«Todo
o futuro é fabuloso», escreve Alejo Carpentier. Será? E será uma fábula
feliz ou uma efabulação quimérica? A resposta está no presente, aquele
que hoje vivemos, que é o de uma sociedade de medo. Foi isto
que desaprendemos com a pandemia: o medo dos outros ou de nós próprios
fechou-nos numa vida em zapping, mergulhou-nos em identidades ilusórias
no Facebook, avassalou-nos com imagens dominadas pelo tribalismo - seja
de religiões fanatizadoras, seja de supremacismo agressivo. O nosso
mundo está a mudar e ressurgem fantasmas do passado, a necropolítica,
que usa a destruição como normalização, e a bufonaria, que eleva títeres
ao poder fazendo com que, como adivinhava Foucault, «o grotesco seja um
dos procedimentos essenciais da soberania arbitrária».
O Futuro Já Não É o Que Nunca Foi discute esta modernidade destroçada.
Mostra como o predomínio da intoxicação nas redes sociais constitui uma
tecnologia da razão sonâmbula, com um regime de avalancha que esgota a
informação e que se constitui como arma do capitalismo tardio, com a
plataformização do trabalho e a vigilância dos dados da nossa vida.
Tornámo-nos cobaias do maior espaço social que existe, sem regras que
não sejam as da privatização por um mercado totalitário, e é nele que
nasce a agressividade da extrema-direita trumpista, ou da multidão dos
seus seguidores. A resposta, urgente, é a luta pela democracia como
força emancipatória e como responsabilidade social. Este livro
propõe-lhe que nem espere nem desespere: é no presente que definimos a
nossa vida.
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