal de perigo para todos que lutam pela mudança e pelo progresso social. O imperialismo dos EUA nunca é desinteressado ou neutro.
As acções disruptivas envolvem manifestantes com capacete e máscara, usando bombas de gasolina, tijolos em chamas, fogo posto e barras de aço, ataques aleatórios a autocarros, e bloqueios massivos de aeroportos e transportes. Entre os actos mais provocatórios houve uma invasão organizada do parlamento de Hong Kong, onde “activistas” vandalizaram o edifício e penduraram a “Union Jack”, a bandeira britânica.
As bandeiras coloniais dos EUA, da Grã-Bretanha e de Hong Kong são destaque nesses confrontos, juntamente com bandeiras e outros símbolos da China popular desfigurados.
O New York Times descreveu o bloqueio do aeroporto: “Os protestos no aeroporto foram profundamente tácticos pois o movimento, em grande parte desprovido de líderes, ataca uma artéria econômica vital. O Aeroporto Internacional de Hong Kong, inaugurado em 1998, um ano após a China recuperar o território da Grã-Bretanha, serve como porta de entrada para o resto da Ásia. Elegante e bem administrado, o aeroporto acomoda quase 75 milhões de passageiros por ano e movimenta mais de 5,1 milhões de toneladas de carga. ”(14 de Agosto)
Os media dos EUA rotulam consistentemente essas ações violentas de “pró-democracia”. Mas sê-lo-ão?
Mesmo que os líderes dessas ações reaccionárias decidam recuar e recalibrar as suas tácticas, com base nas fortes advertências do governo chinês, é importante entender um movimento que tem um tão forte apoio dos EUA.
A China tem o direito de intervir
Deve ser fortemente afirmado que a China não está a invadir Hong Kong se agir contra essas violentas perturbações. Hong Kong faz parte da China. Este é um assunto interno, e o apelo à independência para Hong Kong é um ataque aberto à soberania nacional da China.
De acordo com a Lei Básica de Hong Kong, a constituição da cidade, o governo tem permissão legal para solicitar ajuda do Exército de Libertação do Povo Chinês.
O governo chinês anunciou que irá intervir militarmente para defender a soberania da China. Autoridades de topo do governo classificaram os actos mais extremos como “terrorismo” e denunciaram o apoio dos EUA. Várias autoridades apontaram a analogia com as “revoluções coloridas” ocidentais que derrubaram violentamente governos na Sérvia, Ucrânia, Líbia e Haiti e foram tentadas na Venezuela e na Síria.
“Os ideólogos dos governos ocidentais nunca cessam os seus esforços para criar agitação contra governos que não são do seu agrado, embora as suas acções tenham causado miséria e caos em país após país na América Latina, África, Médio Oriente e Ásia. Agora estão a tentar o mesmo truque na China ”, explicou o China Daily em 3 de Julho.
Liu Xiaoming, embaixador da China na Grã-Bretanha, disse a repórteres que o seu país ainda estava a actuar como patrão colonial de Hong Kong. (nbcnews.com, 4 de julho)
“Uma porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China afirmou na terça-feira que comentários recentes dos legisladores americanos [Nancy] Pelosi (D-CA) e [Mitch] McConnell (R-Ky.) demonstram que o objectivo real de Washington é incitar ao caos na cidade” de acordo com a CNBC. “Ao negligenciar e distorcer a verdade, eles branquearam crimes violentos como uma luta pelos direitos humanos e pela liberdade.” (14 de Agosto)
Onde está o apoio dos EUA a outras resistências?
A polícia de Hong Kong é acusada de violência nos media dos EUA, mas na verdade tem mostrado grande contenção. Apesar de meses de confrontos violentos, com garrafas em chamas constantemente lançadas, ninguém foi morto.
Não existe uma cobertura favorável dos media ou apoio semelhante por parte dos políticos dos EUA para manifestações de trabalhadores e camponeses desesperados em Honduras, Haiti ou Filipinas, ou para o movimento Colete Amarelo em França. Nunca há uma condenação oficial quando manifestantes são mortos no Iémen ou Caxemira ou nas manifestações semanais em Gaza contra a ocupação israelita.
Essas lutas recebem quando muito menção, embora em todos os casos dezenas de pessoas tenham sido mortas pela polícia, alvo de assassínio ou tenham desaparecido.
