Existimos em Função do FuturoTentai apreender a vossa consciência e sondai-a. Vereis que está vazia, só encontrareis nela o futuro. Nem sequer falo dos vossos projectos e expectativas: mas o próprio gesto que surpreendeis de passagem só tem sentido para vós se projectardes a sua realização final para fora dele, fora de vós, no ainda-não. Mesmo esta taça cujo fundo não se vê - que se poderia ver, que está no fim de um movimento que ainda não se fez -, esta folha branca cujo reverso está escondido (mas poderia virar-se a folha) e todos os objectos estáveis e sólidos que nos rodeiam ostentam as suas qualidades mais imediatas, mais densas, no futuro.
O homem não é de modo nenhum a soma do que tem, mas a totalidade do que não tem ainda, do que poderia ter. E, se nos banhamos assim no futuro, não ficará atenuada a brutalidade informe do presente? O acontecimento não nos assalta como um ladrão, visto que é, por natureza, um Tendo-sido-Futuro. E, para explicar o próprio passado, não será a primeira tarefa do historiador procurar o futuro?
Jean-Paul Sartre, in "Situações I"
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sexta-feira, 14 de março de 2014
terça-feira, 11 de março de 2014
DOCUMENTOS
Pelo Socialismo
Questões político-ideológicas com atualidade
http://www.pelosocialismo.net
_____________________________________________
Publicado no “Tribuna Popular”, em 2014/02/18:
HTTP://PRENSAPCV.WORDPRESS.COM/2014/02/18/PCVUNIDAD-
CLASISTA-Y-POPULAR-CONTRA-LA-CONSPIRACION-FASCISTA/
Tradução do castelhano de PAT
Colocado em linha em: 2014/02/21
Unidade de classe e popular contra a
conspiração fascista
Partido Comunista da Venezuela (PCV)
PERANTE A CONSPIRAÇÃO FASCISTA,
A MAIS FÉRREA UNIDADE DE CLASSE E POPULAR!
O Burô Político do Comité Central do Partido Comunista da Venezuela (PCV) reitera
publicamente que a ativação de núcleos fascistas no nosso país e a ofensiva das
transnacionais da comunicação atendem aos interesses internacionais do
imperialismo dos EUA, que conspira permanentemente contra o processo de
mudanças que o povo venezuelano está a desenvolver.
As ações destes grupúsculos minoritários, que não são representativos do
conglomerado da oposição, não têm um caráter democrático ou popular, mas
pretendem arrastar a nossa pátria para uma situação de ingovernabilidade, através de
zaragatas, vandalismo, terror, intimidação e morte de inocentes.
Por isso, o PCV reitera o seu mais firme apoio ao governo nacional, liderado pelo
compatriota presidente Nicolás Maduro, na defesa da soberania, da independência e
da livre autodeterminação do nosso povo, e expressa o seu compromisso com a luta
necessária nas ruas e nos locais de trabalho para isolar, enfraquecer e derrotar a
conspiração fascista e consolidar as bases para o aprofundamento da luta
revolucionária.
O apelo do PCV é para responder às ações da direita pró-imperialista com a mais
férrea unidade de classe e popular, sem prepotência, sem hegemonismos, sem
imposições unilaterais e sem artificiais unanimidades; compreendendo e assumindo
que há realidades objetivas que estão a favorecer socialmente a aventura fascistóide.
É neste contexto que, no PCV, decidimos participar e juntar-nos à convocação para a
mobilização a que apelou o presidente Maduro, para esta terça-feira, 18 de fevereiro,
na ocasião da assinatura da Convenção Coletiva Petrolífera 2013-2015, apesar das
críticas que fizemos e mantemos, sobre a exclusão perpetrada pela cúpula do FUTPV1
1 Acrónimo de Federação Unitária de Trabalhadores do Petróleo, gás e similares da Venezuela. – [NT]
2
contra sindicatos do setor petrolífero, legal e legitimamente constituídos, o que foi
denunciado ao MINTRASS2, sem resposta.
O PCV, próximo de cumprir 83 anos de luta consequente com o povo venezuelano, é
uma organização revolucionária, autónoma, crítica e propositiva; expressa que
continuará a acompanhar e impulsionar o sindicalismo de classe, o fortalecimento do
movimento operário, a defesa dos direitos das e dos trabalhadores, a partir de
posições de classe, e a unidade política e orgânica genuinamente revolucionária, para
uma nova correlação de forças que abra o verdadeiro caminho socialista.
Burô Político do Comité Central
PARTIDO COMUNISTA DE VENEZUELA – PCV
Caracas , 17 de fevereiro de 2014.
2 Acrónimo de Ministério do Poder Popular para o Trabalho e a Segurança Social. – [NT
Questões político-ideológicas com atualidade
http://www.pelosocialismo.net
_____________________________________________
Publicado no “Tribuna Popular”, em 2014/02/18:
HTTP://PRENSAPCV.WORDPRESS.COM/2014/02/18/PCVUNIDAD-
CLASISTA-Y-POPULAR-CONTRA-LA-CONSPIRACION-FASCISTA/
Tradução do castelhano de PAT
Colocado em linha em: 2014/02/21
Unidade de classe e popular contra a
conspiração fascista
Partido Comunista da Venezuela (PCV)
PERANTE A CONSPIRAÇÃO FASCISTA,
A MAIS FÉRREA UNIDADE DE CLASSE E POPULAR!
O Burô Político do Comité Central do Partido Comunista da Venezuela (PCV) reitera
publicamente que a ativação de núcleos fascistas no nosso país e a ofensiva das
transnacionais da comunicação atendem aos interesses internacionais do
imperialismo dos EUA, que conspira permanentemente contra o processo de
mudanças que o povo venezuelano está a desenvolver.
As ações destes grupúsculos minoritários, que não são representativos do
conglomerado da oposição, não têm um caráter democrático ou popular, mas
pretendem arrastar a nossa pátria para uma situação de ingovernabilidade, através de
zaragatas, vandalismo, terror, intimidação e morte de inocentes.
Por isso, o PCV reitera o seu mais firme apoio ao governo nacional, liderado pelo
compatriota presidente Nicolás Maduro, na defesa da soberania, da independência e
da livre autodeterminação do nosso povo, e expressa o seu compromisso com a luta
necessária nas ruas e nos locais de trabalho para isolar, enfraquecer e derrotar a
conspiração fascista e consolidar as bases para o aprofundamento da luta
revolucionária.
O apelo do PCV é para responder às ações da direita pró-imperialista com a mais
férrea unidade de classe e popular, sem prepotência, sem hegemonismos, sem
imposições unilaterais e sem artificiais unanimidades; compreendendo e assumindo
que há realidades objetivas que estão a favorecer socialmente a aventura fascistóide.
É neste contexto que, no PCV, decidimos participar e juntar-nos à convocação para a
mobilização a que apelou o presidente Maduro, para esta terça-feira, 18 de fevereiro,
na ocasião da assinatura da Convenção Coletiva Petrolífera 2013-2015, apesar das
críticas que fizemos e mantemos, sobre a exclusão perpetrada pela cúpula do FUTPV1
1 Acrónimo de Federação Unitária de Trabalhadores do Petróleo, gás e similares da Venezuela. – [NT]
2
contra sindicatos do setor petrolífero, legal e legitimamente constituídos, o que foi
denunciado ao MINTRASS2, sem resposta.
O PCV, próximo de cumprir 83 anos de luta consequente com o povo venezuelano, é
uma organização revolucionária, autónoma, crítica e propositiva; expressa que
continuará a acompanhar e impulsionar o sindicalismo de classe, o fortalecimento do
movimento operário, a defesa dos direitos das e dos trabalhadores, a partir de
posições de classe, e a unidade política e orgânica genuinamente revolucionária, para
uma nova correlação de forças que abra o verdadeiro caminho socialista.
Burô Político do Comité Central
PARTIDO COMUNISTA DE VENEZUELA – PCV
Caracas , 17 de fevereiro de 2014.
2 Acrónimo de Ministério do Poder Popular para o Trabalho e a Segurança Social. – [NT
sábado, 8 de março de 2014
No Dia Internacional da Mulher- 8 de Março
MÃE CORAGEM E SEUS FILHOS - BERTOLT BRECHT
"Há aqueles que lutam um dia; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;
Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis."
Bertolt Brecht
A guerra religiosa dura anos. A juventude é sacrificada nas frentes de batalhas, as cidades são saqueadas por homens famintos e desesperados, enquanto os soldados se entregam a bandeiras sem ter a nítida compreensão do motivo que os fazem odiar e matar.
Logo no início, o diálogo é marcado por argumentos do recrutador e do sargento. Ambos vivem a guerra e a justificam com argumentos contraditórios: “A paz é uma porcaria, só a guerra é que estabelece a ordem. Na paz a humanidade brota que nem espiga. É um desperdício de gente e de gado, assim sem mais nem menos” e “Como tudo que é bom, a guerra também é difícil, no começo. Mas, depois que começa a florescer, ela resiste a tudo; e as pessoas começam a tremer, só de pensar na paz, como os jogadores, que não querem parar, para não terem de fazer as contas do que perderam.”
Mãe Coragem é uma vivandeira e sua carroça atravessa o inverno alemão, acompanhando as tropas e vendendo suprimentos para os sobreviventes desguarnecidos. A mulher vive da guerra rodando o país com os três filhos: Eilif (o mais velho), Queijinho e Kattrin (a filha muda), mas não quer que eles sirvam ao exército.
O sargento mostra a ambigüidade da mulher: “Para você, então, a guerra há de roer os ossos e deixar a carne? Você engorda as suas crias com a guerra, e não quer dar nada em troca? Ele precisa saber de onde vem a comida...” Ainda assim, ela está segura: “Mas os soldados não precisam ser meus filhos.”
Os dois filhos se alistam e a mãe se desespera: “Querem ir para longe da mãe, seus diabos, e meter-se na guerra, como cordeiros na boca do lobo... Oh, mãe desventurada, que pariu com tanta dor: e o filho vai morrer na flor da idade.”
O filho mais velho se destaca pela coragem (ou covardia), ataca os camponeses e saqueia seus pertences, na guerra é homenageado pelas altas patentes por sua bravura, mas na paz é condenado à morte. Não consegue se despedir da mãe e morre sem compreender a diferença que marca os julgamentos das épocas de paz e de guerra.
Queijinho, o filho “tapado, mais honesto”, é fuzilado por ter roubado o cofre do regimento. A mãe diante do corpo é obrigada a fingir que não o reconhece para sobreviver.
Surgem novos personagens e perspectivas, o capelão, o cozinheiro e a prostituta, todos seres desfigurados pela guerra e que convivem com Mãe Coragem ao redor da carroça em alguns períodos da guerra.
Continua a viagem na penúria só com a filha muda e frágil e, quando a deixa em uma casa de camponeses para ir buscar mantimentos na cidade, a filha tem um ato de bravura e bate um tambor em cima do telhado para acordar a cidade e evitar que a população seja pega desprevenida pelo inimigo à espreita. Tomba, mas a cidade desperta e se defende.
Mãe Coragem termina puxando a carroça sozinha e tendo de recomeçar. Um texto teatral forte que destaca o papel das mães com força e determinação, não obstante os contextos históricos em que estão inseridos. A protagonista vivia em função dos horrores da guerra, mas não queria que seus filhos fossem os soldados, termina carregando a carroça sozinha ainda acompanhando os horrores da guerra.
“É primavera. Acorde homem de Deus! A neve se derrete. Estão dormindo os mortos. Que se agüente nos sapatos aquele que não está morto ainda!”
Bertolt Brecht (1898 a 1956), poeta, diretor teatral e dramaturgo alemão, criou novas técnicas e práticas teatrais com a inovação da dramaturgia da época – o teatro épico. O artifício do distanciamento é usado para denunciar a alienação do espectador. Os valores do teatro de Brecht se opõem a noção idealista da consciência como fator determinante da existência. A revolução de Brecht é marxista, é do exterior, pois o homem não é independente dos fatos externos.
No artigo intitulado “A obra clássica intimida”, de 1953, Brecht afirmou: “Não basta exigir ao teatro conhecimentos, imagens elucidativas da realidade. Nosso teatro tem de suscitar o direito de conhecer, tem de fomentar o prazer da transformação da realidade. Os nossos espectadores têm não só de conhecer a maneira como é libertado o Prometeu agrilhoado, mas também de se adestrar no desejo de o libertarem. O teatro tem de nos ensinar a sentir os desejos e prazeres dos inventores e dos descobridores, e, também, o triunfo dos libertadores.”
