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quinta-feira, 17 de março de 2022

Os interesses do Movimento

 Já escrevi aqui que há uma derrota do movimento socialista-comunista (para não confundirmos com partidos chamados por eles mesmos de "socialistas" e que, na realidade, sempre foram social-democratas) na medida em que os "mídia" demonizaram Putin e endeusaram Zelensky, selando assim e é isso que importa, o entendimento das populações relativamente à ascensão do nazi-fascismo e aos reais interesses económicos e geoestratégicos do imperialismo, muito particularmente do império norte-americano. Além de isolarem com a propaganda os partidos comunistas que votaram contra as resoluções e moções, engrossando o coro dos fascistas.

  Contudo, também há derrotas do imperialismo. Derrota militar no campo da guerra apesar de toda a escalada, desistência de pedincharem a entrada na NATO, aceitarem não só esta principal exigência da Rússia mas também de não continuarem a guerra contra as repúblicas agora reconhecidas pela Rússia (onde se refugiaram todos os comunistas e sindicalistas que puderam), derrota do plano de cercarem ainda mais a Rússia com países submissos e bases da NATO, derrota parcial (mas muito importante) no plano de impedirem a vasta organização económico-militar-politica do campo euroasiático anti-imperialista (pois inclui a China). Enfim, prejuízos para a hegemonia mundial dos interesses económicos dos oligarcas norte-americanos.

   O que mais importa para as forças progressistas é que a Ucrânia deixe de constituir um fortim do nazi-fascismo internacional, um território de treinamento militar e ideológico. É provável que a Ucrânia ocidental não os prenda após a sua derrota militar. Contudo, já será menor o perigo para as forças do progresso.

  Reduzir os acontecimentos a uma guerra inter-imperialista é não enxergar um palmo à frente do nariz. Na prática significa ajudar a demonização dos "eslavos", do "louco Putin", dos russos reduzidos aos oligarcas mafiosos, A imagem fabricada pelo racismo ocidental. Ninguém se iludiu de que a Rússia de Putin é capitalista ; nem sequer à ilude de que os negócios do grande capital acabarão por prevalecer de um lado e do outro. Porém, o inimigo da humanidade é, continua a ser desde há mais de setenta anos, o imperialismo norte-americano. É ele que ataca tudo que não se submeta aos seus negócios. Quando nos opusemos à invasão do Iraque não foi porque adorássemos o seu ditador. Foi contra uma guerra onde são unicamente os povos e os trabalhadores que morrem. Foi contra os planos imperialistas (EUA, Grã-Bretanha, França) para dominarem o médio oriente. É contra o militarismo israelita, não porque gostemos de fundamentalismos xiitas ou sunitas.

  É visível que as forças da Esquerda continuam em refluxo na Europa. É bem provável que venham a estar, que estejam já, muito prejudicadas junto da chamada opinião pública por causa da Ucrânia. Porém, a "opinião pública" não é uma coisa, é um estado de espírito que varia de um momento para o outro.

  Marx, de que certos marxistas "radicais" gostam de soletrar o nome muitas vezes, apreciou a guerra civil americana e classificou como progresso a luta dos nortistas contra os sulistas, admirou a figura de estadista de Lincoln (não estamos a equiparar Putin com ele) naquele processo, entendeu que a libertação dos escravos era o início da sua nova condição de assalariados e isso era um progresso histórico. Marx entendia os acontecimentos pelo método dialético, e nisso lembra Hegel. No Manifesto Comunista fala-se claramente de preservar e fortalecer o Movimento Comunista nos acordos e nas alianças, na capacidade tática de ver o que beneficia e o que prejudica.

  Combater a hegemonia dos EUA é um objetivo central. Saber extrair progressos para as lutas do Trabalho contra o Capital de cada acontecimento, é uma tarefa categórica.

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