Embora os protestos de Hong Kong recebam atenção generalizada, não existe cobertura ou apoio político semelhante para manifestações do Black Lives Matter nos EUA ou para as massas que protestam contra os ataques racistas do departamento de Controlo da Imigração e Fiscalização Aduaneira e as prisões de migrantes.
A pressão dos EUA prossegue
Apesar dos avisos da China sobre possível lei marcial, toque de recolher estrito e intervenção militar para restaurar a ordem, os manifestantes não manifestaram quaisquer sinais de recuo. Os EUA e a Grã-Bretanha estão determinados a impulsionar as forças políticas hostis que cultivaram no decurso das últimas duas décadas.
A escalada de manifestações está ligada à guerra comercial dos EUA, tarifas e cerco militar da China. Quatrocentos – metade - das 800 bases militares dos EUA no estrangeiro cercam a China. Porta-aviões, cruzadores, submarinos nucleares, aviões a jacto, baterias de mísseis de Terminal High Altitude Area Defense e infraestruturas de vigilância por satélite estão posicionadas no Mar da China Meridional, perto de Hong Kong. A demonização mediática é necessária para justificar e intensificar essa presença militar.
Incentivar as manifestações acompanha os esforços internacionais para bloquear a tecnologia Huawei 5G, o cancelamento de um estudo conjunto sobre o cancro e a prisão de executivos chineses. Todos esses actos de beligerância são projectados para exercer pressão máxima sobre a China, dividir a liderança, desestabilizar o desenvolvimento económico e enfraquecer a determinação da China em manter qualquer planeamento socialista.
A lei marcial em Hong Kong, um centro financeiro de grande dimensão, especialmente para fundos de investimento internacionais dirigindo-se à China, afectaria o desenvolvimento da China.
“Liberdade” económica capitalista
O imperialismo britânico, nos 155 anos que governou Hong Kong, negou direitos a milhões de trabalhadores. Não havia governo eleito, direito a salário mínimo, sindicatos, habitação decente ou assistência médica, e certamente nenhuma liberdade de imprensa ou liberdade de expressão. Esses direitos democráticos básicos não estavam nem nos livros da Hong Kong colonial.
Nos últimos 25 anos, incluindo este ano, Hong Kong foi classificada como a número 1 na lista da direitista Heritage Foundation de países com “maior liberdade econômica” - significando o mínimo de restrições à obtenção capitalista de lucros. O ranking de Hong Kong baseia-se em impostos baixos e regulamentações ligeiras, os mais fortes direitos de propriedade e liberdade de negócio, e “abertura ao comércio global e clima empresarial vibrante … sem restrições aos bancos estrangeiros”. Por isso, Hong Kong é a “sociedade mais livre do mundo”.
Essa “liberdade” significa as rendas de casa mais altas do mundo e o maior fosso entre os super-ricos e os desesperadamente pobres e sem-tecto. É isto que os jovens de Hong Kong hoje enfrentam. Mas os jovens estão a ser conscientemente mal direcionados para culpar a administração da cidade pelas condições em que Hong Kong está fixada nos termos do “acordo Um país, Dois sistemas”.
Um tratado colonial desigual
Hong Kong é terra roubada. Este espectacular porto de águas profundas no Mar da China Meridional, na foz do Rio das Pérolas, uma importante via navegável no sul da China, foi capturado pela Grã-Bretanha nas Guerras do Ópio de 1842. Depois de as negociações com a Grã-Bretanha se terem arrastado pela década de 1980, os britânicos impuseram outro tratado desigual à República Popular da China.
Segundo o acordo de 1997, “Um país, Dois sistemas”, que devolveu oficialmente Hong Kong, Kowloon e os Novos Territórios à República Popular da China, a Grã-Bretanha e a China acordaram deixar o “sistema capitalista anterior” em vigor por 50 anos.
A China, determinada a reafirmar sua soberania sobre as terras roubadas pela invasão imperialista, precisava também de fundos para o desenvolvimento. Muito do dinheiro na Ásia passava pelo sistema bancário de Hong Kong. Assim em 1997 a China estava ansiosa por alcançar uma transição tranquila que não desestabilizasse a transferência de fundos de investimento para os 99,5% da China aos quais tinham sido anteriormente negados. Desde a vitoriosa Revolução Chinesa em 1949, a China havia sido sancionada e impedida de aceder ao investimento e tecnologia ocidentais.
