Por Nikos Mottas
"Se vemos que a Alemanha está a ganhar, devemos ajudar a Rússia e se a Rússia está a ganhar, devemos ajudar a Alemanha, e assim deixá-los matar o maior número possível..."
- Harry Truman, 1941.
Desde
o fim da Segunda Guerra Mundial, a historiografia burguesa tem tentado
distorcer vários incidentes a fim de vilipendiar o Socialismo e a URSS.
Um destes incidentes - que tem sido uma "bandeira" dos apologistas do
imperialismo e outros anticomunistas - é o chamado "Pacto
Molotov-Ribbentrop", que foi assinado em 1939. No seu esforço não
científico e não histórico de equiparar o comunismo ao nazismo, a
propaganda burguesa apresenta o pacto Molotov-Ribbentrop como um meio de
política expansiva da URSS e da Alemanha de Hitler. A distorção dos
acontecimentos históricos, a amálgama de mentiras e as meias verdades
pelos imperialistas e seus colaboradores visam a difamação do enorme
papel da União Soviética na luta antifascista da Segunda Guerra Mundial.
No
entanto, a realidade é diferente da apresentada pela historiografia
burguesa. Aqui, vamos examinar as circunstâncias e os acontecimentos que
levaram ao pacto de não agressão Molotov-Ribbentrop, num esforço para
desmascarar a propaganda anticomunista sobre este assunto.
Com o
apoio financeiro e técnico dos monopólios americanos e europeus, a
Alemanha de Hitler começou a reforçar as suas forças armadas em meados
da década de 1930. Em 1936, os nazis procederam à militarização da
Renânia, ajudaram Mussolini na captura da Abissínia (Etiópia) enquanto
desempenharam um papel crucial na imposição da ditadura fascista de
Franco em Espanha. O reforço da Alemanha nazi e o início da expansão do
fascismo na Europa teve lugar sob a tolerância das então poderosas
potências imperialistas "democráticas"; Grã-Bretanha, França e EUA.
Após
a anexação da Áustria à Alemanha nazi em Março de 1938, os Aliados
(Grã-Bretanha, França) procedem ao Acordo de Munique (30 de Setembro de
1938). Os apologistas do Imperialismo geralmente tentam rebaixar a
importância deste acordo entre a Grã-Bretanha, França, Itália de
Mussolini e Alemanha de Hitler. Contudo, o impacto do acordo de Munique -
um acto de apaziguamento para com os nazis - foi definitivamente
significativo. Com as assinaturas dos então Primeiros-ministros
britânico e francês, Neville Chamberlain e Édouard Daladier, os nazis
anexaram a Checoslováquia e intensificaram a sua agressividade
expansionista para com a Europa de Leste.
Alguns meses mais
tarde, a 7 de Abril de 1939, o regime fascista da Itália invadiu e
capturou a Albânia. A 31 de Março de 1939, os governos da Grã-Bretanha e
da França garantiram a protecção da Polónia em caso de ataque nazi -
Tanto Londres como Paris assinaram acordos bilaterais de ajuda mútua com
a Polónia. Quando a Alemanha invadiu a Polónia a 1 de Setembro de 1939,
a Grã-Bretanha e a França declararam guerra contra Hitler, mas sem
tomarem qualquer acção militar até ao ano seguinte! Do seu lado, os
Estados Unidos declararam a sua neutralidade.
Antes da invasão do
exército nazi na Polónia, o governo de Varsóvia tinha tentado negociar
com Hitler um possível ataque conjunto contra a União Soviética. As
negociações falharam, entretanto a burguesia polaca preferiu assinar
acordos de defesa com a Grã-Bretanha e a França. O importante aqui é que
a Polónia tinha rejeitado um acordo de defesa mútua (contra os nazis)
oferecido pela União Soviética.
A propaganda imperialista tenta
ofuscar a posição de apaziguamento da Grã-Bretanha e da França em
relação aos nazis e esconde as razões por detrás da "neutralidade" dos
EUA. As palavras do senador norte-americano Robert A. Taft são
lapidares: "Uma vitória do comunismo seria muito mais perigosa para os
Estados Unidos do que uma vitória do fascismo" (CBS, 25 de Junho de
1941). Segundo o historiador John Snell, as potências ocidentais
consideravam o Terceiro Reich como uma "barreira" contra a União
Soviética na Europa Central. O objectivo estratégico dos Estados
imperialistas "democráticos" era virar Hitler contra a União Soviética;
em poucas palavras, utilizar os nazis como arma contra a construção do
Socialismo na URSS. Esse era o objectivo inicial dos chamados "aliados".
Sobre
esse ponto, devemos lembrar que, antes da guerra e enquanto o regime de
Hitler estava a construir um poderoso exército, a União Soviética tomou
numerosas iniciativas para negociar um acordo defensivo com os Estados
capitalistas europeus. Apesar dos apelos soviéticos à preparação de uma
frente comum contra os nazis, os "aliados" da Europa Ocidental
declinaram tal perspectiva. Por exemplo, antes do Acordo de Munique de
1938, quando Hitler anexou a Áustria, a União Soviética propôs uma
conferência internacional (Março de 1938) que trataria do confronto da
agressividade nazi.
