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terça-feira, 10 de novembro de 2009

A ESCOLA PÚBLICA

A escolaridade obrigatória, universal, inclusiva e tendencialmente gratuita, foi um avanço civilizacional indiscutível na Europa, berço das democracias, e uma construção revolucionária depois de liquidado um Regime fascista (o mais longo da Europa) que nos legou milhões de analfabetos e escolas para uns mais afortunados (o esforço dos mais pobres que para nelas ingressarem mais acentua a discriminação em que assentava esse modelo) – os liceus- e escolas comerciais e industriais para outros (no ensino superior uma escassa minoria). Após o 25 de Abril, um único sistema de ensino ( que se foi prolongando justamente até ao 12ºano) o qual permitiria ou o acesso ao ensino superior ou a cursos profissionais, correspondeu ao que de mais avançado se perseguia. O que faltou foi respeitá-lo e cumpri-lo. O insucesso escolar deve-se certamente também aos professores, mas com um peso bem mais secundário do que as diferentes bagagens culturais que os alunos trazem de «fora». Os professores precisam de receber actualização continuada, mas a atmosfera cultural do país também. Os professores precisam de uma profissão garantida e protegida, mas os jovens e os portugueses em geral também precisam de empregos presentes e futuros, efectivos e bem remunerados. Há jovens que preferem ou possuem mais competências para profissões de média qualificação, mas é preciso que as encontrem.



É urgente reformar o ensino, mas sem ter como modelo as escolas privadas e, muito menos, fazer degradar as públicas para justificar o negócio das últimas. A avaliação externa das escolas públicas demonstra que estão em geral bem organizadas e geridas. O que faz falta é premiar o esforço e a competência, oferecer condições que promovam a progressão justificada numa carreira digna e bem gratificada, com um outro Estatuto que não o actual, que não presta. É preciso que a avaliação dos docentes se faça inspirando-nos no que se faz com mais justiça e resultados em muitos países da Europa. O profissional de uma actividade tão delicada e rigorosa como o é a de professor (desde o jardim de infância até ao topo) deve responder pelo seu profissionalismo através de um relatório ( de auto-avaliação) criteriosamente didáctico, pedagógico e científico, suportado por indicadores de assiduidade, participação activa no seu grupo de pares e na escola ou agrupamento, e cumprimento do seu código deontológico, documento sério que deverá ser analisado pelo Conselho Pedagógico, Directivo e pelo seu grupo ou departamento. Dever-se-á ter na devida conta o seu empenho efectivo na sua auto-promoção no conhecimento geral e específico, e nas pedagogias –(cursos de formação continuada, pós-graduações, etc.). O juízo a fazer sobre o docente não deve ignorar o meio em que se insere a sua escola (quão valioso é aquele que trabalha com dedicação numa zona social problemática!), nem as enormes distâncias que ele tem por vezes de percorrer (ou obrigar-se a alugar um pequeno quarto).


Os professores são uma pequena parte do problema mais geral, e são, seguramente, uma parte maior da sua solução. Cem mil professores conscientes de que é o país que precisa de profundas reformas, com democracia e justiça social, com desenvolvimento económico e cultural, podem constituir uma enorme força social de mudança. Não são eles quem mais e melhor ensinam?

1 comentário:

samuel disse...

"É urgente reformar o ensino, mas sem ter como modelo as escolas privadas e, muito menos, fazer degradar as públicas para justificar o negócio das últimas."

Mesmo que o neguem... é aí que bate o ponto!

Acabo de pendurar o "A espuma das palavras" na lapela do "Cantigueiro".

Abraço.

Viagem à Polónia

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Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

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Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.