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sábado, 27 de março de 2021

A questão dos monopólios

 «E aqui eles se apoiam em outro argumento muito importante para a tradição marxista que é o de Hilferding, segundo o qual o capitalismo se desenvolve até atingir o estágio do capital monopolista e as finanças crescem a partir do capital monopolista, um argumento que até o próprio Lenin defendia. Uma vez aceita esta tese, ela se torna a base absoluta da teoria marxista. Todos os partidos políticos, todas as escolas de pensamento de esquerda na América Latina, nos Estados Unidos e no mundo capitalista desenvolvido dizem que o capitalismo é monopolista.

Mas o que é um monopólio? Um monopólio é o poder dos capitais individuais de obter melhores resultados do que obteriam por meio da concorrência. Em meu livro, tento demonstrar que não há evidências de que o poder de monopólio tenha resultados em relação à taxa de lucro. É muito comum a confusão entre a escala e o poder de monopólio. Por quê? Porque na economia neoclássica todas as empresas precisam ser pequenas para serem competitivas. Porque, por definição, na concorrência perfeita as empresas são pequenas demais para influenciar os resultados.

Nesse sentido, o monopólio parece se apresentar como uma possibilidade de passar por cima dos limites e das pressões do mercado. Mas não há nenhuma evidência empírica para isso. Se olharmos para as evidências, descobrimos que os grandes capitais não têm taxas de lucro mais altas. Na verdade, eles têm taxas de lucro mais baixas. O que acontece é que elas são mais estáveis. Mas quando você leva em conta o risco – a literatura de negócios dá muita ênfase a isso – você vê que as taxas de lucro são mais ou menos as mesmas.

Isso significa que uma economia em grande escala implica que você enfrente outros grandes jogadores no mercado. É verdade que se pode prejudicar os jogadores menores, por isso os grandes são mais competitivos e a concorrência assume a forma das grandes capitais. Mas os novos capitais podem aparecer em qualquer lugar, como aconteceu com os computadores, como acontece com os softwares e agora com a Tesla, etc. Por sua vez, esses capitais podem ficar enormes, mas sempre chegarão outros.

Aliás, eles não dizem que não há competição, dizem que é uma concorrência intensa sujeita a outros grandes jogadores. Isso significa que a ideia de capital monopolista como aparece na literatura marxista – o “estágio do capital monopolista” – é uma ideia inadequada. Agora, qual é o objetivo dessa ideia? Apoiando-nos nela, podemos evitar levar a sério as contradições de classe.(...) 

Uma entrevista com
Anwar Shaikh, JACOBIN

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