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terça-feira, 1 de outubro de 2019


O situacionismo e os media simpatizam com o movimento de Greta “Sextas-feiras pelo Futuro”… Poderá então considerar-se exactamente um “protesto”?

RT    30.Sep.19    Outros autores
Quando se vêm os grandes media, instituições globais, o capital monopolista, Estados cujo currículo é mais do que sombrio a patrocinar um movimento global de protesto, alguma coisa cheira a esturro. Os mesmos que, por exemplo, reprimem brutalmente os “Coletes Amarelos” e outros movimentos de massas promovem com toda a simpatia acções de rua cuja figura mais visível é Greta Thunberg. Justifica-se por isso tentar entender melhor o que se passa.
Enquanto centenas de milhares de pessoas - muitas delas crianças em idade escolar - saem às ruas em nova manifestação sobre alterações climáticas, devemos interrogar-nos: em que momento se torna status quo o protesto?
Em Agosto passado a suspensão isolada da actividade da sua escola da activista climática sueca Greta Thunberg pouco mais foi do que uma exibição para editores de jornais e equipas de TV. Mas a “greve escolar” da adolescente cruzada cresceu em bola de neve e o movimento “Sextas-feiras pelo Futuro” ampliou-se.
Agora, depois de um discurso emocionado de Thunberg na Cimeira de Acção Climática da ONU na segunda-feira, centenas de milhares de grevistas no mundo inteiro estão na sexta-feira a encher as ruas, exigindo aos seus governos que declarem um estado de emergência, reduzam as emissões de carbono, penalizem o consumo de carne e liquidem o automóvel, para escolher apenas algumas das suas propostas.
Mas estes radicais - como há pouco tempo seriam chamados - não estão a ser recebidos pelos bastões, gás lacrimogénio e balas de borracha que o Estado geralmente utiliza para reprimir a dissidência (coisa que nenhuma manifestação pacífica devia sofrer). Os meios de comunicação não estão a difamar os participantes tratando-os de racistas e a menosprezar os números de participação, e as multidões que ocupam as ruas da cidade não correm o risco de sofrer ferimentos e mutilações.
A própria ideia de “protesto” implica alguma resistência, alguma injustiça do Estado a ser superada. Os manifestantes do clima argumentariam que não está a ser feito o suficiente para sarar a nossa Terra em aquecimento - e isso é um debate além do escopo deste artigo - mas os governos, os media e os corretores do poder do mundo têm ajudado o movimento de protesto de Thunberg e companhia a cada passo do seu caminho .
Os protestos dos “Coletes Amarelos” em França começaram pela oposição a um aumento nos impostos sobre combustíveis fósseis e foram semanalmente recebidos com toda a violência acima descrita. Thunberg foi, pelo contrário, convidada a discursar no parlamento francês em Julho. O mesmo com as suas aparições no Fórum Económico Mundial em Davos no início deste ano, os seus discursos no parlamento britânico e no Congresso dos EUA e a sua mais recente aparição na ONU. Em todas as ocasiões, os líderes políticos do mundo estenderam o tapete vermelho e mantiveram a porta aberta para ela lhes dar uma palestra.
A cobertura dos media sobre Thunberg e os protestos climáticos tem sido esmagadoramente favorável - com o The Guardian comparando o seu discurso na segunda-feira ao discurso de Abraham Lincoln em Gettysburg pelo seu significado histórico, e a New York Magazine a chamar-lhe “a Joana d’Arc da alteração climática”. Para prosseguir com a comparação, os Coletes Amarelos foram descritos como uma horda de anti-semitas e “notórios negacionistas do Holocausto”, com base nas acções de uma minúscula minoria de manifestantes.
Os grevistas da escola e os cruzados do clima desfrutam de apoio geral. “Estamos no início de uma extinção em massa, e tudo de que se pode falar é sobre dinheiro e contos de fadas acerca de um crescimento económico eterno”, ralhou Thunberg aos líderes na segunda-feira. No entanto, mesmo as grandes empresas do mundo saltaram para dentro do comboio ecológico, sempre interessadas em dar um toque virtuoso no seu percurso para mais alguns dólares, mesmo que suas credenciais verdes sejam no mínimo suspeitas.
