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segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

A Utopia

 

J.A.Nozes Pires

Palestra

 

 

O texto da utopia

 

 

Venho falar-vos de utopias. E como é imperioso começar por alguma ponta, comecemos pelo conceito e pela definição. O senso comum, que costuma conjugar palavras exemplarmente equívocas, ou sentidos arcaicos que já nada têm que ver com a actualidade, utiliza o termo com uma intenção que só em parte lhe corresponde. Diz-se que “utopia” é desejar algo impossível, e que ser-se utópico é ser-se um idealista, um sonhador, aquele que não tem os pés bem assentes na terra, ou seja, o contrário de “realista”, “pragmático”.

Utopias assim também as há, mas não é só isso, o utopista, a bem dizer, interroga-se sobre a própria definição de “realismo”. Sem dúvida que a utopia é, quantas vezes, um estado de espírito, uma atitude de evasão, um devaneio, um sonho acordado. E quando se julgaria, como julga o senso comum, que é totalmente negativo,inútil ou inócuo, lembramos apenas que isso é humano, demasiado humano, e não olha a idades; e lembremos também o brilhante elogio que o filósofo da ciência, Gaston Bachelard, nos legou a propósito do “sonho acordado”, e como ele revitalizou o dinamismo da imaginação, da “ imaginação material”, o seu papel essencial para as literaturas, mas não só para as literaturas, também para o fascínio que a percepção e as imagens exercem sobre o trabalhador da ciência, quando não pode , ou não quer, submeter-se a todas as horas ao imperativo da metodologia objectiva do espírito científico. “Trabalho é trabalho, conhaque é conhaque”, costuma-se dizer; no homem o espírito científico pode conciliar-se com a estética, e também, com a acção moral e política.

De resto, não existe uma definição unívoca e consensual sobre o que seja “objectividade”, por um lado, e, por outro, “realidade”...

 Ouvistes falar com certeza dessas pérolas que são os livrinhos de Bachelard sobre os quatro elementos, a terra, a água, o ar, o fogo. Também sabereis com certeza que os primeiros filósofos se iniciaram por meio da reflexão sobre os quatro elementos, alguns ainda no quadro dos mitos . Sabeis ainda como começa a Bíblia, com a criação dos elementos. Ou seja, sobre aquilo que percepcionamos, ou melhor, sobre aquilo que imaginamos, ou ainda melhor, que alguns nos deram a imaginar. Não sei se existem imagens sem linguagem e sem cultura, admito que sim, mas não existe seguramente imaginação sem essas duas condições. Imaginar é sempre interpretar; mas interpretar não é sempre mentir, falsificar. Imaginamos que vemos, e imaginamos o que ainda não se dá ao olhar. E essa é também a força do desejo. Começamos sempre por ter apetites, mas quando o apetite se torna consciente, chamamos-lhe desejo. E provavelmente não existe força, energia, inclinação, mais potente no indivíduo, do que o desejo. Eu julgo que é afirmação de ser, direi até, do ser. Quem não se sente bem, quer mudar-se. Mudar de lugar. Evade-se oniricamente, solitariamente, ou leva-nos com ele para uma espécie de viagem, de iniciação, de purificação. E isto tem que ver com a liberdade.

Paremos um pouco para respirar. Chamo modo utópico, ao devaneio, ao tal estado de espírito, e género aquele produto do espírito que nos conduz para a aventura, para a viagem, para o achamento de ilhas intactas, ou planetas. Há quase sempre nestes achamentos uma crítica e uma fuga da cidade decadente, da velha civilização. Distingamos, portanto, no género e referimo-nos ao texto escrito, duas orientações diversas. A primeira é uma história que se conta, alguém que acha numa ilha, ou no interior de um continente ou noutro planeta, ou ainda no futuro, uma civilização perdida e intacta, ou seja, não corrompida pela civilização que o viajante transporta. Neste caso distingamos duas fórmulas: aquilo que se acha é uma paraíso primitivo do homem na sua infância, uma terra de nus e inocentes, em comunhão harmoniosa com a mãe natureza, sem os nossos preconceitos e as nossas gravatas, é uma espécie de regresso à nossa infância, e um regresso ao paraíso mítico donde julgamos ter vindo. Em qualquer dos casos é sempre idealizado, interpretado pela memória e pelo desejo que executa o seu trabalhinho sobre a nossa memória. Podemos usar este truque sinceramente, quando acreditamos, ou acreditávamos, que o no princípio era o Paraíso; ou podemos usar o dispositivo como um truque na acepção da palavra, como um expediente, uma ironia, para fazermos passar o desejo e a mensagem. É uma figura lógica, uma hipótese que não pretendemos sequer demonstrar, mas, antes, utilizar como premissa das nossas conclusões. Foi o que fez Rousseau com a figura do “bom selvagem”, ou Hegel com a figura de “O Senhor e o Servo”, ou Marx com a figura de um estádio primitivo a que ele chamou de “comunismo primitivo”, ou recentemente, J. Rawlls com a célebre “posição original”. Diferentes entre si, têm algo de comum: são meros referentes, jogos hipotético-dedutivos, figuras do pensamento.

