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terça-feira, 17 de dezembro de 2024

 

A política contra o capital

Por Virgínia Fontes

O sociólogo Marcello Musto, é um grande estudioso da obra de Marx e teve rara fineza ao definir a seleção para os três volumes que compõem O essencial de Marx e Engels. Entre os destaques está a coerência e a fidelidade à obra e trajetória de Marx e de Engels, aliadas à sensibilidade para a extração de textos que incidem, por exemplo, sobre a relação do Estado com as religiões (Estado teológico), a censura, o livre comércio, a brutalidade das colonizações capitalistas, o racismo, a desigualdade de gênero, a violência e a guerra. Temas dramáticos em nossos tempos.

O fio condutor da política, na obra de Marx, é a luta pela emancipação humana do jugo de um modo de produção histórico – o capital e o capitalismo – que expande as classes trabalhadoras por sucessivas expropriações, mas as subordina na extração de mais-valor e enreda no fetiche e na ideologia; que se apresenta como “natural e racional”; e que no século XIX avançava em direção a todos os quadrantes do planeta. Não há defesa de uma humanidade abstrata: a redução violenta da esmagadora maioria da população à mera condição de livres e necessitados vendedores de força de trabalho converte-se na universalidade da luta humana contra o capital, contra as burguesias, seu Estado e seus acólitos.

A política em Marx afasta-se determinadamente de uma “ciência política” liberal ordinária. Ela se explicita como ciência efetiva, como conhecimento das modalidades históricas do ser social sob o capital, das lutas sociais e de classe, das formas organizativas da classe trabalhadora em direção à revolução. Envolve uma crítica radical da “razão” burguesa em todas as suas manifestações. Contrapõe-se a uma suposta “política” ou um Estado neutros, fios condutores da dominação de classes, legitimação e cilada para enredar os subalternos.

A crítica de Marx desmente que o Estado possa ser a expressão da Razão (Hegel), pois é a forma política da dominação econômica. Em outros termos, não está acima e separado da sociedade civil, mas é seu fruto, assegurando o aprofundamento da exploração de classes que nela reina.

Não se deve enganar o leitor: assim como a crítica da economia política, a crítica efetiva do Estado exige compreender que as massas vivem sob sua dominação, mas que também agem, atuam, reivindicam e conquistam vitórias. É preciso desvendar cada uma dessas conquistas, valorizando-as, ao mesmo tempo em que se evidenciam seus limites reais. Explicitar as contradições é um ponto crucial.

Não bastam as belas e emocionadas palavras com que alguns denunciam o Estado; é preciso entender (e sentir) que estamos imersos num processo sócio-histórico (e metabólico) e que é sob essa dominação que transcorrem as lutas de classes. Não escolhemos o terreno da luta.

A política e as lutas não se limitam ao Estado nem a suas instituições. Precisam enfrentá-lo, mas atingindo todo o arcabouço da vida social, a começar pela propriedade do capital. A institucionalidade estatal está contida na análise, mas não é o centro. Este é o da revolução, o da superação do capital e de seu Estado. A clareza do alvo revolucionário envolve a explicitação da necessidade de processos organizativos, do enfrentamento cotidiano das múltiplas formas de produção da subalternidade e da construção/socialização de um conhecimento ao mesmo tempo teórico e prático dos — e para os — trabalhadores. A exigência é da luta e da organização políticas contra a política e o Estado.

O livro incorpora passagens polêmicas, por exemplo sobre a colonização britânica da Índia, permitindo sua contextualização. Acompanha aprendizados de Marx ao longo do tempo, como a relação com o campesinato e as exigências derivadas das conjunturas das lutas — da Comuna de Paris ao crescimento da luta eleitoral –, sempre com o agudo fio revolucionário.


A mais inovadora e abrangente antologia de textos de Marx e Engels já chegou!

Mais de cento e quarenta anos após a morte de Karl Marx e cento e vinte da morte de Friedrich Engels, qual a contribuição intelectual desses dois filósofos para o Brasil e para o mundo? Muito se fala hoje, da esquerda à direita, de Marx e Engels, mas o quanto estamos de fato lendo suas obras?

Concebida pela Boitempo, principal editora de Marx e Engels no Brasil, para atingir um público amplo, a antologia O essencial de Marx e Engels propõe um mergulho de fôlego e amplitude sem precedentes nos principais pontos do projeto teórico desses dois autores. A organização, as apresentações de cada volume e as notas explicativas são de Marcello Musto, professor italiano com contribuições decisivas no florescente campo de estudo marxiano contemporâneo. A obra conta também com prefácio de José Paulo Netto e textos de apoio de alguns dos maiores especialistas brasileiros: Marilena Chaui, Jorge Grespan, Leda Paulani, Virgínia Fontes, Lincoln Secco e Alfredo Saad Filho. A edição é de Pedro Davoglio.  

O essencial de Marx e Engels reúne os textos mais importantes dos pensadores e revela cartas, manuscritos e rascunhos inéditos ou pouco conhecidos. Os três volumes, separados em escritos filosóficos, econômicos e políticos, contam com 16 partes temáticas e 66 extratos diferentes, incluindo obras publicadas, documentos e alguns escritos inacabados que foram anteriormente negligenciados. A obra revela, entre outras coisas, como estão equivocadas as interpretações que retratam Marx e Engels como pensadores eurocêntricos e economicistas, interessados apenas no conflito entre trabalhadores e capital.

Os volumes seguem uma linha cronológica que vai do início da década de 1840 até a morte de Engels, em 1895. Temas como a filosofia pós-hegeliana, a concepção materialista da história, método de pesquisa, trabalho e alienação, crise econômica, socialismo e muitos outros trazem ao público as ideias mais conhecidas e uma faceta pouco explorada da dupla. Em uma época em que as teorias de Marx e Engels voltam a ser investigadas em escala global, esta obra permite uma nova e mais completa interpretação geral de sua produção intelectual.

Além dos três volumes citados, a caixa contém o livreto Para ler Marx e Engels, com material complementar às obras publicadas no Brasil, como aulas, debates, palestras, itinerários de estudo e indicações de leituras de apoio.


Os primeiros dois mil leitores que comprarem a caixa no site da editora ou a reservarem em livrarias de todo o país ganharão um cartaz A2 exclusivo com o texto integral do Manifesto Comunista. Lembramos também que assinantes do Armas da Críticaclube do livro da Boitempo, têm 30% de desconto na compra de O essencial de Marx e Engels, bem como de todos os livros em nosso site.


Empenhada há quase três décadas em traduzir as obras de Marx e Engels, com rigor acadêmico e editorial, e sempre a partir dos manuscritos originais, a Boitempo conta hoje com mais de 33 volumes dos dois autores publicados e dezenas de livros dedicados ao estudo da teoria marxista. Algumas de suas edições chegaram a ser reconhecidas como as melhores do mundo por Gerald Hubmann, ex-diretor da MEGA (Marx-Engels-Gesamtausgabe, instituição detentora dos manuscritos dos autores).

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