Este livro parte da ideia de que pela primeira vez na
História a acumulação de capital é planetária e que todos
os limites extraeconómicos que impediam a expansão do
capitalismo foram superados, apesar dos conflitos militares
regionais que persistem e que, acidentalmente, poderão
generalizar-se e comprometer a sua obra. Os antigos países
do socialismo «real» e o «contrato social» sobre o qual se
erguia o Estado de bem-estar europeu constituíam os
principais obstáculos que impediam, no passado, a sua
hegemonia triunfante. A derrocada de ambos teve como
principal consequência um nivelamento minimalista dos
direitos sociais e um aprofundamento das desigualdades a
nível mundial.
O inquérito inicia-se com a análise das transformações na
organização do trabalho, realçando as diferenças entre o
taylorismo-fordismo e o just in time. Em seguida, aborda
duas vertentes fundamentais do capitalismo realmente
existente: a globalização financeira e as deslocalizações,
com as suas consequências destrutivas sobre o modelo
social europeu e o contrato social-democrata. Não esquece
também a relação entre o império da mercadoria e a
degradação ambiental, bem como as fracturas que se
escondem por detrás do mundo aparentemente harmonioso
da comunicação globalizada. Mas o capitalismo realmente
existente não é eterno. Por isso, o ensaio aborda ainda um
conjunto de alternativas políticas possíveis à sua
hegemonia, tentando romper com o dogma dominante de
que apenas resta à humanidade render--se embevecida e
até reverente e agradecida perante o seu triunfo
definitivo.
Analisa-se
neste livro a relação entre trabalho produtivo e acumulação de capital
desde a época do mercantilismo. Parte-se da hipótese de que não é a
forma material ou imaterial do produto do trabalho que determina se este
é ou não produtivo, mas a função que ele desempenha no processo global
de acumulação de capital. O capital é concebido como uma relação de
produção em que trabalhadores assalariados produzem uma mais-valia para
os proprietários dos meios de produção, que não se limitam a consumi-la
improdutivamente, mas a reinvesti-la periodicamente no processo
produtivo.
Pretendendo demonstrar que com o desenvolvimento do capitalismo a esfera
do trabalho produtivo se alarga para além do processo de produção
material -- porque a ciência se transforma numa força produtiva e, por
conseguinte, num instrumento de valorização do capital --, afirma-se
também que a revolução cibernética converte uma parte crescente do
trabalho intelectual em trabalho produtivo. No entanto, como a
desigualdade na repartição de rendimentos não parou de aumentar desde os
anos oitenta do século passado, estas transformações tecnológicas não
contribuíram para a melhoria das condições de existência de todos mas
apenas para o incremento do sobre trabalho que sustenta a acumulação de
capital.
Embora possa ser lido autonomamente, Trabalho produtivo e acumulação de capital completa uma trilogia iniciada com os ensaios O Luxo na Formação do Capitalismo e Inquérito ao Capitalismo Realmente Existente, publicados, respetivamente, em 2005 e 2009, também nas Edições Afrontamento.
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