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segunda-feira, 26 de setembro de 2022
sábado, 24 de setembro de 2022
Textos e controvérsias sobre "classes sociais" -1
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quarta-feira, 21 de setembro de 2022
ÉTICA- Prolegómenos
Desta Declaração quantos direitos estão efetivamente cumpridos no mundo, ou mesmo em qualquer país em determinados enunciados ?
Por conseguinte, são direitos universais, foram aprovados por todos países do planeta na ONU, mas não são cumpridos. E será utópico, ilusório, esperar que sejam cumpridos. Para que os direitos fundamentais (digamos ontológicos) fossem cumpridos, seria necessária outra sociedade e civilização, outra(s) classe(s) social e outros seres humanos.
Só se apresenta a solução aconselhada pelo Poeta António Machado : fazer o caminho, caminhando.
Denunciando a mentira e a hipocrisia. Essa finalidade última da Ideologia.
ÉTICA-Prolegómenos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos
Declaração Universal dos Direitos Humanos
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo;
Considerando que o desconhecimento e o desprezo dos direitos do homem conduziram a actos de barbárie que revoltam a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os seres humanos sejam livres de falar e de crer, libertos do terror e da miséria, foi proclamado como a mais alta inspiração do homem;
Considerando que é essencial a protecção dos direitos do homem através de um regime de direito, para que o homem não seja compelido, em supremo recurso, à revolta contra a tirania e a opressão;
Considerando que é essencial encorajar o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações;
Considerando que, na Carta, os povos das Nações Unidas proclamam, de novo, a sua fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres e se declaram resolvidos a favorecer o progresso social e a instaurar melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla;
Considerando que os Estados membros se comprometeram a promover, em cooperação com a Organização das Nações Unidas, o respeito universal e efectivo dos direitos do homem e das liberdades fundamentais;
Considerando que uma concepção comum destes direitos e liberdades é da mais alta importância para dar plena satisfação a tal compromisso:
A Assembleia Geral
Proclama a presente Declaração Universal dos Direitos do Homem como ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações, a fim a que todos os indivíduos e todos os órgãos da sociedade, tendo-a constantemente no espírito, se esforcem, pelo ensino e pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos e liberdades e por promover, por medidas progressivas de ordem nacional e internacional, o seu reconhecimento e a sua aplicação universais e efectivos tanto entre as populações dos próprios Estados membros como entre as dos territórios colocados sob a sua jurisdição.
Artigo 1.º
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.
Artigo 2.º
Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.
Artigo 3.º
Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo 4.º
Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos.
Artigo 5.º
Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.
Artigo 6.º
Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento em todos os lugares da sua personalidade jurídica.
Artigo 7.º
Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
Artigo 8.º
Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições
nacionais competentes contra os actos que violem os direitos
fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei.
Artigo 9.º
Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Artigo 10.º
Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja
equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e
imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de
qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida.
Artigo 11.º
- Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas.
- Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido.
Artigo 12.º
Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua
família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua
honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem
direito a protecção da lei.
Artigo 13.º
- Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado.
- Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país.
Artigo 14.º
- Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países.
- Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas.
Artigo 15.º
- Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade.
- Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade.
Artigo 16.º
- A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais.
- O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos.
- A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado.
Artigo 17.º
- Toda a pessoa, individual ou colectiva, tem direito à propriedade.
- Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade.
Artigo 18.º
Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.
Artigo 19.º
Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o
que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de
procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras,
informações e ideias por qualquer meio de expressão.
Artigo 20.º
- Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas.
- Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.
Artigo 21.º
- Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios públicos do seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos.
- Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país.
- A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos; e deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto.
Artigo 22.º
Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social;
e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos,
sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à
cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de
cada país.
Artigo 23.º
- Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego.
- Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual.
- Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social.
- Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses.
Artigo 24.º
Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres e, especialmente, a
uma limitação razoável da duração do trabalho e a férias periódicas
pagas.
Artigo 25.º
- Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.
- A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimónio, gozam da mesma protecção social.
Artigo 26.º
- Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional deve ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito.
- A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz.
- Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de educação a dar aos filhos.
Artigo 27.º
- Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam.
- Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria.
Artigo 28.º
Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano
internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os
direitos e as liberdades enunciadas na presente Declaração.
Artigo 29.º
- O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade.
- No exercício deste direito e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática.
- Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas.
Artigo 30.º
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de
maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o
direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto
destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.
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terça-feira, 20 de setembro de 2022
Sem papas na língua de quem co nhece bem os meandros
ALFBARROSOFACEBOOKNEWSLETTER
«Amigos» + «Seguidores»: 21.954 (16/09/2022)
Alfredo Barroso foi um dos fundadores do PS
(retratos de todos os primeiro-ministros do PS)
Esta colecção de retratos ilustra bem um PS que tem andado sempre, sempre atrás da "superpotência vadia", os EUA, e do seu longo braço armado na Europa, a NATO - sobretudo desde que esta deixou de ser uma organização militar meramente defensiva e se transformou numa organização militar ofensiva, agressiva e expansionista...
