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53. Maneira de ver proletária
É um fenómeno inevitável, fundado no curso do desenvolvimento, que pessoas das classes até
aqui dominantes se juntem ao proletariado que luta e lhe tragam elementos de cultura. Já
falámos disso claramente no Manifesto. Aqui há, porém, duas coisas a observar:
Primeiro, essas pessoas, para serem úteis ao movimento proletário, têm de trazer consigo
elementos de cultura reais. (…) Em segundo lugar. Se essas pessoas de outras classes se
juntam ao movimento proletário, a primeira exigência é a de que elas não tragam consigo
nenhuns restos de pré-juízos burgueses, pequeno-burgueses, etc, mas se apropriem com
franqueza da maneira de ver [Anschauungsweise] proletária. (…)
No que nos diz respeito, com todo o nosso passado, só nos fica um caminho aberto. Desde há
quase 40 anos que pusemos em evidência a luta de classes como poder motor próximo da
história e, especialmente, a luta de classes entre burguesia e proletariado, como a grande
alavanca do revolucionamento social moderno; é impossível, portanto, acompanharmos com
pessoas que querem riscar esta luta de classes do movimento. Aquando da fundação
da Internacional, formulámos expressamente o grito de guerra: a libertação da classe operária
tem de ser obra da própria classe operária. Não podemos, portanto, acompanhar com pessoas
que abertamente afirmam que os operários são demasiado incultos para se libertarem a si
próprios e que só a partir de cima têm de ser libertados, por grandes e pequenos burgueses
filantrópicos.
Karl Marx e Friedrich Engels: Carta Circular a A. Bebel, W. Liebknecht, W. Bracke e Outros, 17-18 de
Setembro de 1879
54. A luta de classes como lei histórica (Engels)
Marx foi o primeiro a descobrir a grande lei do movimento da história, a lei segundo a qual
todas as lutas históricas travadas no âmbito político, religioso, filosófico ou em qualquer outro
campo ideológico são de fato apenas a expressão mais ou menos nítida de lutas entre classes
sociais, a lei segundo a qual a existência e, portanto, também as colisões entre essas classes 51
são condicionadas, por sua vez, pelo grau de desenvolvimento da sua condição econômica,
pelo modo da sua produção e pelo modo do seu intercâmbio condicionado pelo modo de
produção. Essa lei, que para a história tem a mesma importância do que a lei da transformação
da energia para a ciência natural – essa lei lhe proporcionou, também nesse caso, a chave para
a compreensão da história da Segunda República francesa.
Engels, Prefácio à terceira edição de O 18 de Brumário de Louis Bonaparte, de 1885
55. Reduzir os conflitos políticos a lutas de interesses das classes
sociais (Engels)
A clara visão de conjunto sobre a história económica de uma dado período nunca lhe é
simultânea, só posteriormente se conquista, após realizados a recolha e o exame do material. A
estatística é aqui um meio auxiliar necessário, e segue sempre atrás coxeando. No respeitante à
história contemporânea corrente seremos por isso demasiadas vezes obrigados a tratar esse
factor, o mais decisivo de todos, como constante, a situação económica encontrada no começo
do período em causa como dada e imutável para todo o período, ou apenas a tomar em
consideração aquelas transformações dessa situação que derivam dos próprios acontecimentos
manifestamente patentes e que, por conseguinte, igualmente se manifestam com clareza à luz
do dia. Por tal motivo, o método materialista terá demasiadas vezes de se limitar a reduzir os
conflitos políticos a lutas de interesses das classes sociais e fracções de classes presentes,
dadas pelo desenvolvimento económico, e a demonstrar que cada um dos partidos políticos é a
expressão política mais ou menos adequada dessas mesmas classes ou fracções de classes.
Introdução de Friedrich Engels à edição de 1895 de As Lutas de Classes em França de 1848 a 1850
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