Marx e Engels no calor da revolução

Imagem: Wikimedia Commons.
Por José Paulo Netto
Fernando Claudín (Zaragoza, 1913 – Madri, 1990) foi daqueles típicos revolucionários da mais antiga e nobre estirpe socialista. Estudante de arquitetura, ingressou aos vinte anos nas Juventudes Comunistas da Espanha e abandonou a universidade para combater na guerra civil, destacando-se na Junta de Defesa de Madri. Com a derrota republicana, foi compelido ao exílio em diversos países.
Na direção do Parti do Comunista da Espanha, divergindo do Comitê Central, em 1964 foi dele expulso, juntamente com seu amigo, o escritor Jorge Semprún; depois viveu em Paris, como editor, até seu regresso à Espanha, após a morte de Francisco Franco (lembre-se: Caudillo de España por la gracia de Dios…). E permaneceu ativo no Partido Socialista Operário Espanhol até seus últimos dias.
Foi um revolucionário dos velhos tempos: à sua disciplinada militância político-partidária, conjugou uma firme autonomia intelectual e um registro de informações históricas e teóricas significativas que lhe possibilitaram escrever o já clássico A crise do movimento comunista (1970). Mas paradigmático mesmo, como exemplo de fecunda pesquisa, é este livro que agora a Boitempo disponibiliza aos leitores da língua portuguesa, o qual, publicado tardiamente no Brasil, de sua primeira edição (1975) aos dias correntes, resistiu ao passar do tempo e permanece referência documental inarredável.
Marx, Engels e a revolução de 1848 é um ensaio pioneiro no exame marxista — não doutrinário, mas rigoroso e objetivo — dos diversos processos revolucionários que sacudiram a ordem europeia parida pela chamada Santa Aliança e consagrada no Congresso de Viena (1815). Em sua pesquisa, Claudín desvela a diversidade e a complexidade da primavera dos povos, no mesmo passo que resgata criticamente as análises que, no calor da hora, foram elaboradas por Marx e Engels.
Claudín faz mais, todavia: ele problematiza os fundamentos das concepções marx-engelsianas desse período revolucionário e as coteja com seu desenvolvimento em textos de Marx e Engels produzidos posteriormente. De fato, este ensaio notável põe em questão temas (Estado, partido, classes, nação) que atormentaram os marxistas ao longo do século XX e ainda interpelam historiadores e cientistas sociais do século XXI.
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José Paulo Netto nasceu
em 1947, em Minas Gerais. Professor Emérito da UFRJ e comunista, é
amplamente considerado uma figura central na recepção de György Lukács
no Brasil, coordenando a “Biblioteca Lukács“, da Boitempo. É autor, entre outros, de Karl Marx: uma biografia (Boitempo, 2020) e Lukács, uma introdução (Boitempo, 2023), além de organizador de Da erótica (Boitempo, 2022), antologia de poemas de Bocage, História e consciência de classe, cem anos depois (Boitempo, 2023) e do guia de introdução ao marxismo Curso Livre Marx-Engels: a criação destruidora (Boitempo, Carta Maior, 2015).
NÃO PERCA!


MARX E ENGELS COMO VOCÊ NUNCA VIU

Marx, Engels e a revolução de 1848, de Fernando Claudín
Neste
livro, o revolucionário e teórico espanhol Fernando Claudín traça um
minucioso retrato da trajetória de Karl Marx e Friedrich Engels durante
esse conturbado período revolucionário — desde a véspera da publicação
do Manifesto Comunista, passando pela intensa troca de
correspondências entre a dupla, sua articulação com outras forças
políticas, até suas contribuições ao periódico A Nova Gazeta Renana,
do qual Marx foi editor-chefe. O resultado é uma análise rigorosa de
documentos e testemunhos, mostrando como essa conjuntura revolucionária
(e as lições tiradas da derrota do campo progressista e socialista)
influenciaram o desenvolvimento do pensamento de Marx e do horizonte
militante comunista.
Considerado um dos maiores marxistas e
intelectuais espanhóis do século XX, Claudín deixou um legado marcante
tanto no campo das ideias quanto na prática política. A obra ganha agora
tradução para o português, realizada por José Paulo Netto, que
destaca: “Este ensaio é pioneiro ao examinar, sob uma perspectiva
marxista — não doutrinária, mas rigorosa e objetiva — os processos
revolucionários que abalaram a ordem europeia estabelecida pela Santa
Aliança e consolidada no Congresso de Viena (1815). Em sua pesquisa,
Claudín revela a diversidade e a complexidade da ‘Primavera dos Povos’,
ao mesmo tempo que recupera criticamente as análises produzidas por Marx
e Engels no calor dos acontecimentos.”
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