A peça “Mãe Coragem e seus filhos” foi escrita no período do exílio, em 1941, e é considerada por muitos como a obra prima de Brecht. É uma parábola do papel da pequena burguesia no meio de tempestades políticas. O autor, ao desenhar o perfil da protagonista, encerrou-a na enorme contradição de uma mãe que tem na guerra sua única fonte de receita e que não consegue resguardar seus filhos da realidade em que estão inseridos. Suas atividades lhe conferem um caráter realístico não idealizado, mas não retiram o cunho inexorável da guerra.
Brecht, nos comentários sobre as duas interpretações da Mãe Coragem, afirmou que a personagem “surge-nos principalmente como mãe e, tal como Níobe, não consegue salvar os filhos da fatalidade da guerra.”
A leitura do texto teatral nos abre inúmeras percepções. Analisamos a história e percebemos a impotência diante de um contexto estabelecido e a necessidade de criar novas realidades. O dramaturgo alemão não desejava criar uma obra ilusória em que os espectadores, ao assistirem, ficassem com a sensação de bem estar diante de realidades romanceadas. Sua intenção era causar a indignação, deixar que as pessoas, munidas de senso crítico, concluíssem que o que assistiram não deveria continuar.
Não precisamos apenas das obras literárias para compreender as enormes contradições e incoerências do papel do homem na sociedade. Ao analisarmos nossas vivências, caminharmos nas ruas, assistirmos aos noticiários, percebemos que muita coisa não pode continuar e que devemos sair da passividade de meros espectadores e construir roteiros coerentes com coragem e criatividade.
Precisamos nos perceber como os dramaturgos de nossos personagens. E você, leitor, já começou a elaborar o enredo de sua história?
Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;
Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis."
Bertolt Brecht
A guerra religiosa dura anos. A juventude é sacrificada nas frentes de batalhas, as cidades são saqueadas por homens famintos e desesperados, enquanto os soldados se entregam a bandeiras sem ter a nítida compreensão do motivo que os fazem odiar e matar.
Logo no início, o diálogo é marcado por argumentos do recrutador e do sargento. Ambos vivem a guerra e a justificam com argumentos contraditórios: “A paz é uma porcaria, só a guerra é que estabelece a ordem. Na paz a humanidade brota que nem espiga. É um desperdício de gente e de gado, assim sem mais nem menos” e “Como tudo que é bom, a guerra também é difícil, no começo. Mas, depois que começa a florescer, ela resiste a tudo; e as pessoas começam a tremer, só de pensar na paz, como os jogadores, que não querem parar, para não terem de fazer as contas do que perderam.”
Mãe Coragem é uma vivandeira e sua carroça atravessa o inverno alemão, acompanhando as tropas e vendendo suprimentos para os sobreviventes desguarnecidos. A mulher vive da guerra rodando o país com os três filhos: Eilif (o mais velho), Queijinho e Kattrin (a filha muda), mas não quer que eles sirvam ao exército.
O sargento mostra a ambigüidade da mulher: “Para você, então, a guerra há de roer os ossos e deixar a carne? Você engorda as suas crias com a guerra, e não quer dar nada em troca? Ele precisa saber de onde vem a comida...” Ainda assim, ela está segura: “Mas os soldados não precisam ser meus filhos.”
Os dois filhos se alistam e a mãe se desespera: “Querem ir para longe da mãe, seus diabos, e meter-se na guerra, como cordeiros na boca do lobo... Oh, mãe desventurada, que pariu com tanta dor: e o filho vai morrer na flor da idade.”
O filho mais velho se destaca pela coragem (ou covardia), ataca os camponeses e saqueia seus pertences, na guerra é homenageado pelas altas patentes por sua bravura, mas na paz é condenado à morte. Não consegue se despedir da mãe e morre sem compreender a diferença que marca os julgamentos das épocas de paz e de guerra.
Queijinho, o filho “tapado, mais honesto”, é fuzilado por ter roubado o cofre do regimento. A mãe diante do corpo é obrigada a fingir que não o reconhece para sobreviver.
Surgem novos personagens e perspectivas, o capelão, o cozinheiro e a prostituta, todos seres desfigurados pela guerra e que convivem com Mãe Coragem ao redor da carroça em alguns períodos da guerra.
Continua a viagem na penúria só com a filha muda e frágil e, quando a deixa em uma casa de camponeses para ir buscar mantimentos na cidade, a filha tem um ato de bravura e bate um tambor em cima do telhado para acordar a cidade e evitar que a população seja pega desprevenida pelo inimigo à espreita. Tomba, mas a cidade desperta e se defende.
Mãe Coragem termina puxando a carroça sozinha e tendo de recomeçar. Um texto teatral forte que destaca o papel das mães com força e determinação, não obstante os contextos históricos em que estão inseridos. A protagonista vivia em função dos horrores da guerra, mas não queria que seus filhos fossem os soldados, termina carregando a carroça sozinha ainda acompanhando os horrores da guerra.
“É primavera. Acorde homem de Deus! A neve se derrete. Estão dormindo os mortos. Que se agüente nos sapatos aquele que não está morto ainda!”
Bertolt Brecht (1898 a 1956), poeta, diretor teatral e dramaturgo alemão, criou novas técnicas e práticas teatrais com a inovação da dramaturgia da época – o teatro épico. O artifício do distanciamento é usado para denunciar a alienação do espectador. Os valores do teatro de Brecht se opõem a noção idealista da consciência como fator determinante da existência. A revolução de Brecht é marxista, é do exterior, pois o homem não é independente dos fatos externos.
No artigo intitulado “A obra clássica intimida”, de 1953, Brecht afirmou: “Não basta exigir ao teatro conhecimentos, imagens elucidativas da realidade. Nosso teatro tem de suscitar o direito de conhecer, tem de fomentar o prazer da transformação da realidade. Os nossos espectadores têm não só de conhecer a maneira como é libertado o Prometeu agrilhoado, mas também de se adestrar no desejo de o libertarem. O teatro tem de nos ensinar a sentir os desejos e prazeres dos inventores e dos descobridores, e, também, o triunfo dos libertadores.”
A peça “Mãe Coragem e seus filhos” foi escrita no período do exílio, em 1941, e é considerada por muitos como a obra prima de Brecht. É uma parábola do papel da pequena burguesia no meio de tempestades políticas. O autor, ao desenhar o perfil da protagonista, encerrou-a na enorme contradição de uma mãe que tem na guerra sua única fonte de receita e que não consegue resguardar seus filhos da realidade em que estão inseridos. Suas atividades lhe conferem um caráter realístico não idealizado, mas não retiram o cunho inexorável da guerra.
Brecht, nos comentários sobre as duas interpretações da Mãe Coragem, afirmou que a personagem “surge-nos principalmente como mãe e, tal como Níobe, não consegue salvar os filhos da fatalidade da guerra.”
A leitura do texto teatral nos abre inúmeras percepções. Analisamos a história e percebemos a impotência diante de um contexto estabelecido e a necessidade de criar novas realidades. O dramaturgo alemão não desejava criar uma obra ilusória em que os espectadores, ao assistirem, ficassem com a sensação de bem estar diante de realidades romanceadas. Sua intenção era causar a indignação, deixar que as pessoas, munidas de senso crítico, concluíssem que o que assistiram não deveria continuar.
Não precisamos apenas das obras literárias para compreender as enormes contradições e incoerências do papel do homem na sociedade. Ao analisarmos nossas vivências, caminharmos nas ruas, assistirmos aos noticiários, percebemos que muita coisa não pode continuar e que devemos sair da passividade de meros espectadores e construir roteiros coerentes com coragem e criatividade.
Precisamos nos perceber como os dramaturgos de nossos personagens. E você, leitor, já começou a elaborar o enredo de sua história?
Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 25/01/2005
Código do texto: T2385
Código do texto: T2385
in Recanto das Letras
sexta-feira, 7 de março de 2014
Cautela: vem aí o fascismo!
De: O EXEMPLO DA UCRÂNIA E O RENASCER DOS MOVIMENTOS FASCISTAS NA EUROPA - por ERIC DRAITSER *
----- Original Message -----
Sent: Saturday, February 22, 2014 9:21 PM
[Divulgado por Alfredo Barroso no Facebook]
O EXEMPLO DA UCRÂNIA E O RENASCER DOS MOVIMENTOS FASCISTAS NA EUROPA - por ERIC DRAITSER *
20 de Fevereiro de 2014 às 13:30
A violência nas ruas da Ucrânia é muito mais do que uma manifestação da ira popular contra um governo. É, ao invés, simplesmente o exemplo mais recente da ascensão da mais insidiosa forma de fascismo que a Europa já viu desde a queda do Terceiro Reich.
Os últimos meses assistiram a protestos regulares da oposição política ucraniana e seus apoiantes – protestos ostensivamente em resposta à recusa do presidente Yanukovich de assinar um acordo comercial com a União Europeia, encarado por muitos observadores políticos como o primeiro passo rumo à integração europeia. Os protestos foram razoavelmente pacíficos até 17 de Janeiro, quando manifestantes armados com paus, capacetes e bombas improvisadas desencadearam uma violência brutal sobre a polícia, atacando edifícios governamentais, batendo em quem fosse suspeito de simpatias pelo governo e provocando destruição generalizada nas ruas de Kiev. Mas quem são estes extremistas violentos e qual é a sua ideologia?
A formação política conhecida como «Pravy Sektor» («Sector Direita») é basicamente uma organização chapéu para um certo número de grupos ultra-nacionalistas (ler: fascistas) incluindo apoiantes dos partidos «Svoboda» («Liberdade»), «Patriotas da Ucrânia», «Ukrainian National Assembly – Ukrainian National Self Defense» (UNA-UNSO) e «Trizub». Todas estas organizações partilham uma ideologia comum que, entre outras coisas, é veementemente anti-russa, anti-imigrantes e anti-judia. Além disso, partilham uma reverência comum pela chamada «Organização de Nacionalistas Ucranianos», liderada por Stepan Bandera, a que pertenciam os infames colaboradores dos nazis que combateram activamente contra a União Soviética e cometeram algumas das piores atrocidades durante a II Guerra Mundial.
Apesar de forças políticas ucranianas, oposição e governo, continuarem a negociar, uma batalha muito diferente está a ser travada nas ruas. Utilizando a intimidação e a força bruta, mais típica dos «Camisas castanhas» de Hitler ou dos «Camisas negras» de Mussolini do que de um movimento político contemporâneo, estes grupos conseguiram transformar um conflito sobre política económica e alianças políticas do país numa luta existencial pela própria sobrevivência da nação que estes chamados «nacionalistas» afirmam amar tão ardentemente. As imagens de Kiev a arder, as ruas de Lvov cheias de brutamontes e outros exemplos assustadores do caos no país, ilustram sem sombra de dúvida que a negociação política com a oposição do Maidan (a praça central de Kiev e centro dos protestos) já não é a questão central. É, antes, a questão de apoiar ou rejeitar o fascismo ucraniano.
Pelo seu lado, os EUA lançaram-se no apoio à oposição, sem considerar o seu carácter político. No princípio de Dezembro de 2013, membros do «establishment» dirigente dos EUA, tais como John McCain e Victoria Nuland, foram vistos no Maidan a apoiar os manifestantes. Entretanto, quando o verdadeiro rosto desta da oposição se tornou evidente, os EUA e a classe dominante ocidental e sua máquina dos «media» pouco fizeram para condenar o levantamento fascista. Ao invés disso, os seus representantes encontraram-se com representantes do «Sector Direita» e consideraram que não constituíam uma «ameaça». Por outras palavras, os EUA e seus aliados deram aprovação tácita à continuação e proliferação da violência em nome do seu objectivo final: a mudança de regime.
Numa tentativa de arrancar a Ucrânia da esfera de influência russa, a aliança EUA-UE-NATO aliou-se - e não é a primeira vez que o faz - com fascistas.