NÃO HÁ DÚVIDA DE QUE OS SOCIALISTAS, SOCIAL-DEMOCRATAS E TRABALHISTAS SÃO UNS 'QUERIDOS' A APOIAR GUERRAS DA NATO
- lembra Alfredo Barroso, depois de ouvir António Costa a apoiar incondicionalmente a guerra indirecta da NATO contra a Rússia
Ainda antes da vergonhosa atitude de Ferro Rodrigues em relação à invasão do Iraque (2003), quando ele era o secretário-geral do PS, é bem verdade que já ninguém se lembra do António Guterres PM e secretário-geral do PS, activo apoiante de uma NATO "agressora", a bombardear criminosamente Belgrado, no "Apocalipse Côr-de-Rosa", como eu lhe chamei num texto publicado no 'Expresso' em 10 de Abril de 1999. Aqui vai um excerto do que então escrevi:
- «Acontece que os Estados Unidos decidiram mandar às urtigas não só a Carta das Nações Unidas mas também a Carta do Atlântico - desrespeitando não apenas as regras do Direito Internacional pelas quais se rege a ONU, mas também as regras do Direito Internacional pelas quais se rege a NATO. A ONU foi pura e simplesmente posta à margem e a NATO deixou de ser considerada uma organização meramente defensiva. Mesmo os princípios do Direito inscritos nas Constituições da maior parte dos países europeus membros da NATO foram vergonhosamente ignorados e desrespeitados. Como, ainda há dias, oportunamente lembrou Vasco Graça Moura, o Presidente da República "não declarou guerra a ninguém", e todavia Portugal está envolvido numa "guerra de agressão", sendo certo que, nos termos da Constituição, o Presidente da República só pode declarar a guerra em caso de agressão efectiva ou iminente e tem, para isso, de ser autorizado pela Assembleia da República.
«Deve ser esta uma das consequências da "terceira via", que tanto inspira o inefável Tony Blair; ou do "novo centro", que tanto inspira o insuportável Gerard Schöder; para já nem falar da "nossa via", que tanto inspira o engenheiro António Guterres. Desprovidos de quaisquer fundamentos teóricos, navegando à vista, sem bússola e sem rumo, completamente obcecados pela conjuntura económica e pelos mercados financeiros, os social-democratas europeus, hoje no poder, traíram os ideais do socialismo democrático e estão a cavar a sua própria sepultura sob os escombros do "apocalipse cor-de-rosa" que desencadearam nos Balcãs. A insensatez, a subserviência e o seguidismo irresponsável do governos social-democratas europeus em relação à arrogância do poder imperial dos Estados Unidos são, de facto, perfeitamente escandalosos. Como escreveu o insuspeito guru dos geopolíticos americanos, Samuel Huntington, na revista 'Foreign Affairs': "Os Estados Unidos, ao mesmo tempo que denunciam vários países como 'Estados vadios', estão eles próprios a tornar-se, para inúmeros países, uma superpotência vadia"».
E os social-democratas são os lacaios da "superpotência vadia".
Escrevi isto há já 23 anos, e parece-me que a trágica história deste primeiro quartel do século XXI me tem dado razão, a mim e a Samuel Huntington (passe a ousadia de me comparar a ele): no Afeganistão, no Iraque, na Líbia, na Síria, na Somália, e agora também na Eurásia, que 'Donkey' Joe Biden Robinette, actual presidente da "superpotência vadia", os EUA, quer dominar a todo o custo, para ameaçar a China.
Campo d'Ourique, 13 de Setembro de 2022
QUANDO A SOCIAL-DEMOCRACIA OPTA POR POLÍTICAS DE DIREITA E É BELICISTA, O MAIS NATURAL É QUE A DIREITA A SUBSTITUA...
- comenta Alfredo Barroso, nada espantado com a derrota da social-espevitada, belicista e demissionária primeira-ministra sueca
Ainda ontem, dia 14, assisti, nem sei em que 'canalização' da TQT, a um debate entre um cromo sabichão e torrencial do PS (estilo sabe tudo) e um cromo sabichão e presunçoso da extrema-direita do PPD-PSD, e - "ach du mein himmelischer vater!" ("oh deus do céu!") - não é que estavam sempre de acordo, expresso ou tácito!?
Desde os últimos anos do século XX e os primeiros anos do século XXI que os socialistas, social-democratas e trabalhistas da Internacional um Socialista acham que a única maneira de se aguentarem no poder é governarem, mais ou menos ou assim-assim, à direita, muito pró-neoliberais, pró-NATO e pró-Império Americano (para disfarçar, eles recorrem ao eufemismo "atlantistas"). Lógica terrível!
Na viragem dos séculos, se bem se lembram, todos eles cometeram o mesmo erro: adeptos da 'Terceira Via', macaquearam a direita - com Tony Blair, o 'grande imitador', à cabeça -, apoiaram as guerras da NATO/EUA (Kosovo, bombardeamentos de Belgrado) e acabaram por ser varridos do poder sem glória, logo eles que detinham a maioria do Governos da Europa Ocidental. E hoje são reincidentes e parece que não aprenderam nada, zero! Resultado: muitos dos seus eleitores vão distanciar-se ou abandoná-los, quer para a abstenção, quer para a direita, quer para a esquerda radical. Bem feita!
Campo d'Ourique, 15 de Setembro de 2022
EH PÁ, MAS QUE GAJOS MARAVILHOSOS ESTES NEONAZIS SUECOS!
- é o que deve achar o jornalismo NATO, que já conseguiu transformar os neonazis ucranianos em democratas e patriotas combatentes da liberdade e da democracia no Ocidente (incluindo a portuguesa)
O mesmíssimo jornal NATO que, em 21 de Junho de 2020, em grandes parangonas, relatava «como a Ucrânia se transformou no maior viveiro de neonazis do mundo» (com ligações a Portugal) e num «campo de treino militar para a extrema-direita mundial» - referindo os «milhares de estrangeiros [que] combateram em milícias [neonazis] contra os separatistas pró-russos no Leste do país» -, esse mesmo jornal NATO já se esqueceu de toda essa 'merda' neonazi que pôs a descoberto, e parece agora regozijar-se que um partido neonazi se transforme, qual 'camaleão político', num partido de poder, isto é, no protagonista de uma 'grande proeza', dada a mestria da sua 'camuflagem'...
