Um instrumento precioso na batalha das ideias
Michael Löwy comenta "Repensar Marx e os marxismos: guia para novas leituras", novo livro de Marcello Musto, destacando a importância da obra na batalha das ideias, especialmente no momento em que vivemos no Brasil.
Por Michael Löwy
Marcello Musto
é um dos mais importantes estudiosos da obra de Karl Marx, tema sobre o
qual publicou diversos livros, traduzidos para inúmeras línguas.
Organizou também coletâneas sobre O capital, a Primeira
Internacional e o marxismo na atualidade. Não por acaso, vários desses
títulos foram lançados no Brasil – existem poucos países no mundo onde
as obras de Marx e dos marxistas suscitam tanto interesse.
Repensar Marx e os marxismos: guia para novas leituras,
publicado agora pela Boitempo, contém uma análise da obra marxiana –
desde sua tese de doutorado até o encontro com os populistas russos nos
seus últimos anos de vida –, bem como ensaios sobre a recepção do
marxismo, das polêmicas sobre o “jovem Marx” até o grande debate sobre a
questão da alienação, entre outros.
Uma das qualidades deste
conjunto é que ele se apoia sobre os recentes volumes da nova edição das
obras completas de Marx e Engels, a segunda Marx-Engels-Gesamtausgabe (MEGA2).
Musto integra em suas reflexões vários materiais até há pouco inéditos,
o que é uma evidente vantagem em relação a trabalhos biográficos
anteriores e outras análises críticas dos marxismos. Outra qualidade do
método do autor é analisar a obra marxiana como um pensamento em movimento,
que se desenvolve por meio de conflitos, polêmicas, contradições e
saltos qualitativos. Um dos mais importantes momentos desse processo se
dá no curso do ano de 1844, quando o jovem Marx passa da crítica
filosófica à práxis revolucionária.
Musto dedica uma atenção particular aos escritos econômicos, desde os primeiros cadernos de 1844 até O capital
e seus manuscritos preliminares. Mas, felizmente, não reduz Karl Marx a
um “economista”: como sabemos, ele era acima de tudo de um revolucionário
que exerceu uma crítica implacável contra a economia política burguesa,
a economia política a serviço do capital, que ainda hoje predomina sob a
forma degradada do neoliberalismo.
Livros como este são
instrumentos preciosos na “batalha das ideias”, que está mais do que
nunca na ordem do dia, no Brasil, na América Latina e no mundo.
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Desde o fim dos anos 1980 e após a dissolução da União Soviética, Karl Marx vem sendo considerado por uma parcela da intelectualidade um pensador ultrapassado, condenado ao esquecimento. A crise econômica internacional de 2008, no entanto, trouxe de volta à discussão seu extenso trabalho e sua análise do capitalismo.
Em Repensar Marx e os marxismos, o italiano Marcello Musto reconstrói, com rigor textual e historiográfico, etapas da biografia intelectual de Marx ainda pouco conhecidas ou mal compreendidas, como sua formação cultural durante a juventude, os estudos de economia política, os primeiros esboços do que viriam a ser os escritos de O capital, assim como a divulgação e a recepção de alguns de seus principais trabalhos como os Manuscritos econômico-filosóficos, o Manifesto comunista e os Grundrisse.
O trabalho crítico e inovador realizado por Musto nos apresenta um pensador muito diferente daquele retratado durante todo o século XX por muitos de seus críticos e seguidores: “A obra de Marx abrange as mais diversas disciplinas do conhecimento humano e sua síntese representa um objetivo de difícil alcance mesmo para os estudiosos mais rigorosos”, conta o autor no prefácio à edição brasileira.
A obra tem tradução de Diego Silveira Coelho Ferreira, texto de orelha de Michael Löwy e capa de Daniel Justi.
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