Se os protestos estão a ser apresentados como uma história de David e Golias de crianças falando a verdade ao poder e ajustando contas com a elite, por que é que a elite as apoia de todo o coração? Um optimista diria que esses líderes finalmente vêm a necessidade de urgente acção climática. Afinal, o clamor público sobre o buraco na camada de ozono na década de 1980 levou à adopção de uma histórica proibição de produtos químicos em 1987 e, três décadas depois, a NASA revelou no ano passado provas de que a camada de ozono está a recuperar.
Um cínico argumentaria que os escalões superiores se preparam para beneficiar de alguma maneira. E isso também é verdade. Vários conglomerados das principais instituições financeiras do mundo, apoiados por grupos de reflexão neoliberais como o Atlantic Council, já manifestaram interesse em meter as mãos em fundos públicos para financiar empreendimentos industriais verdes, especialmente nos países em desenvolvimento. Aquilo a que alguns chamam crise, eles chamam “oportunidade climática”.
Abordar a alteração climática também oferece aos políticos obcecados pelo controlo com uma ilimitada oportunidade de avançar com legislação de outra forma difícil de digerir. Mais de 100 parlamentares norte-americanos no Congresso apoiam o ‘Green New Deal’. Entre eles está uma mão cheia de candidatos à presidência e Alexandria Ocasio-Cortez, a badalada congressista de Nova York que deu no mês passado as boas vindas na cidade a Thunberg após a sua travessia “neutra em carbono” do Atlântico.
Para além de medidas para afastar os EUA dos combustíveis fósseis e substituir as deslocações em avião e automóvel por alternativas mais verdes, a legislação “Green New Deal” de Ocasio-Cortez vem associada a uma progressiva lista de desejos sobre assistência médica universal, aumento de salário mínimo, redistribuição de riqueza e controlo da indústria pelo governo - tradicionalmente um anátema para os eleitores americanos. Tudo isto exige impostos mais altos e uma expansão do poder do governo federal.
Seja por interesse próprio ou por benevolência, o movimento de protesto climático conta com o apoio da elite, e sair à Sexta-feira da escola para se manifestar é tão seguro quanto o protesto pode ser. Fazer gazeta à escola normalmente daria aos farsantes um puxão de orelhas ou uma conversa severa, mas mais e mais professores estão a unir-se às greves e a encorajar os seus alunos a participar.
Quando eu era adolescente, não nos davam um dia de folga para protestar contra a invasão do Iraque. Em vez disso, fugimos, mudámos de roupa para os nossos jeans e fatos-macaco folgados, e apanhámos um autocarro até às instalações do governo. O protesto sentia-se como transgressivo e anti-establishment.
Proteste num dia de folga. Recuse aos seus pais e à sua geração a única significativa oportunidade numa semana de trabalho de passar algum tempo consigo. Afinal, como disse Thunberg, os adultos “roubaram os meus sonhos e a minha infância com as vossas palavras vazias”.
Um protesto deixa de ser um protesto quando é pró-establishment. Uma vez que chegue a esse ponto crítico, as pessoas começam a sondar mais profundamente e a duvidar das intenções dos manifestantes, e o apoio das grandes empresas é mortífero para a autenticidade.
A maioria das pessoas que se queixa dos manifestantes climáticos não odeia Greta Thunberg por aquilo que ela é. Simplesmente não gostam de ser levados pelas forças combinadas de activistas, empresas, media e Estado a pensar de uma determinada maneira, não importa quão certa ou errada essa maneira for.
Fonte: https://www.rt.com/news/469789-greta-climate-protests-allowed/

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