Contudo, o género utópico pode utilizar não a viagem, nem a figura do começo original, que remonta aos mitos, mas a prelecção, ou sejamos mais justos, a proposta, o programa legislativo, o projecto. Neste caso, dispensa-se, abandona-se o suporte, alguma retórica, e vai-se directamente ao que se quer. Tanto num caso como noutro o que se quer é o mesmo: dizer o que se julga que está mal e propor alternativas. O género utópico é sempre crítico e propositivo. Na montanha de textos utópicos, uns bons, outros bastante maus, sente-se muitas vezes o tom moralista, a toada edificante, em muitos casos moldada pelo cristianismo, ou por uma reinterpretação da mensagem cristã, traduzida nesta palavra-de-ordem: ó pobres e fracos civilizados que vos desviastes da pureza da mensagem cristã, arrepiai caminho! Ou então, ó civilizados que vos desviastes da natureza, regressai ao seu seio! E assim por diante.

Podemos atribuir, como vimos, um sentido restrito, ou um sentido alargado. No primeiro caso, conduz-nos a empregar o termo no sentido do seu emprego original, isto é, conforme o conteúdo, e a intenção, da pequena história que o humanista inglês Thomas More escreveu nos inícios do século dezasseis. No segundo caso, podemos considerar até, como fez o filósofo alemão Ernst Bloch, que a utopia texto, romance ou projecto de legislação, ou obra de arte, emerge de uma orientação mais funda, com raízes que alcançam a biologia, inclinação e apetência pela vida, vitalismo que irrompe pelo consciente, vontade de ir e de sobreviver, ou melhor: de viver bem, demonstrada por essas erupções do novo que a vida exibe e de que é capaz, de alterações qualitativas, numa palavra: Esperança, a Esperança como fundamento do ser, portanto já do domínio do ontos, do ontológico.

Remontemos então ao termo. A expressão utopia é composta de dois termos gregos, ou, que significa não (Tomás More, que dominava as línguas clássicas, retirou-lhe a letra o) e topos, que significa lugar. Traduzido à letra : não-lugar. Eis porque permitiu depois interpretações várias, mas o subtítulo é indicativo: a melhor República. “Discurso sobre a melhor forma de comunidade política”. E, no fim do escrito, percebemos que a viagem e o marinheiro-relator, que até é português!, é um mero dispositivo literário para prender o leitor, porque, na verdade, aquilo que se descreve, na segunda parte do livro, é uma sociedade imaginária, racionalmente constituída, onde reina o bem-estar e a liberdade, ou um determinado sentido de liberdade. Evidentemente bem-estar e liberdade assim entendidas pelo autor, que tinha bons e grandes amigos, como o Erasmo de Roterdão, que muito inspirou o livrinho genial. Por conseguinte, tornou-se um modelo, um paradigma, e muitos a seguir não fizeram mais do que repeti-lo, se não mesmo copiá-lo. Faltar-lhes-á a frescura, a novidade, e, sobretudo, a fina ironia inteligente: sabei que perpassa em todo ele uma permanente ironia, um jogo com as palavras e com as ideias que exprimem : O relator, Rafael Hitlodeu, significa “aquele que diz disparates”, a capital dessa ilha imaginária é Amaurota, que significa Cidade do Nevoeiro, que evoca a Londres, ou cidade nas Nuvens, que evoca o título de uma peça cómica do comediógrafo grego do séc. IV  AC. Aristófanes; o rio chama-se Anidro, isto é, o rio sem água, o Estado é governado por um príncipe sem povo, habitado por cidadãos sem cidade, os seus vizinhos são os homens sem país, etc. È, pois, uma brincadeira, mas séria, é para se levar a sério o que lá se diz, a primeira parte, que é uma conversa entre vários interlocutores, é uma valente crítica à Inglaterra e ao modo como se desenvolve o capitalismo. E como estas coisas da imaginação até são para se levar a sério, o autor convida-nos a pensar: e se fosse assim? Pois vamos fazer de conta que sim, que imaginá-la é já um passo para realizá-la. Façamos com ela um projecto, um modelo, um paradigma. Para nos pormos depois a dormir? Para logo a esquecermos como quem leu uma história mais ou menos divertida para esquecermos outras menos divertidas e reais? Não, de modo algum. More era um homem de acção e um pensador, aquele que pensa para melhor agir, aquele que acredita que antes da construção material, ou física, está a construção mental, o planeamento, a estratégia, aquele que percebia perfeitamente que a literatura é uma forma de persuasão, e adianto mais duas coisas: More gostaria que o seu livrinho fosse um programa para o partido, ou o movimento, dos humanistas, cujo chefe de fila era o próprio Erasmo, que até se constituíam como república de sábios, isto é, de homens sensatos; porque, na verdade, o que era urgente era a sensatez, num tempo de guerras sangrentas pela religião, de fanatismos que escondiam mal lutas sociais, de expropriados contra os usurpadores, e dos usurpadores entre si. E a outra coisa que eu queria dizer-vos, era esta precisamente: tanto Erasmo como More, ensinaram a tolerância, as liberdades de escolha e de pensamento, e queriam chamar à razão os contendores, demonstrar a loucura dos fanatismos e das paixões cegas, em que os homens são tantas vezes pueris e perigosos; sabeis por ventura que Erasmo escreveu um imortal Elogio da Loucura, com penetração psicológica, com conhecimento da natureza humana, com alguma condescendência pelas suas fraquezas e facilidade para se iludir e para iludir os outros. A caricatura e o ridículo, que ele tão bem usou, são armas terríveis. Foi portanto neste contexto que a utopia, obra pioneira, surgiu, na época da acumulação original do Capital, ou seja, da formação do capitalismo. Em seguida foi adaptando-se o modelo conforme os autores e as épocas. Refiro apenas alguns títulos e autores.

