Elucubrações . I
Uma questão que me assoma de vez em quando é a seguinte : porque motivo os povos consentiram em reis divinizados? Os dois termos (substantivo e adjetivo ou talvez adverbio de modo) só aparentemente são separáveis. É certo que existiram comunidades étnicas onde os reis eram admitidos mas não divinizados, assim como existiram comunidades onde os chefes apenas eram consentido nas ocasiões de guerra ou de grandes crises. Contudo, por longos períodos e em determinadas regiões do globo os reis eram acreditados como deuses, ou descendentes dos deuses. O que surpreende é que ual acontecesse em países e culturas onde aos reis sucederam repúblicas e a estas sucederam deuses que, depressa, foram adorados como divinos, assim sucedeu em Roma. O que surpreende é que a democracia ateniense (e jónica) durasse pouquíssimo tempo histórico (mesmo assim interrompida pelos Trinta Tiranos) e tudo houvesse regressado ao regime protonazi de Esparta e ao império de Alexandre ; enfim, aos regimes das monarquias que, se não foram imediatamente divinizadas, não demoraria muito que viessem a sê.lo. Assim, após o longo período excecional da Trevas (o fim do império romano do ocidente e a ascensão dos senhores dos feudos), as democracia foram esquecidas e reimplantadas as monarquias cada vez mais absolutas. Surpreende que ainda há pouco, no século dezoito, os reis de França fossem benzidos pela Igreja (ambas : ainda hoje no Reino Unido, pasme-se!)) como santos (ou santificados) e o povo os adorasse como se fossem divinos. E estes não se rogavam , cultivavam essa ideia, como bem o fez o rei absoluto Luís XIV. Surpreendem-me estes regressos. Surprreende que os povos transplantassem para a Terra os deuses em que acreditavam e que habitariam na sétima esfera celeste.
A história não avança como avança um copo empurrado por uma força. Move-se. Umas vezes parece progredir, outras, regredir. Talvez tudo dependa de quem possua a riqueza e a força.
O faraó do Egipto somente era contemplado por uma elite de altos sacerdotes (provavelmente eram este que na verdade mandavam e conspiravam). O Luís XIV só era contemplado pela alta corte e por pouco tempo. Neste século Vinte Um, as elites financeiras, pelo contrário, são contempladas semanalmente pela populaça. na televisões, nas revistas das celebridades. Embora alguns se escondam discretamente para que não se saiba demasiado sobre o real poder que detêm (sobre as eleições por exemplo),
Surpreende-me que em comunidades antigas e outras não tão antigas assim não se consentissem chefes permanentes, com poderes absolutos permanentes e, noutras, suas contemporâneas e por vezes até vizinhas. sim. E que no século vinte e um, se permitam. Mais : se elejam com vontade e intenção livre do eleitor (pelo menos assim se dá a parecer e , assim, ele, o eleitor, se julga). Não me refiro aos políticos (ou a alguns) que só permanecem no trono quatro anos ou mesmo oito. Refiro-me aos que efetivamente são reis absolutos e divinos por cima desse governantes de turno.
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