Como se sabe, durante décadas, dezenas de milhares de pessoas na América Latina foram fietas desaparecer ou foram assassinadas por forças militares fascistas armadas e apoiadas pelos Estados Unidos. Os «mujahideen» do Afeganistão, que depois se transformaram na Al Qaeda, uma «rede» também ideologicamente reaccionária e extremista, foram organizados e financiados pelos Estados Unidos com o objectivo de desestabilizar a Rússia. Há, igualmente, os penosos exemplos da Líbia e, mais recentemente, da Síria, onde os Estados Unidos e seus aliados financiam e apoiam extremistas jihadistas contra um governo que se recusa a alinhar com os EUA e Israel. Há aqui um padrão perturbador que não tem sido compreendido por observadores políticos: os Estados Unidos a fazerem causa comum com extremistas de direita e fascistas para obterem ganhos geopolíticos.
A situação na Ucrânia é profundamente perturbadora porque representa uma conflagração política que poderá muito facilmente dilacerar o país, menos de 25 anos depois de se tornar independente da União Soviética. Contudo, há outro aspecto igualmente perturbador na ascensão do fascismo naquele país – ele não é um caso único.
Ameaça fascista por todo o continente europeu
A Ucrânia e a ascensão do extremismo de direita não pode ser vista, muito menos entendida, isoladamente. Deve, ao invés, ser examinada como fazendo parte de uma tendência crescente através da Europa (e na verdade do mundo) – uma tendência que ameaça os próprios fundamentos da democracia.
Na Grécia, a austeridade selvagem imposta pela «troika» (FMI, BCE e Comissão Europeia) arruinou a economia do país, levando a uma depressão tão má, se não pior, do que a Grande Depressão nos Estados Unidos nos anos 1930. É com este pano de fundo de colapso económico que o partido «Aurora Dourada» cresceu até se tornar o terceiro maior partido político do país. Perfilhando uma ideologia de ódio, o «Aurora Dourada» – efectivamente um partido nazi que promove o chauvinismo anti-judaico, anti-imigrante e anti-feminista – é uma força política que o governo de Atenas considerou ser uma grave ameaça ao próprio tecido da sociedade grega (NR) . Foi esta ameaça que levou o governo a ordenar a detenção dos membros da direcção do partido, depois de um nazi do «Aurora Dourada» ter esfaqueado um «rapper» anti-fascista. Atenas ordenou uma investigação ao partido, embora os resultados desta investigação e o respectivo processo permaneçam pouco claros.
O que torna o «Aurora Dourada» uma ameaça tão insidiosa é o facto de, apesar da sua ideologia nuclear ser nazi, a sua retórica anti-UE e anti-austeridade atrair muita gente, numa Grécia economicamente devastada. Tal como muitos movimentos fascistas no século XX, o «Aurora Dourada» transforma em bodes expiatórios os imigrantes, os muçulmanos e os africanos, responsabilizados por muitos dos problemas que os gregos enfrentam. Em circunstâncias económicas terríveis, tal ódio irracional torna-se atraente, como se fosse uma resposta à questão de como resolver problemas da sociedade. Na verdade, apesar de líderes do «Aurora Dourada» estarem presos, outros membros do partido ainda estão no Parlamento, ainda concorrem a cargos como à presidência do Município de Atenas. Embora uma vitória eleitoral seja improvável, nova demonstração de força nas eleições tornará muito mais difícil a erradicação da ameaça fascista na Grécia.
Se este fenómeno estivesse confinado à Grécia e à Ucrânia, não constituiria uma tendência continental. Contudo, infelizmente, vamos assistindo à ascensão, embora menos abertamente fascista, de partidos políticos de extrema-direita por toda a Europa. Na Espanha, o Partido Popular, no governo e pró austeridade, avançou com leis draconianas para restringir as manifestações e a liberdade de palavra, aprovando e fortalecendo, ao mesmo tempo, tácticas policiais repressivas. Em França, o partido da Frente Nacional, de Marine Le Pen, que publicamente faz dos imigrantes muçulmanos e africanos os bodes expiatórios da crise conquistou aproximadamente 20 % dos votos na primeira volta das eleições presidenciais. Analogamente, na Holanda, o Partido pela Liberdade – que promove políticas anti-muçulmanas e anti-imigrantes – cresceu a ponto de se tornar o terceiro maior partido no Parlamento. Por toda a Escandinávia, partidos ultra-nacionalistas, outrora totalmente irrelevantes e obscuros, são agora actores significativos em eleições. Estas tendências são no mínimo, muito preocupantes.
Também deve ser salientado que, para além da Europa, há um certo número de formações políticas quase-fascistas que são, de uma maneira ou de outra, apoiadas pelos Estados Unidos. O golpe de direita que derrubou os governos do Paraguai e das Honduras foram tacitamente e/ou abertamente apoiados por Washington no seu objectivo aparentemente infindável de suprimir a esquerda na América Latina. Naturalmente, também deveria ser lembrado que o movimento de protestos na Rússia foi encabeçado por Alexei Navalny e seus seguidores nacionalistas, que adoptam uma ideologia racista e anti-muçulmana que encara imigrantes do Cáucaso russo e de outras antigas repúblicas soviéticas como inferiores aos «russos europeus». Estes e outros exemplos pintam um retrato muito feio de uma política externa norte-americana que tenta utilizar a adversidade económica e a reviravolta política para estender a hegemonia dos EUA por todo o mundo.
Na Ucrânia, o «Sector Direita» retirou a luta política da mesa de negociação para o transformar em combate de rua, numa tentativa de cumprir o sonho de Stepan Bandera – uma Ucrânia livre da Rússia, de judeus e de outros cidadãos encarados como «indesejáveis». Animados pelo apoio contínuo dos EUA e da Europa, estes fanáticos representam uma ameaça mais grave para a democracia do que Yanukovich e o seu governo pró-russo. Se a Europa e os Estados Unidos não reconhecerem esta ameaça, ainda embrionária, quando o fizerem poderá ser demasiado tarde.
(NR) É muito discutível que o actual governo de Atenas tenha esse entendimento. A sua atitude é, antes, de conivência passiva e omissão. Forças policiais gregas pouco ou nada fazem para reprimir o «Aurora Dourada», só actuando em casos extremos.
(*) Analista geopolítico independente residente em Nova York.
Os últimos meses assistiram a protestos regulares da oposição política ucraniana e seus apoiantes – protestos ostensivamente em resposta à recusa do presidente Yanukovich de assinar um acordo comercial com a União Europeia, encarado por muitos observadores políticos como o primeiro passo rumo à integração europeia. Os protestos foram razoavelmente pacíficos até 17 de Janeiro, quando manifestantes armados com paus, capacetes e bombas improvisadas desencadearam uma violência brutal sobre a polícia, atacando edifícios governamentais, batendo em quem fosse suspeito de simpatias pelo governo e provocando destruição generalizada nas ruas de Kiev. Mas quem são estes extremistas violentos e qual é a sua ideologia?
A formação política conhecida como «Pravy Sektor» («Sector Direita») é basicamente uma organização chapéu para um certo número de grupos ultra-nacionalistas (ler: fascistas) incluindo apoiantes dos partidos «Svoboda» («Liberdade»), «Patriotas da Ucrânia», «Ukrainian National Assembly – Ukrainian National Self Defense» (UNA-UNSO) e «Trizub». Todas estas organizações partilham uma ideologia comum que, entre outras coisas, é veementemente anti-russa, anti-imigrantes e anti-judia. Além disso, partilham uma reverência comum pela chamada «Organização de Nacionalistas Ucranianos», liderada por Stepan Bandera, a que pertenciam os infames colaboradores dos nazis que combateram activamente contra a União Soviética e cometeram algumas das piores atrocidades durante a II Guerra Mundial.
Apesar de forças políticas ucranianas, oposição e governo, continuarem a negociar, uma batalha muito diferente está a ser travada nas ruas. Utilizando a intimidação e a força bruta, mais típica dos «Camisas castanhas» de Hitler ou dos «Camisas negras» de Mussolini do que de um movimento político contemporâneo, estes grupos conseguiram transformar um conflito sobre política económica e alianças políticas do país numa luta existencial pela própria sobrevivência da nação que estes chamados «nacionalistas» afirmam amar tão ardentemente. As imagens de Kiev a arder, as ruas de Lvov cheias de brutamontes e outros exemplos assustadores do caos no país, ilustram sem sombra de dúvida que a negociação política com a oposição do Maidan (a praça central de Kiev e centro dos protestos) já não é a questão central. É, antes, a questão de apoiar ou rejeitar o fascismo ucraniano.
Pelo seu lado, os EUA lançaram-se no apoio à oposição, sem considerar o seu carácter político. No princípio de Dezembro de 2013, membros do «establishment» dirigente dos EUA, tais como John McCain e Victoria Nuland, foram vistos no Maidan a apoiar os manifestantes. Entretanto, quando o verdadeiro rosto desta da oposição se tornou evidente, os EUA e a classe dominante ocidental e sua máquina dos «media» pouco fizeram para condenar o levantamento fascista. Ao invés disso, os seus representantes encontraram-se com representantes do «Sector Direita» e consideraram que não constituíam uma «ameaça». Por outras palavras, os EUA e seus aliados deram aprovação tácita à continuação e proliferação da violência em nome do seu objectivo final: a mudança de regime.
Numa tentativa de arrancar a Ucrânia da esfera de influência russa, a aliança EUA-UE-NATO aliou-se - e não é a primeira vez que o faz - com fascistas.
Como se sabe, durante décadas, dezenas de milhares de pessoas na América Latina foram fietas desaparecer ou foram assassinadas por forças militares fascistas armadas e apoiadas pelos Estados Unidos. Os «mujahideen» do Afeganistão, que depois se transformaram na Al Qaeda, uma «rede» também ideologicamente reaccionária e extremista, foram organizados e financiados pelos Estados Unidos com o objectivo de desestabilizar a Rússia. Há, igualmente, os penosos exemplos da Líbia e, mais recentemente, da Síria, onde os Estados Unidos e seus aliados financiam e apoiam extremistas jihadistas contra um governo que se recusa a alinhar com os EUA e Israel. Há aqui um padrão perturbador que não tem sido compreendido por observadores políticos: os Estados Unidos a fazerem causa comum com extremistas de direita e fascistas para obterem ganhos geopolíticos.
A situação na Ucrânia é profundamente perturbadora porque representa uma conflagração política que poderá muito facilmente dilacerar o país, menos de 25 anos depois de se tornar independente da União Soviética. Contudo, há outro aspecto igualmente perturbador na ascensão do fascismo naquele país – ele não é um caso único.
Ameaça fascista por todo o continente europeu
A Ucrânia e a ascensão do extremismo de direita não pode ser vista, muito menos entendida, isoladamente. Deve, ao invés, ser examinada como fazendo parte de uma tendência crescente através da Europa (e na verdade do mundo) – uma tendência que ameaça os próprios fundamentos da democracia.
Na Grécia, a austeridade selvagem imposta pela «troika» (FMI, BCE e Comissão Europeia) arruinou a economia do país, levando a uma depressão tão má, se não pior, do que a Grande Depressão nos Estados Unidos nos anos 1930. É com este pano de fundo de colapso económico que o partido «Aurora Dourada» cresceu até se tornar o terceiro maior partido político do país. Perfilhando uma ideologia de ódio, o «Aurora Dourada» – efectivamente um partido nazi que promove o chauvinismo anti-judaico, anti-imigrante e anti-feminista – é uma força política que o governo de Atenas considerou ser uma grave ameaça ao próprio tecido da sociedade grega (NR) . Foi esta ameaça que levou o governo a ordenar a detenção dos membros da direcção do partido, depois de um nazi do «Aurora Dourada» ter esfaqueado um «rapper» anti-fascista. Atenas ordenou uma investigação ao partido, embora os resultados desta investigação e o respectivo processo permaneçam pouco claros.
O que torna o «Aurora Dourada» uma ameaça tão insidiosa é o facto de, apesar da sua ideologia nuclear ser nazi, a sua retórica anti-UE e anti-austeridade atrair muita gente, numa Grécia economicamente devastada. Tal como muitos movimentos fascistas no século XX, o «Aurora Dourada» transforma em bodes expiatórios os imigrantes, os muçulmanos e os africanos, responsabilizados por muitos dos problemas que os gregos enfrentam. Em circunstâncias económicas terríveis, tal ódio irracional torna-se atraente, como se fosse uma resposta à questão de como resolver problemas da sociedade. Na verdade, apesar de líderes do «Aurora Dourada» estarem presos, outros membros do partido ainda estão no Parlamento, ainda concorrem a cargos como à presidência do Município de Atenas. Embora uma vitória eleitoral seja improvável, nova demonstração de força nas eleições tornará muito mais difícil a erradicação da ameaça fascista na Grécia.
