Continuando os passos seguidos no texto publicado em baixo.
Se historiadores probos, cientistas das ciências sociais, meros observadores conscientes e informados até pela experiências de vida, constatam e analisam a diversidade das regras de comportamento, os diversos significados com que se têm entendido a noção aristotélica de justiça, porque não concluem que as morais fazem-se cá e cá se arruínam e desaparecem? Os comportamentos pelos quais se regiam os antigos gregos nas diversas fases da sua história: aristocracia, democracia ; as diferenças entre os antigos espartanos e os atenienses ; as regras mais ou menos consagradas pela tradição dos antigos romanos das elites; os comportamentos que atualmente se começa a descobrir dos maias ou dos aztecas, ou , enfim, dos incas que terão conservado de civilizações grandiosas anteriores, mas, seja como for, as superaram através do sue imperialismo. Civilizações que desapareceram totalmente nas Américas, no continente africano. Reveladas pelos arqueólogos, silenciadas pelos colonizadores, sobretudo pelo capitalismo do século dezanove. O tal eurocentrismo também, de que agora tanto se discute. Não se publicam estudos nestes últimos cinquenta anos que demonstram como se transformou a moral. isto é, a ideologia moral, do capitalismo contemporâneo? O individualismo que propaga, o egoísmo social, a ambição por uma mobilidade social que se revela ilusória, o elogio de comportamentos agressivos na competição económica, a fragmentação dos trabalhadores impedindo-os de se verem a si mesmo como classe, a classe produtora. Estes e outros comportamentos são ensinados, exigidos em nome do sucesso individual e da produtividade do país. Ensinados nas famílias, nas escolas, imposto como deveres nas empresas pelos patrões aos empregados.
O filósofo eminente John Rawls escreveu uma obra sobre a Justiça, a qual se viu obrigado e corrigir por uma segunda, dando mais deveres e possibilidades de justiça ao seu liberalismo. Nos anos setenta do século passado era já mais que evidente o novo rumo do liberalismo, o fim das utopias e das ilusões, as consequências desastrosas do regime liberal norte-americano, puro e duro. À vista já então o aprofundamento da desigualdade nesse país e em todo o lado onde se espalhara o capitalismo. Ou melhor, até onde chegara o mercado mundial capitalista. Claro é que as guerras deste imperialismo não as justifica ele com as verdadeiras finalidades, mas com princípios morais, nomeadamente com base nos famosos "direitos humanos". E esta hipocrisia que já Marx e Engels haviam denunciado há mais de cento e cinquenta anos, é eficaz, e é isso que assusta.
Quem domina os principais meios de produção das riquezas materiais, domina os meios de produção dos enunciados ideológicos, morais, ou outros. Pode corrigir, pode ceder, mas só até certo ponto. Não tem é como erradicar os fundamentos das suas crises. Tem que se desenvolver, superar, resolver essas crises, para de novo provocá-las. Eles sabem isso. Um empresário esperto sabe isso, um académico liberal também. Têm que fugir para a frente, nunca para trás.
Têm de realizar guerras e semear o caos, a instabilidade permanente em que vivem e fazem-nos viver. Sobretudo quando outras potências competem pela hegemonia ou contra coisa qualquer.
Do pensamento de Marx e Engels extraímos facilmente uma nova moral e sabemos como foi tentada a sua aplicação e como foi falhada em parte não pequena. Por exemplo, ou principalmente, a criação de um "homem novo" na União Soviética, depois, pior ainda, na URSS. Certamente que surgiram aí indivíduos novos, crianças educadas de outra forma que vieram a tornar-se justos e altruístas ou cooperantes para o bem público. Todavia, a luta de classes não desaparecera, nem, com ela, a cobiça, a crueldade, o egoísmo, a corrupção, a covardia.
Os trabalhadores, particularmente os operários, não possuem uma moral distinta da moral dominante, apesar de valorizarem comportamentos ligados ao trabalho comum que os capitalistas não valorizam quando se comportam como pessoas no quotidiano, dentro ou fora das suas famílias. As elites desprezam comportamentos dos trabalhadores rurais, sobretudo se forem pequenos ou pobres, e dos operários que vivem nos seus bairros. Mas são esses elementos positivos que o marxismo quis e quer desenvolver e alargar : o cooperativismo, os deveres de proteção dos bens públicos e de interajuda, as lealdades de camaradagem, etc.
São novos deveres para todos. Ou sê-lo-ão. Serão elementos constitutivos da Justiça social cumprida, da igualdade em progresso.
........Nozes Pires--------
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