Perante esta 'sem-vergonha", eu clamo: abaixo o jornalismo NATO, pró-imperialismo americano, pró-seguidismo e pró-servilismo dos europeus - a que já nem faltará a miraculosa palavra de ordem do 'Donkey' Joe Biden Robinette: "Rastejar até mim»!!!
Campo d'Ourique, 16 de Setembro de 2022
Origens do marxismo em Portugal
Está aqui
Marxismo em Portugal: o contributo de José Fernandes Alves
Em Fevereiro de 1931, faleceu em Lisboa uma “figura grada” na história do marxismo em Portugal. Seu nome era José Fernandes Alves.
Além de traduzir e divulgar, ele utilizou o marxismo como referência teórica na sua ação, salientando-se na defesa do feminismo e da autonomia de classe do movimento operário.
Foi um destacado sindicalista, no seu sector profissional (operário gráfico) e na velha Associação dos Trabalhadores na Região Portuguesa (um protótipo de central sindical, que já vinha de 1873).
Ainda participou, em 1914, na fundação do que viria a ser a CGT (Confederação Geral do Trabalho, inicialmente chamada União Operária Nacional).
A nível político foi dirigente do antigo Partido Socialista Português (fundado em 1875), e chegou a ser um autarca da cidade de Lisboa, como secretário da Junta de Freguesia de S. Engrácia (hoje integrada na freguesia de S. Vicente).
A Voz do Operário
José Fernandes Alves distinguiu-se sobretudo pelo seu contributo na imprensa. Em particular a partir de 1903, quando assumiu a redação do que seria o maior jornal operário português (com uma tiragem que iria chegar a atingir setenta mil exemplares): A Voz do Operário.
Ele foi também, em 1908, um dos principais responsáveis por uma segunda experiência de diário operário em Portugal, intitulado A Greve. Onze anos antes de surgir o mais célebre e duradouro jornal A Batalha.1
Em 1930, Fernandes Alves ainda foi um dos fundadores e primeiros diretores da revista antifascista Pensamento, sediada no Porto. A qual acabou encerrada pela ditadura na mesma altura que o jornal O Diabo (no final de 1940).
A primeira versão portuguesa de O Capital de Marx
Foi com José Fernandes Alves à frente da sua redação que A Voz do Operário publicou a primeira edição em língua portuguesa de O Capital de Karl Marx – num formato de folhetim semanal, entre Agosto de 1911 e Abril de 1912.
Quando surgiram em Lisboa duas edições em livro, ainda em 1912, uma delas reproduziu essa tradução que já tinha saído em A Voz do Operário.
É certo que era apenas uma versão resumida (pelo socialista francês Gabriel Deville), e somente do livro primeiro de O Capital. Mas tratou-se ainda assim de um resumo substancial (com 180 páginas no formato em livro). E não só foi esta a primeira versão em língua portuguesa de O Capital de Marx como terá sido porventura a maior até hoje, considerando que A Voz do Operário tinha nessa altura uma tiragem de 52 mil exemplares.
A tradução parece ter ficado a cargo de um operário da Imprensa Nacional, Albano de Morais.
A mulher e o socialismo de August Bebel
Uma das particularidades do pensamento e da ação de José Fernandes Alves foi a defesa da causa feminista. Com uma postura muito avançada, num contexto em que a Primeira República negava o direito de voto às mulheres.
Era um tempo em que mesmo alguns dirigentes sindicais e operários ainda pretendiam negar o direito das mulheres ao trabalho remunerado, não só por uma influência cultural retrógrada mas também numa postura defensiva face a práticas de dumping social. Entre o patronato não faltava quem empregasse mulheres como tática para baixar o nível salarial, o que foi particularmente vincado, por exemplo, no sector da indústria tabaqueira em Lisboa.
A preocupação feminista esteve bem presente na divulgação do marxismo em Fernandes Alves. Foi sob a sua responsabilidade, e com uma tradução feita por ele próprio, que a A Voz do Operário publicou a obra A mulher e o socialismo, de August Bebel – no mesmo formato e pela mesma altura da referida edição de O Capital.
Trata-se aqui de um dos livros marxistas mais divulgados na época anterior à Primeira Guerra Mundial (1914/18). Além de expor uma perspetiva geral de revolução social, foi um marco no abraço do movimento socialista internacional à causa da emancipação feminina, pela igualdade de direitos entre homens e mulheres.2
Este livro teve um significado acrescido pelo prestígio do seu autor: próximo de Marx e de Engels, August Bebel foi um dos “pais fundadores” do movimento operário na Alemanha e a nível internacional, várias vezes preso político, amplamente admirado pela sua coragem e coerência. Quando faleceu, em 1913, até Lenine, já então tão crítico da velha social-democracia, lhe dedicou uma biografia no Pravda, enaltecendo Bebel como um “modelo” na defesa do marxismo.
Fernandes Alves também traduziu e publicou textos de diversas figuras centrais na história do marxismo no seu tempo, como Paul Lafargue, Karl Kautsky e Eduard Bernstein. E foi um dos primeiros divulgadores de uma obra de Lenine em Portugal.3
De outros autores, ele trouxe à língua portuguesa textos com títulos como “Resumo das três principais teorias do marxismo”, “Karl Marx e a sua obra” ou “Bosquejo do socialismo científico”.