Se este fenómeno estivesse confinado à Grécia e à Ucrânia, não constituiria uma tendência continental. Contudo, infelizmente, vamos assistindo à ascensão, embora menos abertamente fascista, de partidos políticos de extrema-direita por toda a Europa. Na Espanha, o Partido Popular, no governo e pró austeridade, avançou com leis draconianas para restringir as manifestações e a liberdade de palavra, aprovando e fortalecendo, ao mesmo tempo, tácticas policiais repressivas. Em França, o partido da Frente Nacional, de Marine Le Pen, que publicamente faz dos imigrantes muçulmanos e africanos os bodes expiatórios da crise conquistou aproximadamente 20 % dos votos na primeira volta das eleições presidenciais. Analogamente, na Holanda, o Partido pela Liberdade – que promove políticas anti-muçulmanas e anti-imigrantes – cresceu a ponto de se tornar o terceiro maior partido no Parlamento. Por toda a Escandinávia, partidos ultra-nacionalistas, outrora totalmente irrelevantes e obscuros, são agora actores significativos em eleições. Estas tendências são no mínimo, muito preocupantes.
Também deve ser salientado que, para além da Europa, há um certo número de formações políticas quase-fascistas que são, de uma maneira ou de outra, apoiadas pelos Estados Unidos. O golpe de direita que derrubou os governos do Paraguai e das Honduras foram tacitamente e/ou abertamente apoiados por Washington no seu objectivo aparentemente infindável de suprimir a esquerda na América Latina. Naturalmente, também deveria ser lembrado que o movimento de protestos na Rússia foi encabeçado por Alexei Navalny e seus seguidores nacionalistas, que adoptam uma ideologia racista e anti-muçulmana que encara imigrantes do Cáucaso russo e de outras antigas repúblicas soviéticas como inferiores aos «russos europeus». Estes e outros exemplos pintam um retrato muito feio de uma política externa norte-americana que tenta utilizar a adversidade económica e a reviravolta política para estender a hegemonia dos EUA por todo o mundo.
Na Ucrânia, o «Sector Direita» retirou a luta política da mesa de negociação para o transformar em combate de rua, numa tentativa de cumprir o sonho de Stepan Bandera – uma Ucrânia livre da Rússia, de judeus e de outros cidadãos encarados como «indesejáveis». Animados pelo apoio contínuo dos EUA e da Europa, estes fanáticos representam uma ameaça mais grave para a democracia do que Yanukovich e o seu governo pró-russo. Se a Europa e os Estados Unidos não reconhecerem esta ameaça, ainda embrionária, quando o fizerem poderá ser demasiado tarde.
(NR) É muito discutível que o actual governo de Atenas tenha esse entendimento. A sua atitude é, antes, de conivência passiva e omissão. Forças policiais gregas pouco ou nada fazem para reprimir o «Aurora Dourada», só actuando em casos extremos.
(*) Analista geopolítico independente residente em Nova York.
quinta-feira, 6 de março de 2014
Por Ana Sá Lopes
publicado em 1 Mar 2014 - 05:00
publicado em 1 Mar 2014 - 05:00
JORNAL I
Entrevista com Octávio teixeira, economista
O ex-líder parlamentar pensa que este pode ser o último mandato de Jerónimo de Sousa na liderança do Partido Comunista
O economista Octávio Teixeira foi líder parlamentar do PCP anos a fio. Depois abandonou a política activa e voltou ao Banco de Portugal, o seu lugar de origem. É um defensor claro e frontal da saída de Portugal do euro e admite que os partidos de esquerda não são claros e frontais porque temem dizer aos trabalhadores que os salários reais serão reduzidos durante uns tempos. Mas acredita que não existe alternativa na configuração europeia: a chamada competitividade externa ou se faz baixando salários ou desvalorizando moeda. “Não há milagres.”
Disse há dois dias que é possível que, por razões eleitoralistas, o governo tente sair do programa da troika em “voo livre”, é a sua expressão. Mas a saída à irlandesa, na sua opinião, vai agravar ainda mais os problemas da dívida e da austeridade. Um programa cautelar é melhor que “um voo livre”?
Convém fazer uma clarificação acerca do meu pensamento sobre a matéria. Nem a saída sem pára-quedas nem a saída cautelar resolvem qualquer problema do país em termos de futuro próximo ou mais longínquo. Agora, dentro da óptica que o governo tem estado a seguir, é evidente que o mais prudente seria o recurso ao programa cautelar. Por uma razão central: o nível das taxas de juro. Com um programa cautelar, em princípio, as taxas de juro serão inferiores àquelas que o governo conseguirá obter indo directamente aos mercados financeiros.
Portanto a saída limpa é arriscada?
Dentro da perspectiva do próprio governo, a prudência aconselharia a que assinassem um programa cautelar. Agora um programa cautelar depende também da vontade da União Europeia. E não é muito certo que pelo menos alguns países da União Europeia estejam interessados num programa cautelar… Alguns deles terão de se confrontar ou com os seus parlamentos ou com os seus tribunais constitucionais para avançar nesta matéria. É eleitoralista esta visão do governo de pretender aproveitar as próximas eleições e as seguintes para aparecer junto da população portuguesa a dizer “a troika terminou, estamos livres”…
Mas a troika nunca terminará, na sua opinião?
O problema é que a troika nunca terminará e mais do que isso: a política de austeridade – e aí Passos Coelho tem sido muito claro – é para continuar. Entretanto, com vista às próximas eleições e às legislativas, o governo fez esta coisa de aproveitar para ir aos mercados internacionais para emitir dívida a taxas de juros na ordem dos 6% – 5,1% foi o mínimo que conseguiu – para poder sobreviver durante um ano e ter ali o seu saco para não ser necessário ir aos mercados.
Defende o perdão parcial da dívida, mas temos em Portugal uma situação em que os dois maiores partidos continuam a dizer que a dívida é para pagar. E como seria possível negociar isso com os nossos parceiros europeus? Estamos numa situação quase sem saída…
Sem saída por causa da falta de vontade política, designadamente dos partidos que referiu. Eu, pessoalmente, não tenho a mínima dúvida – e isso é demonstrável técnica e economicamente – que a dívida actual é impagável. É absolutamente impagável na sua totalidade. O próprio Fundo Monetário Internacional, no relatório português sobre a 8.a e a 9.a avaliações, diz que para que em 2038 Portugal possa ter uma dívida de 60% do PIB – o limite que a União Europeia diz que é sustentável – precisaríamos de ter taxas de crescimento económico durante estes 20 e tal anos da ordem dos 1,8% em termos reais. E 1,8% significa o dobro do que tivemos nos últimos seis anos antes da crise internacional. Era necessário que as taxas de juro que temos de pagar andassem na ordem dos 3,4% e que o défice primário fosse 3,8% durante estes 20 e tal anos. 3,8%, a números actuais, significa aumentar a dose que já existe acumulada de austeridade. Isto é insustentável e impossível. O problema não se põe em querer ou não querer pagar. É possível pagar ou não? Não é possível pagar! Se não é possível pagar, temos de renegociar. É um problema de vontade política dos partidos que estão no governo, ou que é previsível que possam ascender ao governo. Seria errado seguir o exemplo da Grécia, que não tomou a iniciativa – impuseram--lhe a renegociação. Aquilo não resolveu nada porque a renegociação foi feita com base na perspectiva do interesse dos credores.
E como é que se sai daqui? Porque é que na sua opinião seria melhor para Portugal a saída do euro?
Aquilo que se designa crise da zona euro não é uma crise decorrente das dívidas soberanas. É uma crise decorrente da heterogeneidade dos países que formam a zona euro, que vieram ao longo dos anos a acumular desvios cada vez maiores de uns países em relação aos outros. Em vez de ter passado a existir aquilo que se prometia, que era a coesão económica dos países, o que houve foi uma divergência. A moeda única foi aplicada a países com estruturas económicas completamente diferenciadas, com necessidades mediatas e imediatas completamente diferentes, com níveis de produtividade diferenciados uns dos outros, e que não podiam, objectivamente, sobreviver simultaneamente com a mesma moeda. A moeda única foi um garrote que se abateu sobre os países menos desenvolvidos que estão na zona euro, porque os impediu de crescerem mais rapidamente que os outros países para atingirem a convergência, ou a coesão económica. Desde logo, dentro da zona euro, quando desapareceu o risco cambial, isso favoreceu os países que tinham especializações produtivas mais elevadas e mais sofisticadas e conduziu, designadamente, a que a industrialização se concentrasse nos países do centro, em particular na Alemanha, assistindo-se à desindustrialização dos países da periferia. Fora da zona euro, e fora da União Europeia, a própria evolução da moeda única em termos cambiais – aquilo que se pode designar euro forte ou euro caro – provocou uma perda de competitividade enorme nos países mais frágeis, nos países do Sul. A nossa capacidade de exportação está assente fundamentalmente em produtos em que há uma enorme concorrência em termos de preços. O euro tem--se mantido, com alguns picos ainda superiores, na ordem de 1,30 e qualquer coisa em relação ao dólar. Ora os países exteriores à União Europeia – Índia, China, do Norte de África, da América do Sul e Central, que têm a sua paridade correlacionada com o dólar – viram a sua competitividade aumentar substancialmente. E Portugal foi muito prejudicado em termos de exportações. E há outro aspecto que é pouco referido: aquele processo de deslocalização de empresas que começou em Portugal há uns anos também foi desencadeado pelo euro caro. Há quem diga que é preciso arranjar condições para que o euro desvalorize. Não é provável por duas razões: segundo estudos de várias fontes internacionais, a chamada taxa de equilíbrio entre o euro e dólar, para a Alemanha, é precisamente a de 1,30. E a Alemanha é a economia central da União Europeia e isso tem de ser tida em conta. Por outro lado, o euro tem no seu ADN a perspectiva de ser um euro forte, uma moeda cara, exactamente para embaratecer as aplicações financeiras da União Europeia nos países exteriores à União Europeia. Combater estes dois interesses é difícil.
Há economistas em vários partidos de esquerda que defendem a saída do euro, mas não existe nenhum partido que faça disso uma bandeira. Não existe medo de que no dia seguinte à saída do euro as pessoas vejam as suas dívidas cavalgar, o dinheiro que têm no banco reduzido a metade? Não há um medo na sociedade portuguesa das consequências do dia seguinte?
Estas eleições para o Parlamento Europeu são importantes nesta perspectiva. Tem de se clarificar e esclarecer as situações. É evidente que a saída do euro tem custos. Mas há duas coisas: os custos são a muito curto prazo. Veja-se a Islândia há dois ou três anos. A Islândia fez uma desvalorização brutal, superior a 50%. Teve uma inflação de 12%. Mas passado ano e meio, dois anos, além do crescimento económico que teve, a inflação veio para os 4%. A alternativa que nos é apresentada, a desvalorização interna, tem estes inconvenientes. O programa que está a ser aplicado pela troika e pelo governo é formalmente conhecido como desvalorização interna. A recuperação do escudo, da soberania monetária, teria como consequência uma desvalorização, mas os efeitos são a muito curto prazo e nas exportações, passados seis meses, teríamos efeitos claros. E na redução de importações – com a substituição de importações pelo consumo de produtos nacionais. A inflação – já fiz cálculos sobre isso, admitindo uma desvalorização de 30% – nunca iria além dos 10%. Saímos do euro, recriamos o escudo e imediatamente determina-se que um escudo tem o mesmo valor que um euro. Todas as contas são transformadas de euros para escudos com o mesmo valor. E a seguir desvalorizamos o escudo. A perda para as pessoas na prática não existe.
Mas as pessoas têm 10 mil euros de PPR no banco que passam a valer muito menos.