A 23 de Julho de 1939, a União Soviética
propôs à Grã-Bretanha e à França o início das negociações para a
formação de um plano de defesa no caso de um ataque alemão. Contudo, o
governo britânico tinha outras prioridades: negociar secretamente um
pacto de não agressão com os representantes de Hitler em Londres. De
facto, enquanto a União Soviética propunha aos Estados capitalistas uma
frente anti-fascista, o governo britânico estava a negociar secretamente
com os nazis as "esferas de influência" na Europa!
O que a
historiografia burguesa esconde deliberadamente é o facto de que a União
Soviética era o único Estado que não tinha uma política agressiva e
expansionista. Ambos os lados do imperialismo internacional (os aliados
capitalistas "democráticos" e, por outro lado, o eixo nazi-fascista)
tinham como objectivo a eliminação da União Soviética. O verdadeiro
inimigo de ambos os lados era a construção socialista na URSS e por isso
não hesitaram em usar um e outro contra Moscovo.
O pacto
temporário de não-agressão entre a União Soviética e a Alemanha surgiu
após numerosos esforços dos soviéticos para negociar um acordo de defesa
com a Grã-Bretanha e a França. Portanto, estando sob a ameaça contínua
do exército nazi em expansão e a fim de se preparar para uma guerra
extensa, o Estado soviético foi obrigado a assinar o pacto de
não-agressão com Berlim. O que os historiadores burgueses e apologistas
do imperialismo chamam uma "aliança entre Hitler e Estaline" foi de
facto uma manobra diplomática necessária por parte da União Soviética
para ganhar tempo e preparar-se eficazmente para uma guerra em larga
escala. Mesmo os historiadores burgueses admitem que a política
soviética era completamente realista, dadas as circunstâncias de então e
o perigo de um ataque alemão (F.Dulles, The road to Tehran, New York,
1944, p.203-207).
Segundo a propaganda imperialista, o pacto de
não agressão Molotov-Ribbentrop levou à "captura" soviética de uma parte
da Polónia e dos Estados Bálticos da Estónia, Lituânia e Letónia. Tais
argumentos - sobre a suposta "ocupação soviética" - fomentaram a
ascensão de grupos fascistas e neo-nazis nestes países, após a
contra-revolução na URSS. No entanto, a verdade é também bastante
diferente. A Polónia tinha participado activamente no ataque
imperialista aliado que foi lançado contra o recém-fundado Estado
soviético em 1918. Com o Tratado de Brest-Litovsk (3 de Março de 1918), a
liderança bolchevique renunciou às reivindicações czaristas à Polónia. O
governo polaco manteve sob o seu controlo uma série de áreas na região
do Báltico, incluindo a Bielorrússia ocidental, a Ucrânia ocidental e
uma parte da Lituânia). Após a invasão nazi na Polónia em 1939, o
Exército Vermelho avançou para as fronteiras soviético-polacas e
libertou as áreas acima mencionadas.
A propaganda burguesa e
imperialista tenta distorcer a história quando se refere à "ocupação
soviética" - pelo contrário, o exército soviético foi o que libertou os
países bálticos e a Europa de Leste dos nazis. O pacto
Motolov-Ribbentrop não incluía qualquer tipo de "divisão" da Polónia.
Pelo contrário, o Acordo de Munique de 1938 entre a Grã-Bretanha, França
e o Eixo (Alemanha, Itália) levou à divisão da Checoslováquia e à
confiscação do país pelo exército de Hitler.
Conclusão
A
propaganda imperialista sobre o pacto Molotov-Ribbentrop consiste num
dos numerosos casos de mentiras anticomunistas flagrantes. Através da
historiografia burguesa, o Imperialismo tenta equiparar comunismo e
fascismo, para vilipendiar o Socialismo e a União Soviética. Para o
fazer, os apologistas do Imperialismo distorcem a história e inventam as
calúnias mais hediondas contra a União Soviética e os Estados
socialistas; desde as "provas de Moscovo" e os "gulags" à suposta
"aliança Stalin-Hitler" e à "invasão soviética" no Afeganistão. O que os
imperialistas querem esconder é o facto de o fascismo ser apenas mais
um tipo de dominação burguesa - o simples facto de, como disse Bertolt
Brecht, o fascismo ser a "forma mais nua, descarada, opressiva e
enganosa de capitalismo".
*O Pacto de não agressão
soviético-alemão tirou o seu nome dos apelidos dos dois Ministros dos
Negócios Estrangeiros que o assinaram: O diplomata soviético Vyacheslav
Mikhailovich Molotov (1891-1986) e o ministro nazi Joachim von
Ribbentrop (1893-1946).
Fonte: http://www.idcommunism.com/2022/08/stalin-never-allied-with-hitler-truth-about-the-1939-molotov-ribbentrop-pact.html, publicado e acedido em 23.08.2022
Tradução de PPR
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