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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Sou um homem comum

Sou um homem comum.
Sento-me à beira do rio a ver as águas passar
E penso numa qualquer Lídia sentada ao pé de mim
“A morte é uma quimera, Lídia, quando ela vier eu já não sou”.
Surpreendo-me com a simplicidade das coisas pequenas,
Porque são elas que sustentam a vida.
Morrem no instante em que nascem.
Por isso, paro nos passeios a ver os calceteiros calcetar
E não me aborreço com os entardeceres de Setembro,
Caminho sobre a espuma e pegada alguma permanece.


Comum como as pedras e os bichos pequenos.


O aroma do café às sete da manhã desperta-me um sentimento largo
Que abraça o mundo que trabalha.
Depois sorrio com os trolhas que dizem piadas às raparigas que passam
e o mundo não desaba porque são eles que o erguem.
Sento-me num banco de jardim e penso
Que a vida é uma paródia
E em cada minuto a morte dá mais um passo sobre mim.


A pequena da sapataria, quase uma criança, arruma sapatos na montra,
A brasileira do quiosque sobe as grades e boceja,
Uma mãe apressada leva pela mão uma garotinha muito loira para a escola.


Durante dezenas de anos repeti os mesmos gestos, nas mesmas horas,
A pasta dos livros, o tema da aula a subir à superfície.
Fragmentos de sonhos a recuarem na neblina.

Sou um homem comum.
O que eu fiz fizeram-no incontáveis outros iguais antes de mim,
Farão o mesmo depois de mim.


Operários, camponeses, empregados de escritório, lojistas, professores,
Em vós me multiplico.


Sou um homem comum.

5 comentários:

Sara Gonçalves disse...

Caro professor Nozes,
Estou-lhe muitíssimo agradecida pelo seu comentário. Não imagina como são importantes para mim essas palavras. Dão-me força, principalmente agora que as frequências vão começar... Tenho a primeira já na segunda-feira!
Infelizmente, não tenho tido grande tempo para visitar o seu blogue, mas assim que estiver mais desanuviada passarei a vir cá mais vezes!

Tenha um bom fim-de-semana!

Meg disse...

Meu caro amigo,

Cada vez mais raros os homens comuns, como este!
Mas os homens comuns não escrevem...

Um abraço

cid simoes disse...

São os homens comuns que fazem a história e comuns são também os que a sabem relatar e sentem a felicidade de ser como todos os outros. Bom trabalho caro amigo em comunhão com todos nós.

Mel de Carvalho disse...

"Depois sorrio com os trolhas que dizem piadas às raparigas que passam
e o mundo não desaba porque são eles que o erguem."


tudo dito, caro senhor. encontrei-o na lucidez de um comentário que teceu sobre estética e ética ou vice-versa.

Vim lê-lo. vou continuar a ler. agrada-me encontrar neste mundo imenso que é a blogoesfera seres comuns, pensantes. que me obriguem a reflectir sobre as coisas comuns. tão comuns como eu própria.

bem-haja.
todo a liberdade de linkar o seu blog nos meus que aqui lhe deixo

www.noitedemel.blogs.sapo.pt
(mera tentativa poética)

e www.noitedemel.blogspot.com
(igualmente mera tentativa de ser prosa, crónica, conto ... ou tão só, escrita em "carreirinha" quando a não decido cortar em fatias ...


cordiais cumprimentos
Mel

Nozes Pires disse...

Cara colega das sociologias Mel de Carvalho: já visitei o teu blog, não pude colcoar comentário porque não tenho conta na sapo (enfim, não soube fazer). Quis manifestar o meu apreço pelos seus poemas (aqueles que agora li). Seguirei o seu blog com atenção. Abraço.

Viagem à Polónia

Viagem à Polónia
Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

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Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.