Francis Bacon – Nasceu em 1561 e morreu em 1626, lorde chanceler de Inglaterra, caído em desgraça por corrupção. Tomás More foi santificado...Entre outras obras, escreveu o Novum Organum e a Nova Atlântida, uma utopia tipificada. Aí descreve um Estado Imaginário, no qual o bem-estar dos homens resulta do controlo da natureza por meio da ciência experimental. O editor classificou-o, desde logo, como “fábula” concebida “com o propósito – escreve – de apresentar um modelo ou a descrição de um colégio instituído para a interpretação da natureza e produção de grandes e maravilhosas obras para o benefício do homem, sob o nome de Casa de Salomão ou Colégio do Trabalho dos seis dias.” Ficou inacabada. Inicia-se à boa maneira utópica “Velejamos do Peru...rumo à China, pelo mar do Sul, levando connosco provisões para doze meses; e tivemos bons ventos do leste...Mas então o vento cessou...a seguir, ergueram-se grandes e fortes ventos...etc.”; Naturalmente que acharam terra, em parte incerta e desconhecida...e ancoraram no porto “de uma aprazível cidade”. É um bom texto, com o estilo apurado. Contudo, o essencial não o enredo, que é de resto muito breve, mas a descrição realmente da ilha de Bensalém, e, em particular, a Casa da Ciência, ou de Salomão, uma espécie de Academia das Ciências, onde pulsa o coração da cidade e deriva todo o seu progresso de excelências. Nela trabalham sábios que investigam os segredos da matéria por meio de experimentos, com uma estrita finalidade prática. Possuem câmaras frigoríficas, torres de observação metereológica, barragens que accionam máquinas, praticam o cruzamento de espécies; enfim, um sem número de inventos que precisaram de alguns séculos para se realizar realmente. Uma nota muito curiosa que eu adianto sobre esta Assembleia de sábios: estão obrigados, por juramento, a “guardar o mais rigoroso segredo sobre todas as verdades cuja publicação nos pareça perigosa”, diz-nos Bacon pela boca de um deles. Ou seja, a ciência não vale apenas por si, submete-se à caridade, isto é, aos valores cristãos. Por outras palavras, Bacon acreditava, ainda na infância da ciência técnica, que os cientistas bastavam-se a si mesmos, operavam por razões puramente éticas, e não precisavam nem de fiscais, nem de governadores. Que bom!

Entre More e Bacon, decorria o tempo da formação e desenvolvimento da ciência, que fascinava os melhores espíritos. Os utopistas exprimem este novo paradigma, e associam razão científica com o Bem da humanidade, uns acentuando mais o papel da religião, reconciliada enfim com o espírito científico, como foi o caso de Campanella e de Bacon, ou rarefazendo-a, permitindo que cada um escolha a crença mais conveniente.

O género vingou : vão aumentando os relatos de viagens longínquas, naufrágios, terras de maravilha. Bastantes são aborrecidos, sobretudo na profusão deles oriunda da Inglaterra, e dirigidas a uma finalidade política imediata, quase sob a forma de programa para intervir na guerra civil; entretanto, brotam outras que inovam, inovam tanto que talvez transcendam o género utópico; refiro-me a textos delirantes de fantasia, e até, de comicidade. É o caso singular, pela verve, pelo brilho, pela graça, do francês Cyrano de Bergerac (1619-1655). Escreveu uma “História cómica dos Estados e Impérios da Lua “, inspirada provavelmente no livro “The Man in the Moon”, de Francis Godwin (1582-1633) primeira viagem interplanetária. Nesta obra a viagem faz-se por meio de gansos selvagens atrelados a um escaler; Cyrano imagina-a por meio de foguetes, e é o próprio que descobre o Paraíso na Lua. Cyrano foi um espadachim e aventureiro libertino, que haveria de inspirar Alexandre Dumas no romance Os Três Mosqueteiros; “inventa” os aeróstatos e os paraquedas, embora o enredo fantástico e cómico se acerque mais da rábula, à maneira de Rabelais (que escreveu o célebre Pantagruel, onde faz referência aos utopianos de More), do que de uma típica utopia. O entrecho começa assim:” A Lua estava cheia, o céu, descoberto, e nove horas da noite haviam soado quando regressámos de uma casa próxima de Paris, quatro amigos e eu. Os diversos pensamentos que aquela bola de açafrão nos inspirou entretiveram-nos pelo caminho. Com os olhos fixos no grande astro, ora um o tomava por uma clarabóia do céu através da qual se entrevia a glória dos bem-aventurados, ora outro defendia que era o campo onde Diana treina a caça de Apolo e outro exclamava que bem poderia ser o próprio Sol que, tendo-se despojado dos seus raios ao entardecer, espreitava por um buraco o que no mundo se fazia quando ele já lá não estava. “E eu”, disse-lhes, “que desejo juntar o meu entusiasmo ao vosso, creio, sem me entreter com as agudas fantasias com que perseguis o tempo para o fazerdes andar mais depressa, que a Lua é um mundo como este e ao qual o nosso serve de Lua.” Um talento como Cyrano consegue atrair o leitor pelo romanesco, e tornar a obra sempre lida. O mesmo não sucedeu com F. Godwin, que se serve do enredo apenas como expediente. A literatura puritana do século dezassete, inglesa naturalmente, perde, em geral, no confronto com a do continente. Faça-se justiça à capacidade de inovação, como se verifica em Margarete Cavendish, que inventa a viagem por mundos subterrâneos.