Transformam-se em 500 mil escudos. Mas o escudo vale menos. Mas quando desvaloriza também os activos passam a valer menos. No dia 1 posso comprar uma casa por 500 mil euros. No dia 2, com os 500 mil escudos desvalorizados, posso continuar a comprar essa casa porque o valor patrimonial da casa em escudos também baixou. Mas há uma situação que não quero esconder. É evidente que a saída do euro tem custos: o problema bancário. Aí é que está o problema. Não propriamente em relação às famílias, mas em relação aos bancos. A desvalorização, por causa do endividamento externo dos bancos, vem criar problemas. Mas nós temos vindo a suportar esses problemas bancários. Com a saída do euro, a parte essencial do sistema bancário tem de ser preservada, logicamente. Não é uma coisa nova, com a vantagem de que num prazo relativamente curto a situação fica resolvida do ponto de vista económico e, naturalmente, do ponto de vista financeiro.
É militante do PCP, foi líder parlamentar. O PCP sempre foi contra a entrada no euro…
Sim, sim.
Mas não se vê claramente nem no PCP nem no Bloco de Esquerda – estou a falar de dois partidos que estão no grupo da esquerda europeia – a defesa dessa tese. O próprio Alexis Tsipras, que é o candidato do PCP e do Bloco de Esquerda a presidente da Comissão Europeia, não fala em sair do euro.
Exactamente. Julgo que há algumas perspectivas a ter em atenção. Uma questão que se apresenta a vários partidos é o receio de dizerem aos trabalhadores “vocês em termos reais vão ter os vossos salários reduzidos devido à inflação”, embora aqui possa haver compensações. Julgo que haverá em vários partidos essa ideia de terem de dizer “nós defendemos a saída do euro, mas isso vai ter implicações nos salários reais durante algum tempo”. Por outro lado, e isso eu colocaria relativamente ao Bloco de Esquerda, que referiu, há a ideia de que o problema se resolve fazendo uma reconfiguração da zona euro e até uma reconfiguração da União Europeia. Agora a questão que eu levanto é esta: o que é mais viável ou mais possível? Fazer uma reconfiguração total da zona euro, dizendo “vamos mudar para uma política que tenha como prioridade a estabilidade de preços”? Passa a haver uma política do Banco Central Europeu que tenha como prioridade o emprego e o crescimento económico? Quem é que aceita isto? Qual é o país que aceita isto?
A correlação de forças, que é uma expressão muito querida dos comunistas, não é favorável a isso…
Não vejo essa possibilidade, pelo menos a médio prazo. Certamente, como comunista, nunca desistirei de defender uma reconfiguração completa da União Europeia em termos de políticas viradas para a população. Agora isso não é de esperar que possa vir a suceder a médio prazo. E o médio prazo aqui é longo. Se ficarmos nessa perspectiva, ao fim desse médio prazo longo, o país já não estará cá. A questão da saída do euro parece-me fundamental.
Mas não é debatida em Portugal, designadamente a nível dos partidos políticos.
Tem havido debates, mas não são debates públicos, como deviam ser.
A Assembleia da República não debate isto…
Exactamente. Acho que estas próximas eleições para o Parlamento Europeu têm uma importância política muito grande. Estas questões têm de ser debatidas na campanha eleitoral, mas com muita seriedade e muita objectividade. Para que as pessoas fiquem esclarecidas acerca das alternativas que estão em causa, das consequências de cada uma das alternativas e do que, em termos de curto prazo, médio prazo e longo prazo, é preferível para os portugueses. Neste aspecto estas eleições são muito importantes e podiam ser aproveitadas para isso.
Mas estamos a três meses e só se fala de cautelar ou saída limpa.
O debate está enviesado nessa perspectiva.
O PS defende menos austeridade, mas apoiou o Tratado Orçamental. Acha que Seguro corre o risco de fazer a mesma figura que Hollande se for eleito primeiro-ministro?
É quase inevitável, com base naquilo que tem sido o discurso do Partido Socialista e do seu secretário-geral. Aquilo que o Partido Socialista nos tem dito é que é preciso menos austeridade e mais crescimento. Posso estar enganado, mas até hoje ainda não ouvi o Partido Socialista dizer como faz isso. Nos últimos dias tem estado em debate os membros da troika dizerem que é preciso reduzir ainda mais os salários. E toda a gente dá saltos! Não pode ser, nem pensar nisso! Eu também acho que não se deve pensar nisso. Mas a questão que se põe é esta: como é que se consegue a chamada competitividade externa se não é através da desvalorização da moeda? Não há milagres! Tem de ser através da desvalorização dos salários!
Portanto, quando o governo, o PS, os patrões, dizem que não querem baixar os salários estão-nos a aldrabar?
Estão a aldrabar porque sem isso, dentro da óptica da troika que eles subscrevem, não conseguem a desvalorização interna! Há estudos internacionais que dizem que, relativamente a Portugal, a desvalorização interna tem de se prolongar por 20 a 30 anos. Eu sou conhecido por ser uma pessoa delicada, suave. Mas sobre a aprovação do Tratado Orçamental não posso deixar de dizer que é uma estupidez completa!
Mas tem a maioria da Europa a defender isso.
Principalmente os países do centro, para não dizer a Alemanha…
Em Espanha o socialista Zapatero meteu-o na Constituição e aqui o PS aprovou uma lei com valor reforçado….
É uma estupidez. O tal défice estrutural com o máximo de 0,5% implica uma dose de austeridade muito superior àquela que tem vindo a ser praticada! É contrário àquilo de que um país como Portugal necessita, o de crescer mais rapidamente que os outros países da zona euro, para se aproximar. Não é possível sair deste ciclo vicioso com o tratado orçamental. Chamam-lhe a regra de ouro. Podiam perguntar a um professor de Finanças, que por acaso é Presidente da República, se ele conhece essa regra de ouro das finanças públicas. E ele certamente dirá que não. A regra de ouro que existe internacionalmente nas finanças públicas é a regra que diz que, em princípio, a não ser em casos de recessão, o défice não deve ser superior à despesa em investimento.
Por acaso esse professor de Finanças foi contra a inscrição dessa regra na Constituição…
Apesar de tudo ainda teve lá um toque de professor de Finanças (risos).
Mas estamos então a ter um debate público esquizofrénico….
O debate público está a passar ao lado das questões centrais e essenciais.
Mas a direita, ao menos, está a ser coerente.
Exactamente.
Mas porque é que a esquerda está enfiada num colete-de-forças?
Do meu ponto de vista, não deveria estar. Deveria tomar a iniciativa de um debate sobre estas questões e de ter as suas próprias propostas para que toda a gente soubesse o que está em jogo. O Partido Socialista está muito ligado àquilo que é central e essencial nesta política do governo, o Tratado Orçamental, sair do euro nem pensar… O PS está muito amarrado às teses dominantes na União Europeia. Há pouco perguntava-me se Seguro, se for eleito primeiro-ministro, poderá ser um novo Hollande… Não tenho a mínima dúvida sobre isso. Se o Hollande francês recuou em toda a linha, o Seguro português não irá fazer qualquer alteração. A França ainda tem algum peso na União Europeia e Portugal não tem peso absolutamente nenhum…
Estamos aqui na Europa a viver uma grave crise. No entanto, um país pobre como a Letónia acabou de aderir ao euro e a Ucrânia partiu-se toda porque uma parte da população quer um acordo com a União Europeia. Como é que vê estes paradoxos?
Não conheço a situação da Letónia, mas admito que tenha sido uma situação idêntica àquela que conduziu Portugal ao euro – entrar no clube dos ricos. Vítor Constâncio dizia, na altura, que a partir do momento em que entrássemos na zona euro deixaríamos de ter problemas de financiamento da nossa dívida externa. Está-se a ver, não? Em relação à questão da Ucrânia, julgo que a situação é diferente. Por um lado, há uma parte da população da Ucrânia que nunca, nunca suportou os russos. Não estou a falar da União Soviética, são os russos! A outra questão é que o problema da Ucrânia não tem sido apenas uma questão interna. Eu até admito – não quero ser peremptório – que o peso maior daquilo que se tem passado na Ucrânia tenha a ver com o exterior, um problema geoestratégico. Quer os Estados Unidos da América, quer a União Europeia, há muito vêm pressionando a Ucrânia para entrar para a União Europeia e para a NATO, para enfraquecer o poder da Rússia naquela zona. Não estou aqui a dizer que a Rússia é melhor ou pior que os Estados Unidos e a União Europeia, mas é evidente que a Rússia continua a ser uma potência mundial e pretende continuar a defender os seus interesses geoestratégicos. A minha dúvida é onde isto vai parar. A Rússia vai submeter-se a ter um adversário, num sítio onde existem ódios profundos em relação aos russos, à sua porta? Isto pode ter consequências muito graves que se vão repercutir na União Europeia… Se existir um confronto claro e evidente entre a Rússia, a Europa e os Estados Unidos e isso chegar à via armada, é imprevisível.
Foi líder parlamentar do PCP, teve posições importantes no seu partido. Depois voltou para o Banco de Portugal e entretanto reformou-se. Não tem saudades da política activa?
Não [risos]. A política activa cansa muito [risos]. Vou participando dentro e fora do partido em vários debates. Mas também é essencial que se vá fazendo a renovação das gerações na política activa. Os menos jovens devem dar lugar aos mais jovens.
O PCP tem feito isso.
As pessoas que compõem o grupo parlamentar do PCP neste momento, no meu tempo não existiam [risos]. Ou eram muito jovens… O Partido Comunista faz muito bem em rejuvenescer.
E então acha que este vai ser o último mandato de Jerónimo de Sousa, aliás seu amigo e padrinho de casamento?
Não sei, mas admito que sim. Não tenho informação nem sequer pessoal. Somos amigos há dezenas de anos. Mas creio que ele próprio certamente tem em conta a necessidade de vir rejuvenescendo o partido a todos os níveis.
Poderá ser este o último mandato de Jerónimo de Sousa como secretário-
-geral do PCP?
Poderá ser…
Disse há dois dias que é possível que, por razões eleitoralistas, o governo tente sair do programa da troika em “voo livre”, é a sua expressão. Mas a saída à irlandesa, na sua opinião, vai agravar ainda mais os problemas da dívida e da austeridade. Um programa cautelar é melhor que “um voo livre”?
Convém fazer uma clarificação acerca do meu pensamento sobre a matéria. Nem a saída sem pára-quedas nem a saída cautelar resolvem qualquer problema do país em termos de futuro próximo ou mais longínquo. Agora, dentro da óptica que o governo tem estado a seguir, é evidente que o mais prudente seria o recurso ao programa cautelar. Por uma razão central: o nível das taxas de juro. Com um programa cautelar, em princípio, as taxas de juro serão inferiores àquelas que o governo conseguirá obter indo directamente aos mercados financeiros.
Portanto a saída limpa é arriscada?
Dentro da perspectiva do próprio governo, a prudência aconselharia a que assinassem um programa cautelar. Agora um programa cautelar depende também da vontade da União Europeia. E não é muito certo que pelo menos alguns países da União Europeia estejam interessados num programa cautelar… Alguns deles terão de se confrontar ou com os seus parlamentos ou com os seus tribunais constitucionais para avançar nesta matéria. É eleitoralista esta visão do governo de pretender aproveitar as próximas eleições e as seguintes para aparecer junto da população portuguesa a dizer “a troika terminou, estamos livres”…
Mas a troika nunca terminará, na sua opinião?
O problema é que a troika nunca terminará e mais do que isso: a política de austeridade – e aí Passos Coelho tem sido muito claro – é para continuar. Entretanto, com vista às próximas eleições e às legislativas, o governo fez esta coisa de aproveitar para ir aos mercados internacionais para emitir dívida a taxas de juros na ordem dos 6% – 5,1% foi o mínimo que conseguiu – para poder sobreviver durante um ano e ter ali o seu saco para não ser necessário ir aos mercados.