Determinismo económico
Na história do marxismo em Portugal, José Fernandes Alves tem este lugar de divulgador e tradutor. Mas ele admirava Marx enquanto teórico e igualmente como homem de ação, em particular na Associação Internacional dos Trabalhadores (a Primeira Internacional, fundada em 1864).
Pois que dizer da leitura e uso que Fernandes Alves deu ao marxismo, enquanto “ferramenta” na sua própria ação militante?
Para defender uma reforma agrária coletivista em Portugal, usou como referência a abordagem de Marx ao impacto da revolução industrial na agricultura, em O Capital, por exemplo. Mas parece ter-se entusiasmado sobretudo com o Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels. A seu ver, este livro continuava a representar um programa do “socialismo ativo”.
Fernandes Alves não pôde porém conhecer uma parte substancial da obra de Marx, que só veio a ser publicada já depois da sua morte, incluindo trabalhos tão relevantes como os Manuscritos Económico-filosóficos de 1844 ou os Grundrisse.
Nesse contexto, subscreveu uma leitura mais determinista do marxismo que teve voga pela primeira metade do século XX. Afirmou mesmo que o regime capitalista estava condenado a um “fim fatal”, por uma evolução económica que conduziria “invariavelmente” ao coletivismo (em O Socialismo Internacional, 1930).
Este tipo de leitura tinha uma certa base em Marx, não apenas no Manifesto Comunista mas também em O Capital, onde, no capítulo sobre a tendência histórica da acumulação capitalista, se foi ao ponto de afirmar que o capitalismo “engendra a sua própria negação com a fatalidade que preside às evoluções da natureza” (na tradução de Albano de Morais).
Tal ideia dava certamente um élan de esperança. Mas houve quem contestasse. Foi o caso, por exemplo, de Rosa Luxemburgo, ao contrapor que “a vitória do socialismo não cairia do céu como uma fatalidade”. Perante a carnificina da Primeira Guerra Mundial, ela afirmou que o cenário real era o de “um dilema na história do mundo, uma alternativa ainda indecisa” entre socialismo ou barbárie.4
Esse grau de incerteza sublinhava, afinal, a “tarefa de transformação consciente da sociedade”, na expressão de Georg Lukacs.5
Solidariedade internacionalista
Uma das ideias de Marx mais evocadas por José Fernandes Alves era a que ficou consagrada na frase final do Manifesto Comunista e da Declaração Inaugural da Primeira Internacional: “Proletários de todo o Mundo, uni-vos!”
Todavia, perante a Primeira Guerra Mundial, ele foi mais um, de tantos, no movimento operário internacional (quer na antiga corrente social-democrata, quer no campo do anarquismo) que quebraram essa solidariedade universalista, tomando partido por um dos nacionalismos em conflito. Em Portugal, Fernandes Alves, e muitos outros, declararam apoio ao Estado francês e aliados, contra a Alemanha do kaiser Guilherme II.
Assim se desagregou e colapsou a Segunda Internacional, que tinha sido fundada em 1889. E havia prometido impedir a guerra, fosse por via de greves gerais ou mesmo de insurreições.
Mas houve quem, contra a corrente, se erguesse em defesa do internacionalismo. Não apenas marxistas como Rosa Luxemburgo e Lenine mas anarquistas como Emma Goldman e Enrico Malatesta. Em Portugal isso também aconteceu, com destaque para os anarquistas Neno Vasco, Aurélio Quintanilha e Manuel Joaquim de Sousa (futuro secretário-geral da CGT).6
Autonomia de classe
O aspeto no qual porventura terá sido mais visível o uso do marxismo como “ferramenta política”, em José Fernandes Alves, terá sido na análise do movimento republicano e do regime da Primeira República. Com uma postura de distanciamento crítico, e de ênfase na defesa da autonomia de classe do movimento operário.
Era um problema central. Nos últimos anos da monarquia, a dinâmica republicana cativou muitos elementos de diferentes correntes do movimento operário em Portugal. E na resistência a essa sedução não estiveram apenas socialistas e anarquistas. Mesmo sindicalistas republicanos, por exemplo no setor dos empregados do comércio, criticaram a postura de muitos trabalhadores se entusiasmarem com a política republicana, mas descurarem o seu sindicato e a defesa dos seus interesses laborais e de classe.
Fernandes Alves foi um expoente dessa resistência. Ele que, à semelhança de outros socialistas portugueses da época, como Angelina Vidal e Ladislau Batalha, até tinha começado por ser republicano, na sua juventude, antes de se tornar socialista.
A Voz do Operário, cuja redação ele assumiu em 1903, era um jornal onde colaboravam socialistas e republicanos. Até 1904. Ocorreu então um conflito laboral em Lisboa: de um lado proprietários de jornais, do outro lado operários das tipografias privativas desses jornais. Além de reivindicações ao nível de salário e horário de trabalho, estava em causa uma experiência pioneira de contratação coletiva.7
Aconteceu que os patrões republicanos alinharam com os patrões monárquicos, na renúncia ao acordo assinado com os trabalhadores. E partiram para um lockout – protegidos pelo Estado monárquico.
À frente do comité de luta dos trabalhadores estava José Fernandes Alves. Sofreu então a represália de ser despedido do seu posto de trabalho, na tipografia do Diário de Notícias.
Foi uma luta que os trabalhadores perderam, no momento, mas que terá despertado um incremento na organização sindical dos operários gráficos.