Entre o fim do século e o início do dezoito, é de salientar a utopia de Fénelon, dedicada ao futuro rei de que foi preceptor, embora o delfim morresse prematuramente. Bem elaborada, a peça desenha as delícias de um estado idílico, vividas por Telémaco; esta Bética ideal e pastoril, irá tornar-se influente no imaginário do século, ou exprime muito bem e de modo pioneiro esse que vai ser o paradigma do século dezoito, sobretudo francês. Este encanto da vida campestre, cuja evocação literária se confundirá muitas vezes com a tipologia das Arcádias, e menos com as utopias, poética, sensível, vai entrar na moda.

 Sob o império das guerras, ou os impérios tout court, do fanatismo, da desigualdade, da fome que assolava os campos da França e da Europa, os utopistas evadem-se, e fazem evadir os outros, para terras prenhes de frutos, de paz, de igualdade.

As viagens descem agora o Atlântico, chegam ao Pacífico, os náufragos acolhem-se na Austrália, às ilhas do Japão. A localização geográfica tende a ser cada vez mais precisa. A biografia do heróis é mais precisa. A língua dos homens felizes, achados, é um trabalho de invenção a que o autor se dedica com algum entusiasmo. A História dos Incas, de Garcilaso de la Vega, impressiona o imaginário europeu. Em alguns, a influência dos deismos, no plano da religião, e das ideias ousadas de Espinosa, remetem certas utopias para um modo imaginativo de debater esses grandes temas. É de salientar a obra de Denis Veiras (ou Vairasse) (m. 1700), Histoire des Sévarambes, sobre um naufrágio nas Índias Orientais. A abolição da propriedade privada, é, aqui, um elemento fundamental, bem na linha de More, Campanella, e outros mais. Sabe-se que Rousseau a leu.

  O século dezoito é, segundo alguns, o século de oiro das utopias (Raymond Trousson, et alt.). Um compilador e editor, reuniu, em 1789, trinta volumes de récitas mais ou menos utópicas (Voyages imaginaires, songes, visions et romans cabalistiques, de Charles Garnier), que teve um amplo sucesso. Contudo, foi também o século, há acordo unânime sobre isto, dos projectos de reformas. Se o género narrativo das viagens parece ter-se exaurido, no fim do século, não tanto por fartura, mas pela monotonia, o sub-género dos programas de legislação, mais ou menos radical, entrou plenamente pelo século seguinte adiante. Do século dezoito, queremos referir três autores, diferentes entre si, para compaginarmos caminhos diversos. O primeiro dos quais foi um monge beneditino, Lèger-Marie Deschamps, ou Dom Deschamps (1716-1774), que redigiu um estranho tratado de metafísica , Le Vrai Système, que nunca publicou; foi amigo e protegido por uma família de Grandes da França, os D’Argenson, de condes e marqueses, alguns deles com inclinações utopistas, o último dos quais viria mesmo a lançar fogo ao seu próprio castelo nas dias tumultuosos da Revolução francesa. O tratado de Dom Deschamps compõe-se de duas partes distintas : a primeira desenvolve um largo conjunto de teses em defesa de uma visão metafísica do mundo, onde é visível a influência do espinosismo, um Espinosa algo desfigurado, como sucedeu pelo século adentro; aí se argumenta, com talento, que a noção de Todo é tão substancial que ele existe realmente, pois que se as partes existem, também o todo é alguma coisa, classificado na nossa linguagem comum como o mundo, a matéria, o universo, a natureza; porém, este todo por força da lógica e da gramática, exige o seu contrário, ou negativo, tal como o “sim” pede um “não”: é o Nada; por outras palavras, se o primeiro todo é o finito, o seu Outro é o infinito. E assim por diante. Esta ousada especulação, conduz à consequência de que o homem pertence à natureza, e o seu verdadeiro destino é pôr-se de acordo com ela. Ora, tal acordo natural, exige um autêntico regresso, isto é, a sua felicidade somente se encontrará na comunidade agrícola e camponesa, em completa igualdade de bens e de afectos, todo entregue a uma vida serena, rústica, sóbria. A mensagem de Dom Deschamps dirigia-se particularmente aos poderosos, como aviso e remédio para futuras e latentes revoluções violentas: O clamor pela Felicidade, pela Natureza, pela Igualdade, ecoa nesta obra, como em muitas mais desse século, que culminará em revoluções que transformarão o mundo. Os textos de Deschamps são pernósticos, de leitura difícil , excepto na parte onde descreve a sociedade que há-de vir, que ele designa de “estado dos costumes”; contudo, a penosidade é, por fim, gratificante, pois trata-se de um excelente exercício de filosofia. Cito este caso deste autor, praticamente desconhecido na península Ibérica, e ao qual tenho dedicado boa parte da minha investigação, porque é um utopista sui generis, que se serve de uma metafísica tipificada, de moldura espinosista, para extrair o projecto de uma sociedade feliz, em jeito de dedução lógica. Este esquema segrega tanto utopias  típicas, isto é, alternativas para uma sociedade ideal, como se aplica a projectos usualmente não classificados como utopias, e refiro-me , por exemplo, às obras famosas de Proudhon, de Marx e de Engels, muito embora nestas, a tentativa de fundamentação histórica e económica, seja índice de outra atitude, aquela que virá a ser característica do século dezanove.

