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segunda-feira, 22 de março de 2021

LUKÁCS e a Ontologia marxista

 [...] ontologia fundada e fundante que encontre na realidade objetiva da natureza a base real do ser social e seja, ao mesmo tempo, capaz de apresentar o ser social em sua simultânea identidade e diferença com a ontologia da natureza (LUKÁCS, 1979a, p. 64).

 A insistência na fundamentação ontológica, cumpre recordar, dá-se em uma época de ampla difusão e acei-tação do expurgo da ontologia do campo da ciência, reivindicado pelo neopositivismo. Na crítica a esse expurgo,Lukács, de algum modo, parece antecipar a emergência de posições teóricas, como o pós-estruturalismo, o pós-moderno e o neopragmatismo, que, a partir do final dos anos 60, a pretexto de exercitar a crítica ao cientificismoadvogado pelo neopositivismo, adotam justamente a mesma postura, recusando toda referência à ontologia.Diante dessas recusas, seria possível perguntar: por que a insistência? Por que ontologia? Naturalmente,toda a Ontologia do ser social é uma resposta fundamentada a essas perguntas. Para oferecer uma justifica-tiva sintética e, talvez se possa dizer, incontestável em sua simplicidade, é suficiente repetir, com Bhaskar, que,uma vez que a “filosofia tem horror ao vácuo ontológico”1, toda posição teórica de recusa à ontologia épuramente nominal, pois está fundada sobre uma tácita ontologia pressuposta por sua epistemologia (BHASKAR,1994, p. 48). Em outras palavras, toda reivindicação de conhecimento tem por pressuposto uma ideia, por geralque seja, da constituição do objeto do qual se reclama conhecimento. Em consequência, impugnar a ontologiasignifica adotar de forma acrítica concepções substantivas sobre o mundo. Por contraste, admitir o caráterincontornável da ontologia implica a necessidade de investigar as concepções que fundam nossas ideias e aspráticas que elas facultam. Dito em outros termos, antes ter consciência da ontologia que informa nossas açõesdo que agir com base em noções irrefletidas sobre a realidade e que podem ser simplesmente falsas, pois sãoirrealizáveis as finalidades das práticas que se baseiam em noções falsas. Pode-se concluir, por conseguinte,que a ênfase na ontologia tem a verdade como corolário.Thompson (1978, p. 138), em sua crítica ao ex-comunista Kolakowski, oferece uma ilustração inte-ressante da questão ao assinalar que nós humanos, por possuirmos os “atributos de agentes morais ou deseres racionais”, significamos compulsivamente. E o fazemos simplesmente porque nosso agir é teleológico,intencional. Pôr uma finalidade e agir em conformidade pressupõe, é evidente, uma figuração do mundo uma ontologia, cuja conformidade com a realidade é condição para a consecução da finalidade. Existe umincontornável nexo entre figuração de mundo, cuja norma básica é a “adequação representativa ou descri-tiva – ou verdade –, e prática humano-social, cuja norma básica é a realização ou satisfação dos desejos,necessidades ou propósitos humanos”, de modo que, se há fundamentos reais para as crenças e, ipso facto,para as ações nelas baseadas, o erro sobre esses fundamentos reais ou a falha em capturar sua verdaderesulta na impossibilidade de satisfação dos desejos e necessidades (BHASKAR, 1986, p. 206). Em suma,erro na teoria, fracasso na prática.Tão mais relevante é a consideração explícita da ontologia subjacente às teorias porque, verdadeiras ou falsas,[...] todas as representações ontológicas dos seres humanos, independentemente do grau de consciên-cia em que isso ocorre, são amplamente influenciadas pela sociedade, e não vem ao caso se o compo-nente dominante é o da vida cotidiana, o da fé religiosa etc. Essas representações cumprem um papel

19A ontologia de Lukács e a restauração da crítica ontológica em MarxR. Katál., Florianópolis, v. 16, n. 1, p. 17-25, jan./jun. 2013extremamente influente na práxis social dos seres humanos, condensando-se com frequência em umpoder social real (LUKÁCS, 2004, p. 117).Compreende-se, assim, o esforço de Lukács para a construção de uma ontologia no interior do marxis-mo ou a importância que assume para ele a explicitação do fundamento ontológico do pensamento marxiano. (...)


A ontologia de Lukács e a restauração da críticaontológica em MarxMario DuayerUniversidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)María Fernanda EscurraUniversidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)A ontologia de Lukács e a restauração da crítica ontológica em Marx  

 

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