Veio pouco depois a Primeira República (em 1910). E rapidamente se tornou uma desilusão: pela falta de reformas que melhorassem as condições de vida da classe trabalhadora; e pela frequente postura repressiva contra organizações e lutas de trabalhadores.
Fernandes Alves diria que era, afinal, mais um “regime essencialmente burguês”. E reafirmava a necessidade da independência de classe do movimento operário – como já Marx e Engels haviam clamado no Manifesto Comunista.
Ministros socialistas
A ditadura de Sidónio Pais e de seguida uma tentativa de restauração monárquica que levou Portugal a uma guerra civil (em Janeiro de 1919), reaproximaram socialistas e republicanos.
No processo de desmantelar o regime sidonista e de travar a guerra monárquica, formou-se então um governo de unidade democrática. O qual, pela primeira vez, contou com um representante do movimento operário, como ministro do Trabalho: o dirigente socialista Augusto Dias da Silva.
Lançaram-se então as obras dos primeiros bairros sociais e foram preparados importantes avanços em termos de segurança social e horário de trabalho. Mas tudo isto pouco saiu do papel. Foi uma experiência efémera, que apenas durou quatro meses.
É que, uma vez restabelecido, o poder republicano logo teve uma recaída na sua pulsão repressiva contra a classe trabalhadora. Perante isso, Augusto Dias da Silva recusou ser conivente e demitiu-se imediatamente.
O antigo Partido Socialista Português conheceu então um momento de apogeu na sua influência. Beneficiou também do contexto internacional marcado pela Revolução Russa de 1917. Mas em pouco tempo defrontou uma crise interna, com divergências sobre a questão se devia voltar a aceitar uma participação minoritária num novo governo republicano, se isso seria uma boa via para concretizar algumas mudanças positivas.
Tais divergências acentuaram-se com duas novas experiências de participação ministerial em 1920, ainda mais efémeras e vazias de resultados, em que um socialista voltou ao posto de ministro do Trabalho (respetivamente Amílcar Ramada Curto e José António da Costa Junior).
Fernandes Alves foi uma das principais vozes que dentro do partido combateram a ideia de integrar governos “burgueses”, como dizia. A seu ver, tendo interesses “antagónicos” com os dos capitalistas, a classe trabalhadora devia era contar com as suas próprias forças, como sublinhou (em O Socialismo Internacional, 1930).
Estava, no fundo, a reafirmar a primeira frase dos estatutos da Primeira Internacional (elaborados por Marx): “A emancipação da classe trabalhadora deve ser conquistada pela própria classe trabalhadora”.
Coletivo
José Fernandes Alves é uma figura a recordar na história do marxismo em Portugal. Foi um tradutor e divulgador. Um militante que usou o marxismo como referência teórica na sua ação. Defendeu o feminismo e a autonomia de classe do movimento operário.
Não foi uma figura isolada. Integrou-se no contributo coletivo à difusão do marxismo por quadros do antigo Partido Socialista Português, no último quartel do século XIX e no primeiro terço do século XX.
Um coletivo no qual haverá que falar igualmente em nomes como Azedo Gneco e Nobre França, Manuel Luís Figueiredo (em Setúbal) e Manuel José da Silva (do Porto) – entre outros.
Perdeu-se muito “a memória das suas palavras”, apagadas pela borracha do “hiato que o Salazarismo produziu na «memória coletiva»”, como dizia Fátima Patriarca.8
Mas isso não será mais uma razão para serem recordados?
Luís Carvalho é investigador do Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto.
Notas
1 - Antes de A Greve (em 1908) e de A Batalha (em 1919), uma primeira experiência de jornal operário diário em Portugal surgiu em 1900, com o título A Luta, e na esfera do antigo Partido Socialista Português. A não confundir com o jornal republicano do mesmo título, fundado em 1906 por Manuel Brito Camacho.
2 - Leszek Kolakowski vincou a importância desta obra de Bebel, em Main currents of Marxism (2008).
3 - Sobre o papel de Fernandes Alves como um pioneiro divulgador de Lenine, ver A Voz do Operário, Agosto 2020, “Uma obra de Lenine em Portugal, em 1912”, aqui: https://vozoperario.pt/jornal/2020/08/19/uma-obra-de-lenine-em-portugal-... (link is external)
4 - No seu livro A Crise da Social-Democracia.
5 - Em História e Consciência de Classe.
6 - Ver Carlos da Fonseca, em Para uma análise do Movimento Libertário e da sua história (1988).
7 - Como sublinha Francisco Canais Rocha, na sua biografia de Perfeito de Carvalho, um sindicalista da primeira República (2016).
8 - Em A questão social no Salazarismo, vol. I (1995).
in Esquerda net
ÉTICA-Prolegómenos
teses
1. Existem valores universais. Porém, muitos destes valores, senão mesmo todos, estão submetidos ao Valor, essa categoria universal no modo de produção capitalista mercantil, que se refere ao valor-trabalho, ao valor a mais produzido pelo produtor muito acima do valor da sua força de trabalho ; ou ao valor produzido em um período de tempo não pago ; portanto, na esfera da produção (propriedade dos meios de produção e do processo todo da produção desde a conceção à distribuição no mercado) ; portanto, os valores éticos universais no capitalismo estão submetidos ao utilitarismo, à obtenção do lucro, ao individualismo e ao egoísmo.
2. Por essas condições objetivas básicas (que não formulo completamente aqui) os valores éticos no capitalismo estão subordinados aos modos ou processos de dominação (dominação social, política, ideológica e, por conseguinte, moral). Não é possível estarem desvinculados do processo de produção e distribuição e do processo de dominação.