Defende o perdão parcial da dívida, mas temos em Portugal uma situação em que os dois maiores partidos continuam a dizer que a dívida é para pagar. E como seria possível negociar isso com os nossos parceiros europeus? Estamos numa situação quase sem saída…
Sem saída por causa da falta de vontade política, designadamente dos partidos que referiu. Eu, pessoalmente, não tenho a mínima dúvida – e isso é demonstrável técnica e economicamente – que a dívida actual é impagável. É absolutamente impagável na sua totalidade. O próprio Fundo Monetário Internacional, no relatório português sobre a 8.a e a 9.a avaliações, diz que para que em 2038 Portugal possa ter uma dívida de 60% do PIB – o limite que a União Europeia diz que é sustentável – precisaríamos de ter taxas de crescimento económico durante estes 20 e tal anos da ordem dos 1,8% em termos reais. E 1,8% significa o dobro do que tivemos nos últimos seis anos antes da crise internacional. Era necessário que as taxas de juro que temos de pagar andassem na ordem dos 3,4% e que o défice primário fosse 3,8% durante estes 20 e tal anos. 3,8%, a números actuais, significa aumentar a dose que já existe acumulada de austeridade. Isto é insustentável e impossível. O problema não se põe em querer ou não querer pagar. É possível pagar ou não? Não é possível pagar! Se não é possível pagar, temos de renegociar. É um problema de vontade política dos partidos que estão no governo, ou que é previsível que possam ascender ao governo. Seria errado seguir o exemplo da Grécia, que não tomou a iniciativa – impuseram--lhe a renegociação. Aquilo não resolveu nada porque a renegociação foi feita com base na perspectiva do interesse dos credores.
E como é que se sai daqui? Porque é que na sua opinião seria melhor para Portugal a saída do euro?
Aquilo que se designa crise da zona euro não é uma crise decorrente das dívidas soberanas. É uma crise decorrente da heterogeneidade dos países que formam a zona euro, que vieram ao longo dos anos a acumular desvios cada vez maiores de uns países em relação aos outros. Em vez de ter passado a existir aquilo que se prometia, que era a coesão económica dos países, o que houve foi uma divergência. A moeda única foi aplicada a países com estruturas económicas completamente diferenciadas, com necessidades mediatas e imediatas completamente diferentes, com níveis de produtividade diferenciados uns dos outros, e que não podiam, objectivamente, sobreviver simultaneamente com a mesma moeda. A moeda única foi um garrote que se abateu sobre os países menos desenvolvidos que estão na zona euro, porque os impediu de crescerem mais rapidamente que os outros países para atingirem a convergência, ou a coesão económica. Desde logo, dentro da zona euro, quando desapareceu o risco cambial, isso favoreceu os países que tinham especializações produtivas mais elevadas e mais sofisticadas e conduziu, designadamente, a que a industrialização se concentrasse nos países do centro, em particular na Alemanha, assistindo-se à desindustrialização dos países da periferia. Fora da zona euro, e fora da União Europeia, a própria evolução da moeda única em termos cambiais – aquilo que se pode designar euro forte ou euro caro – provocou uma perda de competitividade enorme nos países mais frágeis, nos países do Sul. A nossa capacidade de exportação está assente fundamentalmente em produtos em que há uma enorme concorrência em termos de preços. O euro tem--se mantido, com alguns picos ainda superiores, na ordem de 1,30 e qualquer coisa em relação ao dólar. Ora os países exteriores à União Europeia – Índia, China, do Norte de África, da América do Sul e Central, que têm a sua paridade correlacionada com o dólar – viram a sua competitividade aumentar substancialmente. E Portugal foi muito prejudicado em termos de exportações. E há outro aspecto que é pouco referido: aquele processo de deslocalização de empresas que começou em Portugal há uns anos também foi desencadeado pelo euro caro. Há quem diga que é preciso arranjar condições para que o euro desvalorize. Não é provável por duas razões: segundo estudos de várias fontes internacionais, a chamada taxa de equilíbrio entre o euro e dólar, para a Alemanha, é precisamente a de 1,30. E a Alemanha é a economia central da União Europeia e isso tem de ser tida em conta. Por outro lado, o euro tem no seu ADN a perspectiva de ser um euro forte, uma moeda cara, exactamente para embaratecer as aplicações financeiras da União Europeia nos países exteriores à União Europeia. Combater estes dois interesses é difícil.
Há economistas em vários partidos de esquerda que defendem a saída do euro, mas não existe nenhum partido que faça disso uma bandeira. Não existe medo de que no dia seguinte à saída do euro as pessoas vejam as suas dívidas cavalgar, o dinheiro que têm no banco reduzido a metade? Não há um medo na sociedade portuguesa das consequências do dia seguinte?
Estas eleições para o Parlamento Europeu são importantes nesta perspectiva. Tem de se clarificar e esclarecer as situações. É evidente que a saída do euro tem custos. Mas há duas coisas: os custos são a muito curto prazo. Veja-se a Islândia há dois ou três anos. A Islândia fez uma desvalorização brutal, superior a 50%. Teve uma inflação de 12%. Mas passado ano e meio, dois anos, além do crescimento económico que teve, a inflação veio para os 4%. A alternativa que nos é apresentada, a desvalorização interna, tem estes inconvenientes. O programa que está a ser aplicado pela troika e pelo governo é formalmente conhecido como desvalorização interna. A recuperação do escudo, da soberania monetária, teria como consequência uma desvalorização, mas os efeitos são a muito curto prazo e nas exportações, passados seis meses, teríamos efeitos claros. E na redução de importações – com a substituição de importações pelo consumo de produtos nacionais. A inflação – já fiz cálculos sobre isso, admitindo uma desvalorização de 30% – nunca iria além dos 10%. Saímos do euro, recriamos o escudo e imediatamente determina-se que um escudo tem o mesmo valor que um euro. Todas as contas são transformadas de euros para escudos com o mesmo valor. E a seguir desvalorizamos o escudo. A perda para as pessoas na prática não existe.
Mas as pessoas têm 10 mil euros de PPR no banco que passam a valer muito menos.
Transformam-se em 500 mil escudos. Mas o escudo vale menos. Mas quando desvaloriza também os activos passam a valer menos. No dia 1 posso comprar uma casa por 500 mil euros. No dia 2, com os 500 mil escudos desvalorizados, posso continuar a comprar essa casa porque o valor patrimonial da casa em escudos também baixou. Mas há uma situação que não quero esconder. É evidente que a saída do euro tem custos: o problema bancário. Aí é que está o problema. Não propriamente em relação às famílias, mas em relação aos bancos. A desvalorização, por causa do endividamento externo dos bancos, vem criar problemas. Mas nós temos vindo a suportar esses problemas bancários. Com a saída do euro, a parte essencial do sistema bancário tem de ser preservada, logicamente. Não é uma coisa nova, com a vantagem de que num prazo relativamente curto a situação fica resolvida do ponto de vista económico e, naturalmente, do ponto de vista financeiro.
É militante do PCP, foi líder parlamentar. O PCP sempre foi contra a entrada no euro…
Sim, sim.
Mas não se vê claramente nem no PCP nem no Bloco de Esquerda – estou a falar de dois partidos que estão no grupo da esquerda europeia – a defesa dessa tese. O próprio Alexis Tsipras, que é o candidato do PCP e do Bloco de Esquerda a presidente da Comissão Europeia, não fala em sair do euro.
Exactamente. Julgo que há algumas perspectivas a ter em atenção. Uma questão que se apresenta a vários partidos é o receio de dizerem aos trabalhadores “vocês em termos reais vão ter os vossos salários reduzidos devido à inflação”, embora aqui possa haver compensações. Julgo que haverá em vários partidos essa ideia de terem de dizer “nós defendemos a saída do euro, mas isso vai ter implicações nos salários reais durante algum tempo”. Por outro lado, e isso eu colocaria relativamente ao Bloco de Esquerda, que referiu, há a ideia de que o problema se resolve fazendo uma reconfiguração da zona euro e até uma reconfiguração da União Europeia. Agora a questão que eu levanto é esta: o que é mais viável ou mais possível? Fazer uma reconfiguração total da zona euro, dizendo “vamos mudar para uma política que tenha como prioridade a estabilidade de preços”? Passa a haver uma política do Banco Central Europeu que tenha como prioridade o emprego e o crescimento económico? Quem é que aceita isto? Qual é o país que aceita isto?
A correlação de forças, que é uma expressão muito querida dos comunistas, não é favorável a isso…
Não vejo essa possibilidade, pelo menos a médio prazo. Certamente, como comunista, nunca desistirei de defender uma reconfiguração completa da União Europeia em termos de políticas viradas para a população. Agora isso não é de esperar que possa vir a suceder a médio prazo. E o médio prazo aqui é longo. Se ficarmos nessa perspectiva, ao fim desse médio prazo longo, o país já não estará cá. A questão da saída do euro parece-me fundamental.
Mas não é debatida em Portugal, designadamente a nível dos partidos políticos.
Tem havido debates, mas não são debates públicos, como deviam ser.
A Assembleia da República não debate isto…
Exactamente. Acho que estas próximas eleições para o Parlamento Europeu têm uma importância política muito grande. Estas questões têm de ser debatidas na campanha eleitoral, mas com muita seriedade e muita objectividade. Para que as pessoas fiquem esclarecidas acerca das alternativas que estão em causa, das consequências de cada uma das alternativas e do que, em termos de curto prazo, médio prazo e longo prazo, é preferível para os portugueses. Neste aspecto estas eleições são muito importantes e podiam ser aproveitadas para isso.
Mas estamos a três meses e só se fala de cautelar ou saída limpa.
O debate está enviesado nessa perspectiva.
O PS defende menos austeridade, mas apoiou o Tratado Orçamental. Acha que Seguro corre o risco de fazer a mesma figura que Hollande se for eleito primeiro-ministro?
É quase inevitável, com base naquilo que tem sido o discurso do Partido Socialista e do seu secretário-geral. Aquilo que o Partido Socialista nos tem dito é que é preciso menos austeridade e mais crescimento. Posso estar enganado, mas até hoje ainda não ouvi o Partido Socialista dizer como faz isso. Nos últimos dias tem estado em debate os membros da troika dizerem que é preciso reduzir ainda mais os salários. E toda a gente dá saltos! Não pode ser, nem pensar nisso! Eu também acho que não se deve pensar nisso. Mas a questão que se põe é esta: como é que se consegue a chamada competitividade externa se não é através da desvalorização da moeda? Não há milagres! Tem de ser através da desvalorização dos salários!
Portanto, quando o governo, o PS, os patrões, dizem que não querem baixar os salários estão-nos a aldrabar?
Estão a aldrabar porque sem isso, dentro da óptica da troika que eles subscrevem, não conseguem a desvalorização interna! Há estudos internacionais que dizem que, relativamente a Portugal, a desvalorização interna tem de se prolongar por 20 a 30 anos. Eu sou conhecido por ser uma pessoa delicada, suave. Mas sobre a aprovação do Tratado Orçamental não posso deixar de dizer que é uma estupidez completa!
Mas tem a maioria da Europa a defender isso.
Principalmente os países do centro, para não dizer a Alemanha…
Em Espanha o socialista Zapatero meteu-o na Constituição e aqui o PS aprovou uma lei com valor reforçado….
É uma estupidez. O tal défice estrutural com o máximo de 0,5% implica uma dose de austeridade muito superior àquela que tem vindo a ser praticada! É contrário àquilo de que um país como Portugal necessita, o de crescer mais rapidamente que os outros países da zona euro, para se aproximar. Não é possível sair deste ciclo vicioso com o tratado orçamental. Chamam-lhe a regra de ouro. Podiam perguntar a um professor de Finanças, que por acaso é Presidente da República, se ele conhece essa regra de ouro das finanças públicas. E ele certamente dirá que não. A regra de ouro que existe internacionalmente nas finanças públicas é a regra que diz que, em princípio, a não ser em casos de recessão, o défice não deve ser superior à despesa em investimento.
Por acaso esse professor de Finanças foi contra a inscrição dessa regra na Constituição…
Apesar de tudo ainda teve lá um toque de professor de Finanças (risos).
Mas estamos então a ter um debate público esquizofrénico….
O debate público está a passar ao lado das questões centrais e essenciais.
Mas a direita, ao menos, está a ser coerente.
Exactamente.
Mas porque é que a esquerda está enfiada num colete-de-forças?
Do meu ponto de vista, não deveria estar. Deveria tomar a iniciativa de um debate sobre estas questões e de ter as suas próprias propostas para que toda a gente soubesse o que está em jogo. O Partido Socialista está muito ligado àquilo que é central e essencial nesta política do governo, o Tratado Orçamental, sair do euro nem pensar… O PS está muito amarrado às teses dominantes na União Europeia. Há pouco perguntava-me se Seguro, se for eleito primeiro-ministro, poderá ser um novo Hollande… Não tenho a mínima dúvida sobre isso. Se o Hollande francês recuou em toda a linha, o Seguro português não irá fazer qualquer alteração. A França ainda tem algum peso na União Europeia e Portugal não tem peso absolutamente nenhum…
Estamos aqui na Europa a viver uma grave crise. No entanto, um país pobre como a Letónia acabou de aderir ao euro e a Ucrânia partiu-se toda porque uma parte da população quer um acordo com a União Europeia. Como é que vê estes paradoxos?