O segundo exemplo que desejo transmitir-vos vem-nos das obras  do filósofo e escritor Denis Diderot, as quais constituem um caso raro de longevidade, tal como as de Rousseau e de Voltaire. É curioso que Rousseau ensaiou também, se não o género utópico, pelo menos a orientação; e o grande Voltaire, como sempre, dedica-se a estilhaçar as utopias, no seu livrinho “Cândido”, ou a busca do El Dorado. É caso para dizer que quem diz mal não enjeita...Vejamos a contribuição de Diderot. Encontramo-la, particularmente, no Suplemento à Viagem de Bougainville, ou seja, uma adenda fantasiosa que ele apôs ao livro de viagens do célebre navegador francês, e decorre naturalmente no Taiti, e traz como subtítulo a esclarecedora advertência .” Sobre a inconveniência de colar ideias morais a determinadas acções físicas que não as comportam”. Trata-se de um diálogo fascinante entre um civilizado e um indígena, por meio do qual se demonstra a vanidade, e a vacuidade, de muitos dos nossos juízos, que são quase sempre de ordem moral, a decadência dos nossos costumes, a sua inutilidade quando vistos à luz do que é natural, e até o seu ridículo. Os interlocutores discorrem sobre “ a guerra que nasce de uma pretensão comum à mesma propriedade”, sobre o taitiano que o capitão levou para bordo do seu navio, e que se atirou “sobre a primeira europeia que veio ao seu encontro, “pela razão de que “o uso comum das mulheres estava bem arreigado no seu espírito”, em suma, “O Tahitiano toca na origem do mundo, enquanto o europeu toca na sua velhice”. Séculos depois haveremos de insistir no tema, e recordo-vos apenas o belo livrinho que se intitula “O Papalagui”.

Por fim, permito-me recordar-vos a leitura que fizestes todos, com certeza muito agradável, das Viagens De Gulliver, dessa obra imortal de J. Swift (1726). Transformada em relíquia para crianças, jovens, idosos, em filmes, em banda desenhada, em resumos, ou integralmente, anda de geração em geração. Na verdade, não a citamos como um exemplar típico de utopia, porque o não é, muito embora o romanesco e as descrições nos confundam. Em boa verdade, é um livro pessimista, misógino, ponto de mira sobre o homem que não o engrandece nem dignifica. O sarcasmo mais agudo alcança o gume lancinante quando descreve a terra dos cavalos razoáveis que escorraçam a espécie humana, reduzida à animalidade feia, porca e má. Apesar disto, e do muito mais que o livro encerra, o leitor percebe perfeitamente o alcance da crítica implacável do autor, compadece-se das misérias dos homens, das infelicidades do narrador, e fica desperto para as mudanças. Livro sinuoso e insinuante, claro e equívoco, escrita com imensa mestria, que marca uma ruptura nas crenças ingénuas sobre a possibilidade de perfeição humana. O mito do bom selvagem é estilhaçado com azedume e amargura, mas não foi capaz tal intento de impedir a Rousseau, alguns anos passados, de reinventá-lo com igual engenho.

Deixem-me fazer referência a mais uma inflexão no género utópico que o século foi capaz : o futurismo, isto é, a projecção, pelo sonho literal, do viajante no tempo, ou ucronia, realizada por Louis-Sébastien Mercier (1740-1814), produzindo um título com sucesso :”O Ano 2440”. Esta técnica virá a frutificar no século vinte.