3. Assim, existem valores universais no capitalismo e valores históricos-locais que se prendem com as religiões, tradições e mitologias locais, etc. Estes últimos podem entrar em contradição com os primeiros (estes normalmente são anteriores e próprios de modos de produção extintos ou completamente dominados). Contudo, quando o modo de produção mercantil capitalista domina absolutamente, como é o caso neste século excetuando pequenas parcelas, as contradições não são antagónicas, são secundárias : assim, no Médio Oriente a contradição entre o capitalismo (exploração, dominação) e a religião mais fundamentalista não é antagonista, embora possa servir de motivação ideológica para a contestação do "modo de vida ocidental".
domingo, 18 de setembro de 2022
ÉTICA - Prolegómenos
I. A Moral transforma o mundo na medida em que guia o comportamento dos indivíduos.
II. A Prática é anterior à moral e dela separada, somente nos primeiros meses de vida do infante. Rapidamente ele assimila regras do seu comportamento. A partir daí moral e comportamento -prática - unem-se e constituem a consciência.
III. não é a moral que origina a consciência humana, mas é dela parte constituinte. A sua base cerebral localiza-se no córtex e neo-córtex.
IV. Nessa área frontal e nesses comportamentos básicos do indivíduo, com base fisio-social, encontra-se a chave para compreender a importância da moral, ou seja, do comportamento social.
V. Secundarizar a moral, isto é, menorizá-la no estudo materialista da economia e da Ideologia, é um grave erro. Os marxistas não o esqueceram na prática político-económica da construção das experiências revolucionárias ; esquecerem-no na Teoria. Na prática tenderam a impor uma única moralidade, por vezes reprimindo as anteriores e mais antigas e perseguindo coercivamente as as que designaram como "burguesas".
VI. Estúpidas e agressivas perseguições e exclusões se fizeram contra designadas "inclinações pequeno-burguesas". Em nome deste estúpido preconceito moralista e não marxista de modo nenhum se cometeram atos criminosos contra nomeadamente designados "intelectuais" e exclusões no interior de partidos e de Estados que provocaram danos incalculáveis na democracia interna e na imagem externa.
VII. Marx deu bases fundamentais para uma Ética materialista histórica, científica, na qual o método subjetivo-objetivo dialético é essencial, porém não construiu uma moral nem nunca, com toda a probabilidade, desejou que se impusesse uma moral "marxista".
Onze pistas falsas sobre o clima
Por MICHAEL LÖWY*
Contestação de lugares-comuns que dificultam o combate à mudança climática
Encontramos um grande número de lugares-comuns nos vários discursos sobre o clima, repetidos mil vezes em todos os matizes, que constituem pistas falsas, que levam, voluntariamente ou não, a ignorar as verdadeiras questões, ou a acreditar em pseudossoluções. Não me refiro aqui aos discursos negacionistas, mas àqueles que se dizem “verdes” ou “sustentáveis”. Estas são afirmações de natureza muito diversa: algumas são verdadeiras manipulações, fake news, mentiras, mistificações; outras são meias-verdades, ou um quarto de verdade. Muitas estão cheias de boa vontade e de boas intenções – e, como sabemos, delas o inferno está cheio. É neste caminho que estamos: se continuarmos com o business as usual – mesmo que pintado de verde – dentro de algumas décadas, nos encontraremos numa situação muito pior do que a maioria dos círculos do inferno descritos por Dante Alighieri na sua Divina Comédia. Os onze exemplos seguintes são apenas alguns desses lugares-comuns a evitar.
O planeta tem que ser salvo
Isto está por todo lado: em cartazes, na imprensa, em revistas, em declarações de líderes políticos, etc. Na verdade, é um disparate: o planeta Terra não está em perigo! Qualquer que seja o clima, ele continuará girando tranquilamente ao redor do sol durante os próximos milhões de anos. O que está ameaçado pelo aquecimento global são as múltiplas formas de vida neste planeta, incluindo a nossa: a espécie Homo Sapiens.
“Salvar o planeta” dá a falsa impressão de que se trata de algo externo a nós, que se encontra em algum lugar, e que não nos diz respeito diretamente. Não pedimos às pessoas que se preocupem com suas vidas, ou com a vida de seus filhos, mas sim com uma vaga abstração, “o planeta”. Não é surpresa que as pessoas menos politizadas reajam dizendo: eu estou muito ocupado com meus próprios problemas para me preocupar com “o planeta”.
Façamos algo para salvar o planeta
Este lugar-comum, infinitamente saturado, é uma variante da fórmula anterior. Ele contém uma meia-verdade: todos devem contribuir pessoalmente para evitar a catástrofe. Mas transmite a ilusão de que é suficiente acumular “pequenos gestos” – desligar as luzes, fechar a torneira, etc. – para evitar o pior. Assim, conscientemente ou não, descartamos a necessidade de mudanças estruturais profundas no modo de produção e consumo atual; mudanças que colocam em questão os próprios fundamentos do sistema capitalista, que se baseia num único critério: a maximização do lucro.
O urso polar está em perigo
É uma imagem que está por todo lado, repetida à saciedade: um pobre urso polar que tenta sobreviver no meio de icebergs à deriva. Certamente, a vida do urso polar – e de muitas outras espécies nas regiões polares – está ameaçada. Esta imagem pode suscitar a compaixão de algumas almas generosas, mas, para a maioria da população, é um assunto que não lhes diz respeito.