O imperialismo norte-americano e britânico aproveitou ao máximo a concessão de 1997 que mantinha o seu controlo económico sobre a antiga colónia. Esperavam que Hong Kong pudesse servir, como servira no passado, como um ariete económico contra a China.
As suas esperanças não se realizaram. Em 1997, o produto interno bruto de Hong Kong representava 27% do produto interno bruto da China. Agora é apenas 3% e está em queda. Para grande frustração dos EUA e da Grã-Bretanha, os maiores bancos do mundo estão agora na China e são bancos estatais.
O que confunde a classe capitalista, muito mais do que o incrível crescimento da China, é que as 12 principais empresas chinesas na lista da Fortune 500 dos EUA são todas de propriedade estatal e subsidiadas pelo Estado. Incluem grandes empresas de petróleo, energia solar, telecomunicações, engenharia e construção, bancos e indústria automobilística. (Fortune.com, 22 de Julho de 2015)
O poder corporativo dos EUA está profundamente ameaçado pelo nível de desenvolvimento da China por meio da Iniciativa do Cinturão e Rota e sua crescente posição no comércio e investimento internacionais.
EUA e Grã-Bretanha construíram uma rede de colaboradores
Quando a Grã-Bretanha e a China assinaram o acordo “Um país, Dois sistemas” supunha-se que todas as intervenções estrangeiras e reivindicações coloniais sobre Hong Kong deveriam terminar. A soberania total era devolvida à China.
No entanto, os esforços dos EUA e da Grã-Bretanha para minar o retorno de Hong Kong começaram antes da assinatura. Pouco antes da transferência da soberania, a Grã-Bretanha estabeleceu à pressa, após 150 anos de funcionários nomeados, um governo parcialmente eleito, embora ainda principalmente nomeado. Rapidamente estabeleceram e financiaram partidos políticos, compostos por leais colaboradores seus.
Milhões de dólares foram canalizados aberta e secretamente para toda uma rede de organizações protegidas de serviço social, partidos políticos, média e redes sociais, organizações estudantis e juvenis e sindicatos estabelecidos para minar o apoio à China e ao Partido Comunista da China.
A Confederação dos Sindicatos de Hong Kong recebe financiamento do National Endowment for Democracy (NED) dos EUA, juntamente com apoio britânico. Promove ” sindicatos independentes, pró-democracia” em toda a China. O HKCTU foi criado em 1990 para combater e minar a Federação dos Sindicatos de Hong Kong fundada em 1948, que é ainda a maior organização sindical com 410.000 membros.
O HKFTU sofreu anos de repressão brutal sob o domínio colonial britânico, uma vez que lutava pela protecção básica dos direitos dos trabalhadores. Uma greve organizada pelo HKFTU abalou o domínio colonial britânico em 1967. A greve tornou-se uma rebelião em toda a cidade provocada por despedimentos em massa de trabalhadores da fábrica de flores de plástico. As autoridades coloniais britânicas reprimiram duramente a revolta, resultando em 51 mortes e centenas de feridos e desaparecidos. O HKFTU apoia a China e opõe-se às manifestações reaccionárias.
Financiamento NED = apoio da CIA
Allen Weinstein, fundador do NED, disse ao Washington Post em 1991: “Muito do que fazemos hoje era feito secretamente há 25 anos pela CIA.” (21 de Setembro de 1991) O NED financia, coordena e arma organizações não-governamentais e organizações e organizações sociais com capacidade de colocar nas ruas dezenas de milhares de jovens desorientados, idealistas e alienados.
Os fundos do NED, da Ford, Rockefeller, Soros e inúmeras outras fundações corporativas, igrejas cristãs de todas as denominações, e generoso financiamento britânico, estão por detrás dessa rede subversiva e hostil que orquestra os protestos de Hong Kong.
O NED financia o Movimento dos Direitos Humanos de Hong Kong, a Associação de Jornalistas de Hong Kong, o Partido Cívico, o Partido Trabalhista e o Partido Democrata. São membros da Frente Civil de Direitos Humanos que coordena as manifestações.
