Sempre considerei uma completa provocação ofensiva e perigosa a publicação de determinado tipo de desenhos sobre Maomé, sempre, desde a sua primeira publicação num periódico dinamarquês se não me engano. Para quê provocar uma numerosa comunidade de imigrantes e refugiados vivendo na Europa, em grande parte residentes há muito tempo, trabalhando como assalariados ou como pequenos negociantes e com quem os britânicos, os franceses, os alemães, os dinamarqueses, se cruzam todos os dias? Numa Europa com várias religiões e igrejas, culturas e tradições? Numa Europa que os povos muçulmanos ajudaram a civilizar durante séculos?
Num época que determinada ideologia dita "pós-moderna" (não todo o chamado pós-modernismo) nos quis convencer que tudo se equivale (como as mercadorias) e que a verdade é apenas um signo subjetivo, fazer gozo com uma religião poderosa que alberga inocentes e pecadores, como todas as crenças, é intolerância e desrespeito. É uma forma de xenofobia. Grave, porque se cobre com o direito à livre expressão (confundindo o privado com o público). Grave porque deita achas para a fogueira que incendiou uma região do globo. Grave porque provoca naqueles que se sentem rejeitados, não integrados e hostilizados, sentimentos de raiva e ódio. Grave porque semeia nos europeus não muçulmanos sentimentos de insegurança, desconfiança, medo e, nalguns casos, xenofobia que será logo aproveitados pelos partidos de extrema-direita.
Eis um exemplo das contradições do liberalismo.
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