Pois bem, o derretimento das calotas polares é uma ameaça não apenas para o bravo urso polar, mas, a longo prazo, para metade, se não mais, da humanidade que vive em grandes cidades à beira-mar. O derretimento das enormes geleiras na Groenlândia e na Antártica pode elevar o nível do mar em algumas dezenas de metros. Mas são necessários apenas alguns metros para que cidades como Veneza, Amsterdã, Londres, Nova Iorque, Rio de Janeiro, Xangai e Hong Kong fiquem submersas. Claro que isto não acontecerá no ano que vem, mas os cientistas podem observar que o derretimento destas geleiras está acelerando… É impossível prever a rapidez com que isso ocorrerá, pois muitos fatores são difíceis de calcular neste momento.
Ao enfatizarmos unicamente o pobre urso polar, ocultamos o fato de que se trata de um caso aterrador que diz respeito a todos nós…
Bangladesh corre o risco de sofrer muito com as mudanças climáticas
Trata-se de uma meia-verdade, cheia de boa vontade: o aquecimento global afetará principalmente os países pobres do Sul, que são os menos responsáveis pelas emissões de CO2. É verdade que estes países serão os mais atingidos por catástrofes climáticas, furacões, seca, redução de fontes de água, etc. Mas é falso que os países do Norte não serão afetados, em grande medida, por estes mesmos perigos: não assistimos a terríveis incêndios florestais nos EUA, Canadá, Austrália? As ondas de calor não causaram numerosas vítimas na Europa? Poderíamos multiplicar os exemplos.
Se mantivermos a impressão de que estas ameaças só dizem respeito aos povos do Sul, conseguiremos mobilizar apenas uma minoria de internacionalistas convictos. Contudo, mais cedo ou mais tarde, é o conjunto da humanidade que será confrontado com catástrofes sem precedentes. É necessário explicar aos povos do Norte que esta ameaça também pesa sobre eles, bem diretamente.
Até o ano 2100 a temperatura poderá subir até 3,5 graus (acima do período pré-industrial)
Esta é uma afirmação que é encontrada lamentavelmente em muitos documentos sérios. Isto me parece ser um duplo erro.
Do ponto de vista científico, sabemos que as mudanças climáticas não são um processo linear: podem sofrer “saltos” e acelerações súbitas. Muitas dimensões do aquecimento se retroalimentam, e as consequências disto são imprevisíveis. Por exemplo: os incêndios florestais emitem enormes quantidades de CO2, que contribuem para o aquecimento, intensificando, assim, os incêndios florestais. Assim, é muito difícil prever o que acontecerá dentro de quatro ou cinco anos, então como é possível prever o que ocorrerá daqui a um século?
De um ponto de vista político: até o final do século, nós todos estaremos mortos, assim como nossos filhos e netos. Como podemos mobilizar a atenção e o engajamento das pessoas por um futuro que não lhes diz respeito, nem de perto nem de longe? Então devemos preocupar-nos com as gerações futuras? Um pensamento nobre, longamente defendido pelo filósofo Hans Jonas: nosso dever moral para com aqueles que ainda não nasceram. Uma pequena minoria de pessoas muito respeitáveis poderia ser tocada por este argumento. Para o comum dos mortais, o que acontecerá em 2100 não é uma questão de grande interesse.
Em 2050 atingiremos a neutralidade de carbono
Esta promessa da União Europeia e de vários governos na Europa e em outros lugares não corresponde a uma meia-verdade, nem a uma ingênua boa vontade: é pura e simples mistificação. Por duas razões.
Em vez de comprometerem-se agora, imediatamente, com as mudanças urgentes exigidas pela comunidade científica (o IPCC) para os próximos 3 a 4 anos, nossos governantes prometem maravilhas para 2050. Isto é obviamente demasiado tarde. Além disso, como os governos mudam a cada 4 ou 5 anos, que garantia há para estes compromissos fictícios em 30 anos? É uma forma grotesca de justificar a presente inação com uma vaga promessa vinda de longe.
Além disso, a “neutralidade de carbono” não significa uma redução drástica das emissões, bem ao contrário! É um cálculo enganador baseado em offsets, em “mecanismos de compensação”: a empresa XY continua emitindo CO2, mas planta uma floresta na Indonésia, que supostamente absorverá o equivalente a este CO2 – se ela não se incendiar. As ONGs ambientalistas já denunciaram suficientemente a farsa dos offsets, não vou insistir. Mas isto mostra a perfeita mistificação contida na promessa de “neutralidade de carbono”.
Nosso banco (ou companhia petrolífera, etc.) financia as energias renováveis e participa assim na transição ecológica
Este lugar-comum do green-washing [maquiagem verde] também faz parte da enganação e manipulação. É claro que os bancos e as multinacionais também investem em energias renováveis, mas estudos precisos da ATTAC e de outras ONGs mostraram que se trata de uma pequena – por vezes minúscula – parte de suas operações financeiras: o grosso continua indo para o petróleo, carvão, gás… É uma simples questão de rentabilidade e de competição por frações de mercado.
Todos os governos “razoáveis” – ao contrário de Donald Trump, Jair Bolsonaro e cia. – juram também, em todos os matizes, que estão empenhados na transição ecológica e nas energias renováveis. Mas assim que há um problema com o fornecimento de um combustível fóssil – recentemente o gás –, devido à agressiva política russa – refugiam-se no carvão, reativando centrais elétricas a carvão mineral, ou imploram à (sangrenta) família real da Arábia Saudita para aumentarem a produção de petróleo.