Entretanto, e quanto ao século dezanove, escolherei somente um autor, dos muitos que o marcaram pelas suas construções utópicas. Temos de abreviar evidentemente. Trata-se de William Morris (1834-1896). Um artista, um poeta, um militante; estudou Robert Owen, aquele que pôs em prática uma utopia, estudou Marx, fundou a Liga Socialista, reflectiu sobre o tristemente célebre “Domingo Sangrento” e a Comuna de Paris, foi o melhor designer, como hoje diríamos, europeu do seu tempo, um grande jornalista, um pioneiro da defesa do ambiente, um contador de histórias entre os melhores, e legou-nos uma das mais encantadoras utopias contemporâneas, News from Nowhere (1890) que traduzimos por Notícias de Parte Nenhuma, na qual nos descreve uma Inglaterra do ano 2102, à qual acede por meio de um sonho, uma Inglaterra pastoral, toda verde e florida, uma Londres sem fábricas e sem poluição, um Tamisa bordejado de arvoredos e sulcado por canoas. O socialista sincero que ele foi, projecta os seus sonhos, e o sonho de muitos, na harmonia do homem com a natureza, e não nos benefícios da ciência técnica. É a genuína utopia de um verdadeiro esteta. Neste sentido, é a mais expressiva, a aquela que mais nos toca em um tempo de contestação das aplicações da técnica e dos triunfos de um capitalismo neoliberal. Sai fora, sem dúvida, dos parâmetros das utopias representativas do século durante o qual o positivismo e a industrialização parecia prometer terras da abundância, através do capital, para una, através das revoluções proletárias, para outros. Curiosamente, no romance de Morris, essa bela Inglaterra nascerá das convulsões de um período revolucionário. A verdade é que o autor de “Notícias de Parte Nenhuma ou uma Era de Repouso”, ele próprio, sob o título, classifica o romance como “utópico”, mesmo que alguns mais recentemente o classifiquem como não-utópico, pelo atipismo que referi, que os levou a considerá-lo como “reaccionário”. Seja como for, sentimos nitidamente como as personagens e cenas do romance constituem uma idealização, uma compensação, para a vida que ele próprio viveu. E nesse aspecto, a utopia em Morris adquire aquela tonalidade próxima e quase confessional, aquele contorno de devaneio, aquela intenção de evasão, a que o senso comum reduz injustamente todas as construções utópicas. Entre o romance de Morris e o livro de Étienne Cabet, o autor de Viagem à Icária, um dos mais celebrados da primeira metade do século dezanove, só encontramos diferenças : neste começa por falhar o estilo e o enredo, e prevalece o projecto de legislação, o desenho minucioso e aborrecido das instituições, a confiança na industrialização, conduzida, naturalmente, pelos próprios produtores sem amos e grilhões. Para mim, como digo, W. Morris, é precisamente aquele que simultaneamente abre para o futuro, religando a utopia com o seu passado; isto é, apela aos nossos sentimentos ambientalistas e ecologistas, e retoma as arcádias bucólicas, os mundos rurais, de muita utopia dos séculos precedentes.

Entremos, por fim, no século vinte, nas grandes antecipações contemporâneas, nos livros de Herbert George Wells, de Anatole France, de Jack London, de Bernard Shaw, Karel Capek, de Aldous Huxley, de Bradbury, e de uma plêiade de autores de ficção científica. Evoquemos apenas alguns títulos. Herbert Wells é o pai da ficção científica contemporânea, ombreando os seus livros em sucesso com um autor mais velho, Jules Verne. Ao mesmo tempo que é o mais moderno dos viajantes do espaço e do tempo, daqueles que ficcionaram o contacto com extraterrestres, as suas numerosas histórias continuam a encantar milhões de leitores, de todas as idades, por toda a parte. Conheceis com certeza ou os filmes ou o livro que se intitulam “A Máquina do Tempo”. Mas, para além destas enormes virtualidades inventivas e pioneiras do seu autor, há mais uma: foi seguramente o primeiro, contemporaneamente, que imaginou extraterrestes muitíssimo violentos, invasores implacáveis, e congeminou um futuro horrível para a humanidade, pelo menos a longuíssimo prazo. Com ele, inverte-se o rumo das utopias, embora não julgue que se anule a sua orientação intencional. No fundo, as utopias tanto servem para nos mobilizar para uma prática transformadora, em vista de um mundo melhor, como nos alertam para as consequências futuras dos caminhos que seguimos no presente. O romance extraordinário, em termos literários, que é “A Máquina do Tempo”, narra-nos o futuro da humanidade no ano 802.701, composta por duas raças : os Elóis, “graciosas criaturinhas desprovidas de todo o sentimento e cujo nível intelectual é o de uma criança de cinco anos, exclusivamente frugívoras, vivendo em grupos, ignorando o trabalho, brincando todo o dia” (R. Trousson,1975), e os Morlocks, longínquos descendentes dos proletários,  que habitam subterrâneos. A divisão da humanidade em duas classes evolui da ordem social à ordem orgânica, “o proletário tornou-se antropófago, e o aristocrata, comestível.” ( A France). Dotado para as ciências e devotado a estas, às biologias sobretudo, utiliza-as para construir especulações que viriam a conquistar enorme sucesso, como é o caso de a Guerra dos Mundos, ou de A Ilha do Doutor Moreau, ou ainda de Uma Utopia Moderna, onde nos faz imaginar um planeta gémeo da terra, no qual cada um de nós possui aí o seu gémeo.   