Não conheço a situação da Letónia, mas admito que tenha sido uma situação idêntica àquela que conduziu Portugal ao euro – entrar no clube dos ricos. Vítor Constâncio dizia, na altura, que a partir do momento em que entrássemos na zona euro deixaríamos de ter problemas de financiamento da nossa dívida externa. Está-se a ver, não? Em relação à questão da Ucrânia, julgo que a situação é diferente. Por um lado, há uma parte da população da Ucrânia que nunca, nunca suportou os russos. Não estou a falar da União Soviética, são os russos! A outra questão é que o problema da Ucrânia não tem sido apenas uma questão interna. Eu até admito – não quero ser peremptório – que o peso maior daquilo que se tem passado na Ucrânia tenha a ver com o exterior, um problema geoestratégico. Quer os Estados Unidos da América, quer a União Europeia, há muito vêm pressionando a Ucrânia para entrar para a União Europeia e para a NATO, para enfraquecer o poder da Rússia naquela zona. Não estou aqui a dizer que a Rússia é melhor ou pior que os Estados Unidos e a União Europeia, mas é evidente que a Rússia continua a ser uma potência mundial e pretende continuar a defender os seus interesses geoestratégicos. A minha dúvida é onde isto vai parar. A Rússia vai submeter-se a ter um adversário, num sítio onde existem ódios profundos em relação aos russos, à sua porta? Isto pode ter consequências muito graves que se vão repercutir na União Europeia… Se existir um confronto claro e evidente entre a Rússia, a Europa e os Estados Unidos e isso chegar à via armada, é imprevisível.
Foi líder parlamentar do PCP, teve posições importantes no seu partido. Depois voltou para o Banco de Portugal e entretanto reformou-se. Não tem saudades da política activa?
Não [risos]. A política activa cansa muito [risos]. Vou participando dentro e fora do partido em vários debates. Mas também é essencial que se vá fazendo a renovação das gerações na política activa. Os menos jovens devem dar lugar aos mais jovens.
O PCP tem feito isso.
As pessoas que compõem o grupo parlamentar do PCP neste momento, no meu tempo não existiam [risos]. Ou eram muito jovens… O Partido Comunista faz muito bem em rejuvenescer.
E então acha que este vai ser o último mandato de Jerónimo de Sousa, aliás seu amigo e padrinho de casamento?
Não sei, mas admito que sim. Não tenho informação nem sequer pessoal. Somos amigos há dezenas de anos. Mas creio que ele próprio certamente tem em conta a necessidade de vir rejuvenescendo o partido a todos os níveis.
Poderá ser este o último mandato de Jerónimo de Sousa como secretário-
-geral do PCP?
Poderá ser…
quarta-feira, 5 de março de 2014
Pelo Socialismo
Questões político-ideológicas com atualidade
http://www.pelosocialismo.net
_____________________________________________
Publicado em 2014/02/24 em: http://www.legrandsoir.info/la-clinton-pinchuk-connection.html
Tradução do francês de TAM
Colocado em linha em: 2014/03/03
Uma ligação entre Clinton e Pinchuk
(Il Manifesto)
Manlio Dinucci
Sábado, 22 de fevereiro de 2014 – À mesa de Kiev onde foi negociado o acordo formal
entre governo, oposição, UE e Rússia não estava oficialmente nenhum representante da
poderosa oligarquia interna que, mais ligada a Washington e à NATO do que a Bruxelas
e à UE, empurra a Ucrânia para o ocidente. É emblemático o caso de Victor Pinchuk,
magnata do aço, 54 anos, classificado pela revista Forbes como um dos homens mais
ricos do mundo.
A fortuna de Pinchuk começa quando, em 2002, se casou com Olena, filha de Leonid
Kuchma, segundo presidente da Ucrânia (1994-2005). Em 2004 o ilustre sogro privatiza
o maior complexo siderúrgico ucraniano, de Kryvorizhstal, vendendo-o à sociedade
Interpipe, de que o seu genro era proprietário, por 800 milhões de dólares, cerca de um
sexto do seu valor real. A Interpipe monopoliza assim o fabrico de tubos de aço. Em
2007, Pinchuk constitui o EastOne Group, sociedade de consultoria para investimentos
internacionais, que fornece às multinacionais todas as ferramentas para penetrar nas
economias do leste. Torna-se, ao mesmo tempo, proprietário de quatro cadeias de
televisão e de um tablóide popular (Factos e comentários), com uma difusão de mais de
um milhão de exemplares. Para não falar, entretanto, as obras de beneficência: criou a
Victor Pinchuk Foundation, considerada a maior «fundação filantrópica» ucraniana.
É através desta fundação que Pinchuk se liga aos Clinton, apoiando a Clinton Global
Iniciativa, criada por Bill e Hillary em 2005, cuja missão é «reunir os líderes mundiais
para criar soluções inovadoras para os desafios mundiais mais urgentes». Por detrás
deste slogan reluzente encontra-se o objetivo real: criar uma rede internacional de
poderosos apoios a Hillary Clinton, ex-primeira dama que, depois de ter sido senadora
de Nova York em 2001-2009, e secretária de Estado de 2009 a 2013, tenta de novo a
subida à presidência. A frutuosa colaboração começa em 2007, quando Bill Clinton
agradece a «Victor e Olena Pinchuk a sua incansável atividade social e o apoio prestado
ao nosso programa internacional». Apoio que Pinchuk concretiza através de uma
2
primeira contribuição de 5 milhões de dólares, a que se sucedem outros à Clinton Global
Initiative. Isto abre a Pinchuk as portas de Washington: contrata por 40 000 dólares
mensais o lóbista Schoen, que lhe prepara uma série de contactos com outras influentes
personagens, entre as quais uma dúzia de encontros em um ano, entre 2011 e 2012, com
altos funcionários de Departamento de Estado. Isto favorece também os negócios,
permitindo a Pinchuk aumentar as suas exportações para os Estados Unidos, apesar de
os patrões da metalurgia da Pensilvânia e do Ohio o acusarem de vender os tubos de aço
aos EUA abaixo do preço.
Para reforçar posteriormente as suas ligações com os Estados Unidos e o ocidente,
Pinchuk lança a Yalta European Strategy (Yes), «a maior instituição social de
diplomacia pública na Europa oriental», cuja finalidade é «ajudar a Ucrânia a tornarse
um país moderno, democrático e economicamente poderoso». Graças à volumosa
disponibilidade financeira de Pinchuk (que, nada mais nada menos, para festejar o seu
50º aniversário, gastou mais de 5 milhões de dólares numa estância de ski francesa), a
Yes consegue tecer uma vasta rede de contactos internacionais, que se torna visível com
a realização do encontro anual organizado em Yalta. Nele participam «mais de 200
políticos, diplomatas, homens de Estado, jornalistas, analistas e dirigentes do mundo
dos negócios provenientes de mais de 20 países». Entre eles sobressaem os nomes de
Hillary e Bill Clinton, Condoleeza Rice, Tony Blair, George Soros, José Manuel Barroso e
Mário Monti (que participou no encontro de setembro último), ao lado dos quais se
encontram personagens menos conhecidas, mas não menos influentes, como os
dirigentes do Fundo Monetário Internacional (como Dominique Strauss-Khan, ver NdT
[francês]).
Como explicou Condoleeza Rice no encontro Yes 2012,«as transformações
democráticas requerem tempo e paciência, requerem um apoio tanto exterior como
interior». Excelente síntese da estratégia que o Ocidente adota, sob a capa de «apoio
exterior», para apoiar as «transformações democráticas». Uma estratégia doravante
consolidada, da Jugoslávia à Líbia, da Síria à Ucrânia: cravar cunhas nas falhas que
todos os Estados têm para fazer estremecer as bases, apoiando ou fomentando rebeliões
anti-governamentais (do tipo das de Kiev, demasiado pontuais e organizadas para serem
consideradas como simplesmente espontâneas), enquanto se desencadeia uma
trepidante campanha mediática contra o governo que se quer abater. No que respeita à
Ucrânia, o objetivo é o de fazer colapsar o Estado ou de o dividir em dois: uma parte que
entrará na NATO e na UE, e uma outra que ficará maioritariamente ligada à Rússia. É
neste quadro que se insere a Yalta European Strategy da oligarquia amiga dos Clinton.
Edição de sábado 22 de fevereiro de 2014 de il manifesto
http://ilmanifesto.it/la-clinton-pinchuk-connection-una-oligarchia-ucr...
Traduzido do italiano por Marie-Ange Patrizio
E alguns aspetos da Pinchuk-French Connection (NdT)
3
«Quarta-feira, 27 de março [2013], a ministra da Cultura e da Comunicação. Srª Aurélie
Filipetti, entregou as insígnias de cavaleiro da ordem das Artes e das Letra a Vítor
Pinchuk. Felicitou-o pela «visão europeia do mecenato» e o «casamento feliz entre a
indústria e a cultura, à imagem da instalação monumental de Olafur Eliasson que, tal
como o ferro sofre constantes mudanças de estado, metamorfoseia a sua nova
aciaria»(http://www.ambafrance-ua.org/Victor-Pinchuk-chevalier-de-l).
«O meu professor de arte contemporânea é francês, Nicolas Borriaud (crítico de arte,
dirigiu o Palácio de Tóquio com Jérôme Sans de 2002 2 2006 e atual diretor das Belas-
Artes de Paris, desde outubro de 2011). Chamo-lhe mesmo o meu guru! Encontrei-o em
2002 por intermédio do meu amigo Marcel Gross, diretor associado da Euro RSCG1».
(http://www.lefigaro.fr/arts-expositions/2013/04/09/03015-20130409ARTFI...)
«Como existir socialmente no seu país sem fazer política?» É a Euro RSCG, na pessoa do
francês Stéphane Fouks, que vai dar uma resposta em três pontos: 1. Criar um museu de
arte contemporânea que valoriza a arte ucraniana. 2. Constituir um think tank2 para
influenciar a Ucrânia e a sua entrada na Europa. 3. Criar uma fundação anti-sida a cargo
da sua esposa. O oligarca investe na filantropia.
[…] «Num certo período da vida, é tempo de dar um pouco do que se recebeu, “guiado
por uma visão”, diz ele. Para isso, um ucraniano não perde o norte: o seu frenesim de
artistas não é mais do que uma etapa na sua estratégia de conquista. Em cada outono,
em Yalta, o seu think tank batizado YES (Yalta European Strategy) trabalha para
influenciar a Ucrânia com convidados como Tony Blair ou Dominique Strauss-Khan. Em
Davos, à margem da cimeira, imprime assim a sua marca: em 27 de janeiro, organiza
uma mesa-redonda com a jovem Cheikha Mayassa, princesa do Qatar muito interessada
em arte, e Paulo Coelho».(http://www.lepoint.fr/culture/pinchuk-l-amateur-d-art-quivenait-
du-fr...).
Fonte: Marie Ange Patrizio
1 Acrónimo para Roux, Séguéla, Caysac, Goudard, atualmente Havas Worlwide.Havas Worldwide, [...] é
uma das maiores agências do mundo de comunicação de marketing integrado, constituída por 316
agências em 75 países. [...] fornece publicidade, serviços de marketing, comunicações empresariais e
soluções interativas para clientes globais, regionais e locais. http://en.wikipedia.org/wiki/Euro_RSCG
(traduzido do inglês para português por T.) (NT português).
2 Expressão comummente utilizada em inglês com o sentido de “grupo de reflexão”, literalmente “depósito
de pensamento” (NT português).
