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25. As categorias internas da sociedade burguesa e as classes
Se consideramos um dado país de um ponto de vista político-econômico, começamos com sua
população, sua divisão em classes, a cidade, o campo, o mar, os diferentes ramos de produção,
a importação e a exportação, a produção e o consumo anuais, os preços das mercadorias etc.
Parece ser correto começarmos pelo real e pelo concreto, pelo pressuposto efetivo, e, portanto,
no caso da economia, por exemplo, começarmos pela população, que é o fundamento e o
sujeito do ato social de produção como um todo. Considerado de maneira mais rigorosa,
entretanto, isso se mostra falso. A população é uma abstração quando deixo de fora, por
exemplo, as classes das quais é constituída. Essas classes, por sua vez, são uma palavra vazia
se desconheço os elementos nos quais se baseiam. P. ex., trabalho assalariado, capital etc.
Estes supõem troca, divisão do trabalho, preço etc. O capital, p. ex., não é nada sem o trabalho
assalariado, sem o valor, sem o dinheiro, sem o preço etc. Por isso, se eu começasse pela
população, esta seria uma representação caótica do todo e, por meio de uma determinação
mais precisa, chegaria analiticamente a conceitos cada vez mais simples; do concreto
representado [chegaria] a conceitos abstratos [Abstrakta] cada vez mais finos, até que tivesse
chegado às determinações mais simples. Daí teria de dar início à viagem de retorno até que
finalmente chegasse de novo à população, mas desta vez não como a representação caótica de
um todo, mas como uma rica totalidade de muitas determinações e relações. (...)
Seria impraticável e falso, portanto, deixar as categorias econômicas sucederem-se umas às
outras na sequência em que foram determinantes historicamente. A sua ordem é determinada,
ao contrário, pela relação que têm entre si na moderna sociedade burguesa, e que é exatamente
o inverso do que aparece como sua ordem natural ou da ordem que corresponde ao
desenvolvimento histórico. Não se trata da relação que as relações econômicas assumem
historicamente na sucessão de diferentes formas de sociedade. Muito menos de sua ordem “na
ideia” ([como em] Proudhon) (uma representação obscura do movimento histórico). Trata-se,
ao contrário, de sua estruturação no interior da moderna sociedade burguesa. (...)
Evidentemente, é preciso fazer a subdivisão da seguinte maneira: 1) as determinações
universais abstratas, que, por essa razão, correspondem mais ou menos a todas as formas de
sociedade, mas no sentido explicado acima. 2) As categorias que constituem a articulação
interna da sociedade burguesa e sobre as quais se baseiam as classes fundamentais. Capital,
trabalho assalariado, propriedade fundiária. As suas relações recíprocas. Cidade e campo. As
três grandes classes sociais. A troca entre elas. Circulação. Sistema de crédito (privado). 3)
Síntese da sociedade burguesa na forma do Estado. Considerada em relação a si mesma. As
classes “improdutivas”. Impostos. Dívida pública. Crédito público. A população. As colônias.
Emigração. 4) Relação internacional da produção. Divisão internacional do trabalho. Troca
internacional. Exportação e importação. Curso do câmbio. 5) O mercado mundial e as crises.
Grundrisse. Manuscritos económicos de 1857-1858. Esboços da crítica da economia política
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