Toda o belo discurso sobre a “transição ecológica” oculta uma verdade desagradável: não é suficiente desenvolver energias renováveis. Antes de tudo, as energias renováveis são intermitentes: o sol nem sempre brilha no Norte da Europa… É verdade que foram feitos progressos técnicos nesta área, mas eles não podem resolver tudo. E, sobretudo, as energias renováveis requerem recursos minerais que correm o risco de se esgotarem. Se o vento e o sol são ilimitados, não é este, de modo algum, o caso para os materiais necessários para sua utilização (lítio, terras raras, etc.). Será portanto necessário considerar uma redução do consumo global de energia, e uma diminuição seletiva: medidas que são inimagináveis no quadro do capitalismo.
Graças às técnicas de captura e sequestro de carbono evitaremos a catástrofe climática
Este é um argumento cada vez mais utilizado pelos governos, e que encontramos até mesmo em alguns documentos sérios (por exemplo, do IPCC). É a ilusão de uma solução tecnológica milagrosa, que salvaria o clima, sem a necessidade de nada mudar em nosso modo de produção (capitalista) e em nosso modo de vida.
Lamentavelmente, a triste verdade é que estas técnicas miraculosas de captura e sequestro de carbono atmosférico estão longe de ser uma realidade. É certo que foram feitas algumas tentativas, e que alguns projetos estejam em curso aqui e ali, mas no momento não se pode dizer que esta tecnologia seja eficaz e operacional. Ela ainda não resolveu as dificuldades de captura ou de sequestro (em regiões subterrâneas impermeáveis às fugas). E não há qualquer garantia de que poderá fazê-lo no futuro.
Graças ao automóvel elétrico, reduziremos substancialmente as emissões de gases de efeito estufa
Este é outro exemplo de meia-verdade: é certo que os automóveis elétricos são menos poluentes do que os automóveis a combustão (a gasolina ou diesel), e, portanto, menos prejudiciais para a saúde da população urbana. No entanto, do ponto de vista das mudanças climáticas, seu balanço é muito mais mitigado. Eles emitem menos CO2, mas contribuem para uma situação desastrosa “tudo a eletricidade”. Contudo, na maioria dos países, a eletricidade é produzida com… combustíveis fósseis (carvão ou petróleo). A redução das emissões dos automóveis elétricos é “compensada” pelo aumento das emissões resultantes do maior consumo de eletricidade. Na França, a eletricidade é produzida por energia nuclear, outro impasse. No Brasil, são as megabarragens destruidoras de florestas, e, por conseguinte, responsáveis por um balanço de carbono pouco reluzente.
Se quisermos reduzir drasticamente as emissões, não podemos evitar uma redução significativa da circulação de automóveis privados, por meio da promoção de meios de transporte alternativos: transportes públicos gratuitos, áreas de pedestres, ciclovias. O automóvel elétrico mantém a ilusão de que podemos continuar como antes, mudando de tecnologia.
É através de mecanismos de mercado, como os impostos sobre o carbono ou os mercados de direitos de emissão, ou ainda aumentando o preço dos combustíveis fósseis, que conseguiremos reduzir as emissões de CO2.
Para os ecologistas sinceros, isto é uma ilusão; na boca dos governantes, é ainda uma mistificação. Os mecanismos de mercado têm demonstrado por todo lado sua perfeita ineficiência na redução dos gases de efeito estufa. Não são apenas medidas antissociais, que buscam fazer as classes populares pagar o preço da “transição ecológica”, são incapazes, sobretudo, de contribuir substancialmente para a limitação das emissões. O fracasso espetacular dos “mercados de carbono” instituídos pelos acordos de Kyoto é a melhor demonstração disso.
Não é com medidas “indiretas”, “incentivadoras”, baseadas na lógica do mercado capitalista que conseguiremos por um freio no poder absoluto dos combustíveis fósseis, que mantêm o sistema funcionando há dois séculos. Para começar, será necessário expropriar os monopólios capitalistas de energia, criar um serviço público de energia, que terá como objetivo a redução drástica da exploração dos combustíveis fósseis.
As mudanças climáticas são inevitáveis, só podemos adaptar-nos
Este tipo de afirmação fatalista pode ser encontrada nos meios de comunicação e entre os políticos “responsáveis”. Por exemplo, Christophe Bechu, ministro da transição ecológica do novo governo Macron, declarou recentemente: “Já que não podemos evitar o aquecimento global, quaisquer que sejam os nossos esforços, temos que conseguir limitar seus efeitos enquanto nos adaptamos a ele”.
Esta é uma excelente receita para justificar a inação, o imobilismo e o abandono de qualquer “esforço” para tentar evitar o pior. Contudo, os cientistas do IPCC explicaram bem que, embora o aquecimento já tenha de fato começado, ainda é possível evitar ultrapassar a linha vermelha de 1,5 graus – desde que comecemos imediatamente a reduzir de modo significativo as emissões de CO2.
Certamente, temos que tentar adaptar-nos. Mas se as mudanças climáticas se tornarem incontroláveis e acelerarem, a “adaptação” é apenas um engodo. Como “adaptar-se” a temperaturas de 50°C?
Poderíamos multiplicar os exemplos. Todos levam à conclusão de que, se quisermos evitar as mudanças climáticas, devemos mudar o sistema, ou seja, o capitalismo, e substituí-lo por outra forma de produção e consumo. Isto é o que chamamos “ecossocialismo”.
*Michael Löwy é diretor de pesquisa em sociologia no Centre nationale de la recherche scientifique (CNRS). Autor, entre outros livros, de O que é o ecossocialismo (Cortez).
Tradução: Fernando Lima das Neves.
in A TERRA É REDONDA