Questões político-ideológicas com atualidade
http://www.pelosocialismo.net
_____________________________________________
Publicado em 2014/02/24 em: http://www.legrandsoir.info/la-clinton-pinchuk-connection.html
Tradução do francês de TAM
Colocado em linha em: 2014/03/03
Uma ligação entre Clinton e Pinchuk
(Il Manifesto)
Manlio Dinucci
Sábado, 22 de fevereiro de 2014 – À mesa de Kiev onde foi negociado o acordo formal
entre governo, oposição, UE e Rússia não estava oficialmente nenhum representante da
poderosa oligarquia interna que, mais ligada a Washington e à NATO do que a Bruxelas
e à UE, empurra a Ucrânia para o ocidente. É emblemático o caso de Victor Pinchuk,
magnata do aço, 54 anos, classificado pela revista Forbes como um dos homens mais
ricos do mundo.
A fortuna de Pinchuk começa quando, em 2002, se casou com Olena, filha de Leonid
Kuchma, segundo presidente da Ucrânia (1994-2005). Em 2004 o ilustre sogro privatiza
o maior complexo siderúrgico ucraniano, de Kryvorizhstal, vendendo-o à sociedade
Interpipe, de que o seu genro era proprietário, por 800 milhões de dólares, cerca de um
sexto do seu valor real. A Interpipe monopoliza assim o fabrico de tubos de aço. Em
2007, Pinchuk constitui o EastOne Group, sociedade de consultoria para investimentos
internacionais, que fornece às multinacionais todas as ferramentas para penetrar nas
economias do leste. Torna-se, ao mesmo tempo, proprietário de quatro cadeias de
televisão e de um tablóide popular (Factos e comentários), com uma difusão de mais de
um milhão de exemplares. Para não falar, entretanto, as obras de beneficência: criou a
Victor Pinchuk Foundation, considerada a maior «fundação filantrópica» ucraniana.
É através desta fundação que Pinchuk se liga aos Clinton, apoiando a Clinton Global
Iniciativa, criada por Bill e Hillary em 2005, cuja missão é «reunir os líderes mundiais
para criar soluções inovadoras para os desafios mundiais mais urgentes». Por detrás
deste slogan reluzente encontra-se o objetivo real: criar uma rede internacional de
poderosos apoios a Hillary Clinton, ex-primeira dama que, depois de ter sido senadora
de Nova York em 2001-2009, e secretária de Estado de 2009 a 2013, tenta de novo a
subida à presidência. A frutuosa colaboração começa em 2007, quando Bill Clinton
agradece a «Victor e Olena Pinchuk a sua incansável atividade social e o apoio prestado
ao nosso programa internacional». Apoio que Pinchuk concretiza através de uma
2
primeira contribuição de 5 milhões de dólares, a que se sucedem outros à Clinton Global
Initiative. Isto abre a Pinchuk as portas de Washington: contrata por 40 000 dólares
mensais o lóbista Schoen, que lhe prepara uma série de contactos com outras influentes
personagens, entre as quais uma dúzia de encontros em um ano, entre 2011 e 2012, com
altos funcionários de Departamento de Estado. Isto favorece também os negócios,
permitindo a Pinchuk aumentar as suas exportações para os Estados Unidos, apesar de
os patrões da metalurgia da Pensilvânia e do Ohio o acusarem de vender os tubos de aço
aos EUA abaixo do preço.
Para reforçar posteriormente as suas ligações com os Estados Unidos e o ocidente,
Pinchuk lança a Yalta European Strategy (Yes), «a maior instituição social de
diplomacia pública na Europa oriental», cuja finalidade é «ajudar a Ucrânia a tornarse
um país moderno, democrático e economicamente poderoso». Graças à volumosa
disponibilidade financeira de Pinchuk (que, nada mais nada menos, para festejar o seu
50º aniversário, gastou mais de 5 milhões de dólares numa estância de ski francesa), a
Yes consegue tecer uma vasta rede de contactos internacionais, que se torna visível com
a realização do encontro anual organizado em Yalta. Nele participam «mais de 200
políticos, diplomatas, homens de Estado, jornalistas, analistas e dirigentes do mundo
dos negócios provenientes de mais de 20 países». Entre eles sobressaem os nomes de
Hillary e Bill Clinton, Condoleeza Rice, Tony Blair, George Soros, José Manuel Barroso e
Mário Monti (que participou no encontro de setembro último), ao lado dos quais se
encontram personagens menos conhecidas, mas não menos influentes, como os
dirigentes do Fundo Monetário Internacional (como Dominique Strauss-Khan, ver NdT
[francês]).
Como explicou Condoleeza Rice no encontro Yes 2012,«as transformações
democráticas requerem tempo e paciência, requerem um apoio tanto exterior como
interior». Excelente síntese da estratégia que o Ocidente adota, sob a capa de «apoio
exterior», para apoiar as «transformações democráticas». Uma estratégia doravante
consolidada, da Jugoslávia à Líbia, da Síria à Ucrânia: cravar cunhas nas falhas que
todos os Estados têm para fazer estremecer as bases, apoiando ou fomentando rebeliões
anti-governamentais (do tipo das de Kiev, demasiado pontuais e organizadas para serem
consideradas como simplesmente espontâneas), enquanto se desencadeia uma
trepidante campanha mediática contra o governo que se quer abater. No que respeita à
Ucrânia, o objetivo é o de fazer colapsar o Estado ou de o dividir em dois: uma parte que
entrará na NATO e na UE, e uma outra que ficará maioritariamente ligada à Rússia. É
neste quadro que se insere a Yalta European Strategy da oligarquia amiga dos Clinton.
Edição de sábado 22 de fevereiro de 2014 de il manifesto
http://ilmanifesto.it/la-clinton-pinchuk-connection-una-oligarchia-ucr...
Traduzido do italiano por Marie-Ange Patrizio
E alguns aspetos da Pinchuk-French Connection (NdT)
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«Quarta-feira, 27 de março [2013], a ministra da Cultura e da Comunicação. Srª Aurélie
Filipetti, entregou as insígnias de cavaleiro da ordem das Artes e das Letra a Vítor
Pinchuk. Felicitou-o pela «visão europeia do mecenato» e o «casamento feliz entre a
indústria e a cultura, à imagem da instalação monumental de Olafur Eliasson que, tal
como o ferro sofre constantes mudanças de estado, metamorfoseia a sua nova
aciaria»(http://www.ambafrance-ua.org/Victor-Pinchuk-chevalier-de-l).
«O meu professor de arte contemporânea é francês, Nicolas Borriaud (crítico de arte,
dirigiu o Palácio de Tóquio com Jérôme Sans de 2002 2 2006 e atual diretor das Belas-
Artes de Paris, desde outubro de 2011). Chamo-lhe mesmo o meu guru! Encontrei-o em
2002 por intermédio do meu amigo Marcel Gross, diretor associado da Euro RSCG1».
(http://www.lefigaro.fr/arts-expositions/2013/04/09/03015-20130409ARTFI...)
«Como existir socialmente no seu país sem fazer política?» É a Euro RSCG, na pessoa do
francês Stéphane Fouks, que vai dar uma resposta em três pontos: 1. Criar um museu de
arte contemporânea que valoriza a arte ucraniana. 2. Constituir um think tank2 para
influenciar a Ucrânia e a sua entrada na Europa. 3. Criar uma fundação anti-sida a cargo
da sua esposa. O oligarca investe na filantropia.
[…] «Num certo período da vida, é tempo de dar um pouco do que se recebeu, “guiado
por uma visão”, diz ele. Para isso, um ucraniano não perde o norte: o seu frenesim de
artistas não é mais do que uma etapa na sua estratégia de conquista. Em cada outono,
em Yalta, o seu think tank batizado YES (Yalta European Strategy) trabalha para
influenciar a Ucrânia com convidados como Tony Blair ou Dominique Strauss-Khan. Em
Davos, à margem da cimeira, imprime assim a sua marca: em 27 de janeiro, organiza
uma mesa-redonda com a jovem Cheikha Mayassa, princesa do Qatar muito interessada
em arte, e Paulo Coelho».(http://www.lepoint.fr/culture/pinchuk-l-amateur-d-art-quivenait-
du-fr...).
Fonte: Marie Ange Patrizio
1 Acrónimo para Roux, Séguéla, Caysac, Goudard, atualmente Havas Worlwide.Havas Worldwide, [...] é
uma das maiores agências do mundo de comunicação de marketing integrado, constituída por 316
agências em 75 países. [...] fornece publicidade, serviços de marketing, comunicações empresariais e
soluções interativas para clientes globais, regionais e locais. http://en.wikipedia.org/wiki/Euro_RSCG
(traduzido do inglês para português por T.) (NT português).
2 Expressão comummente utilizada em inglês com o sentido de “grupo de reflexão”, literalmente “depósito
de pensamento” (NT português).
sábado, 1 de março de 2014
À beira da bancarrota e sobre assistência do FMI, a Ucrânia estava dividida entre as promessas de adesão à União Europeia e a ajuda da Rússia.
De um lado, a União Europeia que prometia um crescimento de 6% com a sua adesão e duas tranches de empréstimos de 186 e 610 milhões de euros, além de um apetecível mercado potencial de 500 milhões de consumidores.
Do outro, a Rússia, principal destino das exportações ucranianas, que prometia uma baixa significativa do preço do gás fornecido, assim como um empréstimo de 15 mil milhões de dólares.
A Europa ao serviço dos USA.
A União Europeia, que dificilmente controla a união dos seus 28 países, tem pouco interesse em integrar mais um, quem tem grande interesse na Ucrânia são os Estados Unidos que utilizam a EU como intermediário para satisfazer as suas pretensões.
Do ponto de vista geo-estratégico, a Ucrânia representa mais um passo para cercar a Rússia. Do ponto de vista económico um tampão no abastecimento do gás russo à Europa, aliás, está em marcha a construção de vários gasodutos para contornar gás proveniente da Rússia.
Um odor de fascismo...
Muitos dos manifestantes são estudantes, mas no meio estão infiltrados curiosos manifestantes.
Como diz Nuno Ramos de Almeida no jornal "i" de 25 de fevereiro:
"Vestem-se como nazis, andam como nazis, comportam-se como nazis, pensam como nazis. Se calhar são mesmo capaz de ser nazis, não acha?".
Um dos partidos da oposição é o SVOBODA, de extrema direita, que até 2003 tinha por símbolo um logótipo muito semelhante ao utilizado pelos nazis durante a segunda guerra mundial, é financiado pela CIA.
Muitas organizações não governamentais americanas têem estreitas ligações com os revoltosos ucranianos. Uma delas é a Freedom House (dirigida pelo antigo dirigente da CIA James Woosley), outra é o OTPOR, criada em 1998 com o apoio da organização americana National Endowment for Democracy e que organizou revoltas violentas em vários países.
O "conselho de Maidan", constituído por lideres políticos da oposição, da sociedade civil e grupos radicais, designou Iatseniuk, com 39 anos de idade, pro-europeu, para primeiro ministro.
Um fascista fantoche no poder.
Iatseniuk é pro-americano e anti-russo. A sua ascenção ao poder foi concertada entre a União Europeia, através de Vitoria Nuland (ministra adjunta americana dos negócios estrangeiros encarregada dos assuntos europeus e eurasiáticos) e os Estados Unidos, através de Geoffrey Pyatt (embaixador americano na Ucrânia).
O novo primeiro ministro da Ucrânia, Iatseniuk (ao meio) fazendo a saudação nazi, ao lado de Tyahnybok (à direita) chefe do partido neonazi Svoboda.
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Washington ponderou colocar no poder Vitali Klitschko, ex-pugilista, chefe do partido UDAR financiado pelo partido conservador alemão, mas apesar de se ter tornado um parceiro influente ainda não foi escolhido como personagem principal para esta fase.
Outra possibilidade ponderada foi a de Oleh Tyahnybok, chefe do partido neo-fascista da União pan-ucrâneana (Svoboda), mas foi considerado mais útil fora do governo.
Por fim, dos três candidatos, os Estados Unidos apostaram em Iatseniuk que contudo trabalhará durante a sua governação numa estreita colaboração com Klitschko e Tyahnybok.
Para legitimar esta mudança de regime na Ucrânia, os Estados Unidos necessitavam do apoio da ONU, o que foi feito com o enviou por parte de Ban Ki-moon de um enviado especial, Robert Serry, para abençoar esta revolução "democrática".
Sergei Glazyev, colaborador de Vladimir Putin, revelou que os Estados Unidos gastaram 20 milhões de dólares por semana para apoiar a oposição ucraniana, inclusive com armas.
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Etiquetas: Europa, Internacional, Russia, USA
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