Esse papel do NED na China é cada vez mais difícil de ocultar. Alexander Rubinstein relatou em “American Gov’t, NGOs Fuel and Fund Hong Kong Anti-Extradition Protests” (mintpressnews.com, 13 de Junho): “É inconcebível que os organizadores dos protestos desconheçam os laços do NED com alguns de seus membros. ”(tinyurl.com/y6nhmapz)
O objectivo é promover uma atitude hostil e de suspeita em relação à China e ao comunismo e fomentar o falso conceito de uma Hong Kong democrática do passado com uma identidade distinta. O China Daily adverte: “Nos últimos anos, houve avisos de que as revoluções coloridas estão a surgir como uma nova forma de guerra empregada pelo Ocidente para desestabilizar certos países.” (12 de Agosto)
Qual o sistema que funciona melhor?
O New York Times de 13 de Agosto refere-se a Hong Kong como um “bastião das liberdades civis” para contrariar a “cunho de autoritarismo de Pequim”.
O passado colonial britânico é profundamente mitificado. Vinte e dois anos de nostalgia constante por este passado, tempo supostamente glorioso, influenciaram uma juventude cada vez mais empobrecidos.
Apesar de décadas de financiamento ocidental multimilionário, Hong Kong tem uma taxa de pobreza de 20% (23,1% nas crianças) em comparação com menos de 1% na China continental. Nos últimos 20 anos, a China continental retirou da pobreza incontáveis milhões de pessoas.
Do outro lado do rio de Hong Kong fica a cidade de Shenzhen. É uma das Zonas Económicas Especiais estabelecidas para atrair a tecnologia ocidental. Essas zonas, originalmente com milhares de fábricas de mão-de-obra intensiva e milhões de trabalhadores com baixos salários, eram centros de exploração capitalista e enormes lucros para os EUA e outros capitalistas globais.
Shenzhen cresceu de uma cidade de 30.000 em 1979 para uma megacidade de 20 milhões, com a maior população migrante da China. Shenzhen tinha uma população três vezes maior que Hong Kong. Com investimentos via Hong Kong, esta nova cidade tornou-se uma imensa cidade fabril poluída, com fábricas espalhando nuvens de escuro fumo tóxico.
Através do planeamento da cidade e nacional nos últimos cinco anos, Shenzhen tornou-se hoje uma das cidades mais habitáveis da China, com extensos parques, ruas arborizadas e a maior frota de autocarros eléctricos do mundo (16.000), juntamente com táxis totalmente eléctricos. Shenzhen pretende ter 80% dos seus novos edifícios com certificação verde até 2020. Está cheio de blocos de apartamentos, torres de escritórios e fábricas modernas com equipamento avançado de fabrico, robótica, automação e startups gigantes de tecnologia.
Nos últimos 10 anos, os salários estagnaram em Hong Kong, enquanto os arrendamentos aumentaram 300%; é a cidade mais cara do mundo. Em Shenzhen, os salários aumentam 8% em cada ano, e mais de 1 milhão de novas habitações públicas, verdes e com baixos encargos estão quase concluídas.
Os EUA estão a exigir que a China abandone o apoio estatal às suas indústrias, a propriedade de seus bancos e o planeamento nacional. Mas, contrastando a decadência, a crescente pobreza e intensa alienação em Hong Kong com a cidade verde e vibrante de Shenzhen do outro lado do rio mostra que hoje existem duas opções para a China, incluindo as coléricas forças mobilizadas em Hong Kong: planeamento socialista moderno ou regresso à superexploração e dominação imperialista do passado colonial.
Durante décadas, a Grã-Bretanha e os EUA usaram o povo de Hong Kong como mão-de-obra barata. Agora estão a usar a mesma população para propaganda política barata. Essa manobra cínica é apenas mais uma arma num esforço desesperado para dificultar o desenvolvimento da China.
O poder corporativo dos EUA é incapaz de atender a qualquer das desesperadas necessidades de habitação, assistência médica, educação e um ambiente saudável das pessoas de cá. Em vez disso, numa busca incansável pelo lucro, enormes recursos são desbaratados no militarismo para ameaçar países em todo o mundo.
Fonte: https://www.workers.org/2019/08/16/whats-behind-hong-kong-protests/
Sem comentários:
Enviar um comentário