 Entrados plenamente no domínio da antecipação científica, indiquemos algumas sugestões: Karel Capek (1890-1938), os livros: A Fábrica do Absoluto; R.U.R.(Rossum’s Universal Robots), o inventor da palavra robot; Philip K. Dick, Blade Runner ( viram o filme?); Ray Bradbury, Fahrenheit 451, e Crónicas Marcianas; J. G. Ballard, Olá América!; Stnislaw Lem, Congresso Futurológico; Isaac Asimov, O Planeta dos Deuses; Iván Efrémov, A Nebulosa de Andrómeda...sobre este último queria dizer o seguinte, tanto mais que os outros são sobejamente conhecidos: Iván Efrémov foi um paleontólogo soviético, que enveredou com êxito estrondoso pela ficção científica, porque a considerava como o meio excelente de procura do novo; esta atitude esclarece-nos muito bem sobre o que é essencial na utopia a formulação do novo – e sobre os meios, diversos, recorrentes ou inovadores, de que nos servimos para essa busca.  Ora, a confusão estabelece-se, não tanto sobre a diversidade dos meios utilizados, pois podem ir desde a literatura à arquitectura, mas principalmente sobre o que é o “Novo”: para a maior parte dos escritores que vos citei, de ficção científica, o novo é pavoroso ou quase, para outros, como foi o caso De Efrémov, o novo é a sociedade comunista. Sejam eles diferentes, os escritores, o que há de comum entre estes que vos escolhi, numa larga panóplia, é o engenho e a vocação de escritores. Por outro lado, e para finalizarmos a nossa comunicação que já não é tão breve quanto desejaríamos, as diferentes configurações do Novo (termo que o Ernst Bloch gostava muito de usar...) conduziram o género literário utópico para uma profunda bifurcação: a utopia propriamente dita, o Princípio Esperança, como classifica tão bem o Ernst Bloch, e a distopia, isto é, a anti-utopia; neste caso não se trata de uma obra não utópica, como há muitas, mas de uma obra propositadamente anti – utópica, modelo que remonta ao comediógrafo Aristófanes e a Luciano de Samósata (séc. II D. C.), e que J. Swift  e Voltaire utilizaram brilhantemente;  nesse aspecto não há nada de absolutamente novo no fenómeno em que se tornaram os livros de A Huxley e G. Orwell, respectivamente “ Admirável Mundo Novo” e “ Mil Novecentos e oitenta e quatro”, onde cada a seu modo escalpelizam a engenharia genética e a engenharia política. Nem é completamente nova a atitude crítica das utopias, nem a demonstração figurada, ou antecipada, da sua perigosidade, ou pretensa perigosidade (Marx, por exemplo, fizera-o  em textos densos e célebres), nem a desocultação dos elementos ideológicos que lhe estarão subjacentes. Nenhum destes temas nos ocupou nesta palestra. O que existe de interessante nestas duas obras de antecipação, foi que, com muito engenho e arte, souberam, ou conseguiram, exprimir receios e inquietações de um vasto público do século vinte, preocupado com o confronto das grandes ideologias planetárias, com a subsequente guerra fria, ou com as utilizações políticas da ciência técnica. Atrevo-me a adivinhar que o livro de Huxley, The Brave New World, conservará a sua actualidade, ou sucesso, neste século no qual a genética, e a clonagem, promete vir a constituir uma verdadeira ponta-de-lança, que tanto espevita as esperanças como inquieta os espíritos.  

Termino com a interrogação inevitável : é o nosso tempo, um tempo para utopias? Tentarei evitar a sedução de alguns clichés com que costumam terminar as abordagens do fenómeno das utopias, escolhendo outra atitude : formular alguns problemas, pois que um problema razoavelmente formulado economiza tempo, aponta um caminho de pesquisa, e pode ser abdutivo.

Primeiro – Existe de facto Progresso? Tal conceito é realmente operatório, objectivo, ou radicalmente “cultural”, “valorativo”? Até que ponto depende da nossa vontade o Possível?

Segundo – Se a produção utópica interpreta a felicidade geral de tantas e variadas maneiras, oportuno, rico e variegado seria o debate hoje sobre aquilo que causa hoje mal-estar, sofrimento, infelicidade, quando, afinal, dispomos de tantos meios e tantos saberes.

Terceiro – É o princípio Esperança uma profunda e universal, e permanente, orientação do ser vivo, e do ser humano, nascido para o prazer, para as suas múltiplas e crescentes necessidades, vivamente interessado no desenvolvimento multilateral e harmonioso das suas capacidades, com direito igual à dignidade? Ou é, somente, uma artificiosa invenção de uns tantos espíritos eternamente insatisfeitos, negativistas, desejosos de poder e de glória? Ou sejamos mais brutais : é a Esperança um simples embuste, uma aposta cega no voluntarismo, um remédio opiáceo que nos poupa ao trabalho de lutar e de construir?

Quarto – No sentido lato, cabem tanto as utopias que rejeitam o presente e propõe uma alternativa global, como cabem as utopias “fracas” que o neo-capitalismo oferece, desde a ideologia da globalização e do “fim da história”, até ao reino presente e futuro da mercadoria. E cabem tanto os romances e os programas, como as artes arquitectónicas e urbanísticas, as artes plásticas e os monumentos, o Ambiente e a qualidade de vida. Se trabalharmos com este sentido amplo, teríamos de distinguir utopias conservadoras e utopias revolucionárias, no primeiro caso, e, no segundo, utopias criadoras, que rompem com o imediatamente utilitário e “consensual”, com as soluções tecnocráticas sem “alma”, mas que, pelo contrário, aumentam o reino dos afectos, da solidariedade, da beleza e da dignidade.

Venham então as vossas respostas e as vossas perguntas.

Pelo estilo que utilizei e pelos exemplos que escolhi, podereis conduzir a vossa reflexão  integrando os produtos utópicos no âmbito da Imaginação Social, que é o domínio dos símbolos, dos mitos, das ideologias. Sabemos hoje o suficiente para ficarmos alertados para a importância desse mundo; para o seu poder real e não quimérico; tratamos aqui de coisas bem reais e poderosas; tratamos de ideias que alcançam uma força real, de um capital simbólico que domina as nossas vidas, que nos deixa, aparentemente pelo menos, uma estreita margem de manobra, pois que é dotado de uma potência que lhe permite distribuir os indivíduos segundo os seus lugares e os seus papeis na organização social. Por isso, porque as utopias não se reduzem a ideologias religiosas ou políticas, por isso é que eu valorizo sobretudo as utopias de construção, do plano e do esboço, em suma nesta palavra algo equívoca mas económica : do projecto. E é assim que eu admito que as utopias sociais não constituem o modo e o género exclusivos das utopias, quero dizer que a orientação desejante que se dirige para o Ainda –Não, para o Novo, não existe somente na fórmula inventada por Tomás More, no romance político. Esta função antecipante da imaginação social, que se exprime nos conteúdos de determinadas ideologias, que se materializa nas obras de arte, exige uma atitude filosófica, exige que a filosofia se confronte com uma das suas mais potentes, fecundas, vocações, eu digo, para terminar, qual : a reflexão sobre o Ser, sobre o Ser Verdadeiro, sobre a vida, sobre o mundo, sobre o homem, ou seja, sobre o que é não-vida, sobre o que é indigno, sobre o que é inumano. Nenhuma utopia concreta, nenhuma boa filosofia, nenhuma boa obra de arte, nos afasta do exercício urgente da liberdade, porque não nos remetem para o impossível das calendas gregas, mas apelam aos nossos direitos, à necessidade mesma de um Presente que liberte o trabalho e a fruição.

Perguntareis como é possível esta tarefa neste tempo em que partidos e comentaristas decretaram a morte das ideologias, em que a própria esquerda europeia que governou vários países europeus andou ensinando a “conversão ao real”, as virtudes do pragmatismo, o carácter inelutável de uma eficiente gestão dos orçamentos, e que se desarmou perante os triunfos da ideologia ultra-liberal da globalização. Pois eu julgo agora que é não só possível como necessário.

 

Nozes Pires

 

Bibliografia referida:

 

Raymond Ruyer, L’utopie et les utopies, Gérard Monfort.

Raymond Trousson, Voyages aux pays de nulle part, éditions de l’Université de Bruxelles.

Bronislaw Baczko, Les imaginaires sociaux, Payot ; Enciclopédia Einaudi, vol. 5.

Ernst Bloch, Le Principe Espérance, Gallimard.

António Marques Bessa, Utopia, Publicações Europa-América.

Voyages Aux Pays de Nulle Part, Ed. Robert Lafont.

A Utopia, Tomás Morus, Guimarães Editores. Existem outras traduções.

Fernando de Mello Moser, Tomás More e os caminhos da perfeição humana, Veja.

Bacon, col. Os Pensadores, Nova Cultural.

J. Swift, As Viagens de Guliver, edição do jornal Público.

Luciano, Uma História Verídica, Inquérito.

Cyrano de Bergerac, Viagem à Lua, Guimarães ed.

Voltaire, Cândido, Guimarães ed.

Diderot, Supplément au voyage de bougainville, Flamarion.

William Morris, News from Nowhere and other writings, Penguin classics.

Iván Efrémov, A nebulosa de Andrómeda, Caminho, FC.

Isaac Asimov, O Planeta dos Deuses, Edição “Livros do Brasil”.

H.G. Wells, A máquina do tempo, Estúdios Cor.

Aldous Huxley, A Ilha; Admirável mundo novo, Livros do Brasil.

George Orwell, mil novecentos e oitenta e quatro, Antígona.

Alexandre Zinoviev, O Futuro Radioso, Publicações Dom Quixote.

 

 

 

 

 

 

 

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